A História do Traidor



- CAPÍTULO 20 -


 


A História do Traidor


 


 









- M



as eu os vi! - dizia Prescott insistentemente, sua voz ficava mais rouca enquanto seguia Vince entre os jipes. - Gigantes! Um deles era tão alto quanto três árvores! Ele deixou pegadas do tamanho de... do tamanho de... ! – ele gesticulou desesperadamente com os braços. Ignorando-lhe, Vince guardou sua câmera numa mala revestida com espuma.


- Ficou como um tolo, Sr. Prescott - disse o detetive Finney, limpando seus óculos com sua gravata. - Não piore.


Prescott girou-se para o homem maior, com os olhos descontrolados.


- Você teria que investigar este estabelecimento detetive! Isso não está certo! Eles enganaram a todos!


- Se eu abrisse alguma investigação, Sr. Prescott - disse Finney suavemente. - seria sobre você e seus métodos. Você tinha autorização para entrar nestes terrenos em primeiro lugar?


- O quê? Você está louco? - alfinetou Prescott. Parou e se recompôs. - É claro. Como já tinha dito, me informaram do que estava acontecendo aqui. Alguém de dentro me conduziu até aqui.


- E comprovou as bases dessa pessoa?


- Bem - disse Prescott. -  o sapo de chocolate era muito convincente. Na realidade não...


- Perdoe. Você disse “sapo de chocolate”? - perguntou Finney, cerrando os olhos.


            - Eu... eh, bom. A questão é, que sim, minha fonte estava bastante segura de que algo estranho estava acontecendo aqui.


- Que aqui, de fato, ensinavam magia?


- Sim. Eh, não! Não truques! Magia autêntica! Com monstros e gigantes e... e... portas que se desvanecem e carros voadores!


- E o sapo de chocolate confirmou tudo isso, certo?


Prescott abriu a boca para responder, e depois se deteve. Endireitou-se a toda estatura, furioso e indignado.


- Está zombando de mim.


- Você está tornando difícil que eu não o faça, senhor. Você estaria disposto a me deixar falar com essa sua fonte?


Prescott pareceu animar-se.


- Sim! De fato, farei isso! Combinei com a Srta. Sacarhina para que ele viesse também. Será justo... - ele olhou em volta, enrugando a testa.


- Você combinou com a Srta. Sacarhina? - perguntou Finney, olhando para os degraus da parte alta do pátio. Grande parte do corpo docente da escola, juntamente com um bom número de estudantes, estava assistindo com interesse como o grupo recolhia trabalhosamente seu equipamento. Nem a Srta. Sacarhina nem o Sr. Recreant estavam à vista. - Ela conhece esta sua fonte, então?


- Conhece, certamente - disse Prescott, ainda olhando para multidão. - Onde ele está?


- Ele veio com a sua equipe? - perguntou Finney, olhando ao redor. - Não lembro de ter reconhecido.


- Estava ali. Um cara calado e excêntrico. Ele tem um tique nervoso na sobrancelha direita.


- Ah, ele - Finney assentiu a cabeça. – Imaginei que ele fosse um pouco estranho. Gostaria muito de ter umas palavras com ele.


- Eu também - concordou Prescott toscamente.


No alto dos degraus, o Sr. Hubert tinha-se virado para a Diretora McGonagall, Neville, e Harry Potter.


- Creio que podemos confiar que nossos amigos arrumem a partida deles a partir daqui. Sra. Diretora, acho que nós temos uns poucos assuntos pendentes para nos ocupar?


McGonagall assentiu, depois se virou e conduziu o grupo para dentro.


Harry sorriu para James.


- Venha conosco, James. Ralf e Zane, vocês também.


- Tem certeza? - perguntou Ralf, olhando a diretora enquanto esta percorria o corredor a passo largo.


- O Sr. Hubert pediu especificamente que vocês três nos acompanhassem - respondeu Harry.


- É bom ter amigos nas altas esferas, hein? - disse Zane alegremente.


- Bem - disse a diretora enquanto entravam no silêncio vazio do Salão Principal. - correu tão bem como podia se esperar, embora o Sr. Ambrósio tenha se excedido um pouco com seu Encantamento Amoroso. O Sr. Finney insistiu que me juntasse a ele para jantar na próxima vez que eu for para Londres.


