Capítulo Único



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Aproape Rupt


Quase quebrado


 


                Primeiro, as apresentações.


Você com certeza já deve ter ouvido falar de mim, e provavelmente deve ter medo do meu nome.


         Todos têm, não queira ser exceção.


                        Devo ter sido rude em dizer nome, não tenho nome, mas os seres humanos costumam me chamar de morte.


 


         Sim, morte, mas não se assuste não sou má e um dia, mais cedo ou mais tarde, você irá me conhecer. Não tenha medo, isso não é uma ameaça, é apenas um fato, e não se preocupe, sou tudo menos injusta.


         Não uso capa preta nem foice nas costas, também não sou visível aos que tem vida embora alguns teimem em dizer o contrario... Honestamente, você não vai querer discutir comigo.


                                 Mas essa história não é sobre mim,  é sobre duas pessoas, um sentimento, uma canção, um par de olhos verdes, frios grãos de areia e seda.


Um nome: James Potter.


         Ao menos foi assim que escutei, é claro, a morte não sai por ai perguntando o nome de ninguém.


 


What day is it
And in what month
This clock never seemed so alive


Que dia é hoje e de que mês?
Esse relógio nunca pareceu tão vivo


 


         Havia uma enorme cama no quarto, sobre ela uma janela, grande o suficiente para que os raios de sol entrassem em todos os cantos e junto com eles o cheiro da maresia e o som do mar, das ondas batendo constantemente nas pedras rochosas, ao mesmo tempo em que a água tocava a areia da praia.


         Tinha uma criatura sobre a cama, era sem duvida humano(a). Ele estava deitado no canto inferior, sozinho. Quase não ocupava espaço, sua respiração era quase inaudível. Seu cabelo era castanho escuro e totalmente despenteado, não apenas porque não se levantava da cama a dias, mas também porque sempre foram assim.


            - Não consegue parar um segundo de passar essas suas mãos pelo cabelo Potter? – Ela lhe perguntava irritada enquanto andava lado a lado com o rapaz pelos corredores da escola.


         Seus olhos eram castanhos esverdeados, encantadores. Estou lhe contando isso porque é assim que me lembro, mas agora eles estavam fechados. Ele não estava dormindo, muito menos morto, era assim que ele costumava ficar na maior parte do tempo nestes últimos dias.


         Dias, semanas, quem sabe até meses. Há décadas não olhava no relógio, a única coisa que sabia era que quando o sol amarelado entrava pela janela significava mais um dia nascendo, mas isso não importava, nada mais importava.


         James se contorceu, passou sua mão direita pelo lençol de seda no restante da cama vazia. Duas grossas lagrimas rolaram por sua face.


 


I can't keep up and I can't back down
I've been losing so much time


Eu não consigo prosseguir e não consigo voltar
Tenho perdido tempo demais


 


Bem, o começo…


         Estava chovendo naquela manha, era chuva de verão, a água caia do céu incessantemente, raios rompiam as nuvens a cada segundo, a praia estava deserta, é claro, sempre estava deserta, exceto por dois jovens.


         A areia nunca esteve tão dura, a cada passo como em raras ocasiões não havia pegadas no chão, ele estava a alguns metros distante dela, estava bravo, furioso, de costas para Lily, e se afastando mais e mais.


         Lily, era esse o nome da garota de cabelos cor de fogo, sua pele era, sua pele era pálida e macia como seda - pelo menos era isso que ele insistiria em lhe dizer pelos próximos anos. Vestia uma calça jeans que se assentava perfeitamente bem em seu corpo e, como a de James, estava dobrada quase ate o joelho. Em cima havia apenas uma blusa de cetim azul claro.


Era bonita, claro, tenho que admitir, embora a minha visão de beleza seja diferente da de vocês seres humanos. Lily era muito bonita, mas havia uma coisa nela, algo que ia além de sua beleza, algo que eu nunca consegui entender e o motivo pelo qual James jamais cansaria de olhá-la: seus olhos.


 


Aquilo estava causando uma dor naquele humano maior do que eu podia entender, uma agonia gigantesca, ele estava doente naquela cama, embora fisicamente não tivesse nada, contorcia suas mãos pelos lençóis sedosos. Seu tossido doloroso me fez emergir dos meus pensamentos.


Aproximei-me dele ele com cautela, aquele sentimento que eu mal compreendia poderia me ferir mais do que eu imaginava, me ferir como estava ferindo-o, acabando com ele por dentro, aos poucos, mas sem nunca matá-lo. Não era uma dor que pudesse lhe tirar a vida, era uma dor insuportavelmente suportável.


