Te Perdôo



Agora ela já não corria. Andava a passos largos, sem olhar para os lados. Os olhos brilhavam anunciando a chegada iminente de lágrimas que ela forçava para não caírem. Não via ou ouvia absolutamente nada. Não notou os alunos que a acompanhavam com o olhar, curiosos com sua estranha rigidez, não ouviu os conhecidos que a chamavam.


Ela conseguia apenas se concentrar nas palavras de Severo, ecoando em sua cabeça, na dor que ainda sentia no braço, na sensação de pernas bambas que ainda não havia lhe abandonado, na injustiça que estava sendo cometida ali.


 Não fora sua culpa! Ela certamente não queria beijar Eastwood. Severo não precisava ter sido tão agressivo!


Sentiu um calafrio ao se lembrar da expressão e de todo o ódio que emanava do marido.


Não queria pensar naquilo, não queria ter que ver aquele lado de Severo de novo. Ele era ciumento, ela sabia, mas nunca pensou que ele perderia o controle daquela forma. Era assustador! Tudo o que ela queria agora, era manter a maior distância possível dele.


Sua cabeça girava.


Sentiu que alguém pousar a mão em seus ombros e guiá-la para dentro de uma sala, mas nem passou pela sua cabeça reagir. Na verdade só notou mesmo o ocorrido pelo barulho da porta se fechando e a voz do diretor selando-a.


Virou-se para o velho, sem conseguir mais conter as lágrimas. Ele tinha um olhar pesaroso.


- Eu pedi para que tivesse paciência, Sarah...


- Paciência? Honestamente, eu já não tenho mais a menor idéia do que essa palavra significa! Quem ele pensa que é?


Dumbledore se aproximou alguns passos.


-Severo está passando por uma fase complicada, minha querida, você tem que tentar entendê-lo...


-ELE ME CHAMOU DE PUTA!


Os olhos de Dumbledore se arregalaram por trás dos oclinhos meia-lua. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro.


-Tenho certeza que ele não quis dizer...


Sarah arregaçou a manga da camisa, revelando o vergão vermelho que se formara em seu braço. A expressão do diretor foi rapidamente substituída por uma expressão de raiva.


-Eu não acredito...


-É, pode acreditar, ele quis dizer exatamente o que disse.


A aluna se virou de costas. O silêncio reinou na sala.


Ou quase.


Sarah debruçou no parapeito de uma janela e deixou suas lágrimas descerem conforme o próprio ritmo. Só os soluços dela foram ouvidos por um longo tempo. Ela não saberia dizer quanto, tão absorta estava em seus próprios pensamentos.


Quando finalmente se acalmou deu voz ao que pensava, ainda encarando a paisagem lá fora. Não era nem meio-dia, ainda.


- O senhor acha que eu também não estou numa fase complicada? Que eu não percebo que tem alguma coisa acontecendo? Eu não sou cega, Dumbledore. Conheço Severo. Sabe, eu não espero que ele saia me contando dos planos de vocês dois nem nada do tipo, mas ultimamente eu mal o reconheço! Eu tento de tudo pra achar o meu Severo nesse cara, mas não consigo! Sei que ele está lá dentro em algum lugar, mas é tão difícil alcançá-lo! Tudo é inútil! Ele está se tornando cada dia mais fechado e distante. E hoje...


Sentiu o nó se formar na garganta as lágrimas voltarem a lhe manchar o rosto.


-Hoje foi a gota d’água. Ele me disse coisas horríveis, horríveis! O homem que estava naquela sala não era meu marido, Alvo. Eu não sei quem ele era, mas não era o Severo. Eu fiquei tão assustada...! E o jeito que ele colocou as coisas... Parecia que eu estava me oferecendo para aquele sonserino. Ele nem sequer quis ouvir minhas explicações! Distorcia tudo o que eu dizia. Parecia que eu estava defendendo o que o Eastwood fez, que eu queria que ele fizesse aquilo! Eu não consigo entender! O que ele quer que eu faça? Que eu me isole do resto da escola? Ignore meus amigos? Me transforme em alguém que eu não sou? Eu não vou fazer isso! Eu...


Ela passou a mão pelo rosto e suspirou


-Merlin! Eu simplesmente não sei mais o que fazer!


Ela se virou novamente para o diretor, porém quase não pode abafar um grito.


 Dumbledore já se fora e parado na porta estava Severo. Ele não a encarava. Quando ergueu os olhos, Sarah se assustou ao constatar, eles estavam marejados. Demonstravam uma profunda tristeza. Ela nunca o vira chorar antes. Teve vontade de abraçá-lo e o faria, se ele não tivesse começado a falar antes.


-Suponho que desculpas não sejam o suficiente, não é?


Ela não respondeu.


