A ida ao Ministério da Magia




Capítulo 20 - A ida ao Ministério da Magia



Foi difícil para Martha conciliar o sono aquela noite. Ela parecia ter chegado ao céu ao saber que iria ser mãe. Em seguida, o inferno desabou sobre sua cabeça quando Severo destruiu suas esperanças ao revelar que detestava crianças. Felizmente, ao perceber a situação, Madame Pomfrey não deixou que ele permanecesse a seu lado na enfermaria. Isso ajudou Martha a usar a noite para organizar algumas das difíceis decisões que teria a tomar.



A primeira e mais importante delas foi decidir ter a criança. Ela não iria abortar uma criança que era fruto de seu amor por Severo. No instante em que soube que havia uma coisa viva crescendo dentro de si, Martha passou a amá-lo. Era seu filho com Severo, e ela não iria abrir mão dele. Ainda que o pai não a quisesse, aquela criança teria um lar. Afinal de contas, Martha tinha amigos mesmo no mundo dos bruxos. Do fundo de seu coração, Martha sabia que podia contar com alguma ajuda, se o pior acontecesse e Severo a expulsasse de casa.



Mas será que ele lutaria por ter a criança? Segundo as palavras dele, crianças eram mais um fardo do que uma alegria, então talvez ele não quisesse nada com o filho. Mas e se a criança fosse mágica? Martha podia ver um advogado bruxo gosmento (mesmo entre os bruxos, eles deveriam ter um desses) fazendo o discurso de que aquele era o legítimo herdeiro dos Snape e um bruxo, portanto, deveria crescer afastado de sua mãe, uma trouxa sem magia.



Não! Ninguém a tiraria de perto de seu bebê! Ela já amava o pequenino, sem se importar se fosse menino ou menina, bruxo ou trouxa. Ele era seu, para amar, proteger e educar, e ela iria lutar como uma leoa por ele.



Depois de lidar com a pior das hipóteses, Martha passou a examinar alternativas intermediárias. E se ela contasse a Severo? Talvez, vendo o fato consumado, ele até aceitasse. Talvez aquele comentário o tivesse feito pensar mais sobre a opção de ter uma criança.



Uma das coisas que Martha mais se ressentia era a certeza de que Severo seria um excelente pai. Poucas pessoas além de Martha sabiam do imenso amor que Severo tinha dentro de si. Uma vez que ele fosse conquistado por seu filho ou filha, ele seria um pai dedicado, amoroso, protetor e participativo, sem se desvencilhar de suas características de ser exigente e perfeccionista. Bom, ninguém é perfeito, pensou Martha.



Com tudo isso em mente, a segunda decisão da noite foi contar a Severo tudo sobre a gravidez. Na primeira oportunidade possível.



Aí ela se lembrou.



Eles tinham que comparecer à audiência no Ministério da Magia na manhã seguinte. Como Martha podia ter se esquecido disso? Incrível como as perspectivas podiam mudar literalmente de uma noite para outra.



Assim que amanheceu, Madame Pomfrey insistiu que ela comesse alguma coisa apesar dos enjôos. Só o que ela conseguiu pôr para dentro foram algumas bolachinhas de água e sal com um chá fraco.



Depois de descer às masmorras e tomar banho, Martha foi levada por Severo e os dois apresentaram-se ao diretor na sala dele. Martha viu duas pessoas que ela nunca tinha visto antes, e um deles era assustador: um homem de cabelo ralo e grisalho desgrenhado, com um rosto deformado e um olho de vidro que parecia se mexer independente do outro. A outra era uma bruxa baixinha e de cabelos lisos bem pretos, que sorriu para ela. Martha sorriu de volta, mas Severo sentiu sua tensão.



O Prof. Dumbledore voltou-se para os dois:



- Ótimo! Severo, Martha, vocês chegaram bem na hora.



Martha sentiu toda a contrariedade de Severo quando ele indagou:



- Diretor, o que eles estão fazendo aqui?



O homem deformado disse, com uma cara de eterno mal-humorado:



- Bom dia para você também, Severo. É bom ver que o casamento melhorou seu humor.



