23 de Outubro

23 de Outubro



Capítulo 7
23 de Outubro


Dia 25, Sexta


Draco estava sonhando e sob nenhuma circunstância queria acordar.


‘Tive tantos desses sonhos’, ele pensou vagamente. Tantos sonhos em que finalmente conseguia fazer tudo o que queria com Potter, onde eles não tinham que parar por causa das objeções morais idiotas do outro ou do medo de intimidade ou de como quer que eles chamassem no momento. Sonhos em que havia apenas impulsos e nenhum controle. Em que eles se tocavam, se abraçavam, se acariciavam, derretiam um no outro e arfavam juntos e- … oh, não, ele pensou desesperadamente… por favor, não me deixe acordar-


Mas era tarde demais, só que não necessariamente uma coisa ruim, ele percebeu depois de uns momentos de atordoamento, quando se viu acordando de um sonho muito bom para uma realidade ainda melhor. Porque Potter estava em cima dele, murmurando em seu ouvido, a voz rouca e entrecortada.


“Uhn-”, foi tudo o que Draco conseguiu dizer.


“Eu disse que, se isso é vingança pelo outro dia, você venceu”, Potter falou, exasperado, apoiado em um cotovelo, as mãos apertando com um pouco de força os ombros de Draco. “Você está me deixando louco, acorde-”


“Tô acordado”, Draco murmurou, puxando Potter para mais perto. Ele arfou, sentindo o calor duro da ereção de Potter contra a sua, com nada além de algodão fino entre elas. “Por deus, sim, eu estou acordado”, exclamou com a voz trêmula enquanto Potter hesitou por um segundo, mas se aproximou, fazendo com que os dois ficassem completamente pressionados um contra o outro, escorregando uma perna por entre as de Draco e colocando um braço na cintura dele para mantê-lo firme.


Eles gemeram juntos conforme a pressão cresceu, os dedos de Potter dolorosamente enterrados nas costas de Draco, que mordiscava cegamente o pescoço do grifinório enquanto eles investiam um contra o outro. Potter murmurou baixinho e Draco se deixou levar pelas sensações. Potter era tão incrivelmente quente, e o pescoço dele era como seda debaixo dos seus lábios. As mãos do grifinório estavam se infiltrando por baixo da camiseta do loiro, os dedos deixando traços de calor por onde passavam, e eles estavam tão perto, tão rápidos — e Potter de repente ficou imóvel, e Draco sentiu o orgasmo percorrê-lo antes mesmo de perceber Potter pulsando contra ele, e então ele atingiu o clímax tão forte quanto como se estivesse sendo rasgado ao meio, mas de um jeito muito, muito bom.


Eles ainda estavam agarrados. Draco podia sentir vagamente os batimentos cardíacos de Potter acelerados, além do som de seu próprio coração disparado, que ecoava alto em suas orelhas. Então uma onda de exaustão o invadiu, e os braços de Potter ficaram frouxos ao redor da sua cintura. O grifinório suspirou contra o pescoço de Draco, e o sonserino refletiu que talvez fosse essa a função da letargia pós-sexo: não deixar energia para que eles se sentissem constrangidos. Porque Potter ainda não queria que esse tipo de coisa acontecesse, tão próxima de sexo de verdade, e tinha acontecido. E Draco não conseguiria lidar com outra crise existencial de Potter agora, mas estava tudo bem, porque parecia que Potter iria voltar a dormir.


Draco deixou sua mente vagar, notando que eles estavam esgotados pelo esforço, mas por ele tudo bem. Estava cansado demais até para usar o feitiço de limpar os lençóis, e isso também não importava.


ooooooo


“Acha que ainda tem café da manhã na cozinha?”, perguntou Potter, bastante tempo depois.


“Se não tiver, você sempre pode recorrer ao Dobby”.


Potter sorriu, sentando-se devagar. “Então… repetimos o que fizemos ontem?”


“Quer dizer, voar, piquenique e a lista?”


“Sim”.


“Sim, mas é melhor a gente ler um pouco também. Estou ficando muito atrasado nas matérias”.


“Esse é um item da lista mesmo”, lembrou Potter. “Estudar juntos. Se bem que não deu muito certo ontem”.


Draco deu um sorriso malicioso, saiu da cama e juntou seus livros enquanto Potter escovava os dentes e o cabelo. Um gesto bastante inútil, esse último, pensou Draco enquanto entrava no banheiro.


“Potter, por que você não tenta pentear para trás?”, sugeriu enquanto pegava sua própria escova de cabelo. “Está uma desgraça”.


“A Sra. Weasley provavelmente diria que eu preciso cortar o cabelo, mas isso não ia adiantar em nada”, Potter disse em tom de desânimo, desistindo do cabelo e começando a espalhar a poção barbeadora no rosto.


“Não, não adiantaria”, Draco respondeu, franzindo a testa para uma mecha levantada no seu próprio cabelo.


“Seu cabelo também está precisando de um corte”, o espelho disse, e Draco balançou a cabeça, dando um olhar de repreensão para ele.


“O que foi?”, Potter perguntou.


“Nada”, ele deu de ombros. Potter o encarou com curiosidade enquanto tirava a poção do rosto. “Nada, é só que… bruxos casados tradicionalmente usam o cabelo comprido”.


“Mesmo? O pai do Ron não usa”, Potter comentou, e Draco rodou os olhos.


“Que choque, Arthur Weasley não seguindo as tradições bruxas”.


“É isso que é esperado?”, Potter perguntou. Draco deu de ombros.


“Não muito. Não é mais tão incomum cortar o cabelo”. E de repente ele decidiu que não ligava para a tradição nesse caso específico e cortaria o cabelo na primeira oportunidade.


“Oh, não esqueça, Pomfrey quer nos ver agora de manhã”, disse Potter, secando o rosto. “Ou melhor, vamos agora, enquanto todo mundo está na primeira aula”.


“Vamos evitar todos até segunda, então?”, perguntou Draco enquanto saía do banheiro.


“Acho melhor”.


“Mesmo?”, Draco estava um pouco surpreso. “Por quê?”


“Mais fácil desse jeito”.


“Não podemos nos esconder para sempre”.


