Quântica
Mais uma vez ela chegava, como sempre. Rindo. A inconstância de sua presença iluminadora... para eles... Ela vinha com fotos mutantes, cheias de movimento. Sentava para fazer o dever a falar de ervas e poções. E eles a admiravam e amavam porque ela era insuportavelmente competente e ficava sempre tão longe dos olhos. E eu: a boa filha esquecida em um canto qualquer. Eu queria apertá-la por roubar o que era meu, o que deveria ser, e por fazer de meus maiores esforços em tudo frágeis e lentos. Monstro, aberração anti-natural a questionar a física que eu tão sofridamente aprendia! Queria puxar o pergaminho amarelo de sob sua pena anormal que riscava, o ruído tilintando enlouquecedor em minhas orelhas. A física ficava mais difícil com ela ali, fazendo com facilidade seus deveres de Natal. Ela sempre tinha tudo da maneira mais suave. Minha caneta macia, eu a usaria e rasgaria o verde dos olhos, o rosa da garganta, o vermelho do sangue manchando os cabelos e a eles se misturando. Então eu a levaria para a praça, nua e humilhada, a pele branca e rubra brilhando como uma forma malfeita na neve do inverno, manchas como vinho ao redor, tulipa dilacerada. “Eis a bruxa!”, e todos se admirariam. “Eis a bruxa, morta como deve ser! Eis a bruxa usurpadora! Receptáculo sedento de conhecimento proibido e pestilento!”, e da multidão viria o aplauso. A humilhação seria completa, ela não me roubaria mais nada. Seria pior que eu, destruída e exposta. Mas não, pensei, apertando a caneta fortemente entre os dedos. A pena continuava raspando tão perto que doía. Eles a amariam, mesmo caída e imóvel, mesmo imunda e violada. Eles a amariam porque era o que todos sempre faziam, e eu seria novamente deixada de lado nos preparativos daquele funeral. Não me puniriam, eu não tenho importância.
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