Tudo isso e a montanha-russa
Capítulo 22 - Tudo isso e a montanha-russa
Quem saiu da sala do Décimo Tribunal foi Percy Weasley, não Martha. Diante disso, Snape estranhou imediatamente.
- Ronald Weasley! - gritou seu irmão mais velho - O tribunal chama Ronald Weasley para depor!
O garoto ruivo ficou angustiado:
- Mas papai ainda não voltou! Ele pegou Harry e Draco e -
Percy ficou muito irritado:
- Você está perdendo o tempo da Suprema Corte de Bruxos!
Hermione indagou, ignorando Percy:
- Onde será que eles foram?
Percy parecia extremamente nervoso e Rony resolveu:
- Hermione, eu vou ter que entrar. Por favor, diga isso ao papai quando ele voltar.
- Claro, pode ir.
Snape se aproximou do Weasley que acabara de sair da sala do tribunal:
- Sr. Weasley, minha mulher ainda está depondo?
- A vítima já terminou seu depoimento e foi escoltada por Arthur Weasley para fora do Décimo Tribunal.
- Mas para onde? Eles não saíram por aqui.
- Não, eles usaram a saída lateral, é claro.
Saída lateral.
Snape sentiu o impacto daquela informação deixando-lhe os cabelos da nuca em pé.
- Que saída lateral? Aonde ela vai dar?
Mas antes que Percy respondesse, diversas coisas aconteceram ao mesmo tempo, e a mente ágil de Snape registrou-as simultaneamente. Rony entrou na sala do tribunal e o Sr. Weasley chegou correndo, esbaforido, descabelado, ostentando uma mancha roxa no rosto. Ao lado dele, estavam Emelina Vance e Olho-Tonto Moody, os dois com cara de tragédia.
- Quebra de segurança!... Alerta! - ofegou Arthur Weasley dramaticamente - Poção Polissuco...!
O tempo pareceu suspender-se no ar, mas na verdade não foi preciso mais do que uma fração de segundo para Snape processar as implicações daquelas duas informações. Nesse tempo, Dumbledore já estava de pé e caminhava rumo à sala do tribunal, gritando:
- Harry!...
Snape saiu correndo, ultrapassou Dumbledore e ignorou os protestos aturdidos da Suprema Corte dos Bruxos, saindo pela porta lateral com a mente em plena ebulição.
Ele se perguntou como ele não recebera o aviso do que estava acontecendo. A resposta veio num átimo: a Poção Polissuco. Martha não acreditava estar em perigo, por isso a mente dela não alertou para uma ameaça.
Quanto tempo eles tinham de dianteira? E o que eles queriam com Harry e Draco? Snape atravessava corredores de pedra escuros e lances de escada, e de repente, ouviu o chamado mental. Martha estava aterrorizada. E ela estava perto!
Seu coração se apertou, seu passo também.
Podia ser tarde demais.
- Nem pense em gritar, Sra. Trouxa - disse o Sr. Weasley, apontando uma varinha para ela - Draco, você cuida de Potter e tire a varinha dele. A chave de portal está aqui dentro. Vamos, entre aí, Sra. Trouxa. Rápido!
Sem saber direito o que fazer, Martha ergueu os braços em sinal de rendição e entrou na sala - na verdade, um armário de manutenção, cheio de baldes, vassouras e esfregões.
- Ali - o Sr. Weasley apontou para um esfregão - Ponha sua mão ali, trouxa. Draco, faça Potter encostar ali também, e vamos embora. Podemos pegar o traidor Snape mais tarde. Ele não vai escapar.
Martha mal podia respirar e não via outra coisa a fazer a não ser obedecer ao homem que parecia ser o pai do Rony. Ela não sabia direito se o homem estava disfarçado de Arthur Weasley ou se Arthur Weasley era, na verdade, um espião das trevas.
Ela esticou a mão trêmula para onde era indicado e sentiu um puxão abaixo do umbigo, um puxão que a encheu de terror e lhe deu a certeza de que ela estava indo para sua própria destruição.
E para Voldemort.
*
O sinal tornou-se mais fraco. Snape podia notar que Martha não estava mais ali, ou estava inconsciente.
