29 de Novembro a 21 de Janeiro

29 de Novembro a 21 de Janeiro



Capítulo 14
de 29 de Novembro a 21 de Janeiro


Dia 62, Domingo


Harry piscou, abrindo os olhos preguiçosamente. Alguma coisa estava errada. Alguma coisa…


"Malfoy?", Harry sussurrou.


Malfoy estava a seu lado, com os olhos fechados, a respiração alterada e a testa franzida, e medo e ressentimento fluíam dele através do elo até Harry.


"Malfoy?", Harry tocou o braço do loiro, e Malfoy se revirou, mordendo o lábio, ainda adormecido.


"Não…", ele murmurou. "Não…"


"Malfoy", disse Harry, chacoalhando o outro gentilmente. "Draco. Acorde".


Malfoy acordou de sobressalto, os olhos arregalados de susto. "O que-"


"Eu acho que você estava tendo um pesadelo. Shh, está tudo bem". Harry se aproximou tentativamente, incerto se seu toque seria bem-vindo ou não.


"Eu o quê?"


"Estava tendo um pesadelo. Você está acordado, agora. Está tudo bem", Harry disse baixinho, esfregando o braço do sonserino e notando que ele tremia.


Malfoy concordou com a cabeça hesitantemente, ainda desorientado, e Harry o puxou para seus braços, surpreso quando o loiro aceitou seu conforto e o abraçou com força, sem pensar em como aquilo fazia com que ele parecesse vulnerável.


"Você lembra com o que estava sonhando?", perguntou Harry, cauteloso.


"Nã-não… sim. Mais ou menos. Com meu pai, eu acho".


Harry reprimiu um tremor. "Com ele, como?"


"Nada tão ruim, só o que ele estava falando ontem, sobre-", Malfoy de repente fechou a boca, e uma sensação de alerta e reserva veio dele para Harry.


"Você não precisa me dizer, se não quiser", disse Harry rapidamente. "É que às vezes é bom falar sobre um pesadelo. Mas, er, às vezes só piora as coisas".


Malfoy assentiu, a respiração ainda instável, mas gradualmente voltando ao normal.


"Falar vai ser pior?"


"Sim". Malfoy limpou a garganta e acenou com a cabeça, seu abraço ficando menos apertado e seu desconforto parecendo diminuir. Harry sentiu um pouco de constrangimento vir dele.


Ele suspirou. "Vamos lá, Draco, você estava tendo um pesadelo. Eu geralmente acordo gritando dos meus". Malfoy riu, e Harry sentiu o outro relaxar um pouco. "Você pode me dizer por que seu pai passou aqui?"


Malfoy limpou a garganta de novo. "Ele… por muitos motivos. Informações sobre a minha família, sobre o que está acontecendo. Muito disso é obviamente particular, ou eu teria lhe dito".


"Eu imaginei".


"Oh, e ele queria que eu soubesse que ainda está tentando achar quem lançou o elo".


"É mesmo? E o que ele pode fazer que os aurores já não fizeram?" Houve uma curta pausa, e Harry ouviu suas próprias palavras e riu-se. "Esquece. Eu não perguntei isso".


"E eu não ouvi isso", disse Malfoy, com um sorriso cínico.


"Mais alguma coisa?"


"Ele quer que eu fale com uma repórter. Segunda-feira, depois das aulas".


"Sobre o quê?"


"Nós, o elo, a grande família feliz, etc., etc.".


"Que sorte a sua", Harry disse secamente.


"Muita".


"Ele não está preocupado que a jornalista distorça suas palavras?"


"Ela está na nossa lista de pagamentos, aparentemente".


"Isso sim que é sorte. Queria eu ter um jornalista no meu bolso nesses últimos sete anos. Teria sido legal se fosse a Rita Skeeter, no quarto ano".


"Skeeter? Sim, eu imagino. Mas não foi ela que fez uma entrevista muito favorável com você no quinto ano?"


"A própria".


"Você pagou para ela?"


Harry hesitou um pouco. "Eu a chantageei".


"Como!", Malfoy se apoiou em um cotovelo, encarando o grifinório com uma descrença divertida.


"Ela era uma animaga não-registrada, mas você já sabia disso. Nós ameaçamos expor o seu segredo e fizemos com que ela escrevesse uma reportagem honesta, pela primeira vez em sua carreira".


"Você fica dizendo 'nós', mas, por algum motivo, eu acho que 'nós' significa Granger". Malfoy parou por um momento e sorriu. "Não que eu espere que você dê nome aos bois, obviamente".


"Obviamente. Mesmo assim, eu queria que nós tivéssemos feito isso com ela um ano antes. Aqueles artigos que ela escreveu sobre o fiasco do Cálice de Fogo foram bem constrangedores".


"Você não disse nada daquilo que ela escreveu, não é? Eu sei que na época você alegou que ela inventou tudo, mas-"


"Francamente, eu ainda ficar chorando por causa da morte dos meus pais? Por que faria isso? Não tenho nenhuma lembrança deles".


Malfoy ficou em silêncio por um momento antes de voltar a deitar com as costas na cama. "Eu... por deus, me desculpe por ter te importunado tanto por causa daqueles artigos".


Harry levantou as sobrancelhas em surpresa. "Como?"


"Vai se foder, Potter, você me ouviu e eu não vou repetir", ele disse, e Harry riu.


"Certo. Desculpas aceitas. É só que você nunca tinha pedido desculpas por nada de antes do elo".


"Não, e não se acostume com isso". Disse Malfoy firmemente. "Ou nós dois vamos passar os próximos meses sem fazer mais nada além de ficar pedindo desculpas pelo passado".


"Essa é uma oferta única, não é?"


"Absolutamente. Eu ponho a culpa nas ordens do meu pai para eu entrar em contato com meu Lufa-Lufa interior".


Harry riu.


"Você não faz idéia do quanto eu odeio isso".


"Faço, sim", Harry sorriu maliciosamente. "Não precisa ser tão ruim, sabe. Desde que faça com que seu Lufa-Lufa interior seja Zacharias Smith, você não terá problemas".


"Smith?", Malfoy torceu o nariz em desgosto. "Aquele-"


"Babaca arrogante, sarcástico e hostil?"


"Sim-", Malfoy finalmente entendeu e começou a rir. "Vai se ferrar, Potter".


"De nada", respondeu Harry, grato por Malfoy parecer ter superado o pesadelo. "A gente pode voltar a dormir agora?"


"Sim". Malfoy bocejou e acomodou a cabeça no ombro de Harry. "Boa noite… Harry".


"Boa noite", Harry disse, imensuravelmente feliz por um gesto tão simples.


ooooooo


Dia 63, Segunda


"Minha nossa, Potter, isso está lindo", Zabini riu da poção de Harry, que, para falar a verdade, estava meio estranha. Pelas instruções, ela deveria estar azul brilhante com lampejos de fogo no fundo. Mas estava castanho-escuro, com coisinhas flutuando que pareciam muito com olhos de salamandra — talvez porque fossem olhos de salamandra. Malfoy espiou pelo seu ombro e rodou os olhos.


"Você leu alguma coisa do sexto capítulo? Aqui, deixe-me ver". Ele pegou a concha da mão de Harry e separou um pouco da poção em um recipiente pequeno. "Veja o que eu vou fazer aqui e depois faça o mesmo sozinho no resto da poção. Até você deve conseguir entender isso". E ele começou a explicar em detalhes para Harry o que tinha dado errado e como salvar o trabalho.


Hermione tinha aparecido para assistir à explicação. "É por isso que os olhos de salamandra não estão dissolvendo? Eu achei que era só a temperatura que importasse".