“Não vamos nos esconder para sempre, estaremos de volta na segunda. De volta até os dormitórios, se você quiser”, Potter hesitou. “Até… até no da Sonserina, se você quiser… quer dizer, seria justo-”


“Não seja idiota”, disse Draco distraído, escolhendo uma roupa diferente do uniforme para vestir. “Não vou voltar para a Sonserina até que as coisas tenham se acalmado”.


“Como assim? Por quê?”


“Meus colegas iriam te estripar, Potter, você sabe disso”, Draco escolheu uma camisa. “Enquanto seus colegas de casa são fofinhos, carinhosos e me oferecem chocolates de licor”.


Potter riu. “Eu só pensei que você-”


“Pensou o quê? Que eu insistiria para ficarmos na Sonserina? Para que então meus colegas digam algo perfeitamente inocente e você perca a cabeça e nós sejamos encaminhados para o St. Mungus? Não, obrigado. Eu quero sair dessa história inteiro, se você não se importa”.


“Certo, então”, disse Potter, colocando os livros na mochila. “Pomfrey e depois café da manhã”, ele rodeou a mesa, tentando achar suas anotações de poções.


Oh, pelo amor de deus, agora Potter estava se sentindo insultado por algum motivo. “O que quer que eu tenha dito, me desculpe”, Draco murmurou, desejando que tivesse passado por aquela maldita porta com outra pessoa, com qualquer outra pessoa. Ou melhor ainda, que fosse Potter e outro alguém. “Eu não quis-”, ele se interrompeu a tempo de evitar que dissesse ‘magoar seus sentimentozinhos’. Potter virou-se para ele.


“Você está ficando bom em pedir desculpas, já percebeu?”


“Maravilhoso”, Draco resmungou, e Potter lhe deu um sorriso. “E agora você diz ‘Desculpas aceitas’ ou ‘Sem problemas’, lembra-se?”


Potter o fez parar de falar colocando uma mão no seu braço, uma expressão ilegível no rosto. Seus olhos rastrearam os de Draco procurando algo. Draco não tinha idéia do que. Se encontrou ou não, não dava para saber, mas ele se surpreendeu quando os olhos de Potter baixaram até seus lábios e ele deu um passo para frente para beijá-lo. Draco hesitou por um instante antes de corresponder, e quase imediatamente se arrependeu.


“Potter”, ele murmurou quando os beijos começaram a esquentar com uma velocidade meio estonteante, e Potter derrubou sua mochila. “A gente não ia ver Pomfrey… hmmm… durante a primeira aula?”


“Certo”, Potter se afastou, rindo. “Me desculpe”. Ele correu uma mão pelo cabelo, pegou a mochila de novo e apontou a porta para Draco.


ooooooo


“O que achou da Pomfrey?”, perguntou Potter algumas horas depois, quando eles começaram a almoçar.


“Hoje de manhã?”, perguntou Draco. Potter fez que ‘sim’ com a cabeça. “Acho que é como ela disse. Provavelmente nada para se preocupar”.


“Mas ela parecia preocupada”.


“Sim”, Draco deu de ombros, concentrando-se em seu sanduíche. Malfoys acreditavam piamente em pagar para que os outros se preocupassem por eles; era para isso que advogados, curandeiros e pessoas assim serviam, no final das contas. Mas era meio difícil não se preocupar quando a enfermeira da escola, sempre inabalável ao lidar com ossos quebrados ou comas provocados pelo Quadribol, parecia estar mentindo descaradamente ao dizer para eles que a letargia pós-sexual que ambos relataram era ‘perfeitamente normal’. “Mas não podemos fazer nada a respeito. Ela não disse que deveríamos parar”.


“Que bom”.


Draco riu e mudou de assunto. “Por que você gosta tanto de piquenique, Potter? Sua família trouxa fazia isso frequentemente?”


“Piqueniques? De jeito nenhum. Tia Petúnia morreria só de pensar em comer ao ar livre. Tão anti-higiênico. E a sua família?”


Draco riu alto. “Diga se consegue imaginar minha mãe — ou meu pai — comendo em cima da grama”. Potter balançou a cabeça, rindo também, e Draco estava surpreso por como os dois estavam completamente relaxados. E pelo fato de que ele não sentia vontade de matar Potter há varias horas. As coisas definitivamente estavam melhorando.


Era um pouco… desnorteante, na verdade.


“Então por que você quis comer aqui fora?”, Potter perguntou.


“Eu não sou meus pais”, Draco ressaltou. “Além disso, as alternativas eram o Grande Salão, nosso dormitório ou Hogsmeade”.


“Achei que você tivesse gostado de ir para Hogsmeade ontem à noite”.


“Sim, foi legal”.


“Quer voltar hoje à noite?”, Potter perguntou, e Draco concordou. Hogsmeade tinha sido muito legal, na verdade, e eles tinham passado mais tempo lá do que o planejado. Comida decente, mudança de ares, e aquela maravilhosa indiferença de Hogsmeade com os estudantes. Provavelmente a vila inteira sabia quem eles eram e por que estavam em Hogsmeade no meio da semana, mas ninguém nem ao menos levantou a sobrancelha ao vê-los. Tinha sido muito melhor do que o Grande Salão, pensando bem.


E o fato de que os dois não estavam socialmente isolados e que ninguém que conheciam estava por perto era maravilhoso. Quase fez com que Draco desejasse não ter que voltar para aula na segunda, que eles pudessem continuar nessa…


…nessa o quê? Lua de mel?


De repente, Draco se sentiu completamente confuso.


“O que foi?”, Potter perguntou.


Draco olhou para ele e balançou a cabeça, tentando desviar o fluxo dos pensamentos em sua mente. Porque aqueles quatro dias deveriam ter apenas um propósito: que ele e Potter chegassem a um ponto em que pudessem coexistir sem matar um ao outro, até que a intensidade do elo chegasse a um nível controlável e eles pudessem se afastar e nunca mais se verem de novo.


Não era para ele começar a achar Potter interessante e agradável de ter por perto. Não deveria se sentir contente na presença de Potter, ou querer saber o que ele pensava sobre algum assunto ou concordar com Potter ou apreciar o seu senso de humor. Ou ficar ansioso para ir para Hogsmeade com ele de novo.


Potter estava franzindo a testa. “O que você tem?”


