o primeiro pokemon
A fuga da jibóia brasileira rendeu a Harry o seu castigo mais longo. Na altura em que lhe permitiram sair do armário, as férias de verão já haviam começado e Duda já quebrara a nova filmadora, acidentara o aeromodelo e, na primeira vez que andara na bicicleta de corrida, derrubara a velha Sra. Figg quando ela atravessava a Rua dos Alfeneiros de muletas. Harry ficou contente que as aulas tivessem acabado, mas não conseguia escapar da turma de Duda, que visitava a casa todo dia. Pedro, Dênis, Malcolm e Górdon eram todos grandes e burros, mas como Duda era o maior e o mais burro do bando, era o líder. Os demais ficavam bastante felizes de participar do esporte favorito de Duda: perseguir Harry. Por esta razão Harry passava a maior parte do tempo possível fora de casa, perambulando e pensando no fim das férias, no qual conseguia vislumbrar um raiozinho de esperança. Quando setembro chegasse, ele iria para a escola secundária e, pela primeira vez na vida, não estaria em companhia de Duda. Duda tinha uma vaga na antiga escola de tio Válter, Smeltings. Pedro ia para lá também. Harry por outro lado, ia para a escola secundária local. Duda achava muita graça nisso. — Eles metem a cabeça dos garotos no vaso sanitário no primeiro dia de escola — contou ele a Harry — quer ir lá em cima praticar? — Não, obrigado — respondeu Harry — O coitado do vaso nunca recebeu nada tão horrível quanto a sua cabeça, é capaz de passar mal. — E correu antes que Duda conseguisse entender o que dissera. Certo dia de julho, tia Petúnia levou Duda a Londres para comprar o uniforme da Smeltings e deixou Harry com a Sra. Figg. A Sra. Figg não estava tão ruim quanto de costume. Afinal, fraturara a perna porque tropeçara em um dos gatos e não parecia gostar tanto deles quanto antes. Deixou Harry assistir a televisão e lhe deu um pedaço de bolo de chocolate que pelo gosto parecia ter muitos anos. Naquela noite, Duda desfilou para a família reunida na sala de estar vestindo o uniforme novo da Smeltings. Os alunos da Smeltings usavam casaca marrom-avermelhada, calções cor de laranja e chapéus de palha. Carregavam também bengalas nodosas, que usavam para bater uns nos outros quando os professores não estavam olhando isto era considerado um bom treinamento para o futuro. Ao contemplar Duda nos calções laranja novos, tio Válter disse com a voz embargada que aquele era o momento de maior orgulho em sua vida. Tia Petúnia rompeu em lágrimas e disse que não podia acreditar que era o seu Dudinha, estava tão bonito e adulto. Harry não confiou no que poderia dizer. Achou que duas de suas costelas talvez já tivessem partido só com o esforço para não rir. Havia um cheiro horrível na cozinha na manhã seguinte quando Harry entrou para o café da manhã. Parecia vir de uma panela de metal dentro da pia. Ele se aproximou para espiar. A tina aparentemente estava cheia de trapos sujos que boiavam na água cinzenta. — O que é isso? — perguntou à tia Petúnia... Os lábios dela se contraíram como costumavam fazer quando ele se atrevia a fazer uma pergunta. — O seu uniforme novo de escola — respondeu. Harry espiou para dentro da tina outra vez. — Ah — comentou — eu não sabia que tinha que ser tão molhado. — Não seja idiota — retorquiu tia Petúnia com rispidez. — Estou tingindo de cinza umas roupas velhas de Duda para você. Vão ficar iguaizinhas às dos outros quando eu terminar. Harry tinha sérias dúvidas, mas achou melhor não discutir. Sentou-se à mesa e tentou pensar na aparência que teria no primeiro dia de aula como se estivesse usando retalhos de pele de elefante velho, provavelmente. Duda e tio Válter entraram ambos com os narizes franzidos por causa do cheiro do novo uniforme de Harry. Tio Válter abriu o jornal como sempre fazia e