CAPÍTULO TREZE



CAPÍTULO TREZE


 


A cidade de Londres realmente nunca fica escura.


Luzes da rua, faróis de carro, a luz que sai das janelas através das cortinas, luzes dos semáforos, enfim, um verdadeiro caleidoscópio de luzes.


Enquanto caminhava à noite, Harry Potter sentia a pulsação de milhares de pessoas à sua volta, um dos motivos pelos quais amava Londres. Ali, você nunca está sozinho.


Todavia, naquele instante, sentia-se mais sozinho do que nunca, até mais solitário do que durante a Páscoa que passara só, na grande casa dos pais, na Escócia.


Era sexta-feira à noite. Não, era sábado de manhã.


E, depois de sábado à tarde, provavelmente não teria mais razão alguma para ver Hermione Granger novamente.


Enfiou as mãos nos bolsos e continuou caminhando. Não iria dormir, de qualquer modo. E dormir sem Hermione a seu lado era tão exaustivo quanto passar a noite acordado.


Eu a amo. Estivera pronto para dizer-lhe aquelas palavras. Pela primeira vez na vida, entregar o coração completamente para alguém, sem querer impressionar, nem cativar, apenas oferecer.


E ela fora embora, dizendo que aquilo havia terminado mesmo antes de começar.


O Royal Albert Hall estava iluminado como um bolo de casamento. Kensington Gardens era frio e escuro e ele caminhara por lá com Hermione. Continuou andando pelas ruas tranqüilas de Kensington.


Não fora capaz de confessar seu amor. Por que confessar quando seria rejeitado? Não fazia sentido.


Harry chutou um poste de luz.


Mesmo que quisesse, Hermione não lhe dera a chance de dizer-lhe que a amava. Aparecera no Magnum ao mesmo tempo em que as crianças e focalizara toda a atenção nelas. Então o tratara friamente, recusando-se a ficar sozinha com ele, como quando haviam se conhecido. E aquilo doía.


Seu celular tocou e ele não reconheceu o número na tela. Não era Hermione.


- Alô?


- Harry? - Ele parou de caminhar. A voz era infantil.


- Danny? - perguntou. - Onde você está?


- Dentro de um carro.


- Qual é o problema?


- Acho que vou ser preso.


- Onde você está? - indagou Harry praguejando. Após uma pausa, Danny disse um local ao sul do Tâmisa. - Por que preso? Você roubou o carro?


- Meus amigos. Não sei o que fazer. Mamãe e papai vão me matar...


- E por que acha que está prestes a ser preso?


- Porque a polícia acabou de nos parar. - Danny sussurrava agora.


- Tudo bem. Estarei aí assim que possível, Danny. Você foi muito tolo, sabe disso? A competição é amanhã, quero dizer, hoje.


- Eles quiseram e não pude dizer não, porque...


- Estou indo. Não faça mais nenhuma tolice.


Harry desligou o celular e, enquanto procurava por um táxi nas ruas vazias, discou outro número. O telefone não respondia. Tentou três vezes e sempre caía na caixa postal.


- Alô? - Finalmente Hermione respondeu com voz sonolenta. Ele a imaginou com cabelos despenteados e faces coradas, como quando a acordava para fazerem amor.


- Não desligue - disse ele. - Sou eu. Danny está com problemas e preciso da sua ajuda.


- O que ele fez?


- Roubou um carro.


- Onde ele está? - perguntou ela, ofegante, ao telefone.


- Provavelmente a caminho da delegacia policial agora. - Ele viu um táxi e levantou a mão. - Estarei em sua casa para pegá-la em dez minutos.


- Ligarei para os pais dele. Como você sabe sobre isso?


- Ele me ligou.


Houve um grande silêncio.


- Tudo bem. Eu o aguardo. - disse ela, terminando a ligação.


Na clara luz da manhã, Hermione observou Danny e os pais entrarem num carro, enquanto Harry estava parado a seu lado na calçada.