- Uma oferta que creio, deveria aceitar, madame - replicou Merlin, tirando os gigantes óculos de moldura tartaruga e sacudindo o cabelo para soltar o rabo de cavalo do “Sr. Hubert”. - Enfeiticei-o com o encantamento mais ligeiro possível. Como eu poderia adivinhar que o detetive Finney teria uma atração natural pelas mulheres altas, fortes e formosas?


- Que desaforo - respondeu McGonagall. - acho que você está caçoando, senhor...


James falou:


- Mas como você sabia da Garagem, Merlin? Pensei, com toda certeza, que estávamos perdidos!


Merlin olhou por cima do ombro.


- Não sabia da Garagem, James Potter. Isso estava além do conhecimento das árvores, ao contrário do veículo Anglia e Madame Delacroix. A improvisação, no entanto, sempre foi um dos meus maiores talentos.


- Mas como levou o Foguetim até lá? - perguntou Ralf. - Isso foi absolutamente brilhante!


- As árvores sabiam disso, no entanto, igualmente, eu sabia - replicou Merlin. - Foi simplesmente questão de incentivar uma mudança de localizações.


Zane sorriu.


- Assim, os carros de Alma Aleron estão naquele velho celeiro no campo?


- Isso fará algum bem a eles, espero - assentiu Merlin.


O grupo avançou determinadamente pelo Salão Principal e subiu os degraus do estrado. McGonagall abriu uma porta na parede do fundo e conduziu aos outros para uma grande antecâmera com chão de pedra e uma chaminé escura. Sacarhina e Recreant estavam ali, sentados junto a uma terceira pessoa que James não reconheceu.


- Isso é uma atrocidade, diretora - disse Recreant, saltando sobre seus pés. - Em primeiro lugar, traz esta... pessoa que usurpa a nossa autoridade, e depois tem a ousadia de nos submeter a uma azaração da língua presa!


- Cale a boca, Trenton - disse Sacarhina, revirando os olhos. Recreant piscou, ferido, mas fechou sua boca. Ele olhou de Sacarhina para a diretora.


- Sábio conselho, se é que alguma vez ouvi algum - concordou Harry, se adiantando. - E suspeito que o Ministro, de fato, será informado disso.


- Não fizemos nada de errado, Sr. Potter, você sabe. - disse Sacarhina, olhando as unhas indolentemente. - Sr. Ambrósio, aparentemente, você assegurou o segredo do mundo mágico. Tudo deu certo.


Harry assentiu com a cabeça.


- Alegro-me de que você se sinta assim, Brenda, ainda que eu ache interessante você já conhecer o verdadeiro nome do “Sr. Hubert”. Sem dúvida não haverá nenhum vínculo que possa se provar e que conecte você com ele, e com a desafortunada Madame Delacroix. Contudo, o que está acontecendo com seu amigo aqui?


Toda a atenção se dirigiu ao homem sentado na cadeira entre Sacarhina e Recreant. Era pequeno, gorducho, com cabelo negro e fino e um tique na sobrancelha esquerda. Ele encolheu-se perante o olhar de todos os ocupantes da sala.


Ralf, que foi o último a entrar, abriu caminho aos empurrões entre Merlin e o Professor Longbottom, com a testa franzida pelo desconcerto.


- Papai? - disse, franzindo a testa. O que você está fazendo aqui?


O homem fez uma careta miserável e cobriu o rosto com as mãos. Merlin olhou Ralf, com o longo e pedregoso rosto taciturno. Ele colocou uma mão sobre o ombro do garoto.


- Este homem diz que seu nome é Dênis Deedle. Receio que você o reconhece.


- O que ele está fazendo aqui? - perguntou Neville.


 - Penso que o seu papel nesta trama é muito evidente - replicou a diretora, suspirando. - É o responsável de conduzir o Sr. Prescott até nós.


- O quê? - disse Ralf, disparando para McGonagall. - Por que está dizendo isso? É terrível!


- Ele veio com a equipe do Sr. Prescott - disse Harry tranqüilamente. - Estava tentando passar despercebido. Talvez o preocupasse que você lhe reconhecesse, Ralf. Depois, quando tudo acabasse, já não importaria, é claro. Mas de qualquer forma, as coisas não ocorreram como ele esperava.


- Isso é ridículo - insistiu Ralf. - Papai é um trouxa! Assinou o contrato de confidencialidade trouxa, certo? Ele não faria isso, mesmo se pudesse! Não sei o que ele está fazendo aqui, mas não é o que todos pensam!