 


Cause it's you and me and all of the people
With Nothing to do, nothing to lose


Porque somos você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para perder


 


Tinha os olhos mais dóceis que eu já havia visto em todos os meus séculos, os olhos mais brilhantes que com certeza James vira por toda vida, eram amendoados, bondosos, encheriam sua vida de alegria só de olhá-los quando estavam felizes e, partiriam seu coração em momentos como esse, em que as duas esmeraldas estavam submersas por lágrimas. De qualquer maneira, eles sempre brilhavam.


Ela rodou os pés na areia fria, adorava o mar, adorava a areia gelada e fofa e de alguma forma sempre estivera cercada por ela. A chuva caia sobre sua cabeça e misturava com as lagrimas em seu rosto.


         - James! – A voz doce de Lily soou ao longe, estava triste, o som de sua voz era cortante, para mim e para alguém muito mais importante. James. – James. – Ela disse um pouco mais alto. – Eu aceito. – Gritou em desespero finalmente fazendo-o parar de andar.


         - Não quero que se case comigo por falta de opção ou pena Lily. – Ele gritou se virando para ela.


         - Não. – Ela murmurou com a voz fraca. – Eu te amo. – Sussurrou as palavras de modo que elas o tocasse, não se mexeu, esperou que ele reagisse.


         James estava sem reação, não esperava por isso, não mesmo, poderia explodir de felicidade a qualquer momento, mas estava com medo de cometer um erro, um grande erro. – uma coisa estranha sobre os seres humanos: vocês se privam de grandes momentos de felicidade por puro medo. James olhou para os lados, mexeu com o pé descalço na areia assim como Lily, e em resposta ele apenas abriu os braços quando parou para encarar aqueles belos olhos verdes.


         Ela correu paro os seus braços, para abraçá-lo, para beijá-lo, Como milhões de pessoas deveriam estar fazendo nesse exato momento, não tinham nada para fazer, nem perder, tinha apenas ele.


         No dia em que ele enfim a conquistou estava chovendo, quando ele a perdeu o sol estava no centro do céu, fazia frio, mas não havia nenhuma nuvem no céu daquela tarde.


 


And it's you and me and all of the people and
I don't know why I can't keep my eyes off of you


E somos você, eu e todas as pessoas e
Eu não sei porquê
Não consigo tirar meus olhos de você


 


         Ele não conseguia tirar os olhos dela, jamais conseguiu.


         Em fim ele abriu os olhos, por alguns instantes nos quais ele mudou de posição na cama. Olhava em minha direção, como se pudesse me ver, a pele ao redor de seus olhos estava vermelha pela umidade das freqüentes lagrimas que escorriam-lhe pelo rosto.


         Então ele tornou a fechá-los, puxou com os braços fortes os joelhos para perto de seu peito, os soluços quebraram o silencio da casa a beira da areia, ele esfregava suas lagrimas de desespero no travesseiro, enquanto o cheirava. Ainda tinha o cheiro de Lily.


         Eu poderia dizer que aquela cena partiu meu coração, mas obviamente a morte não tem coração.


 


All of the things that I want to say
Just aren't coming out right
I'm tripping on words, you got my head spinning


Todas as coisas que quero dizer
Não estão saindo direito
Estou tropeçando nas palavras


 


         Estavam deitados na cama sob a janela, a ruiva estava enrolada no lençol de seda com a cabeça deitada sobre seu peito, ele passava seus dedos por entre os cabelos dela, estavam acordados, rindo deles próprios.


         - Eu gosto disso. – Sussurrou Lily se ajoelhando na cama para olhar pela janela.


         - Disso o que? – James perguntou ainda deitado observando-a.


         - O barulho do mar, acordar todos os dias olhando para ele, gosto da areia fina da praia e por mais incrível que pareça gosto de como ela gruda na gente e por todas as partes da casa, até parece com você. – Disse ela rindo debruçando-se pela janela.


         - Parece comigo? – James a imitou.


         - Sim. – Ela respondeu apaixonada. – E você, gosta disso?


         - Claro que sim, e quer saber mais do que eu gosto? Eu gosto de todos os momentos que estou com você, gosto de como sua pele parece com seda...


- Seda? – Ela perguntou fitando-o enquanto ele remexia no macio lençol.


- Sim, é macia e suave como seda. – Ele respondeu e continuou seu pensamento anterior enquanto ela tornava a deitar em seu peito nu.  – Sabe, eu me lembro quando te vi pela primeira vez. – Disse enquanto passava os dedos pelos lábios, seus olhos estavam fixos em algum lugar além de Lily, procurando pelas palavras. – Nós estávamos no mesmo vagão quando viemos para cá pela primeira vez.


- Não. – Ela disse incrédula. – Mas isso faz anos!