“Nada. Er, nada. Vamos… é melhor a gente ir voar ou-”


“Você não terminou o seu almoço”.


“Eu… eu não estou com fome”.


“O que foi?”, e, oh, merda, agora Potter estava preocupado. “Malfoy?”, Potter tocou sua mão, olhando para ele com intensidade.


“Não”.


“Não o quê?”


Draco afastou a mão rapidamente, balançando a cabeça e desviando o olhar do rosto preocupado de Potter.


“Malfoy, o que-”


“Afaste-se”, disse Draco rispidamente, e Potter recuou, sua preocupação mesclada à chateação.


“Está bem. Me desculpe. Eu só pensei… Pensei que pudesse te acalmar, só isso. Você parece estar precisando”, ele esfregou o pescoço distraidamente.


“Então você queria fazer a sua mágica tranqüilizante?”, Draco disse com desdém. “Poupe-me”.


“O que deu em você de repente?”


Ele se levantou, furioso — com Potter pela sua preocupação e com ele mesmo por seus sentimentos. “Cai fora”, gritou, com muito mais raiva do que pretendia. Os olhos de Potter se arregalaram e ele também ficou de pé.


“Qual é o seu problema?”


“Você!”, Draco sentiu uma pontada de satisfação quando Potter deu um passo para trás, como que repelido fisicamente pela força da sua raiva. Potter se moveu devagar em direção à sua varinha, que ele tinha deixado no chão, e então viu que Draco o observava e quase involuntariamente levou a mão na direção do pescoço, para a chave de portal que trazia em uma corrente debaixo da camiseta.


“Vai usar a chave de portal para St. Mungus?”, gritou Draco maldosamente. “Vá em frente. Seja meu convidado”.


“Você teria que vir também”, lembrou Potter, e Draco deu de ombros, não se importando desde que ele não se sentisse como a alguns minutos atrás. “Estaríamos desistindo e nos entregando nas mãos de outras pessoas”, disse Potter, a voz surpreendentemente calma.


“Ótima idéia, vamos!”, ele disse, ameaçando pegar sua própria chave de portal. Potter agarrou sua mão.


“Por quê?”


“O fato de você estar pensando em fugir é uma boa pista de que isso não está funcionando, não acha?”, perguntou acidamente, se afastando de Potter novamente.


Estava funcionando. Até um minuto atrás. Não estávamos brigando, estávamos nos entendendo e-”, Potter parou e Draco sentiu um pouco de medo. ‘Oh não, por favor, não deixe Potter pensar no que eles estavam sentindo antes…’ “E agora você está com medo. Por quê?”


“Cai fora!”, disse Draco, ouvindo sua voz fraquejar e ganhar tons de pânico.


“O que está acontecendo?”


“Cai FORA!”


“NÃO! Eu não vou desistir só porque você teve um ataque de pânico ou algo do gênero… ou porque está com raiva de mim, porque eu sei que isso só está acontecendo porque você está com medo”.


“Não estou-”


“Você sabe que eu posso ajudar. Eu já fiz isso antes — quando você está tenso eu posso te acalmar-”


“Só há um tipo de ‘tensão’ para a qual eu preciso da sua ajuda”, Draco rebateu, e Potter, depois de um momento de confusão, corou. Draco se sentiu melhor — pelo menos esse era um território familiar: fazer Potter ficar desconfortável e depois partir para o golpe de misericórdia. “Oh, isso é assustador demais para você, né?”


Potter o encarou, completamente perdido pelas emoções conturbadas de Draco. Ele era bem atraente, a mente de Draco considerou, especialmente quando estava com o rosto vermelho e a respiração irregular, como agora.


“O que me diz, Potter?”, Draco passeou com os olhos pelo corpo de Potter e foi recompensado por uma fagulha de interesse do outro.


“Nã-não-”


“Por que não?”


“Você está… você está com raiva-”


“Você nunca fez sexo com raiva antes, não é mesmo? Tem o seu encanto”.


“Eu nunca fiz sexo de nenhum tipo antes, lembra?”, disse Potter, tentando manter um tom calmo, mas sem conseguir esconder seu medo. “E não vou fazer agora, não com você desse jeito”.


“Onde está a famosa coragem grifinória?”


“Isso não seria corajoso, seria estúpido”, disse Potter, ficando mais abalado conforme Draco se aproximava com um sorriso maldoso no rosto. “Além disso, eu não quero”.


Draco riu. “Mentir para o seu cônjuge com o elo recente é quase impossível, Potter”, ele disse, e Potter ficou mais vermelho. “Pelo menos uma parte de você quer”, ele olhou nos olhos do grifinório. Draco se aproximou mais, e Potter se afastou.


“Eu… você disse que você não podia-- se eu não-”


“Se estivesse mesmo tão relutante quanto gostaria, acredite, eu não iria conseguir me aproximar de você”.


Potter parecia quase congelado pelo conflito de impulsos.


“Eu não vou tocar em você”, Draco levantou as mãos e deu um passo para trás. “O próximo passo é todo seu”.


Potter engoliu a seco, centrando o olhar nos lábios de Draco antes de voltar para os seus olhos de novo.


Hesitantemente, ele tocou o braço de Draco, que prendeu a respiração. E então algo pareceu explodir dentro de Potter, porque de repente ele estava mais perto e empurrando Draco contra a árvore mais próxima. Draco começou a empurrá-lo de volta, se preparando para lutar pelo controle… e então hesitou.


Com Potter tão instável como estava agora, quem sabia o que iria acontecer se Draco resistisse. Aquilo poderia virar uma briga. E eles se machucariam seriamente.


Sentindo como se estivesse pisando na beira de um abismo, Draco deixou Potter empurrá-lo contra a árvore e permitiu que ele assumisse todo o controle. E então Potter se esfregou contra ele, com as mãos firmes nos cabelos de Draco para mantê-lo parado, e tomou a boca do loiro em um beijo rude. Draco imediatamente inclinou a cabeça e entreabriu os lábios, deixando que Potter fizesse o que quisesse, as mãos na cintura do outro para manter-se equilibrado, mas sem tentar controlá-lo de qualquer forma.