Merlin ainda tinha sua mão no ombro de Ralf. Deu-lhe umas palmadinhas lentamente.


- Talvez então deveria perguntar para ele você mesmo, Sr. Deedle.


Ralf ergueu os olhos para o enorme bruxo, com seu rosto tenso de raiva e trepidação. Olhou para o resto dos ocupantes do aposento, um a um, terminando em seu pai.


- Certo, então. Papai, por que você está aqui?


Dênis Deedle ainda tinha as mãos sobre o rosto. Durante vários segundos, não se moveu. Finalmente, respirou profundamente e se recostou, deixando cair as mãos. Ele olhou Ralf por um longo momento, e depois para todos os que compunham a assembléia.


- De acordo. Sim, - disse, tendo-se recomposto. - eu contei ao Prescott. Enviei-lhe o sapo de chocolate e o videogame portátil. Tinha o utilizado para me comunicar com alguém na escola, alguém que utilizou o nome de Austramaddux. Tendo feito isso, eu sabia que Prescott poderia localizar a escola com o seu GPS.


O rosto de Ralf estava congelado entre a descrença e a miséria.


- Mas por que, papai? Por que você fez algo assim?


- Oh, Ralf. Sinto muito. Sei que isso parece ruim para você - disse Dênis. - Mas tudo é muito... muito complicado. O programa de Prescott, Visão Interior, oferece dinheiro por uma prova do sobrenatural. Bem, as coisas não vão muito bem, filho. Tenho procurado trabalho desde que fui demitido, mas tem sido difícil. Precisávamos do dinheiro. Achei que o sapo de chocolate seria suficiente. Juro! Mas Prescott queria mais. Sabia que tinha que lhe mostrar algo realmente surpreendente assim que... - interrompeu-se, olhando nervosamente ao redor outra vez.


- Mas você nunca viu o dinheiro - disse Merlin com sua voz baixa e retumbante. - E essa não era a questão principal, não é?


As sobrancelhas de Dênis trabalhavam furiosamente quando ergueu o olhar para Merlin, aparentemente lutando com o que devia dizer. Junto a ele, Sacarhina pigarreou de maneira significativa. Dênis olhou-a fixamente, afastando os olhos de Merlin.


- O dinheiro, - disse inseguro. - Prescott disse que o teríamos quando o programa fosse transmitido. Ele prometeu.


- Mas agora não haverá programa - disse Merlin tranqüilamente.


- Você pensou que valeria a pena vender todo o mundo mágico só para nos ajudar a sobreviver um tempo, papai? - disse Ralf, sua voz não era acusadora, senão verdadeiramente inquisitiva. O coração de James se quebrou ao ouvir o desapontamento na voz do amigo.


- Não, filho! - respondeu Dênis, mas depois afastou o olhar. - Não achei que fosse ameaçar todo o mundo mágico. Quero dizer, é só um estúpido programa de TV. Além disso... - ele deteve-se, mastigando as palavras, lutando consigo mesmo.


- Além disso o quê? - perguntou Merlin calmamente.


Dênis voltou a olhar para Merlin, com o rosto tenso, a sobrancelha direita saltando.


- Além disso, o que o mundo mágico tem feito por mim? – expeliu, para depois cobrir o rosto com as mãos novamente. Tomou uma respiração profunda e trêmula. - Deixar-me sozinho, isso é o que tem feito. Deslocado e abandonado, como uma espécie de... Uma espécie de mutante sem valor! Despojado do meu nome e minha família, abandonado por meus próprios pais porque não era como eles! Fui até mesmo proibido de voltar a me comunicar com eles. Eles disseram que seria adotado no mundo trouxa, ao qual eu pertencia. Eles disseram que seria feliz ali. Suponho que eu mostrei a eles, não é? Não queriam que eu arruinasse a sua reputação no mundo mágico. Bem, por que eu deveria me preocupar pelo segredo do mundo mágico?


O rosto de Ralf era uma máscara de infeliz consternação.


- Do que você está falando, papai? Você não é um bruxo. O vovô e a vovó morreram antes que eu nascesse. Você surpreendeu-se tanto quanto eu quando chegou a carta de Hogwarts.


Dênis tentou sorrir para o filho.