"Não, a velocidade que você mexe a poção faz a diferença. Bem, a temperatura ajuda também, mas o mais importante é a velocidade", ele disse, e os dois começaram uma conversa animada sobre os diferentes elementos da poção, que deixou Harry completamente confuso em menos de um minuto. Ele olhou para a expressão ligeiramente surpresa de Parkinson diante da alarmante visão de Hermione Granger e Draco Malfoy tendo uma troca de idéias perfeitamente cordial.


Aparentemente, Parkinson estava conseguindo acompanhar o assunto, porque de repente ela franziu a testa. "Isso- não, isso está errado", disse ela, se intrometendo. "Draco, Granger tem razão, mexer para o lado anti-horário afeta apenas o gosto e a cor, não a potência".


"Ela tem razão? Pansy Parkinson acabou de dizer que Granger tem razão?", Queenie Greengrass, na mesa ao lado, falou alto para Nott. Parkinson lançou um olhar cortante para ela.


"Queenie, querida, é melhor você não se debruçar tão próxima do seu caldeirão, deve ser por isso que você tem essas manchas horríveis na pele", disse antes de dar as costas para Greengrass e voltar para a conversa. Mas seu comportamento em relação a Hermione ficou mais frio.


Hermione encontrou o olhar de Harry do outro lado do caldeirão e suspirou. Ela lhe contara que Parkinson a havia procurado no baile de Halloween, tentando descobrir o que estava acontecendo com Malfoy e Harry, e que Hermione a tinha afastado. Ela estava tentando, desde o círculo, se aproximar, mas aparentemente a vontade de Parkinson de estender sua amizade (ou pelo menos sua não-hostilidade) a Harry não incluía Hermione. Seus modos estavam mais educados do que antes, mas não mais calorosos.


Era tudo tão mais simples quando a Grifinória e a Sonserina eram inimigas, Harry pensou. Grifinórios eram sempre amigáveis com corvinais e lufas-lufas, e corvinais e sonserinos eram freqüentemente vistos juntos, mas a inimizade entre a Sonserina e a Grifinória, que era um elemento tão sólido da escola, parecia estar se desfazendo. Essa nova realidade era extremamente confusa, ainda mais porque facções da Sonserina se atacavam como diabretes extremamente maldosos e estranhas alianças se espalhavam entre grifinórios e sonserinos. Pessoas das duas casas freqüentemente se ajudavam nas aulas e durante sessões extra de estudo, como acontecia naquele momento. Alguns sonserinos e grifinórios tinham até visitado os salões comunais um do outro. Era bizarro.


E era particularmente estranho que aquilo estivesse acontecendo enquanto as atividades dos Comensais da Morte aumentavam, sem se saber se as pessoas que estavam sendo amigáveis eram as mesmas cujos pais estavam envolvidos nos acontecimentos tenebrosos relatados nos jornais. Agora existiam silêncios estranhos quando surgia o assunto “política”. A situação toda era desconcertante.


"Você está ouvindo?", Malfoy interrompeu os pensamentos de Harry.


"Oh- desculpe", respondeu Harry, se assustando.


"Por Merlin, Harry, é sobre a sua poção que nós estávamos falando. A gente pode não concordar sobre o que deu errado, mas a sua é a única poção que está ruim desse jeito. O mínimo que você pode fazer é pelo menos fingir que está prestando atenção ao que nós falamos".


Harry concordou com a cabeça, pedindo desculpas.


"Oh, agora é Harry, então?", disse Greengrass acidamente, e a sala caiu em silêncio, quebrado por Parkinson.


"Por deus, Queenie, sua poção está soltando o cheiro mais terrível- oh. Oh, não é a poção, né? Coitadinha, você realmente não deveria comer feijão e cozido de repolho, não te fazem nada bem-"


"Draco", disse Zabini, "aquela entrevista do Profeta não é às cinco? Já são quatro e meia".


"Uma entrevista?" comentou Nott. "Que megalomania, não?"


"Cale a boca, Nott", disse Parkinson impacientemente, olhando para Malfoy. "Nossa, Draco, ainda bem que você me ensinou todos aqueles feitiços para aparência-"


"Eu estou bem assim-"


"Não para tirar fotos para o jornal. Draco, você é um dos garotos mais bem-apresentáveis do nosso ano, e viver com Potter não mudou isso em nada — aliás, tenho que dizer que ele está até mais arrumadinho do que antes — mas você precisa estar imaculado para as fotos. Você não quer sair igual aos Weasleys quando eles foram notícia".


Ron fechou a cara, e Harry lançou a ele um olhar de desculpas.


"Eu nem sei se ela vai querer tirar fotos, não é uma matéria grande-"


"Não é uma matéria grande? Toda a comunidade bruxa está se remoendo por migalhinhas de fofocas sobre vocês dois há meses, e você acha que sua entrevista não vai estar na primeira página? Não, não penteie seu cabelo para trás, ele fica parecendo mais curto". Malfoy fez uma careta para ela. "Um desses dias eu vou te amarrar e te obrigar a ler todos as reportagens que estou guardando-"


"Não faça isso a não ser que você queira que eu lance um Incendio em todas elas".


"Pronto. Agora você está com a aparência de um homem casado respeitável. Vá e tagarele sobre suas alegrias matrimoniais". Malfoy lançou um olhar cortante para ela enquanto ele e Harry saíam da sala.


"Oh, e, Draco, se eles quiserem tirar fotos de vocês dois, use bastante língua-" Nott gritou, e Harry pôs a mão firmemente nas costas de Malfoy.


"Anda. Continue em frente. Não pense no que ele disse".


"Para você é fácil falar. Não vai ser você que vai ter que lidar com a maldita jornalista e-"


"Não, não mesmo. Eu só vou ficar sentado assistindo e apreciando minha vingança por cada comentário que você já fez sobre Rita Skeeter".


"Sim, e muito obrigado pelo seu amável apoio", Malfoy disse amargamente.


ooooooo


Dia 68, Sábado


"Merda", disse Draco quando abriu o Profeta na segunda página.


"Não é outra carta sobre a sua entrevista, é?", perguntou Potter, passando manteiga na torrada.


"Não, eu já te disse, eu minimizei todas essas", ele respondeu, irritado. "É só que prenderam Rodolphus Lestrange…", ele passou os olhos pela matéria.


"O quê? Como?", Potter olhou por cima de seus ombros.


"Não diz como, só fala que o pegaram". Ele passou os olhos até o final da matéria, voltando ao começo para ler com mais atenção. "Droga. Minha mãe deve estar surtando", ele murmurou.


"Por quê?" Seamus Finnigan perguntou.


"Se eles pegaram Rodolphus, significa que minha tia B-", Draco parou e seu rosto ficou vermelho quando ele engoliu o resto do que iria dizer, de repente tomando consciência da presença de Neville Longbottom na mesa do café da manhã, bem a seu lado.


"Sua tia quem?", Finnigan perguntou, a boca cheia de comida e os olhos fixos nas notícias de Quadribol. As palavras de Finnigan fizeram com que a mesa caísse de repente em completo silêncio.


"Erm, então, Malfoy, vocês dois vão ficar aqui nas festas de fim de ano, né?", Weasley interrompeu em voz alta, e Draco sentiu uma incômoda onda de gratidão para com o ruivo.


"Quem é sua tia, Malfoy?", perguntou Finnigan, curioso, ainda comendo e completamente sem perceber a tensão que o rodeava.


"A esposa de Lestrange, Bellatrix", Draco respondeu rapidamente. "Sim, nós vamos ficar aqui. Você vai para casa, Weasley?"