Duda bateu na mesa com a bengala da Smeltings, que ele carregava para todo lado. Ouviram o clique da portinhola para cartas e o som da correspondência caindo no capacho da porta. — Apanhe o correio, Duda — disse tio Válter por trás do jornal. — Mande o Harry apanhar. — Apanhe o correio Harry. — Mande o Duda apanhar. — Cutuque ele com a bengala da Smeltings, Duda. Harry se esquivou da bengala da Smeltings e foi apanhar o correio. Havia três coisas no capacho: um postal da irmã do tio Válter, Guida, que estava passando férias na ilha de Wihgt, um envelope pardo que parecia uma conta e uma “carta para Harry”. Harry apanhou-a e ficou olhando, o coração vibrando como um elástico gigante. Ninguém, jamais, em toda a sua vida, lhe escrevera. Quem escreveria? Ele não tinha amigos, nem outros parentes, não era sócio da biblioteca, de modo que jamais recebera sequer os bilhetes grosseiros pedindo a devolução de livros. Contudo, ali estava, uma carta, endereçada tão claramente que não podia haver engano. Sr. H. Potter O Armário sob a Escada Rua dos Alfeneiros 4 Little Whinging Surrey O envelope era grosso e pesado, feito de pergaminho amarelado e endereçado com tinta verde-esmeralda. Não havia selo. Quando virou o envelope, com a mão trêmula, Harry viu um lacre de cera púrpura com um brasão, um Leão, uma Águia, um Texugo e uma Cobra circulando uma grande letra "H". — Anda depressa, moleque! — gritou tio Válter da cozinha. — fazendo o quê, procurando cartas-bombas? — E riu da própria piada. Harry voltou à cozinha, ainda de olhos fixos na carta. Entregou a conta e o postal ao tio Válter, sentou-se e começou a abrir lentamente o envelope amarelo. Tio Válter rasgou o envelope da conta, deu um bufo de desdém e virou o postal. — Guida está doente — informou à tia Petúnia. — Comeu um marisco suspeito... — Pai! — exclamou Duda de repente. — Pai, Harry recebeu uma carta! Harry ia desdobrar a carta, escrita no mesmo pergaminho que o envelope, quando tio Válter arrancou-a de sua mão. — É minha! — disse Harry, tentando recuperá-la. — Quem iria escrever para você? — zombou tio Válter, sacudindo a carta com uma das mãos para desdobrá-la e percorrendo com o olhar. Seu rosto passou de vermelho para verde mais rápido que um sinal de tráfego. E não parou ai. Segundos depois ficou branco-acinzentado, cor de mingau de aveia velho. — P-P-Petúnia! — ofegou. Duda tentou agarrar a carta para lê-la, mas tio Válter segurou-a no alto fora do seu alcance. Tia Petúnia apanhou-a cheia de curiosidade leu a primeira linha. Por um instante pareceu que ela talvez fosse desmaiar. Levou as duas mãos à garganta e produziu ruído de engasgo. — Válter! Ah, meu Deus, Válter! Eles se encararam parecendo ter esquecido que Harry e Duda continuavam na cozinha. Duda não estava acostumado a ser desprezado. Deu uma bengalada forte na cabeça do pai. — Quero ler esta carta — falou alto. — Quero lê-la — disse Harry furioso —, porque é minha... — Saiam, os dois — ordenou com voz rouca tio Válter, enfiando a carta no envelope. Harry não se mexeu. — QUERO MINHA CARTA! — Gritou. — Me deixa ver! — exigiu Duda. — Fora! — berrou Tio Válter, e agarrando os dois, Harry e Duda, pelo cangote atirou-os no corredor e bateu a porta da cozinha. Harry e Duda na mesma hora tiveram uma briga furiosa, mas silenciosa, para saber quem ia escutar à fechadura, Duda ganhou, por isso Harry, os óculos pendurados em uma orelha, deitou-se de barriga no chão para escutar pela fresta entre a porta e o chão. — Válter — disse tia Petúnia com voz trêmula — olhe só o endereço. Como é que eles poderiam saber onde ele dorme? Você acha que estão vigiando a casa? — Vigiando, espionando, talvez nos seguindo — murmurou tio Válter enlouquecido. Harry via os sapatos pretos lustrosos do tio Válter