Oh, sim, ele pensou quase grato quando Potter mordeu seu lábio, aquilo nada tinha a ver com afeição, romance ou qualquer outra coisa suave, doce e perigosa. Não era nada além de sexo e raiva e catarse, e não importava quem estava agindo e quem estava sentindo, era bruto e um escapismo perfeito.


Draco arfou quando Potter mordeu seu pescoço de modo nada gentil. “Vo- você pode fazer isso mais forte”, e gritou quando Potter fez exatamente o que ele tinha dito, dor e prazer invadindo seus sentidos.


Potter estava puxando a camisa de Draco afobadamente para fora da calça, correndo a mão por suas costas, e o loiro o ajudou e começou a puxar a camisa dele também, os dois tentando lidar com os botões por entre os beijos brutais e violentos. Finalmente conseguiram se livrar das camisas, a sensação da pele nua contra a do outro incrivelmente intensa depois de tantas semanas de pudicas camadas de roupas entre eles. Então Potter estava explorando o pescoço de Draco de novo — ele já deveria estar com várias marcas a essa altura, mas aquilo o fazia estremecer e era tudo o que Draco precisava no momento.


Aquilo era apenas o feitiço de ligação. Apenas sexo. Aquilo era seguro.


Quem diria que hostilidade poderia trazer à tona esse lado de Potter, Draco se perguntou vagamente entre as ondas de prazer e dor. Suas costas iriam ficar machucadas e arranhadas — o tronco áspero da árvore machucava-lhe a pele cada vez que Potter se empurrava contra ele, mas Draco não queria que ele parasse nem por todos os Galeões em Gringotes.


Potter se afastou por um momento, o peito arfando e os lábios inchados, seus olhos verdes incrivelmente escuros e intensos. Draco esperou, mal conseguindo se conter para que Potter encontrasse de uma vez o que quer que estivesse procurando em seus olhos e pudesse continuar… e que não parasse, por favor, por favor, não parasse.


As mãos de Potter deslizaram mais para baixo e o coração de Draco pulou algumas batidas enquanto os dedos dele escorregavam para o cós de sua calça. Potter o encarou intensamente enquanto desabotoava-lhe a calça devagar, evidentemente esperando por um sinal se deveria parar ou não. Os olhos de Draco fecharam involuntariamente quando sentiu o aperto da roupa na virilha diminuir, e então as mãos de Potter estavam descendo, com uma lentidão insuportável, na direção da sua ereção. Draco não conseguia se mover, não conseguia fazer nada — seu pensamento mais coerente era de que ele precisava dizer para Potter, pelo amor de deus, ir mais rápido, — mas não conseguia sequer juntar forças para fazer isso, estava reduzido a esperar, literalmente sem fôlego, seus dedos apertando os ombros do outro, pelo toque da mão de Potter.


“Oh, céus!”, ele arfou, abrindo os olhos quando Potter finalmente o tocou e ele quase teve um orgasmo. Potter o observava intensamente, e Draco não sabia como pedir para ele se mexer, por favor. Então decidiu colocar a mão na frente da calça de Potter e, hesitando apenas por um segundo antes de Potter dar um pequeno aceno de aprovação, Draco abriu a calça de Potter com os dedos trêmulos, para mostrar-lhe o que ele precisava, mais, mais forte, mais rápido e-


Potter fechou os olhos e gemeu quando Draco o tocou, e logo os dois estavam dando ao outro tudo o que tinham, investidas rápidas e brutas que pareceram durar entre milionésimos de segundos e o infinito antes que Potter gemesse de um jeito que mais parecia um soluço e Draco quase arrancasse um pedaço do seu lábio pela intensidade daquilo e os dois se despejassem nas mãos um do outro.


PorMerlin, aquela era uma idéia muito melhor do que ir para St. Mungus, Draco pensou enquanto os dois escorregavam para o chão. Acabaram se recostando na base da árvore, os olhos fechando quase contra a vontade.


Oh, aquilo era muito melhor.


ooooooo


“Você pretende me dizer o que aconteceu essa manhã que te deixou tão estranho de uma hora para outra?”, Potter perguntou casualmente naquela noite durante o jantar em Hogsmeade, e Draco engasgou com o cozido de abóbora.


“Como?”


“O que aconteceu com você hoje de manhã?”


Draco fechou a cara. “Não é da sua conta. E por que tocar nesse assunto?”


“Estava esperando que você me falasse por vontade própria. E é da minha conta, sim. Quero saber o que eu fiz para não fazer de novo. Foi meio irritante”.


“Você não fez nada. Não foi nada”.


“Eu quase usei minha chave de portal, Malfoy”, disse Potter. “Achei que você fosse me atacar”.


“E então você atacou a mim”, apontou Draco, sorrindo. “E tudo pareceu correr muito bem depois disso. Pelo menos não te ouvi reclamar”. Ele tocou no pescoço com cuidado. “Mas vai ser meio constrangedor pedir para Pomfrey curar esses chupões amanhã. Queria ter sabido antes que você é tão inútil com feitiços de Primeiros Socorros quanto eu”.


Potter, de maneira bem previsível, corou, mas não baixou o olhar. “Malfoy”.


Draco colocou o garfo sobre a mesa e respirou fundo.


Expirou. Não, ele não tinha idéia de como explicar o que tinha acontecido naquela manhã, e não queria de jeito nenhum conversar com Potter a respeito.


Potter distraidamente bateu o garfo contra o prato. Um som irritante, Draco pensou.


“Você não sabe ou não quer falar a respeito, Malfoy?”


“A segunda opção”.


“Não quer falar de jeito nenhum ou só comigo?”


“De jeito nenhum”.


“Não é uma opção. Você fala com a Pomfrey amanhã?”


Draco suspirou, aborrecido. “Sim, claro”. Seria bastante divertido. ‘Madame Pomfrey, acho que estou começando a gostar demais do meu marido involuntário. O que faço?’. O que é que ela diria?


Pomfrey provavelmente ficaria satisfeita e chamaria aquilo de ‘progresso’. E provavelmente seria, se seu marido involuntário não fosse Potter.


Mas com quem falar? Seus pais estavam fora de cogitação — além do fator do constrangimento, ele preferia levar um Cruciatus a admitir o que estava sentindo para eles. Sua mãe ficaria horrorizada e preocupada. Seu pai ficaria… oh, ‘desapontado’ não era nem o começo de como seu pai ficaria.