- Quase tinha esquecido meu próprio passado, Ralf. Tinha passado tanto tempo, e eu tinha tentado tão arduamente enterrá-lo. Sou um aborto, filho. Seus avós e seu tio eram bruxas e bruxos, mas eu não nasci com seus poderes. Criaram-me durante tanto tempo quanto possível, mas eles odiavam minha natureza. Quando tinha idade suficiente e ficou claro que eu não tinha nenhuma habilidade mágica, não puderam suportar isso. Ocultaram-me do resto do mundo mágico. Eu era seu asqueroso segredo. Mas eles não podiam me ocultar para sempre. Finalmente, quando fiz doze anos, me enviaram para longe. Fui para um orfanato trouxa, sob a pretensão de que meus pais tinham morrido num acidente. Fizeram-me jurar que nunca lhes mencionaria e nunca tentaria lhes procurar. Minha mãe estava... estava triste. Ela chorava e escondia o rosto. Mas meu pai foi duro. Ela não pôde lhe convencer. Ele contratou os serviços de um condutor trouxa que nos levou para o orfanato. Minha mãe ficou no carro enquanto meu pai me levava para dentro. Ela tentou me abraçar, me dizer adeus, mas meu pai não deixou. Ele disse que seria o melhor para ambos. Efetuou modificações de memória nos trabalhadores do orfanato. Ele os fez acreditar que o Estado tinha me deixado lá depois da morte de meus pais. Eles me deram uma cama e um conjunto de roupas, e então meu pai se foi. Nunca voltei a vê-los.


Os olhos de Dênis Deedle não tinham abandonado ainda o rosto do filho quando Merlin falou.


- Você sofreu muito, Sr. Deedle. Acredito que Deedle não é seu verdadeiro sobrenome, certo?


- Não. Meu pai inventou para mim - disse Dênis brandamente. - Eu o odeio.


- Qual é o seu sobrenome, senhor?


- Dolohov - respondeu o pai de Ralf, com voz cada vez mais distante, quase morta. - Meu nome é Dêniston Gilles Dolohov. Filho de Maximillion e Whilhelmina Dolohov. Meio irmão mais novo de Antonin.


Houve um momento de gelado silêncio e, em seguida, McGonagall falou.


- Sr. Dolohov, compreende que pelo que fez poderia ser enviado para Azkaban?


Dênis piscou, como se saindo de um transe.


- O quê? Não, não, claro que não. Prometeram a mim que nada do que eu faria seria contra a lei.


Sacarhina tossiu ligeiramente.


- Talvez, Sr. Deedle, preferiria evitar responder mais perguntas até que seu representante legal esteja presente.


- Por quê? - disse Dênis, olhando-a alarmado. - Estou envolvido em algum problema? Você disse...


- Seria para o seu bem, senhor - interrompeu Sacarhina.


- Você disse que estava fazendo um favor ao mundo! - exclamou Dênis, pondo-se em pé. Olhou para Harry. - Ela me prometeu que cuidariam de mim, mesmo se Prescott e seu pessoal não entregassem o dinheiro! Você disse que isto era mais importante do que dinheiro! Quando os ajudei...


- Sente-se, Sr. Deedle! - disse Sacarhina, com a voz hostil.


- Não me chame assim! Odeio esse nome! - Dênis retrocedeu para longe dela, voltando a olhar para Harry. - Eles me disseram que estava tudo bem que eu falasse com Prescott! Eu lhes contei o que estava pensando em fazer. Eu sabia que tinha que comprová-lo com o Ministério. Eles disseram que o contrato que eu tinha assinado não era vinculativo porque eu não era um trouxa. E abandonei o mundo mágico antes de ser velho o suficiente para assinar o Voto do Sigilo Mágico, assim eu não estava violando nenhuma lei. Ela prometeu-me que estava tudo bem! Ela disse que era pelo bem de todos e que eu seria um herói!


- Srta. Sacarhina, - disse Harry, puxando a varinha, mas sem brandi-la completamente. - o que você tem a dizer em resposta às acusações deste homem?


- Não tenho absolutamente nada a dizer - replicou ela tranqüila. – Ele está claramente maluco. Ninguém vai acreditar em uma palavra de tal pessoa.


- Sr. Recreant? - disse Harry, virando-se para o homem estupefato. - Você concorda com a avaliação da Srta. Sacarhina?


Os olhos de Recreant moviam-se como moscas, voando de cá para lá entre Sacarhina e Harry.