"Sim, mas não durante todo o feriado. Eu vou-"


"Bellatrix Lestrange?", disse Finnigan.


"-nós vamos passar parte do feriado com-" disse Granger.


"Ela não é uma Comensal da Morte também?", Finnigan perguntou.


"Sim, ela é", Longbottom interrompeu bruscamente. "E todo mundo está tentando mudar de assunto, Seamus."


Finnigan levantou o olhar do jornal, chocado pelo tom de Longbottom. "Oh". Ele olhou ao redor e finalmente registrou o constrangimento no ar. "Erm. Desculpe", murmurou, abaixando a cabeça e voltando a comer, o rosto vermelho vivo.


Draco limpou a garganta. Por Merlin e Mordred, aquilo era impossível. O que ele deveria fazer? Pedir desculpas para Longbottom pelas ações da sua tia? Ficar em silêncio pelo resto da refeição? Começar a conversar sobre outro assunto?


"Obrigado", ele murmurou para Longbottom.


"Eu não fiz isso por sua causa", disse Longbottom de modo seco, e Draco levantou as sobrancelhas. Longbottom realmente tinha colhões em algum lugar. Para Draco era como descobrir que uma salamandra sabia jogar xadrez.


"Eu sei. Obrigado mesmo assim".


Longbottom o encarou, um pouco surpreso. "De nada".


Draco colocou o jornal de lado. "Você não vai ficar em casa o feriado inteiro, então?", ele se dirigiu a Weasley novamente.


"Não, nós vamos ficar na casa dos pais da Hermione por uns dias. Vai ser estranho, eu nunca fiquei com trouxas antes".


Draco reprimiu sua resposta imediata de ‘Eu também nunca visitei um ninho de vermes-cegos e mesmo assim não gostaria de fazê-lo no natal’. Provavelmente não era uma boa idéia, dizer algo desse gênero quando Weasley e Granger tinham acabado de tentar resgatá-lo de um considerável constrangimento social.


"Eu vou comprar algo trouxa para o meu pai, vai fazer o natal dele. Aliás, isso me lembra, tenho que ir ao Corujal enviar o pedido do presente da Ginny". Ele e Granger levantaram e saíram juntos.


Presentes. Draco franziu a testa. Provavelmente deveria comprar algo para Potter, ele percebeu pela primeira vez. Mas como conseguiria comprar um presente? A próxima visita a Hogsmeade seria em breve, e eles estavam planejando passar parte dela separados, testando os limites do elo. Mas ele estaria com seus amigos sonserinos. O que eles iriam pensar se ele comprasse algo para Potter?


E como é que descobriria o que dar para o grifinório? Ele se imaginou perguntando ‘O que você acha que Harry quer ganhar de Natal?’ para Granger ou Weasley e imediatamente sendo consumido pelas chamas de mortificação.


Draco cerrou os dentes, frustrado. As situações estranhas não pareciam deixar de persegui-lo naquele lugar. "Anda. Vamos voltar para a Sonserina", disse bruscamente para Potter.


"O que você tem hoje?", perguntou Potter, irritado, enquanto saíam do Grande Salão. "Ficou me alfinetando a manhã inteira. Você pretende superar essa fase insuportável em um futuro próximo?"


"Eu não estou te alfinetando".


"Está, sim. Aliás, desde que a entrevista do Profeta saiu, na quarta-feira, está impossível de viver com você".


"Não está, não".


"Olha, deu tudo certo, seu idiota. Foi uma boa entrevista, você fez o que seu pai mandou. A resposta está sendo boa, e não é minha culpa se seus amigos sonserinos ficam fazendo citações do que você falou. Também não é minha culpa que eles estão bravos porque sua família decidiu mudar de lado".


Draco fechou a cara. 'Eu não chamaria de amor — nós apenas nos importamos um com o outro' e 'Ele não é tão ruim, depois que você passa a conhecê-lo' tinham sido as citações favoritas de Nott e Queenie, mas havia bastante material para as provocações dos sonserinos. Estranhamente, as citações da matéria que o irritavam mais não eram nem dele, mas da própria jornalista. 'Esses dois garotos transformaram o que poderia ser um pesadelo em um casamento carinhoso e caloroso' e 'Será que adultos se comportariam com a coragem e dignidade que esses dois jovens demonstraram?' eram as piores de se ouvir.


E se aquela reportagem idiota fosse tudo o que estivesse errado na sua vida naquele momento, ele se consideraria sortudo. "Não é a matéria".


"Então o que foi? É o que acabou de acontecer com o Neville?"


"Não, e fique quieto", ele retrucou. "Eu estou preocupado com a minha mãe, está bem? Você já pensou nisso? Que pessoas de uma família às vezes se preocupam umas com as outras?"


"Você está preocupado com a sua mãe ou com a sua tia?"


"Com ela também. E não comece a me dizer que ela é uma maluca que merece ser presa — ela ainda é minha tia-"


"Você nem a conhecia antes que ela escapasse de Azkaban há dois anos-"


"Esquece, está bem?"


"Você é impossível", disse Potter, impaciente. "Se eu tento ser legal, você briga comigo. Se eu te deixo em paz, você fica de mau humor. E, aliás, por que nós estamos indo para a Sonserina agora?", ele perguntou quando os dois chegaram na entrada do salão comunal.


"Sim, aliás, por que vocês estão vindo para a Sonserina agora?", uma voz sarcástica veio de trás deles, e pela primeira vez Draco não se importou em manter sua dignidade e ignorar Nott.


"Vai se foder, Nott", disse ele por cima dos ombros enquanto entrava. "Eu fui sorteado nessa casa da mesma forma que você. E tenho tanto direito quanto você de estar aqui".


"Mas ele não tem".


"Bem, não é contra ele que você tem objeções, é?", Draco se virou para encarar Nott.


Nott cruzou os braços e deu um sorriso maldoso para Draco enquanto o salão comunal inteiro assistia com interesse. "Eu tenho objeções a qualquer um que seja idiota o suficiente para se aliar a ele. Você tem lido os jornais, Draco? Você sabe o que está acontecendo? Ou você está tão firmemente do outro lado agora que ficou tão sem-noção quanto eles?"


"Você-"


"Nott. Pare com isso". cortou Blaise, sentado em uma das mesas do canto. "Potter, não se esqueça que você tem que revisar aquelas maldições Inferi comigo antes da prova de segunda. Eu ainda não faço idéia de como elas funcionam".


Pansy falou mais alto. "Sim, francamente, garotos, tudo isso é muito fascinante, mas será que nós poderíamos esquecer o drama por alguns dias? Já que todos nós temos provas começando a partir de segunda?"


O sorriso maldoso de Nott aumentou e ele caminhou para o seu dormitório. Draco respirou fundo, sonhando em socar o rosto de Nott até arrancar dele aquele sorriso condescendente.


"Não deixe que ele te incomode", disse Pansy, levantando para ficar ao seu lado.


"Ele está certo", respondeu Draco enquanto Potter começou a revisão com Blaise. "Eu não faço idéia do que está acontecendo".


"Bem, eu também não. Meus pais não estão falando comigo a respeito disso".


"O quê?" Draco encarou Pansy, surpreso. "Por minha causa?"


"Sim. Não, eles não estão bravos comigo. Só não estão me dizendo nada com relação ao Lorde das Trevas". Ele continuou a encará-la. "Não, eu não mudei de lado, Draco. Mas-"


"Mas eu mudei", disse ele amargamente. "Gostando ou não, eu mudei de lado".


"Não é o fim do mundo, sabe".


"Para mim parece que é. E por que você ainda está do meu lado?"