Ele conversara pacientemente com os pais do garoto. Tinha sido magnífico, dando apoio ao menino. Ajudara a acalmar o pai de Danny, que estava a ponto de explodir de raiva, e amenizara a condenação das tolas ações de Danny com elogio ao talento do garoto e uma oferta de estágio que deixou a família perplexa.


O menino acabou sendo libertado por meio de custódia dos pais. Mas, quando Danny apareceu na sala da espera da delegacia, foi direto para Harry.


- Desculpe-me. - murmurou para Harry, alcançando Hermione e seus pais com um olhar apologético.


- Diga isso a seus pais.


Havia lágrimas nos olhos do garoto.


- Desculpe-me. - sussurrou para a mãe. - Nunca mais vou fazer isso.


A Sra. Williams abraçou o filho.


Hermione notou que Harry afastou o olhar, mas não antes de ver-lhe a expressão. Certamente, estava se identificando com o garoto, pensando em quando era jovem, antes de ter aprendido a esconder seus anseios sob a autoconfiança.


Ela admirou Harry mais ainda porque, em primeiro lugar, ele não tinha de estar ali. Fora porque Danny precisava dele.


- Que horas são? - perguntou a Harry, na calçada. - Por volta das seis?


- Quinze para as seis. Temos cerca de quatro horas até a competição.


- E somente um competidor agora. - disse ela tristemente, desejando que Harry a abraçasse.


- Podemos caminhar por alguns minutos? – sugeriu ele.


Hermione assentiu e eles começaram a descer a rua.


- Você vai realmente aceitar Danny como aprendiz no Magnum quando ele deixar a escola no próximo ano? - perguntou.


- Sim. Costumo cumprir minhas promessas. Continuo tentando dizer-lhe isso, Hermione. - O semblante de Harry era severo e cansado.


- Eu sei. - disse ela. - Sei que cumprirá. Eu estava apenas... é um grande risco para você.


- Tudo na vida vale a pena arriscar. Danny começará de baixo e, se for bom, crescerá na profissão. - Ele passou a mão pelos cabelos e suspirou. - Devo muito ao garoto.


- Você deve a ele? - indagou Hermione surpresa.


- Devo a vocês três. Mas devo a Danny especialmente.


- Por quê?


- Porque ele me ensinou muito com seus erros tolos. Quando me ligou dizendo que tinha ajudado a roubar o carro porque seus amigos queriam e não ousara negar, entendi que Danny queria aceitação a qualquer preço. Preferiu fazer algo que sabia que estava errado a correr o risco da rejeição. Não quero mais ser assim.


Ela já sabia que Harry havia mudado. E sabia que fora uma das causas disso. Tocou-lhe o braço levemente.


- Entendo.


- Não acho que você entenda. - Ele parou de caminhar e Hermione parou, também, encarando-o. - Hermione, eu amo você.


Ela quase tombou e sentou-se na calçada.


- Você me ama?


- Sim. Amo. - Harry sorriu, iluminando o mundo inteiro por um momento. - Você deveria ver seu rosto. Parece absolutamente trágica.


- Eu não estava esperando por isso.


- Eu sei. - Ele sentou-se a seu lado. - A ironia é: sua reação é exatamente o que eu esperava. Por isso não lhe disse até agora.


Ele continuava a sorrir, mas o brilho havia desaparecido. O semblante parecia triste. A barba despontava no queixo e escondia a covinha.


Ela não soube o que fazer. Sentia-se confusa.


- Poderíamos ser felizes juntos. - continuou ele. - Podemos nos casar e dar um troco para os fofoqueiros da imprensa, e isso seria muito bom, Hermione. Eu a amo tanto.


- Você não está dizendo isso para ser nobre? Por que posso estar grávida?


Ele soltou uma gargalhada.


- Esqueça a nobreza. Estou implorando a você, se não notou. Esta última semana foi uma tortura. Quero tocá-la, abraçá-la, dormir com você, estar a seu lado em todos os momentos. Se estiver grávida, ótimo. Mas é você que eu quero.


Ele acariciou-lhe a mão. Ela não podia pensar quando Harry a tocava, portanto afastou-se.


- Não posso.