- Eu sei. – Ele respondeu ainda com os olhos distantes, sonhadores. – Você estava dormindo, eu evitei olhá-la, olhar para esse seus olhos tão amáveis, você estava tão linda, queria lhe dizer alguma coisa mas as palavras simplesmente não saiam direito, eu não achei nada decente para te dizer, então eu não disse nada. Mas quando eu desci do trem aquele dia, eu me arrependi amargamente de não ter ido falar com você, sabendo que talvez nunca mais a reencontrasse, vi seu rosto em cada  pessoa que passava por mim. – Continuou contando com a voz alegre, agora seus dedos estavam perdidos nos cabelos de Lily ao mesmo tempo em que a ruiva escutava atenciosamente, encantada.


         “Então fiquei imaginando todos os homens que poderiam estar com você, que te abraçariam, que beijariam seus lábios. E agora o único homem que deita ao seu lado sou eu. – Disse por fim quando olhou para ela. – E agora você é minha.


- Sua? – Ela perguntou inclinando-se para que seus lábios tocassem os dele.


- Inteiramente minha. – Ele murmurou sem descolar os lábios dos dela inclinou um pouco o corpo para poder prender Lily em seus braços, ela segurou seu rosto entre suas mãos, lentamente passando as pernas ao redor de sua cintura, ficando sobre ele, James parou de beijá-la por um instante para que pudesse admirá-la enquanto ela sorria, seus olhos brilhavam mais do que nunca essa manhã.


 


You got my head spinning
I don't know where to go from here


Você deixou minha mente girando
Eu não sei pra onde ir daqui


 


         Os cabelos ruivos de Lily estiveram espalhados pela cama enquanto ela sorria naquele dia, e em todos os outros em que passaram juntos deitados naquela arejada casa, eram seus cabelos que ele procurava quando passava a mão pelo lençol naquele quarto outrora alegre e cheio de vida, que agora definhava em tristeza.


         Fitei James por um instante enquanto seu choro baixo e suas lembranças corrompiam-lhe a alma. Não havia mais esperança, não havia mais vida, agora havia apenas dor.


         Nunca tive pena das almas que eu vinha buscar, o problema era sempre os que ficavam para trás, eu procurava não olhá-los, para não cometer os erros que eu estava cometendo essa tarde.


         Um cachorro entrou no quarto quase silenciosamente enquanto eu me sentava na poltrona ao lado do rapaz. Ele era amarelo dourado, era de porte grande, um golden retriever. Suas patas estavam todas molhadas e sujas de areia, ele trazia um pedaço de pau entre os dentes e abanava o rabo freneticamente. Ele, obviamente não me notou, ao contrario do que você deve achar, cachorros não podem ver a morte e nem pressenti-la.


         Ele se debruçou sobre a cama de modo que só suas patas traseiras ficassem sobre o chão e encostou seu focinho sujo em James, que se virou para o outro lado como se não tivesse notado nada de diferente, fingindo não notar o cachorro que sorria com o rabo sobre sua cama. O cão deu a volta ficando de frente com seu dono. Novamente colocou as patas sujas sobre a cama e dessa vez o empurrou com uma delas como se o chamasse. Os cães são mais espertos do que os seres humanos os julgam ser.


         - Saia daqui Tobi, vá procurar troncos na praia e não os traga para mim. – disse James com a voz rouca. Surpreendi-me ao ouvir o tom de sua voz agora, antes era bonita e suave. Ele se cobriu com o lençol e tampou o rosto com um travesseiro, não sabia mais o que fazer, estava sem vida, sem ar, a dor o consumia a cada respiração.


         O cachorro não obedeceu o dono, colocou o rabo entre as pernas e se deitou sobre o assoalho de madeira aquietando-se. Novamente o único som que cortou o silencio foram os soluços incontroláveis de James.


 


Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove


Porque somos você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para provar


 


 


         Como você deve ter percebido, a praia sempre estava vazia e isso tem uma explicação, estava sempre vazia porque era uma praia isolada da cidade,e porque pertencia a James e Lily, não apenas porque eles haviam adotado aquele lugar como o lugar deles, mas também porque haviam comprado a casa à beira da praia. Ficava onde a grama terminava e começava a areia, de modo que seus pés já estariam nela assim que você os colocasse para fora de casa.


         - Lily. – James gritou. Fazia calor e os dois corriam pela praia como duas crianças brincando de pega-pega, ele havia parado por um instante enquanto ela continuava sua corrida de encontro ao nada.


         - O que foi James, já está cansado? – Ela perguntou desafiando-o, virando o rosto para trás enquanto ria. Aquela cena deixou-o parado observando os cabelos dela se movimentarem ao vento enquanto corria.


         - Não, respondeu ele começando a correr novamente e a alcançando. Era obvio que era muito mais rápido que ela. – Você realmente acha que pode fugir de mim? – Ele perguntou puxando-a pela cintura e beijando seus lábios.