"Além do fato de que eu gosto bastante de você?" Pansy hesitou por um momento, e então fez com que ele andasse até um canto relativamente vazio do salão comunal. "Querido, você já deve ter percebido que o Lorde das Trevas não é exatamente um dos candidatos mais fortes ao prêmio de Bruxo Mais Esperto do Ano. Ele já foi derrotado ou superado por Potter três vezes até agora pelo que a gente sabe — e numa dessas vezes Potter ainda usava fraldas. Eu não acho que é impossível que ele seja derrotado no final. Acredito no que ele diz, mas, caso as coisas não corram tão bem no final, gostaria de ter um amigo no outro lado, caso precise de um".


Draco sorriu. Aquilo ele entendia.


"Não se preocupe, Draco. Sua família vai voltar para o topo eventualmente", ela o encorajou. "Eles sempre conseguem. E mesmo que não consigam… nem tudo é política. Eu disse para aquela vaca desconfiada de sangue ruim que na Sonserina nem sempre é sobre quem está no topo, e ela não acreditou em mim. Mas você deveria acreditar".


Havia mágoa na sua voz por trás do tom leve, e Draco teve que desviar o olhar. "Eu estava doente, Pansy, não conseguia nem pensar direito".


"E mesmo assim eu fiquei do seu lado, não fiquei? Não me arrisquei a ganhar a raiva da minha família para te ajudar?"


Draco concordou com a cabeça.


"As coisas não são sempre sobre quem está por cima", ela repetiu, e então riu. "Embora eu tenho que admitir que quando disse isso para Granger não fazia idéia de que estava falando literalmente. Então eu vi suas lembranças. Draco, querido, as coisas que se tem que fazer em nome da harmonia matrimonial. Ele vale a pena?"


"Pansy!"


Ela riu. "Desculpe, meu amor. Anda, vamos nos juntar a Blaise e Potter para que as provas não nos peguem desprevenidos. Minha família pode me perdoar por me associar com vocês, tipinhos horríveis anti-Lorde das Trevas, mas não irão me desculpar se eu for mal nas provas de final de ano".


ooooooo


Dia 75, Sábado


Draco passou o olhar pela multidão barulhenta, a incansável decoração gritante de vermelho e dourado agredindo seus olhos, e suspirou. Lá estava outro assunto que não tinha sido abordado por nenhum dos livros sobre casamento que eles tinham recebido nos primeiros dias do elo: Problemas com Quadribol para Recém-Casados, também conhecido como: para quem torcer durante uma partida de Quadribol quando seu marido pertence à casa rival. Torcer para o time dele, como demonstração de lealdade? Ou torcer pelo oponente, porque, se o time do seu marido vencer, seu time provavelmente vai ficar em último lugar na classificação?


Decisões, decisões.


Pela primeira vez ele se sentiu feliz pelo elo ainda fazer com que ficar no meio de multidões fosse terrivelmente desconfortável. Ser tocado por outros não era mais como receber uma queimadura de terceiro grau, mas ainda era irritante e um pouco dolorido, como uma joelhada na virilha interrompida a poucos centímetros do seu alvo. Então lá estavam os dois, na parte de baixo das arquibancadas grifinórias, a desculpa da multidão sendo uma maneira muito conveniente de evitar sentar lá em cima com o resto deles.


Os Weasleys não eram tão ruins, ele decidiu enquanto os observava. Nenhum dos dois chegava perto da habilidade de Potter, nem como Capitão nem como Apanhador, mas ambos tinham algum talento. Ron Weasley, cuja performance como goleiro sempre refletia seu humor, estava indo relativamente bem. Provavelmente ajudava o fato de que John Bryant, o novo goleiro da Corvinal, era apenas um pouco mais útil defendendo os aros do que um pedaço de pergaminho molhado (mas só um pouco mais útil), e as chances também eram de que Ginny Weasley apanhasse o Pomo.


Oh… lá iam eles, os Artilheiros corvinais na direção de Weasley. Os três estavam ziguezagueando, tentando confundi-lo pela velocidade; jogando mais como grifinórios do que como corvinais. Na verdade, parecia que nenhuma casa estava jogando de acordo com seu estereótipo naquele ano. Grifinórios estavam sendo cuidadosos e conservadores; Corvinais estavam se jogando de cabeça como lunáticos; Lufas-Lufas estavam assustando todo mundo com sua ferocidade no maior estilo ‘matem todos, não façam prisioneiros’, e a Sonserina… os rumores diziam que ‘astuto’ e ‘ambicioso’ não descreviam o time de Quadribol da Sonserina aquele ano. ‘Pobre-coitado’ e ‘digno de pena’ eram mais apropriados.


"Defende!" Potter gritou. "Oh, boa, Ron!"


"Nada mal", admitiu Draco.


"Eles podem fazer isso?", Granger disse, preocupada, e Draco rodou os olhos.


"É um Giro de Badler, Granger. É permitido".


"Mas isso não é perigoso?"


Draco rodou os olhos de novo.


"Não!", Potter gritou enquanto os corvinais davam um giro e passavam outra gole por Weasley. "NÃO! Isso não foi justo-", ele gritou furiosamente enquanto Madame Hooch se recusava a parar, apesar dos burburinhos vindos das arquibancadas grifinórias.


"É permitido. Mais ou menos", Draco disse.


"Mais ou menos! E você sabe muito bem que não é dessa maneira que essa manobra deve ser usada, ela é uma manobra de apanhadores-"


"Mas isso é permitido agora".


"Não é, não!"


"É claro que é", Draco disse.


"Desde quando?"


"Desde um certo dia no final de setembro, se eu me lembro bem". Potter pareceu não ter entendido. "Sabe, o nosso aniversário de casamento? Estávamos em uma reunião discutindo isso e, acredite ou não, você e eu discordávamos a respeito e estávamos brigando, o que nos levou ao nosso estado de alegria matrimonial de agora… faz algum sentido para você?"


"Isso que foi decidido no final?"


Draco rodou os olhos mais uma vez. "Sim, seu idiota. Você nunca mais olhou o regulamento?"


"Não", Potter murmurou, os olhos colados nos jogadores.


"Me lembre de rir de você em todos os nossos aniversários por causa disso, então".


"NÃO!" Potter gritou quando a Corvinal marcou de novo. "Isso não é justo!"


"É, sim. Eu te disse, foi-"


"Malfoy, fique quieto!"


"É o novo regulamento-"


"E você vai ser azarado se disser mais uma palavra a respeito; é o nosso goleiro que está lá se ferrando por causa dessa maldita regra-"


"Você me azararia por dizer que essa é uma manobra permitida?"


"Quieto!" esbravejou Granger, os olhos colados em Weasley, que parecia cada vez mais desesperado.


"É uma manobra jus-mph-" Potter cobriu a boca de Draco com a mão.


"Não, eu não vou te azarar, mas tem uns setenta grifinórios atrás de você e eu não quero ser transformado em uma lesma gigante por sua causa no meio do jogo!", disse ele em meio aos gritos da multidão, sem tirar os olhos da partida. "Mas que DROGA!"


"Está 30 a zero para a Corvinal", a voz de Zacharias Smith sobrepôs a multidão. "E o goleiro Ron Weasley se esforça, mas, como sempre, está meio desequilibrado. Ele não é um jogador estável, mas, também, sendo amigo de Harry Potter…"


Draco fez uma careta na direção de onde vinha a voz. "Smith. Que babaca".


"Ele é seu lufa-lufa interior, lembre-se disso", disse Potter, fechando os olhos quando a Corvinal quase marcou de novo.