- Por que não, Hermione? Seja aluna por um instante. Aprenda com Danny. Não jogue fora uma chance de ser feliz porque é mais fácil fazer a coisa errada.


Ela se levantou. Seus ouvidos zuniam, as mãos tremiam.


- Não é tão fácil assim. - murmurou. - Você disse que foi uma tortura para você... para mim foi o inferno. Todos os segundos lutando contra o que meu corpo quer fazer, e não posso mais agüentar.


Ele levantou-se também e estendeu-lhe os braços.


- Pare de lutar. Fique comigo. Mesmo que não me ame. Renda-se.


Mesmo que não me ame. Ele não sabia nem a metade de tudo.


Hermione meneou a cabeça.


- Não. Não posso.


Ele deixou cair os braços estendidos.


- Você quer dizer que não quer.


- A diferença está apenas nas palavras, Harry. - disse ela, olhando em volta e vendo, pela primeira vez, uma estação de metrô ao longe.


- Vou para casa me arrumar. - declarou. - Vejo você às dez.


 


Jennifer estava tão pálida quanto seu uniforme.


- Danny não está aqui? - sussurrou ela. Hermione abraçou a menina carinhosamente.


- Houve uma emergência e ele não pode competir. Está tudo bem, Jennifer. Você já fez isso diversas vezes. E Danny não estaria perto de você, de qualquer jeito.


Jennifer olhou ao redor da sala, repleta de candidatos.


- Mas eu esperava que ele estivesse aqui.


A voz era cheia de tristeza, o que causou uma empáfia imediata por parte de Hermione.


- Você vai se sair muito bem, Jennifer. - assegurou-a com uma alegria que estava longe de sentir. - Vamos descobrir seu local de trabalho e checar tudo.


Harry estivera ao lado delas em silêncio, deixando Hermione lidar com o medo de Jennifer, mas agora dera um passo à frente.


- Você tem talento, Jennifer. Vai arrasar. Diga-me o que fará primeiro, tão logo o relógio comece a marcar o tempo de duração do concurso.


- Começarei com a massa. - disse ela num sussurro. Enquanto caminhavam pela sala, uma luz faiscou.


Hermione piscou, vendo os clarões.


Um fotógrafo. A mídia, é claro, pegando o chef, que era uma celebridade, a professora e a menina para a primeira página do jornal.


A expressão de Jennifer era de pânico.


- Massa. Muito bem. Qual é o primeiro passo? - perguntou Harry.


Uma mulher com uma prancheta aproximou-se de Jennifer e começou a questioná-la sobre as regras do concurso, como seria julgada e o que não poderia fazer. Jennifer respondeu por monossílabos.


Harry juntou-se a Hermione. Havia tomado uma ducha e se barbeado, e usava uma jaqueta esporte e jeans, roupas que o deixavam tão elegante quanto se estivesse de terno. Ela podia sentir o perfume de limão da loção pós-barba.


- Espero que ela não fique inibida. - murmurou ele.


- As próximas duas horas podem determinar o curso da vida inteira de Jennifer. - disse Hermione. - Não a culpo por estar apavorada.


- Se ela estiver apavorada demais, não será capaz de fazer as coisas bem. Cozinhar bem requer flexibilidade e confiança. Era onde Danny se sobressaía. A técnica de Jennifer é melhor, porém estou preocupado.


- Você fez o possível. - Ele sorriu melancólico.


- Meu possível parece não estar muito bom estes dias.


- Competidores, por favor, tomem os seus lugares. Família e amigos, tomem os seus assentos. O concurso de culinária começará em dez minutos.


Hermione deu um último abraço em Jennifer.


- Acredito em você. - sussurrou no ouvido da garota.


- Não sei se posso fazer isso.


- Lembre-se do que Harry falou. Comida é emoção. Ponha seus sentimentos na tarefa. Estou muito orgulhosa de você. Assim como seu pai. E sua mãe estaria também.


O pai de Jennifer já estava lá, com Jô a seu lado, ambos conversando sobre carros. Ele dirigia uma caminhonete como meio de vida e pedira um dia de folga para ver a competição.


