Um Amor Puro.



Um Amor Puro.


 


O que há dentro do meu coração
Eu tenho guardado pra te dar
E todas as horas que o tempo
Tem pra me conceder
São tuas até morrer


[...]


Aqui ou noutro lugar
Que pode ser feio ou bonito
Se nós estivermos juntos
Haverá um céu azul


 


A luz clara da lua alta transpunha sem pudores as cortinas fechadas daquela janela convidativamente aberta e refletia-se prateada sobre o piso de mármore polido do suntuoso recinto, imaculado de sujeiras, como se fosse algo inconcebível para um piso. Os pés trabalhados da cama de ébano estavam à penumbra, como o resto do recinto.


Sobre a cama incidia uma larga e descara luminescência que envolvia o corpo magro levemente adormecido.


O lençol fino cobria parcialmente o corpo feminino, maduro, marcado pelo tempo deixando à mostra as costas da mulher envoltas em uma grossa camisola de um xadrez tipicamente escocês. Longos cabelos grisalhos cascateavam o travesseiro branco, formando graciosas ondulações, provocado talvez pelo uso religioso do coque.


O único som que vinha daquele quarto, era a respiração irregular de um sono leve, daquela senhora que descansava. O tempo não fora muito generoso com ela, as marcas eram todas evidentes, e quase transcreviam a idade que tinha, e era também culpa do tempo aquele sono irregular e frágil.


As pálpebras tremeram antecedendo o despertar e o vislumbre de belas íris azuladas que destacavam como faroletes na penumbra do quarto. As linhas de expressão marcavam severamente aquele rosto claro, mas ainda assim, caprichosamente, mantinham a elegante beleza da tenra idade. Suspirou levemente observando a sua volta, tudo tranquilamente em seu lugar, como deixara antes de dormir. Projetou o corpo para frente, dobrando-se sobre o vente, aspirando o cheiro frio da madrugada alta. Obrigou os pés descalços a tocarem o chão gelado e um frio conhecido percorreu por seu corpo, eriçando alguns pelos insistentes. O longo cabelo refletiu a luz da lua, tornando-se prateado e iluminado, seus passos eram firmes e lentos e demorou mais do que realmente deveria para chegar a janela e afastar as cortinas admirando a lua nova. Debruçou-se sobre o peitoril e se permitiu sorrir, um sorriso carregado de mágoas, seus olhos azuis ficaram rasos d’água e com ajuda dos cílios curtos, marcas peroladas se acrescentaram ao rosto maduro.


Aquela era a rotina noturna de Minerva McGonagall, acordar no meio da madrugada, debruçar-se sobre o peitoril da janela e pensar, raramente chorava, demonstrando o quão forte era. E aqueles gestos tão simples, lavavam sua alma de um amor incorrespondido, improvável e impossível. Porque sim, ela também amava, também tinha esse direito que assolava as almas humanas, mas como todo e unicamente amor verdadeiro, ela sabia que jamais seria correspondida. Nem queria para ser sincera, porque conhecia a escolha do homem que amava e acima de si mesma respeitava fervorosamente o que ele havia escolhido para sai tanto tempo atrás. E era exatamente assim que ela pretendia manter esse amor, puro, intocado, imaculado e dentro de si.


Porque antes de amá-lo como mulher, era como pessoa que o amava, como o grande e poderoso bruxo que era por todas as responsabilidades que ele como ninguém sempre sabia lidar. E apenas lhe bastava estar próximo dele, compartilhando da mesma atmosfera. Porém, não era tola a ponto de negar que sentia necessidades femininas, quantas foram às vezes que sonhara com aquelas frágeis mãos macias lhe puxando para um apertado abraço que lhe renderia um beijo casto e singelo daqueles lábios finos e ressequidos pelo tempo. Era sempre por causa deste sonho que acordava durante as madrugadas, porque o amava tanto que jamais se permitiria pecar esse amor, com desejos carnais e fantasia erótica com o grande homem que ela sabia que ele era, amava simplesmente na mais singela denotação que cabia àquele verbo. Queria bem, apenas, esquecendo-se por vezes e quase sempre do que queria para si mesma.


Os dedos de juntas grossas, herança de um reumatismo que assolava suas articulações, doíam com o aperto que direcionava ao beiral, como se o punisse de algo. E nem mesmo assim pensava em si. E acabou lembrando-se de algo de Albus dissera certa vez que a fizera pensar erroneamente que poderia esperar algo.


“Precisamos ficar juntos Minerva, porque o meu reumatismo precisa competir com o seu!”


Não era nenhuma menina e sabia que batimentos cardíacos acelerados que levariam rubor as suas faces não mais combinavam consigo e apenas alguns minutos depois, percebeu a pureza e inocência contida naquela frase. Ele apenas queria uma pessoa amiga que pudesse compartilhar a velhice, para ele, Minerva era como uma irmã, talvez, preenchendo um pedaço do vazio que sua queria Ariana deixara.


Secou o rosto e suspirou consternada, sabia carregar seu fardo e mesmo que parecesse pesado ela não vocalizava, jamais assumira nem para seus botões o quanto o amou, amava e amaria aquele velho bruxo de longas barbas brancas. E depois de suas silenciosas lágrimas lavarem sua alma, ela voltava a cama para dormir, adquirindo novamente a postura severa da vice-diretora de Hogwarts. Guardando no fundo de sua alma aquele amor que nutria secreta e silenciosamente por Albus Dumbledore, o Maior Bruxo de Todos os Tempos, aquele amor que presunçosamente chamava de Maior Amor do Mundo, aquele mesmo amor que convertia em amizade incondicional. O amor contido na eternidade de uma simples alma enamorada.


 


FIM.


 


-x-


 


N/A: Esse é o amor mais puro que existe em apenas poucas pessoas ainda. Porque ela não quer ter a posse da pessoa amada, lhe basta apenas a felicidade dele.


É assim que eu vejo como Minerva ama o Diretor.


Criticas? Sugestões? Pensamentos diferentes?


Reviews?


 


Jenn Prince J.M.

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