Talvez Snape?


Talvez ninguém. Talvez ele apenas mencionasse para Pomfrey, ouviria sua aprovação, e esperava por Merlin que ela dissesse que era parte dos efeitos naturais do elo e não culpa dele. Então poderia esquecer seus medos e desconforto e viver dia após dia até que o feitiço enfraquecesse. E esperar que tudo terminasse bem.


“Tudo bem, eu falo com Pomfrey”, disse de modo mais firme e se convenceu a não se preocupar com aquilo. De modo algum. Mesmo.


“Legal”, Potter pareceu satisfeito e deu uma garfada no seu macarrão.


“Esse cozido está surpreendentemente bom para o Três Vassouras”, disse Draco, esperando que tivessem encerrado o assunto anterior.


“Eu nem sabia que eles tinham comida normal aqui”, comentou Potter.


“Ugh, não me diga que isso também é comida trouxa”, Draco torceu o nariz em desgosto.


“Não, não quis dizer comida trouxa, eu quis dizer comida, não bolos e biscoitos”.


“Você não acha que as pessoas que moram aqui gostam de sair para jantar?”


“Nunca pensei a respeito”, Harry disse.


“Ouvi dizer que eles têm uma boa seleção de vinho também”.


“Eu achava que só o Cabeça de Javali servia bebidas alcoólicas”.


Draco soltou uma expressão de desgosto. “Aquele lugar é revoltante. Você consegue imaginar os donos do Dedosdemel indo ao Cabeça de Javali quando querem tomar um pouco de vinho no jantar?”


“Será que eles serviriam para a gente?”


Draco levantou as sobrancelhas. “Como assim?”


“Nós já somos maiores de idade”.


“Potter, você está sugerindo que a gente peça álcool?”


“Não estava sugerindo nada, só estava questionando”.


“Oh, é claro”, Draco revirou os olhos. “Me desculpe, longe de mim, sugerir que o Garoto de Ouro da Grifinória faça alguma coisa contra as regras só para se divertir, e não para salvar o mundo”.


“Não sou eu o Monitor aqui”, Potter retrucou.


“Ex-Monitor, cortesia do nosso elo e muito obrigado por me lembrar disso. Além do que, você nunca iria saber como quebrar as regras descaradamente. Você geralmente não usa uma capa de invisibilidade ou algo assim?”


“Oh, e você acha que conseguiria? Simplesmente pedir para eles trazerem a bebida, sem feitiços e nenhum outro truque? Usando só o seu charme sonserino?”


“Por quantos galeões você quer saber?”


ooooooo


Ron Weasley caminhou pelo corredor do sétimo andar, bocejando e checando o horário. Onze e meia da noite. Ele ainda tinha tempo, depois de terminar as rondas de monitor, para terminar a redação de Defesa Contra as Artes das Trevas que tinha que entregar amanhã e fazer um bom trabalho nela. Não tão bom quanto se Harry estivesse lá para ajudá-lo e ler o texto antes de ele entregar, mas dava para passar.


Ron suspirou, desejando mais uma vez que Harry estivesse de volta ao dormitório. O que quer que esse elo estivesse fazendo com Harry, também estava afetando os grifinórios do sétimo ano. Sem Harry por lá, todos se sentiam meio perdidos; Ron não tinha ninguém para ajudá-lo em Defesa Contra as Artes das Trevas, Neville não tinha ninguém para ouvir suas histórias sobre Herbologia, Dean não tinha ninguém com quem conversar sobre futebol…


Bem, com sorte, Harry estaria de volta na segunda-feira. Presumindo que as coisas corressem bem entre ele e aquela doninha desgraçada a quem ele estava grudado. O que não era algo bom de se pensar; mesmo com o que Ron falara para Harry no dormitório semana passada, ele não entendia como o amigo conseguia suportar viver com Malfoy. E não conseguia imaginar Malfoy e Harry fazendo nada além de brigar até que os dois se azarassem e fossem parar no hospital. McGonagall tinha assegurado aos Grifinórios que os dois seriam supervisionados à distância, e que cada um carregaria uma chave de portal por segurança. Mas, para Ron, o simples fato de que eles precisavam de chaves de portais era uma prova de que não deveriam ficar sozinhos juntos. Nem um pouco reconfortante.


Ron suprimiu outro bocejo quando ouviu um barulho vindo de uma sala de aula aberta. Ele resmungou e foi verificar, e então sorriu e acenou para Sir Nicholas e para a Lady Cinzenta. Bom. Nada de alunos fora dos dormitórios. Apenas dois fantasmas, que ultimamente estavam mostrando sinais de um romance surgindo. Não havia por que ficar mais tempo fora do dormitório disciplinando alunos e discutindo sobre quantos pontos tirar ou ficar envergonhando por interromper casaizinhos em momentos privados.


Como será um romance entre dois fantasmas, Ron se perguntou enquanto continuou com a ronda, acelerando o passo agora que estava tão perto de acabar. Virou em um corredor e ouviu outro som, vindo da escada que tinha acabado de subir.


Resmungando, ele voltou em silêncio, esperando que não fossem Lavender e Blaise Zabini de novo. Ela tinha ficado bastante chateada com ele da última vez.


“Shh”, alguém murmurou, e teve como resposta uma risadinha.


“Shh, você”, quem tinha rido disse. “Ninguém está aqui. Também, nem passamos tanto da hora”.


Ron levantou as sobrancelhas. Harry?


“Vem, Potter, tamos quase lá”, Malfoy respondeu, soando ofegante e feliz. E também muito, muito bêbado. “Quaaaaase lá”.


“Sabe onde mais que quaaaaase estamos?”, disse Harry. “A sala pecisa. Pre-ci-sa”. Ron ouviu o barulho de alguém tropeçando, e então risadas abafadas.


“Por deus, Potter, cê num sabe beber”, disse Malfoy. “Vem”.


Outro barulho de tropeço, e Ron abruptamente concluiu que não queria encontrar Harry e Malfoy naquele momento. Olhou para o corredor e se escondeu atrás de uma armadura quando eles apareceram na outra ponta.


“E cê consegue?”, Harry riu. “Queeeeem quase vomitou nas escadas agora pouco?”


“Não eu”, Malfoy disse com sua dignidade alcoolizada.