"Aqui, abre um espaço-"


"Draco!", Potter deu um tapa na mão que Draco levantou, segurando a varinha. "O que você está-"


"Eu não ia fazer nada que o prejudicasse permanentemente", Draco se defendeu. "Na verdade, acho que você até iria gostar. Eu estava prestes a tornar a vida do Weasley mais fácil".


"Como?", a atenção de Potter voltou para o jogo.


"Heroamus". Potter balançou a cabeça, sem reconhecer a palavra. "Um feitiço de adoração".


"O quê?", Potter olhou para ele de novo.


"Smith ia ficar repentinamente encantado por Weasley. Ele começaria a dizer como ele jogava bem e, idiota do jeito que é, Weasley provavelmente iria acreditar e começaria a jogar bem, pela primeira vez na vida".


Houve um breve silêncio, e então Potter começou a rir.


"O que foi?"


"Você é inacreditável". Ele riu, abraçou Draco e lhe deu um beijo rápido e caloroso, se inclinando para trás para poder dar um tapa em Finnigan, que soltou uma exclamação de nojo. O grifinório interrompeu o beijo, ainda rindo, e a multidão gritou mais alto.


"O que foi? O que aconteceu?", os dois perguntaram.


"Ron deixou outro gol entrar", Granger gritou, parecendo imensamente feliz com aquilo, "mas Ginny-"


"-e a Grifinória vence! A Grifinória vence por 150 a 40, apesar da partida excelente de alguns jogadores da Corvinal e do desastre por parte do goleiro da Grifi-", e a voz de Smith foi abafada pelos gritos da multidão enquanto o time da Grifinória dava uma volta ao redor do campo.


"Vamos ver o Ron", gritou Granger por cima do ombro, caminhando em direção ao campo enquanto os torcedores começavam a deixar as arquibancadas.


"Nós já vamos, tem muita gente ao redor agora", Potter gritou de volta, e ela concordou com a cabeça e correu na direção do time.


"Você não quer ir comemorar com eles?", perguntou Draco. "O contato com multidões já não é mais tão ruim".


"Eu vou mais tarde", ele respondeu, e os dois olharam para o campo enquanto as arquibancadas rapidamente esvaziavam.


"O que foi?", Draco perguntou, por fim.


"Só queria poder jogar de novo. Queria que nós dois pudéssemos". Ele tirou uma mecha de cabelo dos olhos. "Você ia mesmo azarar o Smith?"


"Sim, por que não? Ele é um idiota. E também não é muito bem-relacionado".


"Você ia fazer uma coisa legal para o Ron?"


"Não, não é isso-"


"Por quê? Não é como se você gostasse dele, ou como se ele fosse bem-relacionado".


"Ele não é tão ruim. E, aliás, ele é bem-relacionado: com você", Draco sorriu. "Não queira ler nas entrelinhas, não foi nada demais".


"Obrigado, mesmo assim". Potter sorriu e se inclinou para outro beijo.


"Certo, então", disse Draco quando os dois se desvencilharam em busca de ar. "Vamos para o seu salão comunal, nos afogar no rio de dourado e vermelho que vocês insistem em gostar tanto. Como os olhos de vocês não começam a sangrar num ambiente desses é um mistério para mim".


"Você vai comemorar com a gente ou vai se esconder no dormitório?"


"Oh, eu vou afogar minhas mágoas em cerveja amanteigada pelo fato de a Sonserina estar na última posição".


Eles olharam para o placar. Lufa-Lufa 190, Grifinória 150, Corvinal 40, Sonserina 10.


"Sabe, isso é tão patético que dói até em mim", disse Potter. Draco o encarou.


"Anime-se", Potter continuou, dando tapinhas encorajadores no braço do loiro. "Esse 10 pode te colocar de volta no time".


"Que seja dos seus lábios para os ouvidos de Carmichael", respondeu Draco, e os dois começaram a andar para a Torre.


ooooooo


Dia 86, Quarta


"Draco? Você vem?"


"Eu ainda não vejo por quê", Malfoy murmurou rebeldemente. Parkinson compartilhou um olhar com Zabini. Ambos estavam cansados de tentar convencer Malfoy e Harry a ir ao Baile de Inverno.


"É o evento social do ano", disse ela. "Você deve ser visto lá".


"É, sentado em um canto e assistindo a todo mundo se divertir", disse Harry, brigando com sua gravata formal. "Mal posso esperar".


"Não faça cara feia. Não fica nada bem em você".


"Ele pode fazer cara feia o quanto quiser", murmurou Malfoy, arrumando a gravata de Harry com um aceno de varinha.


"Só fique umas duas horas. Eu faço companhia para você. Você está muito bonito, aliás", disse ela, praticamente empurrando os dois pela porta do salão comunal.


"Sim, ótimo", disse Malfoy. "Roupas novas. Meu coração bateu até mais rápido".


"No ano passado você ficaria bem feliz por tê-las".


"No ano passado eu ficaria bem feliz se conseguisse passar pelas suas roupas", ele murmurou.


"No ano passado você conseguiu", ela disse e sorriu para ele. "Anda, Draco", insistiu pacientemente. "Com certeza haverá pessoas observando vocês dois, possivelmente tirando fotos, e os jornais vão querer ver o casal feliz. Assim como seu pai".


Malfoy fez uma careta.


"Não fique assim, querido. Seu pai está satisfeito com você, os pacotes desta manhã foram prova disso. E ele deveria estar satisfeito mesmo, sua família está começando a ganhar status de novo, em grande parte graças a você. Os jornais noticiaram que ele foi visto em eventos importantes".


"Eu odeio ler essas besteiras nos jornais".


"Eu sei, eu sei, é de partir o coração. Você teria matado para conseguir tanta publicidade assim no ano passado. E agora você faz tudo o que pode para fingir que ela não existe", ela suspirou. "Você mudou tanto", disse ela, pensativa, e desviou o olhar. "Você está deixando sua família orgulhosa, Draco. Lucius está satisfeito com você".


Malfoy suspirou, e Harry não pôde deixar de lembrar daquela manhã, da expressão fechada de Malfoy quando ele abriu um pacote vindo de Lucius contendo vestimentas novas de alta qualidade e um cartão escrito à mão. O primeiro exemplo de aprovação paterna que Harry tinha visto de Lucius para o filho. Ele pensava que, do jeito que Malfoy tentava tanto agradar o pai, o sonserino ficaria radiante ao invés de estranhamente desanimado.


Pelo menos a escalada de status dos Malfoys estava refletindo em uma diminuição na atmosfera venenosa da Sonserina. Ainda havia provocações e sorrisinhos de uma minoria considerável de sonserinos, mas um grupo maior agora parecia neutro e alguns dos oponentes até tinham mudado de lado.


"Oh, com licença, Draco", disse um garoto do quinto ano, tentando evitar trombar em Malfoy enquanto caminhava para o Grande Salão.


"Olhe por onde anda, Archer", retrucou Malfoy.


"Certo, desculpe", Archer concordou com a cabeça rapidamente. "Então, Draco, você, erm, você vai ficar por aqui o feriado inteiro, né?", ele disse.


Malfoy não se deu o trabalho de responder enquanto caminhava com Harry para a mesa, e Harry se perguntou se era errado que ele se sentisse satisfeito pela expressão de cachorrinho-que-acabou-de-levar-um-chute de Archer. Mas então comparou essa expressão com o brilho malicioso no olhar do garoto enquanto a lição de casa de Transfiguração de Malfoy se evaporava, algumas semanas atrás, e se sentiu melhor.


"Eu não sou muito fã de bailes nem quando posso dançar", murmurou Harry quando eles sentaram. "Nunca fui bom nesse tipo de coisa".