         - Não. – Respondeu ela rindo e o observando com os seus encantadores olhos verdes. Ficaram em silencio por um instante, ele passou carinhosamente seu rosto pelo dela, pela sua pele sedosa enquanto o vento batia forte em suas costas, ela fechou os olhos para senti-lo, eles tinham um ao outro e não precisavam provar mais nada a ninguém, só precisavam ficar ali para sempre e estariam completos. – Ahh! – Ela gritou risonhamente quando ele a levantou do chão e a girou no ar.


 


         Eles estavam sorrindo naquele dia, e eu ri também, acredite quando digo que admiro os seres humanos e que tenho o potencial de amá-los, e sim, eu podia rir também, e naquele dia eu ri da beleza em que completavam um ao outro, ri da felicidade explicita nos olhos de cada um, ri do jeito que James a olhava, como se nunca houvesse visto a vida anteriormente.


Primeiro veio o riso, e depois falta do ar nos pulmões de Lily. Aquele foi o primeiro dia em que ela sentiu os sintomas do mal que lhe tiraria a vida.


         O quarto mais alto da casa a beira da praia começara a ficar escuro. Não porque estava anoitecendo, mas porque uma tempestade estava chegando, como na maioria das tardes. As nuvens se formavam e cobriam o céu de negritude, os ventos alcançavam uma velocidade impar e então a água começava a cair ferozmente. Isso acontecia todos os dias de verão.


         Ao som do primeiro trovão Tobi se levantou, tinha medo de tempestades, dos clarões dos raios e principalmente dos trovões, e quem lhe acalmava sempre era Lily, ela era uma excelente dona, e com certeza seria uma excelente mãe.


         As portas dos armários estavam escancaradas, o cachorro amarelo entrou em uma delas e saiu trazendo sobre seu lombo um vestido vermelho queimado de seda levando-o até James.


         - Já disse para não me trazer seus ossos. – Repetiu a voz calejada dele. Tobi continuou passando a pata pelo seu braço até machucá-lo. – O que você quer agora? – Perguntou um James agressivo tirando o travesseiro de cima do rosto. O cão estava com as orelhas baixas e, se virou para James de modo que mostrasse o vestido sobre suas costas. Era leve e macio, ele o passou pelas mãos e pelo rosto sentindo o cheiro de Lily lhe invadir as narinas, a dor foi maior do que ele poderia suportar, maior até mesmo para mim, uma simples expectadora. Seu choro era doido, cortante.


         “Me desculpe amigão. – Sussurrou abraçando o cão também, afagando suas lagrimas no pelo úmido e cheio de areia do cachorro. Aquele vestido lhe trouxera uma outra lembrança.


          



And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you


E somos você, eu e todas as pessoas e
Eu não sei porquê
Não consigo tirar meus olhos de você


 


         Já estava escuro quando Lily chegou em casa naquele dia, a praia estava iluminada mas James não a deixou descobrir o por que.


         - Vá tomar seu banho e nós conversaremos quando chegar aqui em baixo. – Foi tudo o que ele disse quando ela entrou na sala da frente. Ele havia trancado todas as janelas e portas que davam para a praia e se certificado de que as chaves estavam em seu bolso.


         Quando Lily saiu do banho um bilhete caiu de seu roupão.


         Estou lá fora agora, me encontre aqui embaixo depois do banho.


P.S. Eu te amo


         Ela prendeu os cabelos ruivos num rabo de cavalo largo e colocou um vestido de seda, seda como ele gostava, seda como ele dizia ser parecida com sua pele.


         Desceu as escadas nervosa, estava curiosa, sempre fora curiosa. Ao abrir a porta da frente teve uma surpresa. Havia varias tochas espalhadas pela areia a sua frente, o fogo queimava o oxigênio e iluminava tudo ao seu redor, havia também uma mesa circular e pequena onde havia a maior concentração de tochas e um caminho de luz e pétalas de rosas até ela.


         - Ah James. – Ela murmurou descendo os degraus da varanda e colocando seus pés na areia, estava encantada com tudo aquilo. Ele estava de costas para ela e ao lado da pequena mesa.


         - Venha até aqui querida, e tire os sapatos. – Ele pediu virando-se para ela. O vento bateu em seu cabelo o despenteando ainda mais, o ar estava sereno nesta noite.


         Lily tirou os sapatos e os deixou ao lado dos degraus, sentiu a areia fria em seus pés, e alguns grãos dela batiam em suas pernas junto com o vento. Seguiu o caminho de pétalas que James havia trajado, o cheiro era maravilhoso.


         - É maravilhoso James, estou sem palavras. – Ela disse com uma das mãos tampando a boca enquanto observava as velas sobre a mesa. Estavam num momento eternamente deles. James a olhava de um jeito apaixonado, não se cansava de vê-la sorrindo, ela era perfeita, estavam juntos e compartilhando de um sentimento que talvez centenas de pessoas estivessem procurando.