Hermione acomodou-se ao lado de Joanna, observando os dois assentos vazios reservados para os pais de Danny. Assim que Harry se sentou ao lado de Hermione, houve outro clarão da câmera.


- Entendo por que certos paparazzi apanham. - comentou Harry.


Hermione sentiu vontade de deitar a cabeça no ombro dele, o que seria natural, mas, em vez disso, pegou o programa e fingiu estudá-lo até a competição começar.


Duas horas cozinhando e depois os juizes experimentariam as iguarias. Hermione notou que Jennifer estava quieta em frente ao seu local de trabalho.


- Ela precisa começar. - murmurou Harry a seu lado. - Se der o primeiro passo, os demais serão mais fáceis. A pior parte é o início.


Quando Hermione viu que a garota se movia, finalmente, pegando uma tigela, suspirou aliviada.


- Onde está o dançarino de tango galês? - sussurrou para Jô, a fim de se distrair da tensão.


- Ele teve um show de dança em Cardiff. Queria que eu fosse junto, mas falei que você precisava mais de mim.


- Adoro tango. - disse Hermione. - Gostaria de conhecê-lo pessoalmente.


- Você conquistou Harry Potter. Ele não flertou mais comigo desde que a conheceu. Se não estivesse tão feliz por você, eu a odiaria por desprover o mundo de tão preciosa fonte natural.


Ela não contara a Jô que seu relacionamento com Harry estava terminado. Quase não vira sua amiga na semana anterior, e tinham outros assuntos a conversar.


- Jennifer Keeling, da Escola Slater. - A voz no alto-falante era alta e clara. - Oi, Jennifer. – A resposta da garota era inaudível. - Você é a única aluna do Slater, ouvi dizer. - continuou o locutor. - Seu amigo não pôde comparecer. Como se sente representando a escola?


A menina não respondeu. Hermione podia ver o rosto dela ruborizado.


- Acho que posso dizer com segurança que, dos competidores aqui presentes, você é a mais famosa depois que sua foto apareceu no jornal do fim da semana passada. Como se sente em ser ensinada por uma celebridade como Harry Potter?


- Harry é maravilhoso. - foi tudo que ela pôde dizer.


Hermione olhou para Harry. Havia um sorriso no rosto bonito. Não um sorriso de convencimento, apenas um sorriso.


Ela sentiu uma irresistível vontade de beijá-lo. Mas conteve-se.


Aqueles eram os últimos minutos que passaria com Harry. Mesmo assim, não podia tocá-lo, quase não podia falar com ele. Seu relógio de pulso dizia que faltava menos de meia hora para a competição acabar. Aproximadamente vinte e seis minutos com HArry e, depois do julgamento, um adeus para sempre.


A menos que estivesse carregando um bebê dele.


Era sábado e sua menstruação devia ter vindo na quinta-feira. Mas já atrasara antes. Estresse podia ter causado o atraso.


Se estivesse grávida, Harry jurou que ficaria com ela. Tinha até falado em casamento. E não porque estava sendo nobre, mas porque a queria mais do que qualquer coisa, porque a amava.


Naquela manhã, Hermione comprara um teste de gravidez na farmácia do bairro, e a mulher que a atendeu dissera: "Espero que dê o resultado que você quer, querida", enquanto olhava para a sua mão esquerda, em que o dedo anelar estava sem aliança.


E como queria que o resultado do teste fosse positivo, pensou quando saiu da loja e escondeu o teste na bolsa, antes de ir para o prédio onde a competição estava acontecendo.


Se estivesse grávida, não teria escolha. Seu futuro surgiria à sua frente num instante. Ficaria com Harry e se casaria com ele. Viveriam juntos e criariam seu filho.


E se não estivesse... Ela agradeceria a Harry e o deixaria para sempre. Então continuaria a levar a única vida que podia entender. Em cerca de uma hora, seu futuro seria decidido.


- Jennifer está improvisando como nunca a vi fazer. Genial. - sussurrou Harry em seu ouvido, radiante.