andando para cá e para lá na cozinha. — Não — disse ele decidido. — Não, vamos ignorá-la. Se não receberem uma resposta... É, é o melhor... Não vamos fazer nada... — Mas... — Não vou ter um deles em casa, Petúnia! Nós não juramos quando o recebemos que íamos acabar com aquela bobagem perigosa? Aquela noite, quanto voltou do trabalho, tio Válter fez uma coisa que nunca fizera antes, visitou Harry no armário. — Cadê minha carta? — perguntou Harry, no instante em que tio Válter se espremeu pela porta. — Quem me escreveu? — Ninguém. Endereçaram a você por engano — disse tio Válter secamente. — Queimei a carta. — Não foi um engano — retrucou Harry com raiva, — tinha o endereço do meu armário. — CALADO! — gritou tio Válter e algumas aranhas caíram do teto. Ele inspirou algumas vezes e então fez força para produzir um sorriso que pareceu bem penoso. — Hum, sim, Harry sobre este armário. Sua tia e eu estivemos pensando... Você realmente está ficando grande demais para ele... Achamos que seria bom se você se mudasse para o segundo quarto de Duda. — Por quê? — perguntou Harry. — Não faça perguntas — disse com rispidez o tio. Leve essas coisas para cima agora. A casa dos Dursley tinha quatro quartos: um para tio Válter e tia Petúnia, um para hóspedes (em geral a irmã de tio Válter, Guida), um onde Duda dormia e um onde Duda guardava todos os brinquedos e pertences que não cabiam no primeiro quarto. Harry precisou de apenas uma viagem para mudar tudo o que tinha do armário para o quarto no andar de cima. Sentou-se na cama e deu uma olhada à sua volta. Quase tudo ali estava quebrado. A filmadora com apenas um mês de uso estava jogada em cima de um pequeno tanque com que certa vez Duda atropelara o cachorro do vizinho, no canto estava o primeiro televisor de Duda, no qual ele enfiara o pé quando seu programa favorito fora cancelado, havia uma grande gaiola de pássaros, antigamente habitada por um papagaio que Duda trocara na escola por uma espingarda de ar de verdade, e que estava guardada numa prateleira com a ponta dobrada porque Duda se sentara em cima dela. Outras prateleiras estavam cheias de livros. Eram as únicas coisas no quarto que pareciam nunca ter sido tocadas. Lá de baixo veio o barulho de Duda gritando com a mãe: — Eu não o quero lá... Eu preciso daquele quarto.... Mande-o sair: Harry suspirou e se esticou na cama. Ontem ele teria dado qualquer coisa para estar ali. Hoje, preferia estar no seu armário com aquela carta do que ali encima sem ela. Na manhã seguinte, no café, todos estavam muito quietos. Duda estava em estado de choque. Berrara, batera no pai com a bengala, vomitara de propósito, dera pontapés na mãe e atirara sua tartaruga pelo teto da estufa de plantas e nem assim conseguira o quarto de volta. Harry pensava no dia anterior àquela hora, desejando com amargura que tivesse aberto a carta no hall. Tio Válter e tia Petúnia se entreolhavam, ameaçadores. Quando o correio chegou tio Válter, que parecia estar tentando ser agradável com Harry, fez Duda ir buscá-lo. Eles o ouviram bater nas coisas do corredor com a bengala da Smeltings. Então ele gritou: — Chegou outra! Sr. H. Potter, O Menor Quarto da Casa Rua dos Alfeneiros 4... Com um grito sufocado tio Válter saltou da cadeira e saiu correndo pelo corredor, Harry logo atrás dele. Tio Válter teve que lutar e derrubar Duda no chão para lhe tirar a carta, o que foi dificultado por Harry que agarrara o pescoço do tio Válter por trás. Depois de um minuto confuso de luta, em que todos levaram varias bengaladas, tio Válter se endireitou, ofegante com a carta de Harry apertada na mão. — Vá para o seu armário, quero dizer, para o seu quarto — chiou para Harry — Duda, saia, saia logo. Harry deu voltas e mais voltas no novo quarto. Alguém sabia