         - Achei que você merecia uma surpresa. – Falou ele com a voz calma passando as mãos pelo rosto da ruiva, seus olhos hoje refletiam o fogo das tochas a sua volta, a areia fofa sob seus pés. - Você dança comigo? – Perguntou ele formalmente com um sorriso torto no rosto.


         - Dançar? – Ela perguntou procurando por um rádio ou qualquer coisa que emitisse som. – Não tem música, amor. – Completou dando ênfase a ultima palavra.


         - Não importa. – Ele respondeu puxando-a mais para perto, com um dos braços ele a abraçou pela cintura e com o outro, pegou sua mão de forma que seus braços ficassem esticados, Lily debruçou sua cabeça em seu ombro com delicadeza. Com a voz terna ele começou a sussurrar uma canção em seus ouvidos.


         Foi exatamente dessa lembrança que eu tirei a música para contar esta história, porque eu via tudo em músicas e notas, e essa era a música deles.


         -There's something about you now, I can't quite figure out, everything she does is beautiful, everything she does is right – Sua voz soou doce enquanto ele cantava e nessa parte ela sorriu intensamente, ele expressado todos seus pensamentos naquelas palavras e ela havia compreendido perfeitamente bem.


 


         You and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to lose


Porque somos você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para perder


 


        
         James soltou o cachorro de seus braços e ele se enfiou em baixo da cama, estava com os olhos colados no teto e apertava o vestido em uma de suas mãos, franziu o cenho enquanto a lembrança do rosto de Lily sorrindo passava pela sua memória, ele podia quase ver aquelas duas bondosas esmeraldas o repreendendo novamente.


         A chuva continuava incessante no céu, uma pancada forte, como todas as chuvas de verão. James se contorceu na cama só de lembrar. 


 


         A tempestade caía estrondosa, James abriu a porta da geladeira, estava faminto, afinal, já eram sete horas da noite e Lily ainda não voltara para preparar-lhes a janta.


         Estava preocupado, chovia muito, na verdade começara a ficar preocupado desde que a primeira gota caiu do céu, as caminhadas da esposa pela praia não costumavam demorar mais que meia hora, principalmente quando ele não estava junto.


         Quando estava prestes a sair procurando por ela Tobi entrou pelo buraco da porta da cozinha, latia na direção de James, um latido rouco, doido.


         - O que Tobi? O que foi? – Ele perguntou quando o cachorro pulou com as patas dianteiras em seu peito quase o derrubando. – Lily? – Ele perguntou aflito e é claro, o cachorro não respondeu, apenas saiu correndo pela mesma portinhola pela qual entrara. – Espere! – Exclamou, correu até a sala e pegou uma lanterna na gaveta do criado mudo, talvez uma capa de chuva fosse bom, mas será que teria tempo?


         Saiu correndo atrás do cachorro, a chuva estava mesmo forte. Correu atrás do cão pela areia beirando o mar e tentando iluminar o máximo possível. O mar estava agitado.


         - Lily! – Ele berrava a todo pulmão, desesperado, queria achá-la, a preocupação o invadia mais e mais. – Lily! – Ele tornou a berrar.


         E foi quando a esperança já havia se esvaído, quando tudo que restava era o desespero, ele a achou. Caída na areia, seu corpo estava mole, estava encharcada assim como ele, desacordada, inconsciente.


          - Querida. – Ele disse ajoelhando-se ao lado do seu corpo imóvel. – Vamos, fale comigo, acorde! – Bradou retirando mexas de cabelo do seu rosto, estava tão gelada. Seus olhos encheram-se de lagrimas, desesperado e sem fazer idéia do que acontecia ele procurou por batimentos. Ela ainda estava viva, seu coração ainda pulsava e o ar ainda entrava e saia de seu corpo. – Vamos, precisa sair daqui. – Murmurou mais para ele do que para ela própria. Passou seus braços fortes por baixo do corpo de Lily e a levantou com cuidado, era leve como pluma.


            Caminhou pela praia vazia de volta para casa, com ela em seus braços sob a chuva, seu corpo frágil, mole, os cabelos ruivos e molhados. Estava escuro e frio, eles estavam sozinhos, a não ser por Tobi, e pela primeira vez na vida isso não era algo bom. 


 


          And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you


E somos você, eu e todas as pessoas e
Eu não sei porquê
Não consigo tirar meus olhos de você


 


         Sirius, Remus e Marlene chegaram lá antes que o médico, Lily ainda não acordara, mas não havia nada que mostrasse o motivo de seu desmaio. Nenhum corte, nenhum arranhão, nenhum hematoma. Nada.


         Colocaram-na deitada sobre a cama seca, estava com os olhos fechados parecia estar dormindo. Moravam longe da cidade, e a estrada até a praia era escura e lamacenta. Já era de madrugada quando o médico chegou.