- Eu... - começou, e depois baixou os olhos e a voz. - Gostaria de ter a oportunidade de discutir isto longe da Srta. Sacarhina.


- Sr. Recreant, como sua superior, lhe proíbo...


- Você não proibirá nada, madame - disse Neville severamente, sacando sua própria varinha de sua veste.


- Em nome da imunidade diplomática, devo insistir... - começou Sacarhina, mas deteve-se quando Harry apontou a varinha para ela.


- Em nome do Ministério de Magia e do Departamento de Aurores - disse. - coloco-a, Srta. Brenda Sacarhina, sob custódia por tentativa de violação da seção dois do Código Internacional dos Segredos Mágicos e por roubo de propriedade do Ministério da Magia.


Sacarhina tentou sorrir, mas foi uma tentativa relativamente fraca.


- Você não pode provar nada, Sr. Potter. Este é um jogo estúpido e perigoso o qual você está jogando. Só advertirei uma vez que se retire.


- Você deveria ter pensado duas vezes antes de conspirar com as pessoas que a menosprezam, Srta. Sacarhina - disse Merlin, sorrindo com pesar. - Eu tive uma agradável e esclarecedora conversa com Madame Delacroix quando a encontrei na floresta. Ela tinha muito a dizer sobre você, receio, e pouco disso poderia se considerar lisonjeiro.


Neville estava dirigindo o Sr. Recreant para fora da sala, com a diretora seguindo-o. Harry gesticulou com sua varinha.


- Vamos, Srta. Sacarhina. Tito Hardcastle a espera para escoltá-la de volta ao Ministério, e a paciência não é uma de suas melhores características.


O rosto de Sacarhina empalideceu quando compreendeu que não tinha outra opção senão a rendição. Sem dúvida ela tinha uma defesa muito bem preparada, pensou James enquanto a via sair da sala com seu pai. Pessoas como ela sempre tinham várias formas de cobrir suas pistas. Ainda assim, a coisa não parecia ir bem para Brenda Sacarhina. Quando a porta que conduzia ao Salão Principal se abriu, James viu Tito Hardcastle sorrindo alegremente, com sua varinha apontando cuidadosamente para o chão.


James ficou sozinho com Merlin, Zane, Ralf e Dênis Dolohov. Dênis olhou para seu filho e, em seguida, tocou o seu ombro.


- Sinto muito, Ralf. Realmente. Eu estava... confuso.


- Você deveria ter me contado, papai - disse Ralf, deixando cair os olhos.


Dênis assentiu.


Após um momento, lançou o olhar para Merlin.


- Serei enviado para a prisão mágica? - perguntou, tentando manter a voz firme. - Eu... irei pacificamente, suponho.


- De alguma maneira suspeito que não, Sr. Dolohov - disse Merlin, virando-se para conduzir o grupo para fora da antecâmara. Ele abriu a porta que conduzia ao Salão Principal. - Mas suas ações resultaram em um dilema. Aparentemente, a segurança desta escola, por mais forte que possa ser, não está preparada para enfrentar a moderna tecnologia trouxa. Talvez você tenha alguma idéia sobre como melhorá-la?


Dênis franziu a testa.


- O que você sugere? Vocês querem minha ajuda?


Merlin encolheu os ombros.


- Simplesmente admito uma coincidência bastante curiosa. Você precisa de um trabalho e nós de uma revisão do nosso programa de segurança. Como bruxo que convenientemente há de ser um perito em tecnologia trouxa, você parece excepcionalmente qualificado para servir nesta finalidade.


Dênis sorriu com alívio.


- Pensarei nisso, senhor.


- Não estou em posição de fazer nenhuma oferta em nome desta escola, naturalmente - disse Merlin, atravessando o Salão Principal com sua longa e exigente passada. - Mas conheço a diretora. Verei o que posso fazer.


- Então - disse James, seguindo Ralf e Zane até o Salão Principal. - resulta que no final você tem uns sólidos antecedentes mágicos depois de tudo, Ralf, ainda que sejam um bando de cruéis sangues puros sem coração. Não que isso importe, na realidade, mas isso explica você ser um Sonserino.


- Talvez - disse Ralf em voz baixa. - Isso é muito para que eu entenda num só dia. De qualquer forma, nada daquela magia era minha. Foi o báculo.


Merlin deteve-se perto das escadas, e virou-se lentamente. Olhou para Ralf de forma especulativa.