Hermione colocou a bolsa debaixo de sua cadeira.


As longas pernas de Harry estavam estendidas na cadeira a seu lado. As coxas de ambos quase se tocando. Ela lembrou-se do Chanteclér, onde tinha sentido o joelho dele por baixo da mesa como uma onda de eletricidade.


Conhecia cada músculo daquele corpo magnífico, cada fio de seus pêlos distribuídos tão harmoniosamente pelo corpo todo. Não podia imaginar conhecer outra pessoa tão intimamente. Ou abrir-se para mais alguém.


E com quem o filho deles seria parecido? Cabelos escuros, olhos castanhos ou esverdeados? Alto, certamente, mas com uma covinha no queixo? Seria um executivo, um empresário ou um professor?


Os minutos passavam. Ela ouvia Harry, Joanna e o Sr. Keeling conversando a seu redor, e algumas vezes replicava, mas não sabia do que estavam falando. Em vez disso, estava tentando levantar-se e ir ao toalete, a fim de fazer o teste de gravidez.


O locutor anunciou que o tempo terminara e o julgamento começaria. Já era tarde para ir fazer o teste, pois Jennifer havia acabado de cozinhar e estava de pé, olhando-os e pedindo apoio.


Os juizes foram de aluno a aluno, experimentando seus pratos e analisando-os. Faziam anotações em suas pranchetas.


- Jennifer teve um menu mais ambicioso do que a maioria dos alunos, - contou-lhes Harry - mas não sei como os juizes considerarão o fato de ela ter improvisado e mudado o prato principal, uma vez que o molho desandou. Mas ela foi maravilhosa.


- Você acha que ela vencerá? - perguntou Hermione.


- Pelo menos, ficará entre os cinco finalistas.


Os juizes levaram muito tempo percorrendo os locais de cada competidor e Jennifer estava exausta. Hermione não podia fazê-la vencer. Não podia sequer tornar sua própria vida mais fácil.


Finalmente, um dos juizes pegou o microfone e, depois de um discurso agradecendo a todos os concorrentes e seus professores, pigarreou e começou a anunciar os vencedores e a comentar seus menus.


O terceiro lugar foi para uma jovem que fez uma comida indiana.


- Danny teria feito melhor. - murmurou Harry para Hermione, em tom conspiratório.


O segundo lugar foi para um rapaz sardento que fez uma massa com molho branco.


O juiz parou e esperou que os aplausos cessassem antes de anunciar o vencedor. Hermione olhou para Jennifer. A garota estava tão sozinha, longe deles. Mal era capaz de encarar seus colegas e professoras, ou capaz de erguer a mão para falar em classe, e agora estava encarando um momento que lhe diria se fora bem-sucedida ou se fracassara.


Jennifer levantou o queixo, empertigou-se e voltou os olhos cheios de coragem para o juiz.


Os movimentos eram sutis, invisíveis para quem não a conhecesse e Hermione soltou um suspiro de admiração. Mesmo que a menina não ganhasse, ficaria bem.


- Debatemos sobre a vencedora. - começou o juiz. - Embora a qualidade do seu trabalho tenha sido clara, alguns de nós estávamos incertos se deveria ganhar. Contudo, acabamos concordando que ela esforçou-se ao máximo em cozinhar e, quando fracassou na primeira opção do prato que pretendia fazer, usou a própria criatividade para fazer outro, algo que não pode ser ensinado por nenhum professor.


Hermione quase não ouviu o restante porque Harry passou os braços a seu redor e a abraçou com força, emocionado. Tudo que pôde ouvir no meio da confusão foram as palavras:


- Primeiro lugar, Jennifer Keeling.


- Viva! - gritou Harry.


Jennifer voltou-se para a audiência e, quando o aplauso estrondou pela sala, ela estava sorrindo para o pai.


Era exatamente o que Hermione queria que acontecesse. Jennifer havia encontrado sua coragem e provado isso para si mesma.


E Hermione sentiu-se entorpecida.


Aquele podia ser o último momento.