         - Se importam em sair para que eu possa examinar a paciente? – O doutor perguntou após verificar seus batimentos cardíacos. James hesitou, não queria soltar da mão de Lily nem mesmo por um segundo.


         - Venha cara, deixe o médico fazer seu trabalho. – Disse Sirius com a voz baixa.


         Ele consentiu, beijou a esposa na testa e depois se retirou com os outros deixando-os a sós.


         Cada segundo do lado de fora do quarto parecia uma eternidade. Ele andava de um lado para o outro enquanto aguardava na anti-sala ao lado do quarto, o relógio havia se transformado em seu pior inimigo.


         O médico abriu a porta do quarto quebrando o silencio.


         - Como ela está? – James perguntou antes que qualquer um falasse alguma coisa.


         - Está bem agora, está consciente. – Ele disse e no mesmo instante James fez menção de entrar no quarto. – Espere, preciso conversar com você. Eles podem entrar se quiserem, só preciso fazer algumas perguntas.


         - Acho que James é a primeira pessoa que ela vai querer ver. – Disse Remus se sentando na poltrona. – Então vamos esperar aqui com ele. – Acrescentou quando Sirius colocou a mão sobre o ombro do amigo.


         - Bem, sua esposa está com problemas respiratórios, sérios problemas respiratórios. Eu queria saber se ela tem bronquite, asma, algo do gênero. – Ele perguntou com os olhos fixos em James.


         - Não, nunca teve nada, ultimamente falta de ar, mas nada serio até agora. – Contou James.


         - Ela fuma?


         - Não


         O doutor ficou pensativo por um momento.


         - É preciso fazer alguns exames ainda, mas eu temo que ela tenha uma deficiência de alfa-1-antitripsina, é uma enzima produzida pelo pulmão, a falta dela pode ter causado enfisema pulmonar. – Ele disse num tom de voz terno.


         - É grave? – Perguntou Marlene com a voz embargada.


         - Depende do estado em que está, se ainda estiver no inicio pode controlado com medicamentos, mas se for num nível muito avançado...


         - O senhor acha que está no principio? – Remus interrompeu o doutor, sua voz estava aflita.


         - Me desculpem, ninguém desmaia por falta de ar quando a doença está no principio. – O médico respondeu com a voz baixa.


         - Continue doutor. – Pediu James tentando manter a calma.


         - Se estiver em um nível mais avançado ela terá crises de falta de ar cada vez piores, terá que evitar trabalhar, fazer esforços, mas a tendência é piorar mais e mais. – Ele contou com a voz melancólica. James perdeu todos os sentidos, sentiu-se cambalear, como se alguém houvesse lhe acertado um murro em cheio no estomago, seu corpo caiu tremulo sobre o sofá, ele debruçou os cotovelos nas pernas e o rosto nas mãos.


         - O que isso quer dizer? – Marlene perguntou com a voz um pouco aguda, estava mais nervosa do que de costume, passava suas mãos uma nas outras com rapidez e força.


         - Quer dizer que ela está morrendo Lene. – Disse James com a voz embargada, quase inaudível, e no fim a frase se quebrou no meio, os verdes olhos de Lily invadiram-lhe os pensamentos imediatamente.


         “Sinto muito” Disse o médico antes de ir embora, palavras de consolo que não adiantariam em nada, simplesmente nada.


Todos entraram no quarto para ver Lily, ela não demonstrava medo nem desespero, até sorria e aos poucos quando a hora foi passando, relutantemente os três foram embora, deixando ela e James a sós. Ele sentou-se na cama ao lado dela, sentiu seus olhos encherem-se de lagrimas ao olhá-la tão frágil.


- Eu estou com tanto medo. – Ela disse após muito relutar com as palavras.


- Vai dar tudo certo, amor, você vai ver. – Ele disse a abraçando, precisava de coragem, precisava de esperança.


Logo depois ela adormeceu, perdeu-se em meio aos sonhos. Ele não pode dormir essa noite, não conseguiu e nem queria, queria observá-la, vendo seu rosto enquanto dormia, não conseguia parar de olhá-la nem por um segundo.


 


         Voltou a se deitar na cama desarrumada, abraçou seu peito com força na esperança de que a dor fosse embora, voltou em seu devaneio silencioso deixando que a solidão lhe abraçasse também, procurou por mais lembranças, era a única forma de continuar.


 


         Ainda lhe restava mais uma, não boa, mas a ultima que ele tinha dela.


 


You and me and all of the people
With nothing to do
Nothing to prove


Porque somos você, eu e todas as pessoas
Com nada para fazer, nada para provar


 



        
         Fazia frio, o sol estava alaranjado, se pondo no mar, deixado todo o céu em tons vermelho, havia algumas nuvens e como tudo ao redor delas estavam coloridas, a brisa estava triste a essa hora.