- Eles se foram - disse uma voz conhecida que o fez virar de supetão: Dumbledore - O rastro termina naquele armário adiante.
Ignorando como o diretor teria chegado antes dele, Snape correu até o armário indicado: sim, havia resíduo de magia ali dentro. Tinha que ter sido uma chave de portal. Havia sido usada há pouco tempo.
O coração de Snape se apertou no seu peito, culpa se espalhando por seu corpo. Ele os perdera por pouco. Se ele tivesse sido mais rápido, mais esperto...
Dumbledore interrompeu seus pensamentos sombrios:
- Vou convocar uma reunião urgente da Ordem. Voldemort tem Harry Potter, além de Martha e Draco Malfoy.
- Ainda não sabemos se Draco foi levado contra a vontade.
- De qualquer modo, ele está nas mãos de Voldemort, Severo. O menino precisa ser resgatado.
- Sim, Alvo.
- E você deverá ser chamado a qualquer momento, calculo. Quer voltar a Hogwarts e se preparar?
- Não creio que isso seja uma boa idéia. Voldemort é excepcional na arte de Legilimência. Ele pode descobrir que estive separando pensamentos na Penseira.
- Bem pensado. Bem, é melhor corrermos. Tempo é essencial.
*
Martha soltou um grito ao ser jogada impiedosamente num chão poeirento e sujo.
- Quieta, trouxa!
Ela sentiu o impacto da queda e gemeu de dor, olhando para seu captor. O Sr. Weasley estava de cabelos escuros e fartos, ao invés dos vermelhos e ralos. Martha teve, então, certeza de que aquele não era o pai de Rony. Draco estava a seu lado, ainda carregando Harry. Tanto Draco quanto seu chefe ignoraram Martha, que se encolheu atrás de uma poltrona.
- O que devo fazer com ele? - perguntou o adolescente.
- Deixe-o aqui, por enquanto - respondeu o falso Sr. Weasley - Deixe-os juntos. Esta sala foi preparada para recebê-los enquanto o Mestre se prepara. Reviva Potter. O Menino-Que-Sobreviveu deverá nos fornecer grande diversão antes de encontrar seu fim.
- Enervate!
Martha viu o corpo de Harry deixar a postura rígida, mas ele não estava consciente. Ela se preocupou, mas o falso Sr. Weasley desviou sua atenção:
- Vamos, Draco, vamos nos preparar para a hora de glória do nosso Mestre. Daqui a pouco vai começar a diversão.
Os dois saíram do aposento sem sequer olhar para trás, deixando Martha sozinha com Harry desacordado. Agora talvez ela pudesse colocar a cabeça em ordem e pensar. Mas ela não pôde evitar olhar em volta.
Não que Martha tivesse tempo de pensar onde iria chegar, mas o lugar onde se viu não era o que estava imaginando. Era simplesmente uma sala abandonada de um casarão outrora rico e majestoso. A pintura estava decadente, bem como os papéis de parede desbotados e rasgados. As janelas estavam fechadas e tudo cheirava a mofo. Embora ela estivesse no escuro e lá fora parecesse noite, ela ainda podia enxergar dois sofás e duas poltronas que já tinham visto melhores dias.
Ela correu até Harry:
- Harry! Harry! Pode me ouvir?
O garoto finalmente voltou a si, alarmado:
- O quê? O quê?
- Tudo bem? Você perdeu os sentidos.
Ele se sentou no chão:
- Ai... O que aconteceu?
- Você foi petrificado, e nos trouxeram para cá. Aquele homem não era o Sr. Weasley, e acho que Voldemort vai nos chamar em seguida - a voz dela tremeu - Eles sabem sobre Severo... Harry, o que vamos fazer?
- Tenha calma, Sra. Snape.
Mas Martha tremia dos pés à cabeça:
- Harry, eu tenho certeza de que vão me usar para atingir Severo. Não sei o que fazer, como me defender! Eu não tenho qualquer poder, sou uma inútil! Me desculpe, Harry, mas eu estou nervosa, eu não estou pronta para enfrentar Voldemort!
- Martha - ele se levantou e pegou a mão dela -, você não vai estar sozinha. Vamos fazer o melhor que pudermos. O Prof. Dumbledore já deve ter notado nossa falta. Ele vai mandar ajuda!