A bruxa, que devia ter uns 40 anos, ignorou os dois e disse a Martha:



- Olá, eu sou Emelina Vance. Você deve ser Martha. Como sua esposa é bonita, Severo!



Dumbledore explicou:



- Alastor e Emelina estão aqui para escoltá-los no Ministério da Magia. Martha, esses são Alastor Moody e Emelina Vance.



Martha sequer teve chance de dizer "muito prazer".



- No Ministério? - repetiu Severo - Isso não faz o menor sentido. Mesmo que o Senhor das Trevas tivesse um plano para capturar Martha, acha que ele faria isso dentro de um prédio cheio de aurores?



- Na verdade, Severo, ele já o fez - lembrou Dumbledore - Há coisa de uns oito meses. Lembra-se? No Departamento de Mistérios. A pobre fonte jamais se recuperou. De qualquer forma, não há motivo para supor que o Ministério seja considerado território seguro. A escolta é necessária.



- Eu até concordo que a escolta seja necessária, Alvo - concedeu - Mas Moody e Emelina Vance são membros da Ordem da Fênix, extremamente ligados a você. Como parecer com eles em público sem estragar minha cobertura? Com certeza haverá outras famílias sonserinas no local, algumas ligadas a Comensais da Morte. Mesmo se o Lorde das Trevas não atacar, ele saberá quem faz parte da escolta. E meus dias de espião terão terminado. Desta vez, ele não perdoará.



Dumbledore sorriu e disse:



- Eu acho que tem razão, Severo. Por isso é que Alastor e Emelina Vance vão na frente, e só acompanharão vocês sob efeito de um Feitiço Desilusório.



Martha indagou:



- Feitiço o quê?



A bruxa se espantou:



- Nossa, mas ela é trouxa legítima!



Severo a fuzilou com o olhar antes de explicar:



- Eles vão parecer invisíveis. Nós os usamos em dragões e cavalos alados. Só um feitiço Aparecium ou Eclaro pode desfazer o efeito do Feitiço Desilusório.



- Ou, é claro - disse Alastor, num raro sorriso -, meu olho mágico. Eheheheh!



Martha olhou para o homem e disse:



- Acho que entendo.



Dumbledore disse:



- Outra coisa que precisa entender, Martha: devido à distância entre Hogwarts e o Ministério, o melhor meio de transporte é o pó de flu. Aparentemente, não é seu meio de transporte preferido.



Ela arregalou os olhos:



- Para dizer o mínimo. Eu acabei de sair da enfermaria. Isso não vai afetar minha saúde?



O velho professor a olhou por cima dos óculos de meia-lua e ergueu as sobrancelhas para assegurar:



- Pode acreditar, minha criança, que nada de ruim vai acontecer a você ou a seu pequeno e delicado... estômago - e piscou para ela.



Martha quase perdeu totalmente o fôlego e a cor. Instantaneamente, ela percebeu que seu segredo não era segredo para Dumbledore. O velho sabia que ela carregava uma criança. Mas como era possível? Aquele homem era um bruxo!



O estranho Alastor anunciou:



- Vamos, vamos logo, Emmi, que ninguém deve nos ver perto desses dois.



- Está bem, Moody - disse ela, sorrindo para Martha - Não se preocupe, querida. Tudo vai dar certo.



Os dois entraram na lareira e o fogo verde os levou. Martha também parecia meio esverdeada só de olhar o pó de flu.


Após alguns minutos de espera, depois foi a vez de Martha e Severo. Mais uma vez ela terminou aterrissando de quatro em pleno lobby do Ministério da Magia. Severo logo se pôs a ajudar, retirando a cinza de suas capas.



Um bruxo muito sorridente e de modos nervosos foi recebê-los, com uma prancheta na mão:



- Bom dia, visitantes. Sejam bem-vindos ao Ministério da Magia. Por favor, queiram fornecer seu nome e a natureza de sua visita.



Severo respondeu:



- Severo e Martha Snape. Viemos dar nosso testemunho numa audiência de um inquérito.