         Então eles estavam lá, os dois, andando juntos pela praia, foi a primeira vez que eu os vi.


         Ele vestia um moletom cinza, ela um pulôver vermelho e um cachecol bege e marrom. Caminhavam abraçados, lentamente, o vento frio tocava-lhes o rosto e bagunçava seus cabelos, Lily se encolheu no peito dele para se proteger do frio.


         Eu os observava distante enquanto o ar custava a entrar nos pulmões da ruiva, havia um ar de tristeza ao redor deles. Há algum tempo que não faziam suas atividades, nos últimos dias estavam vivendo apenas para eles, sem responsabilidades, sem tempo para nada, sem ter que fazer nada.


         - Está começando de novo.- Ela disse repentinamente com a voz baixa parando de andar, estava sem força. Respirou fundo na tentativa de fazer o ar entrar.


         - Calma amor, respire. – Ele disse tentando se controlar para não deixar as lagrimas escorrerem pelo seu rosto. – Estou aqui, eu estou aqui com você. – Ele murmurou em seu ouvindo quando a crise de falta de ar foi ficando mais forte, cada vez mais dolorosa. Ela agarrou com uma mão o moletom de James em desespero, ele esfregava seus braços com as mãos na esperança de aquecê-la. O olhar de Lily encontrou o dele, suplicante, implorando por ajuda, e essa era a pior parte, ele não podia ajudá-la, ninguém podia.


         - Eu não consigo mais. – Ela sussurrou com a voz embargando. 


         - Seja forte. – Ele implorou quando as pernas dela falharam, seu corpo ficou mole e ele a segurou, Lily estava fraca demais para continuar de pé, com delicadeza James se sentou na areia colocando o frágil corpo da ruiva sobre suas pernas em segurança, estavam de frente para o mar amarelado, olhando juntos pela ultima vez o pôr-do-sol.


         Grossas lagrimas rolavam pelo rosto pálido de Lily, caiam dos seus olhos verdes enquanto ela o encarava tristemente. Ele não pode suportar mais, não conseguiu olhá-la sem que os seus olhos se transformassem em duas lagoas cheias de água, mas ele ainda estava com os dentes serrados, impedindo que os soluços os atravessassem e saísse. Era como se lhe estivessem arrancando o coração.


         Algumas gotas leves começaram a cair do céu, não era uma tempestade, apenas uma garoa fina acompanhando o pôr-do-sol.


         - Quer que eu te leve para dentro Lily? – Perguntou James com a voz embargada.


         - Não querido, quero sentir um pouco da chuva, pelo menos por uma ultima vez. – Surrou.


         - Haverá muitas outras vezes, você vai ver. – Ele disse animadoramente embora não fosse o que sentia, a chuva caia sobre eles um pouco mais forte agora, mas ainda assim era possível ver o sol no horizonte, suas roupas estavam úmidas.


         - Eu sin-sinto muito James. – Ela disse soluçando depois de muito se esforçar para que as palavras saíssem de seus lábios.


         - Não, não sinta querida, tudo vai ficar bem, você vai ver, é só mais uma crise. – Ele respondeu a apertando com força. – Um pouco mais, por favor, me de um pouco mais de tempo. – Implorou, mas não era com Lily que ele estava falando agora, ele olhava para o céu e pedia.


         Senti um nó se formar em minha “garganta” enquanto eu observava aquela cena. Os dois estavam juntos sentados na areia fofa a beira do mar, seria uma cena bonita, num dia bonito.


         - Nós sempre vamos querer um pouco mais. – Ela disse baixinho, lutando para que a voz saísse de sua garganta enquanto o sol caminhava lentamente sobre o horizonte, esticou o braço com dificuldade e alcançou o rosto de James para enxugar suas lagrimas, ele beijou a palma de sua mão e depois se aproximou de seu rosto para que ficassem mais perto. – Eu te amo. – Disse as palavras o mais alto que pode.


         Ficaram em silencio por um instante, a não ser pelo barulho do choro baixo de James e o barulho das ondas. Lily se aninhou em seu peito tornando a apertar e puxar o seu moletom cinza, respirou o mais fundo que pode, queria guardar para sempre seu cheiro e depois relaxou seu corpo nos braços dele.


          – Apenas fique comigo está bem? Fique comigo até tudo isso passar. – Ela pediu mais calma agora, lutando para continuar sã, uma pequena e sutil lagrima caiu de seus olhos


- Eu estou aqui. – Repetiu com a voz baixa, tinha que ser forte, não só por ele, mas por ela também. – Eu sempre estarei aqui. – Ele murmurou em seu ouvido e depois começou a cantar baixinho uma canção, a canção deles.