Ron espiou pela armadura e teve que cobrir a mão com a boca para não rir alto. Harry e Malfoy estavam tentando caminhar por um corredor perfeitamente amplo com muito pouco sucesso. Harry estava com o braço passado pelo ombro de Malfoy, e o braço de Malfoy envolvia a cintura de Harry, mas era difícil dizer quem estava se apoiando em quem. Enquanto Ron assistia, os dois se inclinaram contra a parede, rindo até perder o fôlego.


“Olha só”, Harry gaguejou, animado. “Prendi você na parede”, e ele foi para mais perto de Malfoy e o beijou. Malfoy emitiu um som de susto, e então correspondeu com vontade, e Ron voltou a se esconder atrás da armadura.


Agora, ao invés de divertido, aquilo se tornara constrangedor. Pelo que dava para perceber pelos sussurros e murmúrios abafados, Harry e Malfoy estavam se divertindo um pouco mais do que qualquer pessoa deveria fora do próprio quarto.


Bem. Eram coisas completamente diferentes, saber que seu melhor amigo estava atraído e provavelmente transando com o seu pior inimigo e ver tal coisa. Ou ouvir.


“Vem, Potter, tamos quase no quarrrto”, Malfoy protestou fracamente, e foi calado por um barulho que Ron imaginou que era Harry o beijando. Urgh. Ron estremeceu e desejou que eles continuassem se arrastando para o quarto antes que alguém os encontrasse.


“Eu não quero nosso quarto, nós estamos sempre no nosso quarto”, Harry sussurrou, e Ron ouviu um barulho. Ele saiu de trás da armadura, só para imediatamente voltar para lá, decidindo que realmente não precisava ver a imagem de Harry e Malfoy se beijando desesperadamente, Malfoy tentando puxar o moletom de Harry de dentro da calça com uma mão, a outra no cabelo de Harry, que tentava desabotoar a camisa do sonserino.


“O que está acontecendo aqui?”, a voz de Ernie Macmillan ecoou no corredor, e Ron, Harry e Malfoy prenderam a respiração em surpresa.


Harry?”, perguntou Ernie, incrédulo, e Ron espiou de novo. Harry e Malfoy estavam de pé no mesmo lugar, boquiabertos, uma das pernas de Harry entre as coxas de Malfoy, que estava com a camisa desabotoada até a metade. “O que vocês estão fazendo?”


Coisa errada a se dizer, aparentemente, porque Harry e Malfoy se entreolharam e imediatamente perderam as expressões assustadas e culpadas, rindo e se apoiando um no outro.


“O que você acha, Ern?” Harry riu.


“Harry! Você está bêbado!”


“Esperto ele, né?”, Malfoy disse.


“Malfoy! Vocês dois estão bêbados!” Ernie esbravejou, e Harry e Malfoy riram ainda mais, um segurando no outro para manter o equilíbrio.


“Isso é completamente contra as regras da escola”, Ernie disse, e Ron achou que era hora de interferir.


“Obrigado, Ern, eu cuido deles”, disse, saindo de trás da armadura. Harry e Malfoy se viraram, surpresos e desequilibrados, e Malfoy mal conseguiu impedir que Harry caísse de cara no chão. Infelizmente, isso fez com que a camisa de Malfoy se abrisse ainda mais, revelando uma linha do que parecia ser chupões marcando seu pescoço.


Informação demais, pensou Ron, enojado.


“Ron!” Harry comemorou. “De onde você veio?”


“Ron? Por que você estava atrás-”


Ron disse para Ernie firmemente. “Deixe eles comigo, Ern, por favor. Fico te devendo uma”.


“Você não vai deixá-los escaparem dessa, vai? Ficar bêbado é completamente contra as regras da escola e-”


“Pansy!”, Malfoy gritou feliz quando Pansy Parkinson virou no corredor. “Olha, Potter, é uma Convenção de Monitores!”. Harry olhou e escondeu o rosto no pescoço de Malfoy, abafando suas risadas.


“Draco?”, Parkinson disse, incrédula. “O que está acontecendo aqui?”


“Weasley e eu estamos discutindo o que fazer com esses dois”, Ernie disse com uma dignidade reprimida.


“Para começar, eu diria que eles precisam ser levados para o quarto antes que desmaiem no meio do corredor”, disse Parkinson, começando a rir. “Draco, querido, é uma coisa ótima Lucius não estar aqui agora”.


“Né? Maravilhoso!”, concordou Malfoy enfaticamente.


“Ernie, nós lidamos com eles daqui”, disse Ron.


“Acho que deixar isso com um Monitor de uma outra casa é melhor. Vocês dois irão favorecê-los-”.


“Macmillan, nós sabemos dos nossos deveres”, Parkinson interrompeu em voz alta, num tom perigoso. “Não vamos deixar que eles escapem ilesos. Agora, por gentileza, cai fora”.


Ernie estreitou os olhos, mas concordou e saiu. Os dois esperaram que Ernie tivesse realmente ido antes de se aproximarem de Harry e Malfoy.


“Certo. Como é que ele te deixou bêbado?”, Ron perguntou para Harry.


“Como que eu — como é que você sabe que não foi eeeeele que me deixou bêbado?”, disse Malfoy, inconformado.


“E foi?”


“Bem...”, Harry começou timidamente.


“Foi meio que… nós dois…”


“Mas você começou-”, Harry disse.


“Eu não!”, Malfoy disse alto. “Só disse que… eles tinham vinho… voooocê que-”


“Cê apostou que -”


“Tudo bem, tudo bem”, Ron interrompeu. “Vamos. De volta para o quarto de vocês. Nós os acompanharemos”.


“Cês vão tirar pontos?”, perguntou Harry. “Porque… não é justo, né? Nós não estamos nas casas agora, estamos?”


“Nós estamos volunrari… volun-ta-ri-a-mente suspensos”, Malfoy disse.


“O que não é muito melhor, Draco”, Parkinson disse. “Suspensos por brigarem-”


“Volun-TA-riamente suspensos”, Harry repetiu.


“-e bêbados durante a suspensão. Nada muito admirável”.


“Oh, merda. Você- Pansy, droga, não denuncie essa parte, por favor”, Malfoy parou de andar e pareceu realmente preocupado pela primeira vez.