Ele respirou fundo e continuou


- Nunca foi minha intenção fazê-la infeliz, Sarah. Nunca. Não notei que vinha agindo de forma tão...  


Ele suspirou, desviando o olhar.


- Eu pensei muito quando Dumbledore me deu aquele anel. Pensei se era a coisa certa a fazer. Nem sei se teremos um futuro, quando tudo acabar. Mas acho que meu egoísmo falou mais alto. Novamente. Você sequer teve tempo de considerar as implicações do que eu sou. Muita pretensão minha achar que eu poderia fazer alguém como você feliz. Isso foi... Um erro.


-Espera aí. Você está tentando terminar comigo, é isso?


-Eu não quero terminar com você, mas...


-Então não o faça. Não pelos motivos errados. Não se você não quiser me fazer infeliz.


-O que quer que eu faça então?


Ele soltou os braços ao lado do corpo olhando para ela com uma expressão derrotada.


-Me ouça. Eu tive tempo sim, de considerar as implicações do que você é. Eu sempre soube que seria complicado e doloroso. E nem por nenhum segundo eu hesitei em abraçar essa... isso, para estar do seu lado. Assim como nunca, jamais eu cogitei a possibilidade de te trair.


Severo abriu a boca para falar alguma coisa, mas Sarah o interrompeu com um gesto.


- Deixe-me terminar.


“O que aconteceu naquela festa foi um sonserino bêbado e muito mais forte do que eu. Um sonserino que sequer havia sido convidado. Não vou dizer que também não tive minha parcela de culpa. Alastair já tinha me avisado para tomar cuidado e eu simplesmente esqueci. Ainda bem que você chegou, mesmo que tenha presenciado aquela cena. Se não fosse você... Eu não sei o que teria acontecido.”


“De qualquer forma, eu só lhe peço que, por favor, entenda que eu não vou deixar de ser quem eu sou. Eu tenho meus amigos e freqüento sim festas clandestinas, vou continuar freqüentando e você sabe muito bem disso. Se pudesse iria de braços dados com você, mas como nós dois sabemos que isso não é possível... Então vou continuar indo nessas festas com meus amigos. Nem que seja só pra manter as aparências. Mas para ser bem honesta, eu vou mesmo é pra me divertir. Pra dançar e encher a cara. Pra tentar esquecer um pouco dos problemas e da guerra. Como todo mundo.”


Sarah andou até Snape e lhe tomou as mãos.


-Mas espero que se lembre que antes de qualquer coisa eu te amo. E viver sem você para mim seria a morte. Entendeu?


Severo se limitou em conjurar um sofá.


Sentaram.


Ele a abraçou e brincou com seus cabelos.


De repente, sem aviso, ele tirou a varinha das vestes e apontou para o braço da esposa. Em poucos segundos a dor foi aliviada. Ela ergueu a manga da camisa. O roxo continuava lá. Ela nunca tinha ouvido falar em um feitiço como aquele.


-Que feitiço é esse?


-Eu inventei quando ainda estudava em Hogwarts. Demorou quase um ano para chegar nesse estágio.


Ela o encarou numa mistura de admiração e incredulidade.


-Fiz para minha mãe. Ocasionalmente meu pai deixava algumas marcas nela... Principalmente depois que começou a beber. Eu não tive tempo de desenvolver o feitiço o suficiente para acabar com o hematoma completamente. Ela morreu antes. O roxo ainda deve ficar por algum tempo.


-Tudo bem.


Sarah baixou a blusa, adivinhando o que viria a seguir.


-Eu agi exatamente como ele. Perdão.


Ele sussurrou.


Sarah o encarou. Seus olhos brilhando.


Passou a mão pelo rosto dele antes de responder.


-Você não é como seu pai, Severo. Está perdoado. Só tente não repetir a dose, por favor.


Ele assentiu com a cabeça e a beijou.


 


Ficaram na sala durante muito tempo ainda. Apenas lá, sentados e às vezes conversando. Mais ou menos na hora do fim do almoço Severo conjurou uma bandeja com sanduíches e logo depois que terminaram, ele mandou Sarah embora.    


Ela não questionou. Domi e Al deviam estar preocupados e as aparências tinham que ser mantidas. Tudo ia se ajeitar. Ela só tinha que ter paciência. Eles tinham que ter paciência.


Deu um último beijo no marido e saiu.


_______________________________________________


 


N/A: Seguinte... Capítulo pequeno né? Eu sei xD


Anyway... eu queria cometar mesmo é sobre a música (sou só eu, ou mais alguém acha que eu tô esquentando a cabeça demais com isso?? >.<). Eu nunca entendi direto a letra dela. Imagino que tenha uma tremenda ironia por trás, mas ignorando ela, até que cabe aqui no capítulo, então eu coloquei xD


Explicação feita...


Então comentem, please!!


Bjo


 


 

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