O Sr. Keeling irrompeu através da fila de cadeiras, correu para a filha e a tomou nos braços. Jô estava pulando de alegria.


- Com licença. - murmurou Hermione para Harry, desvencilhando-se de seus braços e rapidamente dirigindo-se ao banheiro feminino.


Estava tão nervosa que fez diversas tentativas vasculhando a bolsa até que achou o teste de gravidez. Seguiu as instruções e então ficou esperando, com mãos trêmulas, o resultado na janela da caixa na qual viera o teste.


Quando a janela começou a ficar azul, não se sentiu menos estarrecida do que se sentira antes.


Vagarosamente, abriu o trinco do reservado do banheiro e saiu do cubículo.


Harry estava de pé diante dela. Os cabelos escuros e o paletó brilhavam no banheiro branco. Ele parecia grande demais para as pequenas pias, os espelhos iluminados das mulheres, mas Hermione queria tanto vê-lo que lhe pareceu natural que ele estivesse ali.


- Qual é o problema? - perguntou Harry, a voz ecoando contra os azulejos.


Ela não pôde falar, então lhe entregou o teste.


- O que significa isso?


- Uma linha azul significa que você não está grávida. Uma cruz azul significa que você está.


Harry olhou para a linha azul brilhante. Então olhou para Hermione, vendo as próprias emoções refletidas no rosto de sua amada. E de repente ela não estava mais entorpecida. As lágrimas brotaram sem que esperasse. Deu um passo à frente, direto para os braços de Harry.


Ele a envolveu. Sua floresta segura, o seu sonho mais bonito. Não conseguia mais conter as lágrimas.


- Hermione. - sussurrou ele. - Querida, doce Hermione. Isso acontecerá. Você terá um bebê, queira Deus que seja comigo, mas terá. Tudo ficará bem. Eu lhe prometo.


- Eu queria... - Ela não conseguiu terminar.


Era perda demais, tudo de uma só vez. Aquela esperança, o pensamento do seu bebê perdido por antecipação e as lágrimas que nunca surgiram, não em dois anos. Era toda a dor que temera. Estava sentindo tudo que havia lutado tanto para esquecer.


E Harry a estava abraçando, beijando-lhe o topo da cabeça e prometendo que tudo ficaria bem.


Ela aconchegou-se ao corpo que amava, ouviu o coração dele bater e sentiu o tecido da camisa molhada contra o seu rosto. Pensou na adolescente que acabara de observar encarando seus piores medos e vencendo.


Esteja aqui agora e para sempre.


- Eu queria um bebê. - murmurou. - Com você. - Hermione o abraçou com mais força e ergueu o queixo. - Eu o amo, Harry.


Ele respirou fundo e a encarou.


- Isso é verdade?


- Sim.


- Diga outra vez.


- Eu amo você.


Uma lágrima escorreu pelo rosto dela e aquilo era bonito.


- E você ficará comigo. - disse ele. - Por favor.


- Quero ficar com você para sempre.


Ele a beijou e Hermione nunca imaginou que um beijo pudesse ser tão perfeito.


- Vamos nos casar, - murmurou Harry - e então construiremos uma família, juntos.


- Na realidade, é a confiança que importa, não uma aliança de casamento.


- Mas nos casaremos, de qualquer modo.


A porta do toalete abriu-se, e uma mulher de salto altíssimo entrou.


- Oh, meu Deus, desculpem-me! - Harry pigarreou, sem graça.


- Esqueci que aqui era o toalete feminino.


Hermione não conseguiu evitar uma risadinha.


- Harry, você percebeu que nosso primeiro beijo foi em um refrigerador e você acaba de pedir-me em casamento em um banheiro de mulheres?


- Você quer dizer que não tenho muito bom gosto? - Ela o beijou, cheia de promessas e abraçando a incerteza. Mais delicioso do que qualquer outro prazer. - O que faremos em seguida? - perguntou ele.


- Mais tarde, amanhã, contaremos a todo mundo. E depois passaremos o resto de nossas vidas fazendo amor. Mas, agora, vamos comemorar com Jennifer.


 


 


 

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