"Não mesmo, a frase 'desgraça em uma pista de dança' foi feita para você".


Harry observou o Grande Salão. Pelo menos a comida parecia boa, e a música era interessante. E o salão, como sempre acontecia no Natal, estava com uma decoração muito bonita.


Duas horas em roupas formais, sentado, ouvindo música. Que divertido. Harry pediu e saboreou devagar um copo de cerveja amanteigada, desejando que pudesse ficar completamente bêbado, como quando estavam suspensos, só para ter algo o que fazer. Ele notou Malfoy olhando especulativamente para o próprio copo e riu. "Eu não acho que ficar bêbado vai impressionar seu pai", disse enquanto os dois observaram Hermione e Ron dançar. "E não acho que Parkinson poderia livrar sua cara com a escola inteira assistindo".


"Por deus, vocês dois estavam patéticos aquela noite", disse Parkinson. "Mas engraçados. E eu devo dizer que não foi nada doloroso poder culpar você e livrar o Draco".


"Estou chocado", disse Harry.


"Vamos ficar só uma hora", Malfoy respondeu.


"Oh, vamos lá, Draco, onde está o seu espírito natalino?", Parkinson insistiu.


"Já está de férias".


"Bem. Isso pede uma intervenção séria". Ela levantou a andou até a mesa lotada de doces.


"Quando formos embora, vamos para casa", disse Malfoy.


"Não para a Sonserina?"


"Não esta noite".


"As coisas estão melhores por lá", Harry deu de ombros.


"Mesmo assim, eu não quero ter que lidar com um bando de sonserinos meio-bêbados que ficaram festejando enquanto nós estávamos sentados assistindo. Ou que estarão fazendo as malas para ir para casa enquanto nós ficaremos aqui".


Harry suspirou. Quase todo mundo estava dançando. E quase todo mundo iria embora amanhã, encontrar a família e amigos. Mas, como as únicas escolhas para eles eram a Mansão Malfoy ou A Toca, os dois ficariam na escola, deixados para trás e esquecidos por todo mundo.


Ficar bêbado não parecia mais uma idéia tão ruim. Ele suspirou de novo.


"Vamos lá, senhoras e senhores, formem círculos, por favor", disse o líder da banda, a Malfoy olhou para a pista de dança, surpreso.


"O que é isso?", perguntou Harry.


"Uma dança em círculo", disse Malfoy, meio confuso enquanto as pessoas na pista começavam a se dispor em grandes círculos.


"Vamos lá, vocês dois", disse Parkinson, voltando para a mesa. "Sem desculpas, danças em círculo não requerem contato nenhum, então levantem. Aproveitem a festa".


"Quem pediu isso?", perguntou Malfoy.


"Eu", respondeu Pansy com sarcasmo. "Assim vocês podem dançar também".


"Mas só puros-sangues conhecem essa dança, e ela nem é mais tão conhecida-"


"Não, não normalmente", disse ela, "mas, como você pode ver-", ela indicou os alunos se ajeitando na pista. Hermione se aproximou da mesa, sorrindo para Harry.


Malfoy balançou a cabeça. "Harry nem sabe como-"


"Na verdade, eu sei", disse Harry devagar. "Aquilo outro dia não tinha nada a ver com a lição de Runas Antigas, não é?", ele perguntou para Hermione, e ela sorriu e concordou com a cabeça.


"Aquilo o quê?", perguntou Malfoy.


"Nós estávamos estudando, você e Pansy foram pegar um livro na biblioteca. Hermione começou a ler um texto de Runas Antigas que falava sobre uma dança céltica em círculos". Tinha sido só um trecho, mas Hermione tinha descrito e Ron e Neville mencionaram que aprenderam algo parecido quando eram crianças. Eles tinham demonstrado os passos simples, e então provocaram Harry e Hermione, dizendo que eles não conseguiriam fazer igual, e é claro que eles fizeram. Não tinha parecido nada além de uma pausa casual nos estudos na época.


"Vocês planejaram isso?", Harry perguntou para Hermione.


"Sim".


"Juntas?", Malfoy perguntou para Parkinson.


"Bem… sim", as duas responderam, com expressões idênticas de desgosto no rosto.


Se aquilo fosse um conto de fadas, Harry pensou, naquele momento haveria sorrisos e abraços inter-casas e Deus Abençoe A Todos. Como não era, Parkinson e Hermione ainda pareciam preferir azarar uma a outra a compartilhar o espírito da época, e Millicent Bulstrode parecia meio verde por estar cercada de tantos grifinórios. Mas Zabini e Ron tinham se tornado bons amigos ultimamente e estavam rindo juntos das expressões surpresas de Harry e Malfoy, e havia vários sorrisos acolhedores das pessoas na pista de dança.


Harry sentiu uma pontada de afeição pelos seus colegas e olhou para Malfoy, cuja expressão tinha ido de confusa a divertida.


Malfoy deu de ombros e acenou para a pista de dança, os lábios se curvando em um sorriso. "Vamos?"


ooooooo


Dia 98, Segunda


Potter parecia mesmo saber o que estava fazendo, Draco pensou doze dias depois, enquanto destampava um frasco de sangue de morcego. O que era bom, porque eles estavam começando o ano novo com uma aula conjunta de Poções e Herbologia sobre preparação de fertilizantes mágicos, uma tarefa quase impossível. Ele imaginou que era o jeito de Snape se sentir melhor pelo fato de, como sempre, ter passado o feriado na escola. Uma recepção mais ou menos como "bem-vindo de volta do seu período agradável entre amigos e família, por favor, mergulhe em um caldeirão cheio de bosta de coruja" para todos eles.


"Draco, você já tem o veneno de cobra purificado?", Potter perguntou, lendo as instruções.


"Não, você não vai precisar disso até a terceira etapa", disse Draco.


"Eu pensei que era para fervê-lo enquanto o sangue resfriava".


"Você poderia fazer isso, eu só não acho que vale a pena. Além disso, é melhor usar um destilador para o veneno".


"Mas eu não tenho um destilador".


"Use o meu, seu idiota", disse ele, lhe passando o destilador que ganhara de presente de natal de Potter.


"Isso é útil, então?"


"Muito. Quem te deu a dica?"


"Como?"


“Eu sei que você não teve a idéia de me dar isso de presente sozinho".


"Foi o Blaise, na verdade", disse Potter, observando o destilador purificar o veneno e checando sua poção para se certificar que as coisas estavam saindo como esperadas.


"Você está bem melhor nisso agora", Draco comentou.


Potter lhe lançou um sorriso. "Seus incentivos fazem aprender essas besteiras valer a pena".


"Que incentivos?" perguntou Granger, e Potter soltou uma exclamação de alarme quando Draco abriu a boca para responder.


"Er-"


"Eu me ofereci para arrumar a mesa dele se ele se adiantasse na leitura", disse Draco inocentemente.


"Oh", disse Granger de modo distraído, espiando sua poção. "Que legal da sua parte".


Draco e Potter esconderam seus sorrisos. Tinha sido um bom feriado, para falar a verdade. Eles passaram um pouco de tempo separados, ficando mais confortáveis com a distância. E passaram bastante tempo juntos, sem muita pressão social ou da escola. Até redescobriram A Lista, riram bastante com ela e decidiram fazer alguns dos itens que faltavam, como decorar o quarto com seus objetos pessoais, pendurar os pôsteres de times rivais de Quadribol e arrumar o dormitório. Dormitório no qual eles passaram a maior parte do feriado, já que tanto a Grifinória quanto a Sonserina estavam praticamente vazias.