“Draco-”


“Eu faço as detenções, tuudo bem. Mas não-”


“Oh, droga, é”, Harry concordou. “Ron, fale que fui só eu”.


Parkinson e Ron se entreolharam, Ron extremamente confuso e Parkinson preocupada. “Tudo bem”, ela disse devagar. “Não vou reportar essa parte. Mas você ainda vai ter problemas, você sabe?”, ela perguntou para Malfoy.


“Por deixar ele bêbado, tudo bem-”


“Espera, não, de jeito nenhum!”, Ron começou.


“'Ron, o piiioooor que acontece comigo é detenção, mas o Malfoy tem o pa- AI!”, Harry gritou quando Malfoy beliscou seu braço de leve. Ele encarou Malfoy, e alguma coisa indefinível se passou entre eles. Malfoy baixou o olhar e soltou o braço de Harry, que se endireitou, tocando gentilmente o ombro de Malfoy antes de se virar para Ron. “Confie em mim, tá? Depois eu te explico”.


Ron se virou para Parkinson, que tinha assistido aos dois com uma expressão pensativa no rosto. “Por que eu tenho a impressão de que sou o único que não está entendendo as coisas aqui?”


“Porque você é”, Parkinson disse. “Weasley. É simples. Nós tiramos dez pontos de cada um por estarem fora depois do horário. Vinte de Potter por estar bêbado e vinte de Draco por ter deixado que Potter ficasse bêbado e brigar com a gente quando tentamos puni-los por estarem fora nesse horário. Ninguém precisa saber que o Draco também estava bêbado”.


“Eu não-”


“Ron, por favor”, Harry pediu baixinho. Ron olhou para ele, notando que Malfoy, ao invés de satisfeito por se livrar daquilo, parecia estar triste e envergonhado.


“Por Merlin. É melhor você ter uma explicação boa para isso, Harry”, disse Ron, cedendo. Harry não respondeu, apenas deu uns tapinhas reconfortantes no braço de Malfoy, que desviou o olhar e limpou a garganta, mas não se afastou dele.


Parkinson apertou os lábios e olhou para os dois por um instante antes de começar a andar pelo corredor. Eles a seguiram, se apoiando um no outro, Ron logo atrás.


“Então, o que levou vocês a beberem essa noite?”


“Por quê, uma pessoa não pode beber na própria lua de mel?”, murmurou Malfoy.


Harry riu. “Melhor do que um cruzeiro no Mediternio — Me-di-ter-râ-ne-o”.


“Explique por quê”, disse Malfoy.


“Eu fico enjoado no mar”.


“Eca!”


“Você não fica?”


“Malfoys não ficam enjoados no mar. Malfoys ‘se adaptam’ ao ambiente”, ele disse com dignidade, e os dois riram de novo.


“Certo, aqui estamos. Hades”, disse Parkinson para Sir Xander, e se afastou para que Harry e Malfoy entrassem, ainda rindo. Os dois se jogaram no sofá.


Ron revirou os olhos. “Harry. Vocês dois precisam ir para a cama”.


“O quê, na sua frente?”, Harry disse. “Ron, cara, isso é meio nojento”.


Ron respirou fundo, ignorando as risadas de Malfoy e Parkinson e feliz porque o quarto estava escuro o suficiente para que ninguém o percebesse corar. “Eu quis dizer que vocês precisam dormir”.


“Não quero dormir”, Harru falou, se contradizendo logo em seguida com um bocejo. “Tô me divertindo muito. Ron, cê sabia que o Malfoy é um bêbado engraçado? Eu achei que ele seria todo mal-humorado e sarcástico”.


“Eu achei que você fosse ficar choramingando”, Malfoy riu, e, por alguma razão, Harry achou o comentário hilário.


Ron e Parkinson trocaram um olhar de tédio, mas ela parecia estar fazendo esforço para não rir.


“Vamos, vocês dois, vocês têm que dormir”, ela disse.


“Por quê? Nada de aulas, amanhã é… é… que dia é amanhã?”, Malfoy bocejou também.


“Sábado. Mas eu não duvido que vocês arranjem mais problemas se ficarem sozinhos e acordados, e não pretendo servir de babá a noite inteira”, Parkinson disse firmemente, as mãos nos quadris. “Agora, para cama”.


“Me faça ir”, Malfoy a desafiou, mas levantou do sofá no segundo que ela se aproximou com a mão erguida. “Não assim, Pansy, cê num tem senso de humor”, Malfoy murmurou, se afastando. “Vem, Potter, ou ela vai usar o Toque de Fogo do Elo. Cê num tem coração, Pansy, sabia?”


Ele fez Harry levantar, e Harry se apoiou nele, parecendo meio nauseado.


“Ooh, acho que eu vou-”


“Tente vomitar em mim e eu jogo um feitiço para a sua boca ficar fechada”, Malfoy ameaçou. “E aí vai sair tudo pelo seu nariz”.


Harry concordou e prendeu a respiração, obviamente tentando manter o jantar no estômago.


“Shh. Tudo bem. Vem”, Malfoy empurrou Harry para o banheiro.


“É um milagre”, Parkinson comentou baixinho com Ron. “Eu achei que os dois iam parar no St. Mungus permanentemente logo no primeiro dia”.


“Eles parecem estar se dando bem”, disse Ron, cético.


“Sim”, Parkinson suspirou. “Pobre Draco”.


“Pobre Harry, isso sim”, Ron disse.


Parkinson revirou os olhos. “Está bem, Weasley, não vou discutir com você numa meia noite de sexta-feira”. Ela entrou no banheiro, onde Harry e Malfoy pareciam estar com problemas para encontrar as escovas de dentes.


“Por Merlin, vocês dois não têm jeito”, ela suspirou. “Aqui. Fiquem parados”. Ela acenou com a varinha na direção deles algumas vezes. “Dentes escovados, rostos limpos, o que mais vocês precisam?”


“Poção”, Harry apontou para o armário do banheiro. “Pra ele”. Ele começou a ir para a cama.


“Aonde?”


“No alto- ali”, Malfoy apontou.


“Abra a boca”, Parkinson disse, dando uma colherada da poção para Malfoy. “Você toma poção de paciência, Draco?”