Umas poucas lágrimas fugiram dos olhos de Martha e ela as enxugou, envergonhada:
- Desculpe, Harry. Eu deveria estar protegendo você, deveria estar acalmando você, e olha só que boba eu sou.
- Tolice é não temer Voldemort. Ele é muito perigoso. E eu vou ter que enfrentá-lo sem ajuda.
- Não, Harry, espere a ajuda de Dumbledore chegar. Não pode fazer isso sozinho.
- É exatamente o que tenho de fazer. Uma profecia me liga a Voldemort, e diz que um não pode viver enquanto o outro estiver vivo.
- Oh, Harry...! Ele armou uma cilada e nós caímos direitinho!
- Não foi culpa de ninguém - disse Harry - Provavelmente ele usou a Poção Polissuco.
- Ai, meu Deus. Será que aconteceu alguma coisa com o verdadeiro Sr. Weasley? Eu estou ficando preocupada.
- Acho que é tarde para isso agora. Temos que pensar no que fazer. Viu quem ficou com minha varinha?
- Foi Draco - Martha abanou a cabeça - Não posso me perdoar por ter acreditado nele... Bem que Severo falou... Eu preciso aprender a pensar como uma pessoa sonserina.
- E como é isso?
- Confesso que não sei bem... Mas agora é tarde para isso, você tem razão. Temos que nos concentrar em dar tempo ao Prof. Dumbledore. Tenha fé, Harry.
Os dois se sentaram num dos velhos e empoeirados sofás da sala. Obviamente todas as entradas estavam seladas ou guardadas, então Martha nem se incomodou em verificar. Harry olhou em volta e sugeriu:
- Acho que estamos na velha mansão dos Riddle. Sabe, era a casa da família de Voldemort.
Martha olhou em volta, viu o estado de abandono do aposento e disse:
- Eu imagino se o resto da casa também está nessa sujeira. A gente pensa que sendo Lorde das Trevas ele podia pelo menos arranjar uma faxineira, não?
Harry ficou olhando para ela, meio incrédulo. Ela deu um meio sorriso, dando de ombros:
- Ora, por que não tentar quebrar o clima? Se estivermos mais relaxados, podemos pensar melhor.
- Isso me faz lembrar uma coisa: não tente mentir para Voldemort. Ele consegue detectar uma mentira dentro da sua cabeça.
- Estou com cada vez menos vontade de estar aqui, sabia?
Quase sem querer, Harry sorriu. De algum modo, os nós de tensão nos seus músculos se afrouxaram um pouquinho. Ele descobriu que Martha o fazia se sentir mais calmo, mas não sabia explicar o porquê.
Durante muito tempo, eles foram deixados naquele lugar cheio de mofo e poeira, esquecidos. Mas era apenas a calmaria antes da tempestade.
A porta se abriu com violência e um grupo de homens encapuzados e de capas pretas estava na porta um deles ordenou, numa voz ríspida:
- Venham! Agora!
Com coração acelerado, Martha ficou junto de Harry enquanto eles eram levados pelos corredores de uma mansão obviamente em ruínas até um salão grande. Lá foram empurrados para dentro e viram-se cercados de pessoas encapuzadas. Só uma falou:
- Ah. Finalmente nós nos encontramos, Sra. Snape.
O encapuzado se aproximou dela, mas seu rosto estava semi-encoberto. Com um arrepio, Martha concluiu que aquele só poderia ser Voldemort. Alto, magro, de olhos vermelhos com pupilas ovais, ele deixou os cabelos de Martha em pé.
- Está acompanhada de Harry Potter, um garoto que me incomodou por muito tempo. Mas achei melhor vê-la na companhia de seu marido, Sra. Snape. Sabe, ele e eu temos... contas a ajustar, digamos assim. Severo, meu servo, venha aqui.
Um dos Comensais se adiantou, com a máscara branca. Martha sabia que aquele era seu marido.
- Mostre-se para mim, meu servo.
Ele retirou a máscara, dizendo:
- Meu senhor.