Também tinham passado bastante tempo voando, tentando fazer o possível para poderem voltar aos times já em Janeiro. Talvez, só talvez, a tempo da partida Sonserina x Corvinal.


É claro, eles tinham estudado. E estudado, e estudado, e estudado mais um pouco, porque suas notas de antes do Natal tinham sido abismais e aquilo simplesmente não podia acontecer.


E o sexo tinha sido fantástico. E freqüente. E criativo e bastante barulhento.


Tinha sido um feriado legal, mais legal do que Draco esperava, apesar as notícias diárias nefastas no Profeta. Dois funcionários do Ministério estavam desaparecidos; um membro da Corte Suprema dos Bruxos era suspeito de estar sob Imperius; Florean Fortescue tinha sumido do balcão da sua sorveteria de um dia para o outro. E, apesar disso tudo, a família Malfoy continuava em ascensão.


"Weasley, isso não é- caramba, cara, isso está uma desgraça", Blaise estava dizendo a alguns caldeirões de distância. "E você diz que está no sétimo ano? Aposto cinco galeões que isso explode em cinco minutos ou até menos".


"Pode ficar com os seus galeões, a poção está certa — ei! Tire as mãos, Zabini!"


"Meu caldeirão está do lado do seu e eu não curto a idéia de ter bosta de coruja pingando do meu cabelo quando essa sua bagunça explodir. Olha, está vendo só? Você adiciona o veneno e fervura diminui de novo".


E, atrás deles, Longbottom estava discutindo — de um jeito semi-amigável — com Pansy, que sorria cinicamente para ele e dizia, "Ouça, querido, você pode ser um gênio em Herbologia, mas você é uma droga em Poções. Confie em mim".


Algumas coisas realmente tinham mudado, Draco pensou.


"Longbottom", disse Snape disse. "Eu vejo que a confiança da Professora Sprout nas suas habilidades está tristemente errada. Ou talvez ela não tenha te explicado direito a clara diferença entre fazer plantas crescerem e implodirem. Menos dez pontos da Grifinória. Evanesco!", disse ele, e a poção de Longbottom desapareceu. O grifinório fechou a cara e lançou um olhar mortal para as costas de Snape.


Algumas coisas tinham mudado. Outras, não. Draco sorriu para si.


"É incrível o que se lê esses dias, não é?", Queenie Greengrass disse, se arriscando a ganhar a fúria de Snape por ler o Profeta debaixo da mesa enquanto esperava sua poção resfriar.


"O que você quer dizer?", Nott perguntou.


"Olhe só, aqui está uma reportagem sobre uma nova casa de repouso perto de St. Mungus, para pessoas com lesões mágicas permanentes. E olha o nome de quem está no topo da lista de financiadores do projeto. Lucius Malfoy, sendo agradecido publicamente pelo Ministro da Magia, e sorrindo como se eles fossem velhos amigos". Ela fez uma pausa e balançou a cabeça. "É incrível como algumas pessoas simplesmente não têm orgulho próprio. E é incrível o que alguns galeões bem investidos podem fazer".


"É mesmo", disse Draco com prazer. "Realmente incrível".


Ela o ignorou e virou a página. "É incrível também o que alguns galeões não podem fazer. Parece que a família de Olivander¹ está oferecendo muito dinheiro para os Comensais da Morte devolvê-lo. Mas ninguém respondeu à oferta", ela passou os olhos pela reportagem. "Mas, também, tem aquela questão do- oh, por deus, eu quase disse algo indiscreto". Queenie lançou a Draco um olhar de choque fingido.


Draco franziu a testa. Ele odiava aqueles lembretes de como ele estava por fora da situação. Odiava o fato de que não sabia se deveria se sentir satisfeito ou chateado pelas notícias do avanço do Lorde das Trevas. Como um puro-sangue, a idéia dos Comensais da Morte monopolizarem os serviços do melhor produtor de varinhas em séculos era maravilhosa. Como… — o que quer que ele fosse agora politicamente —… era bastante perturbador.


E, como o marido de uma das pessoas com maiores probabilidades de morrer ou se machucar na batalha porvir, era aterrorizante.


Ele odiava ainda mais a natureza oscilante da situação. Uma hora o Profeta reportava as coisas mais horríveis e parecia que os Comensais da Morte invadiriam o Ministério e Hogwarts a qualquer momento. E então essas matérias perdiam espaço e havia uma trégua. E então de volta ao pânico. Era enervante.


Potter se inclinou por cima de seu ombro. "Não deixe que isso te incomode", ele murmurou.


"Você sabe que muito do que eles estão dizendo é verdade".


Potter deu de ombros. "Não há muito que a gente possa fazer a respeito. Além disso, você sabe as outras coisas que eles estão dizendo nos jornais; algumas pessoas estão mudando de lado".


"Por causa da minha família", disse Draco amargamente.


"Em parte, sim", Potter veio mais para perto, analisando seu rosto. "Qual é o problema?"


"Com o quê?"


"Você fica com uma cara às vezes, como se você… eu não consigo decifrar. Como se você estivesse em conflito com alguma coisa".


"Oh, o que será que poderia ser, Harry? O fato de que o lado que eu realmente acredito é o mesmo lado que pode acabar me matando?"


"Não, é mais… pessoal do que isso…"


Draco o encarou. Uma resposta sarcástica sobre o que poderia ser mais pessoal do que temer pela própria vida estava na ponta da sua língua, mas foi rapidamente descartada. Ele balançou a cabeça. "Não faça isso. Não tente ler minha-"


"Harry", Granger murmurou. "Snape".


Draco desviou o olhar para ver Snape os encarando, e os dois rapidamente voltaram para seus caldeirões, mexendo a poção e fingindo se empenharem. Depois de alguns momentos, Potter voltou a se aproximar para devolver o destilador e aproveitou a oportunidade para se inclinar e falar no ouvido de Draco. "Esquece isso sobre ler os seus pensamentos. E se depois da aula nós voltarmos para o nosso quarto, limparmos minha mesa e aí você começa a falar sobre política e eu vejo em quanto tempo consigo… te distrair do assunto. E depois você faz o mesmo por mim".


"Minha mesa. É mais arrumada. E mais firme", Draco sussurrou, discretamente se ajeitando e tentando substituir a imagem mental que Potter tinha criado pela cena de McGonagall em uma camisola xadrez, para acabar com sua excitação inconveniente. "Essa é a sua solução para tudo, não é?"


"Brilhante, não?"


Draco sorriu. "Sim. Brilhante".


ooooooo


Dia 115, Quinta


"Você está ficando bom demais nisso", disse Malfoy, ainda ofegante, a cabeça jogada para trás, uma mão apoiada na parede, a outra relaxando o aperto nos dedos de Harry.


"Reciprocidade é legal, você não acha?", Harry sorriu, dando um beijo na parte interior da coxa de Malfoy antes de levantar e se inclinar contra o sonserino, sorrindo pela sensação dos batimentos cardíacos acelerados do outro contra sua bochecha. "Anda, nós temos estudo em grupo de Feitiços no Grande Salão daqui a alguns minutos".


Malfoy gemeu. "Eu sei, só me dê um minuto. Eu quero… saborear o momento". Ele respirou fundo, correndo as mãos pelas costas de Harry. "Graças a deus nós temos nosso próprio quarto. Você consegue imaginar a cara de Finnigan se ele visse isso? Ou Blaise ou Nott tentando conseguir uma foto para o Profeta do ‘Garoto-Que-Chupou?’"


"Vai ser legal não ter que se preocupar com isso, quando a escola terminar".


"Para onde você vai depois da escola?" perguntou Malfoy, e Harry percebeu, meio surpreso, que eles nunca tinham conversado a respeito.