- Foi você o guardião do meu báculo?


- Sim - respondeu Ralf abatido. - Evitei que matasse alguém, suponho. Mas não o suficiente.


- Não d~e ouvidos a ele - disse Zane. - Foi espetacular com ele. Salvou a vida de James uma vez. Também fez crescer um pessegueiro de uma banana! Também quemou uma parte do cabelo da Vitória em D.C.A.T.! Todos pensamos em fazer isso de vez em quando só para calá-la.


Merlin aproximou-se de Ralf. James estava seguro de que o bruxo não carregava o báculo momentos antes, mas quando se agachou até se ajoelhar diante de Ralf, o sustentava na sua mão direita. As runas que o percorriam estavam escuras, mas James lembrou como tinham pulsado com uma luz verde na noite anterior.


- Sr. Deedle... ou eu deveria chamar-lhe de Sr. Dolohov? - disse Merlin.


- Estou acostumado com Deedle - respondeu Ralf, olhando para seu pai. - Não sei se estou pronto para ser um Dolohov ainda. Sinto muito, papai.


Dênis mostrou um pequeno sorriso compreensivo.


- Sr. Deedle então - disse Merlin. - Não é qualquer mago que poderia ter honrado a responsabilidade do báculo. Você deve ter ouvido dizer que a varinha escolhe ao mago, e é verdade. Madame Delacroix achou que você era simplesmente uma simples ferramenta que levaria até ela o báculo, mas estava errada. O báculo escolheu-lhe. Um mago menor teria sido incapaz até mesmo de brandi-lo, menos ainda de usá-lo. Mas você, sem saber, submeteu o báculo ao seu poder. Você não tinha idéia da sua força, e mesmo assim o manejou. Ele lhe obedeceu, e essa é a marca de um mago com um muito, muito elevado potencial. Parte deste báculo pertence-lhe agora, Sr. Deedle. Posso sentir. Eu sabia que uma porção já não era minha, mas não sabia a quem pertencia. Agora eu sei.


Merlin baixou seu báculo, de forma que ficou estendido sobre seus joelhos. Fechou os olhos e tateou toda a extensão, sua mão mal tocava a madeira. Uma fraca luz verde movia-se no interior das runas, tremeluzindo. Merlin fechou a mão ao redor da parte baixa, no extremo mais pontiagudo do báculo, então, com uma única torção, partiu os últimos trinta centímetros. Ele abriu os olhos de novo, e ofereceu o pedaço de madeira a Ralf.


- Você tem, penso eu, necessidade de uma varinha, Sr. Deedle.


Ralf tomou o pedaço de madeira da mão de Merlin. Quando o fez, a madeira se transformou em sua varinha outra vez, ainda ridiculamente gorda e atarracada, com a ponta pintada de verde limão. Ralf sorriu, girando-a entre suas mãos.


- Eu não esperaria que ela seja tão poderosa como era antes, claro - disse Merlin, colocando  seu báculo em pé outra vez e utilizando-o para se levantar novamente. O báculo era notavelmente mais curto agora. - Mas suspeito que ainda será capaz de fazer coisas excepcionais com ela.


- Obrigado - disse Ralf com seriedade.


- Não me agradeça - disse Merlin, alçando uma sobrancelha. - É sua, Sr. Deedle. Você o fez assim.


- Assim o mago dá ao leão covarde sua coragem - disse Zane, sorrindo. - Quando James consegue um pouco de cérebro?


Merlin ergueu sua sobrancelha um pouco mais, olhando de Zane para James.


- Não dê atenção a ele - disse James, sorrindo e conduzindo o grupo para as escadas. - É coisa de trouxa. Não entenderíamos.


- Vamos lá! - gritou Ralf, subindo as escadas às pressas. Quero mostrar ao Ted e ao resto dos Malignos que recuperei minha varinha! Tabita Corsica pode ficar com a estúpida vassoura dela.


Os três garotos subiram correndo as escadas móveis, seguidos a passo mais serenos por Merlin e o recém renascido Dênis Dolohov.


- Ele vai ficar bem com aquela coisa? - perguntou Dênis a Merlin, franzindo um pouco a testa.


Merlin simplesmente sorriu e fez ressoar seu báculo contra o chão enquanto subia. Despercebidamente, um raio de faíscas verde limão saiu disparado do extremo, redemoinhando e resplandecendo como vaga-lumes aos seus passos.


 

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