- Severo, como chegamos a esse ponto? Eu tive que recorrer a estratagemas para conhecer sua esposa. O jovem Malfoy e Macnair atenderam ao meu chamado e deverão ser recompensados. Mas por que você me desobedeceu, Severo? Por quê?
- Meu senhor, ela não está pronta - a voz de Severo era firme - Precisa ser adestrada, Mestre, antes de poder servi-lo.
- Quero ver isso por mim mesmo, se não se importa, Severo. Aliás - Voldemort fez uma pausa para encarar Martha profundamente -, devo dizer que não estou impressionado. Pensei que essa trouxa fosse de uma beleza estonteante e de um corpo escultural. Severo, que decepção. Ela deve ser muito boa de cama para ter agarrado você dessa maneira.
Martha ficou da cor de uma beterraba. Voldemort não se incomodou e continuou:
- Bem, talvez possamos verificar isso com uma bela orgia. Faz tempo que não fazemos uma. Ops! Esqueci que temos dois jovens presentes. Talvez os ouvidos inocentes do jovem Malfoy e de Potter não devessem ter captado o gosto por nossas liberdades sexuais...
Houve risos entre os Comensais e Martha sentiu os joelhos bambearem. As insinuações de Voldemort a deixaram de estômago revirado.
- Oh, vejo que deixamos a jovem senhora desconfortável - disse o Lorde das Trevas jocosamente - Mas ela está tão calada, Severo. Diga alguma coisa, Sra. Snape. Não seja tímida. Estávamos todos ansiosos por sua visita.
Ele chegou mais perto de Martha, que deu dois passos para trás, e Snape se mexeu, desconfortável. Voldemort disse:
- Não, isso não. Severo, aprenda a compartilhar seus brinquedos. E você, trouxa, o que é que você tem? Ah, o cérebro dela paralisou de medo. Normal, em se tratando de uma trouxa. Hoje estou me sentindo liberal e compreensivo, portanto deixe-me distribuir recompensas. Draco, meu rapaz, venha aqui.
O rapaz se adiantou no círculo, dizendo:
- Mestre.
- Lembra-se da última lição que tivemos? Estávamos praticando maldições e, francamente, eu fiquei desapontado com sua performance da Cruciatus. Mas como você hoje me deu uma grande alegria ajudando a capturar Harry Potter, eu vou lhe dar um alvo para praticar. Assim eu poderei lhe dar dicas de uma maldição bem lançada. O que você acha?
- Eu me sinto honrado, Mestre.
Voldemort virou-se para seus cativos:
- Muito bem, um de vocês terá um papel decisivo na formação do jovem Draco como Comensal da Morte. Voluntários? Não? Tudo bem, eu mesmo escolho. Você pode usar Potter, Draco. Use também a varinha dele. Mas não o mate.
Martha gritou, pondo-se na frente de Harry:
- Não!
Voldemort fez cara de aborrecido:
- Ai, não. Severo, você não consegue controlar sua mulher?
- Eu disse que ela não estava pronta - mexendo-se rapidamente, ele afastou Martha de Harry e cochichou - Faça o que eu disser.
Voldemort voltou-se para Draco, dizendo:
- Use a própria varinha dele. Comece quando estiver pronto.
O jovem Malfoy não contou tempo:
- Crucio!
Sob o grito abafado de Martha, que precisou ser segura por Severo, Harry começou a se contorcer, o rosto crispado de dor inenarrável. Martha não podia se conter, e chorava, tentando se desvencilhar dos braços de Severo para ajudar Harry. Ele logo parou de se debater e ficou no chão ofegante.
- Tsk, tsk, tsk - fez Voldemort, parecendo muito desapontado - Draco, quantas vezes eu vou ter que repetir? Faça com sentimento, meu filho, com vontade de machucar e ferir! Você tem que sentir gosto no que faz! Mais uma vez, agora com garra! Vamos lá, você vai adorar!
O rosto de Draco se distorceu, adquirindo um aspecto feroz de concentração e ódio:
- Crucio!
- Ahhhhhhhhh! - gritou Harry, arqueando no chão.
- Isso, meu rapaz! De novo!
- Crucio!