"Eu tenho um convite para ir para A Toca. E Ron e eu sempre falamos em dividir um apartamento depois do sétimo ano". Ele franziu a testa. "Mas nós ainda vamos precisar ter contato freqüente por um tempo, não vamos?"


"Eu imagino que você não iria gostar da idéia de transar na Mansão Malfoy"


"Você gosta de idéia de transar na Toca?"


Malfoy fez uma careta. "Não. E muito menos eu gostaria de ser um convidado em um apartamento dividido com Ron Weasley. Nós vamos precisar de um lugar neutro para ir".


"Sem falar que seus pais provavelmente vão querer manter o lance da Família Feliz".


"É, tem isso também".


"Sabe, ainda é estranho para mim o detalhe de nós dois sermos garotos não ser um problema. No mundo trouxa ninguém usaria o fato de ter o filho envolvido com outro cara como ascensão social, não importa quem o outro cara fosse".


"Você nunca curtiu outros garotos antes?"


Harry corou levemente. "Não! É claro que não!"


Malfoy levantou uma sobrancelha para ele. "Harry, você não acha que é meio estranho querer defender a sua heterossexualidade para o cara em quem você acabou de praticar felação?"


"É, eu sei", disse Harry. "Não, acho que nunca curti outro garoto antes, não seriamente. E você?"


"Nada sério. Só o normal, sabe, jogadores de Quadribol profissionais e essas coisas. É difícil saber onde a admiração termina e a luxúria começa". Harry riu. "E, claro, meia sonserina já foi a fim do Blaise em um momento ou em outro, o que é uma pena para os garotos, porque Blaise é um dos heterossexuais mais convictos da escola".


"Você curte algum outro cara agora?"


"Eu acho que nós nem podemos curtir outra pessoa ainda".


"Mas vamos poder, eventualmente".


"Eventualmente, sim".


Harry fechou os olhos, sentindo os batimentos cardíacos de Malfoy se acalmarem, sua respiração voltar ao normal.


"Isso te incomoda?", disse Malfoy, a voz baixa.


Houve um breve silêncio.


"Incomoda você?" perguntou Harry.


Outro silêncio, dessa vez mais longo, e então Malfoy olhou para o relógio. "Anda, ou nós vamos chegar atrasados".


Harry concordou com a cabeça e eles se separaram, vestindo as roupas e juntando os livros e papéis. "E não consigo encontrar o meu-"


"Livro de Feitiços, está debaixo daquela pilha", Malfoy apontou com a varinha para a mesa de Harry. "É a última vez que estou arrumando sua mesa para você, não sou o seu elfo doméstico", disse ele, e Harry acenou em agradecimento e pegou o livro. Eles andaram até a porta.


E Harry estava mais uma vez surpreso em como era estranha a situação entre eles. Ele sempre achava que já estava acostumado, que já tinha se adaptado, mas então algo desse gênero acontecia. Suposições tinham que ser re-examinadas. Novas realidades para se lidar.


E novos tipos de comportamento para se lidar. Como, por exemplo, o fato de que podiam ficar longe um do outro por períodos maiores de tempo. Naquele dia eles tinham assistido às aulas de Runas Antigas e Astronomia quase inteiras separados. Fora um pouco desconfortável, e eles tiveram que voltar direto para casa depois das aulas para ‘renovar o elo’, mas, como isso envolvia sexo, eles acharam que valia o sacrifício.


Eles cumprimentaram o resto do grupo — a maioria sonserinos, além de Ron e Hermione — e se acomodaram. Parecia que Greengrass ainda não tinha chegado, e os outros estavam esperando por ela antes de começarem a estudar. Outra mudança agradável: como a sorte dos Malfoys havia virado, eles estavam sendo tratados muito melhor. Mesmo Greengrass de vez em quanto estava sendo educada, mas eles não sabiam se isso era a causa ou o efeito do romance dela com Nott estar meio balançado. Parecia que o cuidadoso equilíbrio de Lucius entre a posição política de um lado e o ideal do outro lado estava lhe dando popularidade. Algumas pessoas estavam começando a ter a opinião de que, se Voldemort fosse derrotado, pelo menos Lucius estaria lá para defender as causas dos puros-sangues mais conservadores. Para atingir alguns dos objetivos de Voldemort, independente de ele próprio estar lá ou não.


"Draco?", um sonserino do quinto ano chegou correndo. "O Diretor quer falar com você. Algo sobre uma mensagem do seu pai".


Harry começou a levantar com Malfoy, e o loiro balançou a cabeça. "Não, não precisa, eu já volto. Não é tão longe, e acho que só deve ser por alguns minutos".


"Tudo bem", disse ele, acariciando de leve o ombro de Malfoy e voltando a sentar.


"Potter, você vai voltar a ser Apanhador e Capitão, não é?", Bulstrode perguntou.


"Sim".


"Que pena que Carmichael não deu o braço a torcer. Draco é duas vezes melhor do que ele", disse Parkinson.


"É mesmo", Ron comentou.


"Draco não esperava que ele desse o braço a torcer. Ele ainda teve sorte de Carmichael aceitá-lo de volta", Zabini os lembrou.


"Nós todos tivemos sorte; Baddock é vergonhoso", disse Bulstrode, cujos modos ao redor de Malfoy estavam gradualmente mais calorosos, assim como Crabbe e Goyle. "Eu só queria que Draco pudesse jogar nesse sábado contra a Corvinal".


"Ele deveria jogar no sábado. Ele está indo bem nos jogos de apanhadores", disse Parkinson com raiva. "É por motivos políticos que Carmichael não quer deixá-lo voltar ainda", ela disse, e a mesa explodiu em uma discussão acalorada. Harry se viu argumentando em defesa de Carmichael — mas era bem difícil explicar seus motivos para um bando de pessoas que não entendiam nada sobre ser apanhador ou sobre ter um elo.


"Não, eu não estou exagerando", ele repetiu, exaltado. "Você realmente precisa estar focado para ser apanhador, e não é fácil quando você está distante e o elo está meio que te consumindo. Nós dois estamos indo bem voando um contra o outro — certo, ele está melhor do que eu, obrigado, Parkinson — mas em uma partida um estaria voando sozinho e o outro teria que ficar no chão, e nenhum de nós dois está pronto para isso. Eu ainda não sei se estarei bem no mês que vem".


"Você estará bem", disse Ron.


"Contra a Lufa-Lufa? Você viu o jeito que eles estão jogando esse ano?"


"É um acontecimento muito, muito triste, o dia em que a Sonserina e a Grifinória estão com medo da Lufa-Lufa", Parkinson comentou e olhou por cima dos ombros de Harry.


Harry se virou. "Oh, você voltou", ele disse, se afastando para que Malfoy pudesse sentar.


Malfoy se inclinou e disse no ouvido de Harry. "Eu preciso falar com você em particular. Agora".


Harry levantou, franzindo a testa para Malfoy. "Tem alguma coisa-"


"Não, nada de errado", Malfoy o assegurou rapidamente. "Está tudo bem", ele disse para os outros. "Nós estaremos de volta em alguns minutos". Ele segurou Harry pelo cotovelo, os guiando para fora do Grande Salão até um corredor.


"O que foi?", perguntou Harry, surpreso pelos sentimentos vindos de Malfoy. Não havia como descrever sua expressão, nada além de “intenso”. Os olhos fixos nos seus, a respiração acelerada. Suas emoções eram uma confusão desconcertada da qual Harry não conseguia decifrar nada.


"O que foi?", ele repetiu.


Malfoy respirou fundo. "Meu pai o encontrou. O cara que lançou o elo".

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