O bruxo apontou sua varinha para o alto e depois para a sua própria mão. Da ponta do objeto, saíram dois crachás prateados e quadrados, um para cada um. Ele os entregou, dizendo, sem perder o sorriso:



- Isso deve ficar visível durante todo o tempo. Vocês devem pegar o elevador e se dirigir ao nível nove. Mas antes precisam passar no balcão de segurança no fim do corredor e se submeter a uma revista e à checagem de suas varinhas. O Ministério da Magia lhes deseja uma boa estada e um ótimo dia.



Ele saiu e Martha olhou para o seu crachá: dizia Martha Snape, Testemunha.



Depois que ela ajeitou o crachá na sua lapela, ela teve a primeira chance de olhar para o lugar com calma. E ficou boquiaberta.



Ela estava num hall de entrada comprido e amplo, todo em tábua corrida escura, por onde circulavam dezenas de bruxos e bruxas de ares executivos carregando pergaminhos e pastas. O teto era pintado de um forte azul turquesa, decorado com símbolos que se moviam em todas as direções, sem padrão definido. Martha e Severo estavam na metade do corredor, onde se enfileiravam lareiras douradas despejando bruxos na parte esquerda e, na parte da direita, outras lareiras tinham filas de bruxos esperando para partir.



Para o outro lado, havia uma grade placa em cima de um cavalete de obras, dizendo "EM REPAROS - Ajude a restauração da Fonte dos Irmãos Mágicos", e embaixo havia uma caixinha para doações. Aquele trecho estava nitidamente em obras e Martha ficou espantada ao ver feiticeiros com chapéu reforçado feito um capacete de construção em macacões de operário, examinando plantas que flutuavam no ar, enquanto ferramentas voavam, fazendo o serviço sob supervisão de quase duas dúzias de bruxos.



Quando se virou, Martha teve a impressão de ver uma textura meio líquida numa das paredes, mas ao olhar com atenção, viu que tinha sido só impressão. Severo ajeitou o seu crachá e guiou Martha rumo ao fim do corredor, onde portões dourados recebiam os funcionários, muitos ainda com cara de sono, embora não fosse mais tão cedo de manhã.



Mas antes que chegassem aos portões, eles tiveram que parar num guichê onde estava escrito "Segurança", e Martha pensou que o bruxo desanimado, de cabelos pretos e bigode, poderia ser um segurança trouxa. Ele sequer ergueu o olhar da revista Semanário do Bruxo Moderno.



- Varinhas, por favor.



Severo apresentou a sua e Martha disse:



- Eu não tenho varinha.



- Aborto?



Martha odiava aquela palavra tanto quanto a próxima que teve que dizer:



- Trouxa.



O bruxo ergueu os olhos da revista disfarçadamente e a olhou de cima a baixo, enquanto punha a varinha de Severo numa estranha espécie de balança de latão, com um prato só. Martha ficou vermelha e concentrou suas atenções no prato da balança, que parecia vibrar baixinho. De repente, um papelzinho saiu da base do objeto e o bruxo o apresentou a Severo:



- Por favor, senhor, confira as especificações técnicas de sua varinha.



Martha espiou: ali dizia o tamanho da varinha, a madeira da qual ela era feita e o elemento mágico contido nela. Severo devolveu o papel:



- Correto.



O bruxo colocou o papel numa caixinha e disse:



- Isso fica comigo e o senhor pode levar sua varinha. Tenham os dois um bom dia - e ele deu mais uma olhada em Martha, com uma cara entre desconfiado e surpreso.



Severo guiou Martha para uma fileira de pelo menos 10 elevadores e eles entraram com uns seis bruxos, alguns se cumprimentando polidamente. De novo, ela viu aquela textura líquida no fundo do elevador, mas o movimento a distraiu. Não havia ascensorista, mas uma voz aborrecida e monótona surgiu no ar, e anunciou, enquanto a porta se fechou e eles foram para baixo:



- Nível Nove, Departamento de Mistérios.



Severo cochichou:



- Nós descemos aqui.