Martha ficava cada vez mais desesperada com a dor de Harry e se debatia nos braços do marido, as lágrimas escorrendo. Com um gesto, Voldemort deu ordem a Draco que cessasse o ataque a Harry. Ele se aproximou de Martha, com um esgar de lábios:
- Então a Sra. Snape ficou com pena de Harry Potter, foi? Por um acaso, estaria com tanta pena que tomaria o lugar dele? Mas antes que diga sim, eu devo dizer que nenhum trouxa jamais sobreviveu a um ataque da Maldição Cruciatus antes.
Martha olhou para ele, aterrorizada. Pela primeira vez ela viu sua vida ser diretamente ameaçada, sem insinuações. Mas ela tinha que pensar em seu filho. Se Voldemort descobrisse que ela estava grávida...
- Ora, ora, ora - fez Voldemort, os olhos de cobra se estreitando - Segredinhos, Sra. Snape? Oh, e vejo que Severo não foi comunicado! Que choque vai ser!
Ela estremeceu nos braços de Severo. Como Voldemort podia saber...? Não, não podia ser verdade! Era seu pior pesadelo se tornando realidade!
- Ela tem escondido coisas de você, Severo. Coisas importantes. Mas ela não pode escondê-las de mim.
Severo tensionou os músculos, mas não transpareceu qualquer emoção. Martha mal podia respirar. Por que ela não tinha contado a Severo? Ela dera uma arma poderosa a Voldemort, e ainda por cima prejudicara seu casamento!... Como podia ter sido tão ingênua?
- Sua esposa trouxa está com criança. Ela escondeu isso de você porque temia sua reação. Como se sente, prestes a ter um herdeiro?
Foi com voz fria e impassível que Severo respondeu, ainda segurando os braços de Martha, sem encará-la:
- Eu disse a ela um filho seria um erro.
Martha sentiu seu coração se despedaçar. Se Voldemort percebeu alguma coisa, escolheu ignorar, porque ele se dirigiu a Severo, interessado:
- É mesmo, Severo? Não quer herdeiros?
- Não se eles forem trouxas e não puderem servi-lo, meu senhor.
- Uma boa resposta - mas ele não parecia convencido - Bom, de qualquer forma, isso me deixa intrigado. Por que você continua com ela, se não pretende sequer tirar cria?
- Eu já disse - a voz de Severo o traiu; ele titubeou - Eu esperava apenas servi-lo...
Voldemort mal o deixou terminar:
- Francamente, isso não faz muito sentido. Se você queria me dar uma trouxa de presente, por que usá-la primeiro? Pior ainda, por que se casar com ela? Não, meu caro Severo, eu tenho uma teoria - ele se aproximou, ameaçadoramente suave - Quer ouvi-la? Aí vai: ela se apaixonou por você, mas você também se apaixonou por ela. Sinceramente não sei o que viu nela, muito sem graça essa trouxa. De qualquer forma, você caiu de amores por ela e agora tenta justificar essa ligação. Ouso dizer que você pode até aceitar esse filho dela. Mas você teme por ela. Sim, eu vejo isso na sua mente. Por isso me desobedeceu e escondeu sua esposinha de mim.
Dessa vez o controle de Severo falhou por completo:
- Não!... Mestre, eu apenas -
Voldemort apontou a varinha e pronunciou:
- Everte statum!
Com um raio verde, Severo foi atirado para longe de Martha, que gritou:
- Severo!...
Antes que ela pudesse sequer se mexer, recebeu um raio. Sentiu-se sendo erguida até perto do teto alto do salão e lá ficou suspensa, os pés balançando, um grito preso na garganta.
- Que tal um pouco de diversão, trouxa? Podemos nos divertir com você. Acho que meus Comensais vão apreciar isso. Segurem-no! Não quero que ele estrague a diversão. Além do mais, ser obrigado a assistir pode ser um bom castigo.
Martha deixou escapar um grito de horror quando dois Comensais agarraram Severo pelos braços. Ele olhava Martha, impotente, mas seus olhos faiscavam intensamente, a veia no pescoço inchada de ódio. Ele tentou resistir, mas estava bem seguro. Não havia nada que pudesse fazer.
- Primeiro - disse Voldemort, com um esgar satisfeito -, podemos balançar as coisas um pouco, trouxa, o que acha? Assim!