“Olha com quem eu tô vivendo”, Malfoy murmurou para a colher. “Você sobreviveria sem uma poção de paciência?”


“Ei!”


“Bem pensado”, Parkinson disse. “Tudo bem, vamos lá”, ela fez Malfoy ir até a cama e Ron disse para Harry dar espaço para o outro. Malfoy deitou, fechando os olhos.


“Tirem os sapatos”, Parkinson mandou.


“Vai embora”.


Parkinson deu de ombro e se virou para a porta.


“Espera… onde você vai?”, Ron perguntou.


“Para cama. Nós já fizemos nossa parte. Eles podem dormir totalmente vestidos, se quiserem”.


“Mas você não tem medo que eles… você sabe, se machuquem? Eles estão bêbados”.


“Eles estão quase dormindo”.


“Mas eu não confio no Malfoy. Ele quebrou o nariz do Harry no Grande Salão-”


Parkinson apertou os lábios. “E você não notou que, enquanto Draco estava quebrando o nariz dele, Potter estava ocupado quebrando as janelas em cima de um monte de alunos do primeiro ano? É um milagre que ninguém tenha se machucado com os estilhaços. E, não sei se você percebeu, mas é o Draco quem está com… umas marcas interessantes no pescoço. Eu acho que ele tem mais com o que se preocupar do que Potter”, ela sorriu maldosamente. “Não que ele estivesse reclamando”.


Ron cruzou os braços teimosamente, e Parkinson deu de ombros. “Tudo bem, então. Você fica até que eles tenham dormido. Eu apareço aqui amanhã de manhã com a poção de ressaca”.


“Tudo bem”. Ron se ajeitou no sofá quando ela foi embora. “Harry? Você está bem?”, ele perguntou.


“Beleza!”, Harry respondeu de dentro do quarto. “Cê num precisa ficar aqui”.


“Vou ficar até você dormir”.


“Malfoy, o quê-”, a voz de Harry foi interrompida abruptamente.


“Shh”.


Risadinhas.


Ron franziu a testa. “O que vocês-”


“Shh, eu disse”, Malfoy murmurou, tão baixo que Ron mal ouviu.


“Harry? Você está bem?”, perguntou Ron, desconfiado.


“Si-sim. Ó… ótimo”, a voz de Harry soou meio ofegante e trêmula, como se ele estivesse tentando se impedir de rir ou de… outra coisa. Ron ficou de pé. Ele não ousaria. Aquela doninha miserável não podia estar tentando fazer nada com o melhor amigo de Ron enquanto ele estava presente. Certo?


“Malfoy, o que você está fazendo?”, Ron perguntou.


Houve uma pequena pausa, e então uma voz maldosa veio do quarto. “Bem, Weasel, eu poderia te dizer, mas preferia que você visse-”


“Malfoy!”, a voz de Harry o interrompeu. “Pare com isso!”. Houve um barulho de movimentação. “Ron está aí!”


“Eu não pedi que ele ficasse aqui”.


“Ele está sendo um amigo”.


“Está sendo um intrometido”.


Ron ouviu o barulho de alguém levantar.


“Onde você vai?”


“Falar com o Ron”. Um curto silêncio, então o som de movimento no colchão. “Não, não estou bravo com você, só quero… falar com o Ron. Vá dormir”. Outro curto silêncio. “Ah, Malfoy, não é como se qualquer coisa pudesse acontecer mesmo. Não sei você, mas toda essa bebida me deixou sem condições para-”


“É, tudo bem”, Malfoy pareceu ter rolado na cama.


“Você não está bravo comigo, está?”


“Não. Só achei que ia ser legal dormir ao mesmo tempo. Tá bom. Noite, Weasel”, ele levantou a voz um pouco, e Ron se forçou a dizer um boa noite civilizado.


Harry saiu do quarto, sorrindo.


“Você está bem?”, Ron perguntou, nervoso, o observando mais de perto. Ele parecia bem. Bêbado e exausto, mas ok.


“Sim, tô bem, por quê?”


“Todos estão preocupados com você”. Harry levantou as sobrancelhas. “Harry, da última vez em que te vimos, vocês dois quase se mataram. E aí ficamos sabendo que deveriam ficar sozinhos o tempo todo agora. Você não ficaria preocupado?”


“Eu tô bem. Nós estamos bem. É muito mais fácil ficar com ele sozinho”.


Ron franziu a testa, incrédulo. “Então… o que você tem feito?”


A boca de Harry se abriu em um sorriso malicioso, e Ron ergueu os braços. “Er, não, não, esqueça isso, não foi o que eu quis perguntar, por favor, não responda-”.


Harry riu. “Não, não isso. Quer dizer, não só isso. Quer dizer, não, a gente não… mas, meio que… erm…”. Ele limpou a garganta. “E, também, você sabe, conhecendo um o outro”. Ele bocejou. “Ron. Vá para cama. Eu tô bem”.


“Estou meio assim de te deixar com ele, vocês dois bêbados”.


Harry riu, e então deu de ombros. “Tudo bem. Como você quiser. Eu vou para a cama”.


“Você não queria conversar?”


“Tô bêbado e cansado demais. Desculpe”. Ele voltou para o quarto, desabotoando a camiseta devagar. “Huh”.


“O quê?”, Ron perguntou, o seguindo.


“Ele tem razão. Essa vai ser a primeira vez que…”, Ron fez uma careta, esperando que Harry não revelasse nada constrangedor. “Primeira vez que nós vamos dormir ao mesmo tempo desde que… é. Huh”.


“Er... sim”, Ron concordou, completamente perdido.


“Cê é um bom amigo, Ron”, Harry sorriu com uma sinceridade bêbada. “Eu te daria um abraço, mas não quero sentir como se minha pele estivesse queimando”.


“Er... tudo bem”. Ron assistiu preocupado enquanto Harry tirou a camisa e o sapato e deitou. Malfoy, já meio dormindo, rolou para o lado dele e o abraçou, enterrando o rosto no seu pescoço. Em poucos segundos, os dois estavam dormindo profundamente.


ooooooo


Nota da autora: há um desenho de uma cena do capítulo 7 em:


i9 . photobucket . com / albums / a71 / AnnaFugazzi / BondCh7 . jpg


(Não esqueça de tirar os espaços)

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