Tão encantadora e delicada Lily abriu um pequeno sorriso. Como podia sorrir? 


Devagar foi perdendo a vida, soltou da manga de James e a outra parou de acariciar a areia gelada, o ar que anteriormente entrava com dificuldade agora havia cessado de vez, seu coração já não batia mais.


 


 


And it's you and me and all of the people
And I don't know why
I can't keep my eyes off of you


E somos você, eu e todas as pessoas e
Eu não sei porquê
Não consigo tirar meus olhos de você


 


 


         - Lily? – James perguntou como se tivesse levado um choque. – Lily? – Ele tornou a perguntar com a voz mais forte agora a sacudindo. – Não Lily, por favor. – Ele pediu baixinho quando a verdade o invadiu. Agora quem estava sem ar era ele, era tarde de mais para implorar. O rapaz abraçou fortemente o corpo sem vida da mulher em seu colo, abraçou e a balançou como um bebe, as lagrimas caiam desesperadamente pelo seu rosto, os soluços agonizantes saiam de seus pulmões, ela ainda estava com os olhos fixos nele, seus olhos verdes pela primeira vez não brilhavam mais, estavam opacos, sem vida.


         Então eu achei que fosse hora de agir. Achei que fosse porque não agüentava mais isso, imploro que acredite em mim, esse sofrimento estava acabando comigo.


         Aproximei-me dos dois, fiquei de joelhos de frente ao corpo imóvel de Lily, James ainda estava abraçado com ela. Ele passava as mãos pelo seu rosto, pela sua pele, não podia acreditar no que estava acontecendo, suas mãos estavam tremulas, ele tentou fechar seus olhos, fechá-los para sempre, mas não conseguiu, a idéia de nunca mais olhar para aquele par de olhos verdes era dolorosa demais.


         Estiquei meus braços para pegá-la, eles eram acolhedores, eu era delicada quando ajeitava sua alma neles. Puxei-a com cuidado deixando seu corpo para trás. Surpreendi-me, não era apenas sua pele que parecia com seda, mas toda sua alma, era leve a macia como tal, ela estava dormindo quando eu a peguei.


         Sim, dormindo, algumas pessoas caminham lado a lado comigo e até conversam quando eu estou fazendo a travessia, mas ela dormia, estava num sono leve e quando eu menos esperava ela abriu os olhos.


         Eu fiquei rígida e por um momento surpresa. Uma onda de choque percorreu o meu corpo, pela primeira vez eu estava olhando dentro daqueles olhos, e só então eu pude entender, só então eu pude compreender toda essa história que eu estou lhes contando, quando eu encarei aqueles olhos dóceis e verdes eu pude entender toda dor, todo o amor, a graça, toda a alegria de uma vida inteira como se eu própria a tivesse vivido. Foi só ai que eu pude entender toda a beleza do ser humano, sua estupidez e sua fragilidade.


         Tenho uma coisa para confessar, eu senti inveja.


         Não tive coragem de tirar meus olhos daquela alma que eu segurava, não tive coragem de desviar meus olhos dos dela, tão encantadores, tão magníficos. Não consegui me movimentar, estava sendo tão injusta.


         Será que o certo realmente era levá-la comigo? Se não por qual outra razão eu estaria aqui? Os soluços de James estavam altos os suficientes para que Lily pudesse ouvir, seu olhar agora era de dor também.


         - Feche seus olhos. – Eu pedi e ela se surpreendeu, minha voz era dócil e amável, nada assustadora como ela deveria esperar, então ela o fez.


         Agachei-me novamente na areia, nunca havia feito isso anteriormente estava temerosa, com cuidado devolvi a alma àquele corpinho frágil, senti a vida passar pelos meus dedos num fluxo contrario do qual eu estava acostumada e então quando eu menos esperava seus olhos brilhavam novamente, eu havia lhe devolvido a vida, eu havia lhes devolvido a vida, e essa sensação era milhões de vezes melhor do que tirá-las.


         O vendo frio tocou sua pele de seda mais uma vez, levando os grãos de areia com ele.


 


What day is it
And in what month
This clock never seemed so alive


Que dia é e em que mês?
Este relógio nunca pareceu tão vivo...


 


 


         James mudou novamente sua posição na cama, sentiu o frio tocá-lo, não tinha noção do tempo ainda, mas quando passou as mãos no lençol naquela manha para procurá-la pode sentir seus fios de cabelo cor de fogo novamente sobre o lençol de seda.


         Recebeu sua vida de volta, toda sua alegria e vontade de viver, havia despertado de um pesadelo terrível. E assim tão encantadoramente suas vidas começavam de novo, tão perfeitamente e tão facilmente, agora, restava apenas o primeiro passo de muitos outros que seriam dados por toda uma vida.


 


               

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