Usando a varinha como batuta, o Senhor das Trevas fez Martha voar de um lado para o outro no ar, como uma bolinha de pingue-pongue, o corpo dela num balanço desconjuntado, provocando gargalhadas nos Comensais. Ela foi jogada em todas as direções, depois rodopiou no ar e deu cambalhotas sobre si mesma, gritando e pedindo que parassem. Isso só trouxe mais diversão aos Comensais. Eles gritavam e também usavam suas varinhas, de modo que Martha voasse insanamente, num balé aéreo tresloucado e cruel, uma montanha-russa sinistra.
Severo era obrigado a assistir, enquanto Harry era vítima do "treino" de Draco, que parou para assistir ao espetáculo, rindo. O Mestre de Poções lutava para se desvencilhar, e isso divertia Voldemort ainda mais do que ver Martha voando pelos ares.
- Oh, que tocante. O maridinho está preocupado. Acho que ele vai gostar ainda mais da próxima brincadeira. Ponham-na no chão!
Martha caiu de uma altura próxima do teto alto, de bunda no chão. Ela gemeu, temendo ter quebrado algum osso ou rompido algum tendão ou coisa parecida.
- De pé, trouxa! Agora a diversão começa.
Ela se ergueu como ordenado, sentindo todos os olhares para ela. Não arriscou olhar para Severo, temendo que ele sofresse caso Voldemort ficasse enfurecido.
- Então, trouxinha - disse Voldemort - vamos ver do que você é feita.
Com um gesto rápido de varinha, ele fez as capas de Martha abandonarem seu corpo, deixando-a apenas de vestido. Ela tremeu, ainda mais aterrorizada.
- Não...! Por favor, não!
Ávidos, os Comensais chegaram mais perto dela. Foi quando uma voz diferente ordenou:
- Pare com isso, Voldemort!
Martha viu Harry de pé, sujo e desgrenhado, mas com um tom determinado nos olhos verdes. O Senhor das Trevas virou os olhos para cima, aborrecido:
- Draco, seu alvo ainda está de pé! Pensei que tivesse dado um jeito nele!
- Desculpe, Mestre.
- Como ele é irritante! - disse Voldemort - Desde bebê esse garoto me azucrina!
Harry desafiou:
- Então venha me enfrentar, seu covarde! Ela não é páreo para você!
- Com pressa de encontrar seus pais, Potter? Ou só está dando uma de herói, para variar?
- Deixe-a em paz! É a mim que você quer!
Voldemort fez uma cara de nojo:
- Ah, mas isso é tão heróico que me embrulha o estômago! Defensor dos trouxas e do Bem!
- Com inveja, Voldemort?
- Pirralho abusado... Cuidarei de você depois, eu mesmo, já que Draco não consegue obedecer a uma simples ordem! Agora eu quero me divertir um pouco, dá licença? Nagini! Trabalho para você!
Martha achava que não podia ficar ainda mas assustada, mas sua opinião mudou com a visão de uma cobra gigantesca no recinto. Ela pulou para se afastar do monstro, que deslizou no salão e parecia intimidar até os Comensais. Voldemort passou a sibilar e sussurrar coisas estranhas, mas a cobra pareceu entendê-lo e foi para cima de Harry. Com a respiração suspensa, Martha viu a serpente ficar parada em frente ao menino. Aparentemente, ela tinha recebido a missão de apenas vigiar o rapaz.
- Isso deve cuidar do moleque - disse Voldemort, satisfeito, voltando-se para Martha - Onde foi que paramos?
Martha deu um passo para trás, intimidada, e Severo debateu-se:
- Não!...
- Não seja assim, Severo - ralhou o Senhor das Trevas - Já falei que você precisa aprender a dividir seus brinquedos. Agora vejam como vai ser a brincadeira: Reducto!
Martha pulou, assustada, mas nada aconteceu com ela, só com seu vestido: um grande rasgo apareceu na altura do ombro esquerdo, expondo sua pele.
- Hum... pele alva. Aposto como também é macia. Severo, seu garanhão. Escondendo isso dos amigos... Reducto!