A porta se abriu e Martha abriu caminho entre os bruxos, para emergir num corredor sem janelas e cheio de portas. Martha teve a impressão de novo de ter visto a textura da água na parede, mas de novo, aquilo sumiu como que por encanto. Os dois subiram uma escadinha estreita e entraram num outro corredor que se parecia muito com as masmorras, de parede nua e archotes acesos. Adiante, eles deram de cara com uma grande porta de madeira, que ficava num corredor com alguns bancos cheios de bruxas e bruxas.



Martha reconheceu Emília Bulstrode, que estava acompanhada de seus volumosos e desagradáveis pais. Também Draco Malfoy estava acompanhado de uma mulher alta e loura que só podia ser mãe dele. Harry, Hermione e Rony estavam adiante, com um homem de estatura média e cabelos vermelhos ralos, que deveria ser o pai de Rony. Ela quase teve um susto quando viu o Prof. Dumbledore confortavelmente sentado numa cadeira de chintz - como ele teria chegado antes, se tinha saído depois deles?



Diversas dessas pessoas cochichando ao olhar para Martha e ela se sentiu constrangida. Severo passou a mão sobre seus ombros, assegurando-lhe conforto. Ela ergueu a cabeça para olhar fundo nos olhos de seu marido e ele assentiu, com um meio sorriso. O coração dela se derreteu. Como não amar esse homem? Com apenas um olhar, ele tinha feito o desconforto ir-se embora.



- Prof. Snape - A voz a fez sair de seu delírio e ela se virou para ver o pai de Rony com um enorme sorriso e um entusiástico aperto de mão -, que prazer em vê-lo! E essa deve ser sua esposa. Encantado, Madame, encantado. Eu sou Arthur Weasley, pai de Ronald, e devo dizer que estou emocionado em conhecê-la. Tenho a impressão de que é a primeira trouxa que eu conheço que não precisa ser obliviada! Que emoção!



Martha rapidamente se recuperou da maneira entusiasmada de Arthur Weasley e respondeu:



- Eu também tenho muito prazer em conhecê-lo, Sr. Weasley. Seu filho salvou minha vida.



- Ele fala muito bem da senhora e suas palestras. Eu esperava ter a chance de conversar com a senhora - em outras circunstâncias, claro.



- Será um prazer, Sr. Weasley. Lembranças à Sra. Weasley.



Nesse momento, um jovem bruxo de cabelos ruivos encaracolados (obviamente um outro Weasley) saiu da porta de madeira e usou sua voz magicamente ampliada para convocar:



- A ré, seus responsáveis e a vítima podem entrar na sala do tribunal. Os demais devem aguardar o chamado do escriba da Corte.



Propositalmente, Severo e Martha deixaram Emília Bulstrode e seus pais entrarem primeiro na sala do Tribunal. Quando ela os seguiu, viu que estava num lugar conhecido. Era a mesma sala onde ela tinha dado um testemunho anterior, e ela reconheceu até as mesmas pessoas, muitas escondidas na penumbra. Mas Cornélio Fudge era um rosto que ela jamais iria esquecer enquanto vivesse. Ela procurou separar a memória daquele dia terrível e disse a si mesma que dessa vez ela estava ali como vítima, e não havia aurores.



O bruxo ruivo indicou que Emília deveria se sentar numa cadeira cujos braços tinham correntes anexadas. Martha, ele apontou, deveria se sentar à direita da Suprema Corte dos Bruxos.



Contudo, quando Severo entrou a seu lado, o jovem Weasley o impediu, dizendo:



- Lamento, professor, mas o senhor terá que esperar lá fora com as demais testemunhas. É o procedimento.



O olhar que Severo lançou ao rapaz não foi muito diferente do que ele teria lançado a um inseto que tencionava esmagar com o sapato. Martha se apressou em dizer:



- Está tudo bem, querido. Pode ir.



Ele assentiu, dizendo:



- Estarei logo aqui fora.



E, depois de fuzilar Weasley com outro olhar feroz, saiu dramaticamente de volta ao corredor.



À esquerda da Corte, oposta a Martha, estavam os pais de Emília, que a encaravam com um olhar entre reprovador e ameaçador. Martha não esperava coisa diferente.



Um barulho atraiu sua atenção, e de alguma maneira, ela sabia que a sessão ia começar. Seu estômago voltou a ser preenchido por borboletas.



Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.