Decisão
“Ah, Natal, como faz frio! Eu posso me lembrar como se fosse ontem do dia em que eu fui embora de sua vida. Mas já se passou quanto? Seis meses... talvez mais. O país está um caos. Parece que todos ao meu redor morrem! Meu Deus, eu me lembro tão claramente do rosto de Neville da última vez que o vi, não reconhecia ninguém. Meu irmão parecia realmente desolado! Pobre Sirius, tem passado por tantos problemas. Aliás, um dos que ele não conseguiu impedir, os dementadores foram finalmente aprovados em Azkaban, isso não será nada bom.
“Mas, infelizmente... eu me lembro tão bem de quando fui embora, sem mais nem menos, nenhum bilhete ou explicação. Simplesmente me retirei e fui arranjar informações sobre Voldemort bem longe de Severo. Nunca mais o vi, até a pouco. Ele não me viu, tenho certeza, mas pude notar que havia um brilho estranho em seu olhar. Não era comum dele, é como se a solidão o estivesse corroendo, dando espaço ao ódio, frio, cruel...
“ Para mim já chega! Eu não vou deixar que a única pessoa a quem eu consegui me apegar além do que como um amigo ou um irmão, a única pessoa que eu consegui até mesmo amar, eu não vou permitir que ele seja morto por alguma idiotice! Severo não vai dar mais nenhum passo em direção ao fundo do poço, nenhum!! Nem que seja por cima do meu cadáver!!!”
Helena já tinha tudo acertado. Sabia que Snape continuava a morar na pequena casa em que sempre morou. Entrar era fácil, o difícil seria o que estaria além da porta de entrada.
A jovem moça foi adentrando a casa lentamente, com passos curtos e silenciosos. Ao chegar ao quarto, milhares de lembranças voltaram a sua mente em uma velocidade incrível. Helena ficou zonza, começou a cambalear para trás, estava prestes a cair, mas alguém a impediu.
- Severo?!
- Helena! - exclamou Snape. Realmente, ele estava surpreso.
Snape fez um gesto para que a jovem se sentasse. Após alguns minutos, Helena rompeu o silêncio
- Sabe, quando nós brigamos e...eu fui embora, eu não conseguia parar de pensar... Por quê?
- Mmas...
- Espere, deixe eu terminar!- ela podia sentir, precisava dizer tudo de uma vez por todas.- Nós éramos felizes, por que você decidiu se tornar um comensal? Eu sei que você não suportava pessoas como o meu irmão. Mas, viver no caos total, com pessoas morrendo a toda hora...é impossível! Severo, você poderia ter sido o que você quisesse, tinha talento suficiente para isso! Só que, trazer dor às pessoas... não....não é o meio certo! Por favor, desista dessa vida, por favor , volte para mim...
Grossas lágrimas rolavam pelo frágil rosto de Helena. Ela não conseguia contê-las, as lágrimas simplesmente rolavam e rolavam...
Severo não podia, não queria continuar a ver ela chorar, a única pessoa que um dia o entendeu. Ele sentia que, naquele momento, faria de tudo para satisfazer seus desejos. Qualquer coisa, desistiria de tudo... se fosse realmente preciso.
Foi isso que ele sentiu, ao envolve-la em seus braços e prometer que tudo ficaria bem. Ao poder beija-la mais uma vez depois de tanto tempo. Poder sentir toda a pureza escondida que, por mais que tentasse ocultar, ela sempre carregara dentro de si. Era muito estranha a maneira que ela tinha de fazer tudo parecer bem quando estava por perto; era como se nunca tivesse partido, como se o caos não tivesse começado., como se ele nunca tivesse odiado ninguém.
Na manhã seguinte, já mais lúcido, Severo levantou muito cedo e tomou um banho. Enquanto a água descia por seus lisos cabelos(que NÃO eram ensebados... ainda), ele pensava:
“Eu...não sei...não sei mais. Só sei que, de alguma forma, Helena está certa. Fiz a escolha errada, muitas pessoas já morreram por causa de Lord Voldemort. Mas... eu nunca conseguiria me livrar disso! O desejo que tenho de torturar, de acabar com muitos infelizes nunca irá me deixar, já é uma parte de mim. E mesmo que me recuperasse, eu nunca sairia vivo. Se qualquer um dos comensais souber, qualquer um deles...eu estarei morto. É uma decisão muito grande, grande demais, porém...”
Assim que Snape saiu do banho, notou que a mesa estava posta e que Helena aguardava por ele, com um sorriso lindo como nunca estampado em sua face. Ele não sabia por que, mas sempre sentia uma extrema sensação de leveza quando via a sua mulher sorrindo.
“Ah, Helena, talvez você nunca entenda o quanto eu te amei. Mesmo sendo quem sou. Farei o possível e o impossível por você.”
Eles se sentaram à mesa e comeram vagarosamente. Helena não sabia o que estava por vir, mas tinha um pressentimento de que não era nada bom. Ela queria aproveitar cada momento daquele café da manhã pois, ao seu término, saberia a decisão de Severo.
Passaram-se minutos... com um silêncio pesado pairando entre eles.
Assim que os dois terminaram, Helena tomou seu banho e, mais relaxada, se sentia pronta para ouvir qualquer fosse a resposta de Snape.
- Helena, eu tomei uma decisão! Eu sei que pode ser difícil para você aceita-la, mas eu creio que esse seja a única forma...
- O que você decidiu?- perguntou ela, apertando os dedos com força.
- Eu continuarei a ser um comensal....e darei a vocês, aurores, informações que conseguir obter dos comensais sobre os próximos passos de Voldemort.
- Ou seja, você seria uma espécie de espião?
- Se você preferir chamar assim, é isso.
Snape se sentia um pouco mais aliviado agora, mas nada se comparava ao alívio que Helena teve ao ouvir essas palavras. Apesar de saber que ele não estaria livre do perigo, só de saber que ele não acabaria com sua vida sendo um servidor de Voldemort já era a melhor notícia que tivera desde que soube que seria madrinha de Harry. A felicidade foi tanta que ela não se conteve. Jogou-se em cima de Snape, que foi pego de surpresa e, desequilibrando-se, caiu no chão. Ela o abraçou com força, como se temesse que tudo fosse um sonho. Mas não era, ela podia senti-lo contra seu corpo e sabia que, dessa vez, não era um sonho. Naquele momento, não eram necessárias palavras...mas, de qualquer forma, ela não conseguia pronuncia-las.
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