Martha ouviu o som de tecido rasgando e gemeu. Dessa vez, apareceu uma fenda entre os seios. Ela se tapou com uma mão, pedindo, chorosa:
- Por favor... pare...
- Não seja tímida. Talvez com um incentivo maior, nós possamos nos divertir. Meus Comensais vão gostar disso, não vão? - ele se virou - Macnair! Você começa o jogo. Quem tirar a roupa dela primeiro, pode ser o segundo com ela. Eu vou primeiro, claro.
Novo rasgo de vestido fez Martha tentar se tapar do lado direito. Mas aí um novo rasgo apareceu, feito por Macnair. Depois dele, outro Comensal tirou um pedaço das suas roupas. E outro, e outro, e mais outro.
Sem saber o que fazer, Martha gritava e chorava, tentando inutilmente se proteger, lágrimas de humilhação rolando em suas faces. Os Comensais se entusiasmaram, e logo ela enfrentava uma saraivada de rajadas, suas roupas ficando em tiras, seu corpo com grandes porções de pele exposta, os risos insanos aumentando a sensação de que tudo aquilo era um grande e horrível pesadelo...
Seminua, sabendo que não tinha como vencer, ela se pôs de joelhos no chão e depois se encolheu, tentando se cobrir. Nunca havia se sentido tão aviltada, mas ainda assim ela sabia que eles não parariam ali - eles buscavam a degradação final.
Foi quando o ar pareceu se aquecer e uma grande bola de fogo se formou entre ela e os Comensais. Uma série de estalidos quebrou o ar e os Comensais se viram cercados por bruxos recém-chegados. De repente, diversas aconteceram ao mesmo tempo: maldições e azarações cortaram o ar, muitos gritos de feitiços e ordens estratégicas, gente correndo por todos os lados. A confusão foi tamanha que Martha sequer sabia o que estava acontecendo. Ela sentiu apenas um pano sendo jogado em suas costas e a voz que amava dizer:
- Vamos sair daqui!
Severo a apertou contra si e ela ajeitou a capa dele sobre seu corpo seminu. Finalmente Martha conseguiu ver um pouco do que se passava na sala. E era difícil acompanhar tudo que acontecia.
Havia Comensais e Aurores se enfrentando por praticamente todo o grande salão, e ela tentava distinguir algum rosto conhecido. Ela viu Harry enfrentando Draco no combate mano a mano quando seus olhos reconheceram Fawkes, a fênix do Prof. Dumbledore, tentando bicar a cobra monstruosa chamada Nagini.
Mas onde estaria Voldemort?
Ela viu a figura alta e esguia se preparando para atacar, e acompanhou com os olhos qual seria seu alvo. Ao ver para onde Voldemort estava apontando, gritou o mais alto que podia:
- Harry, cuidado!!!
Felizmente, sua voz foi ouvida em meio à confusão e Harry conseguiu se desviar no exato instante em que o raio verde ia atingi-lo. Contudo, ao sair da frente, Harry deixou Draco no caminho do mortífero raio verde, e o garoto louro foi atingido no meio das costas. Ele arqueou o corpo para trás, com os olhos arregalados e caiu no chão, fulminado.
A ira de Voldemort voltou-se para Martha:
- Trouxa pestilenta!
Num floreio de varinha, ele lançou um raio vermelho contra ela, que se abaixou - mas não a tempo. O raio a atingiu na altura do ombro e ela gemeu de dor, indo ao chão. Severo se ajoelhou junto dela:
- Martha...!
A pele branca e perfeita ostentava uma ferida horrível e profunda, da qual sangue jorrava em profusão. Severo usou sua varinha para tentar estancar o sangue, sem resultado. Enfurecido, descontrolado, ele se ergueu e apontou a varinha para Voldemort, que se riu:
- Ah, o maridinho afrontado! Essa sua trouxa imunda -
Foi interrompido por um raio vindo de Severo:
- Expelliarmus!
- Protego! - Voldemort reagiu rapidamente e conservou sua varinha.
- Isso não vai protegê-lo... Riddle.
Aquilo enfureceu o Senhor das Trevas:
- Não me chame pelo nome de meu infame pai! Eu sou Lorde Voldemort!
A voz poderosa de Severo jamais exalou tanto ódio e desprezo:
- Você é um mestiço de sangue ruim que vai desejar jamais ter mexido com a minha mulher! Conjunctivitus!
Voldemort desviou-se da maldição, mas ela resvalou no seu braço, deixando-o vermelho e cheio de pústulas.
- Seu traidor! Vou arrancar suas tripas com uma colher! Você não pode me enfrentar! Sou seu Senhor, seu Mestre! Eu possuo você!
- Permita-me discordar - disse Severo, estreitando os olhos - Crucio!
- AHHHHHH! - Voldemort foi ao chão, debatendo-se de dor - Seu... seu traidor!
- Receio que a Cruciatus não esteja saindo de seu agrado. Como foi mesmo que você ensinou ao jovem Malfoy? Ah, sim: usar a maldição com gosto, com vontade de machucar, não é? Pois então: Crucio!
- AAAHHHHHHHH!!!!
Uma voz imperiosa gritou:
- Severo! - Dumbledore parecia contrariado - Assim fazendo você não fica muito diferente dele. Não percebe?
- Mas... Martha está... Ele a...
O velho professor disse, com um sorrisinho:
- Não, não está. Veja.
Com um grito agudo, Fwakes pousou ao lado de Martha, que estava desacordada e inclinou a magnífica cabeça para a ferida da moça, derramando algumas lágrimas no local. Com espanto, Severo viu toda a região afetada se curar: a ferida se fechou, o sangue parou de jorrar e a pele voltou a ter uma aparência fresca e sadia. Harry sorriu:
- As lágrimas da fênix têm poderes curativos!
Uma voz sinistra retrucou:
- Vai precisar deles, garoto! Agora te peguei!
Num reflexo, ao ver Voldemort de pé e mirando em Harry Potter, Severo atirou-lhe um de seus famosos:
- Expelliarmus!
- Proteoooh!
Antes que pudesse pronunciar o feitiço, Voldemort voou pelos ares e caiu no fundo da sala. Harry disse, correndo atrás de onde ele caiu:
- Ele vai tentar escapar!
Dumbledore avisou, mas Harry já estava longe:
- Harry, a profecia! Não se esqueça da profecia!
Severo pediu:
- Eu vou atrás dele. Cuide de Martha, Diretor.
Harry tinha encurralado Voldemort no fundo do salão, e Severo chegou logo em seguida, de varinha a postos. Voldemort também tinha recuperado sua varinha e apontou para o alto:
- Destruo!
O teto começou a tremer e rachar, e as pessoas que ainda lutavam começaram a correr. Voldemort riu-se:
- Dessa vez você vai morrer, Potter! Como está escrito!
- Não se eu puder evitar, monstrão! Tome isso!
Coube ao Menino-que-Sobreviveu lançar a primeira maldição em Voldemort. Depois Severo se juntou a ele. Os dois juntaram suas varinhas, e enquanto o casarão desmoronava, os dois mais improváveis aliados se uniam com o objetivo de retirar do mundo o flagelo que tinha sido Lord Voldemort.
O Senhor das Trevas não se foi de maneira silenciosa. Atingido por todos os lados, enfraquecido diante da determinação de seus inimigos, Voldemort praticamente ardeu em fogo, um cheiro nauseabundo por todos os seus anos de imortalidade se esvaindo em fumaça. A mágica envolvida em sua destruição foi tamanha que Dumbledore ergueu os braços e criou um escudo cristalino para proteger aurores e todos os membros da Ordem da Fênix que correram para ajudar as Forças do Bem. À medida que Voldemort ia se esvaindo, a pestilência do ar ao seu redor se materializava e repentinamente se transformou num redemoinho de uma negritude ainda maior do que a noite sem lua e saturada de escuridão, a ponto de até as estrelas parecerem ter sido apagadas.
Foi em pouco mais do que pó que Voldemort se reduziu ao ser derrotado, destruído para não mais voltar, e o mundo bruxo iria se regozijar no fato, mas um bruxo em particular sequer tomou conhecimento das comemorações.
Severo Snape levou sua mulher desacordada e retirou-a dos escombros para Hogwarts sem sequer olhar para os festejos.
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