que ele se mudara do armário e parecia saber que ele não recebera a primeira carta. Isto significava com certeza que ia tentar outra. Outra vez? E desta vez ele tomaria providências para que desse certo. Tinha um plano. O despertador consertado tocou às seis horas na manhã seguinte. Harry desligou-o depressa e se vestiu em silêncio. Não podia acordar os Dursley. Desceu as escadas sorrateiro sem acender nenhuma luz. Ia esperar pelo carteiro na esquina da Alfeneiros e receber primeiro as cartas endereçadas ao numero quatro. Seu coração batia com força quando atravessou sem ruído o corredor escuro até a porta de entrada. — AAAAAIIIIIEEE!!! Harry deu um salto no ar, pisara em alguma coisa grande e mole no capacho, uma coisa viva! As luzes se acenderam no primeiro andar e, para seu horror, Harry percebeu que a coisa grande e mole tinha a cara do tio Válter estava dormindo junto à porta de entrada em um saco de dormir para impedir que Harry fizesse exatamente o que estava tentando fazer. Gritou com Harry quase meia hora e depois lhe disse para ir preparar uma xícara de chá. Harry foi para a cozinha, arrastando os pés, infeliz, e quando conseguiu voltar o correio tinha sido entregue, bem no colo de tio Válter. Harry viu três cartas endereçadas em tinta verde. Tio Válter não foi trabalhar naquele dia. Ficou em casa e pregou a portinhola para cartas. — Entende — explicou à tia Petúnia por entre os lábios cheios pregos — se eles não puderem entregar então terão de desistir. — Não tenho muita certeza de que isto vai dar certo, Válter. — Ah, a cabeça dessa gente funciona de maneira estranha, Petúnia eles não são como você e eu — disse tio Válter tentando bater um prego com um pedaço de bolo de frutas que tia Petúnia acabara de lhe trazer. Na sexta-feira chegaram nada menos que doze cartas para Harry. Como não passavam pela portinhola da correspondência, tinham sido empurradas por baixo da porta, metidas pelos lados e algumas até forçadas pela janelinha do banheiro no térreo. Tio Válter ficou em casa de novo. Depois de queimar todas, apanhou martelo e pregos e fechou com tábuas as frestas das portas da frente e dos fundos, de modo que ninguém podia sair. Cantarolou "Pé ante pé no campo de tulipas" enquanto trabalhava, e se assustava com qualquer ruído. No sábado as coisas começam a fugir ao seu controle. Vinte e quatro cartas acabaram entrando em casa enrolada e escondida em duas dúzias de ovos que o leiteiro, muito confuso, entregara à tia Petúnia pela janela da sala de estar. Enquanto tio Válter dava telefonemas furiosos para o correio e a leiteria tentando encontrar alguém a quem se queixar, tia Petúnia picava as cartas no processador de alimentos. — Mas quem é que quer falar tanto assim com você? — Duda perguntou espantado a Harry. Na manhã do domingo, tio Válter sentou-se à mesa do café parecendo cansado e um tanto doente, mas feliz. — Não tem correio aos domingos — lembrou a todos, contente passando geléia nos jornais, nada de cartas idiotas hoje... Alguma coisa desceu chiando pela chaminé do fogão enquanto ele falava e bateu com força em sua nuca. No instante seguinte, trinta ou quarenta cartas saíram velozes da lareira como se fossem tiros. Os Dursley se abaixaram, mas Harry deu um salto no ar para apanhar uma... — Fora! Fora! Depois que tia Petúnia e Duda tinham corrido para fora protegendo o rosto com os braços, tio Válter bateu a porta. Eles podiam ouvir as cartas disparando para dentro da cozinha, ricocheteando nas paredes e no chão. — Já chega — disse tio Válter, tentando falar com calma, mas ao mesmo tempo, arrancando tufos de pêlos dos bigodes. — Quero vocês aqui de volta em cinco minutos prontos para sair. Vamos viajar. Ponham apenas algumas roupas nas malas. Não quero discussão! Ele parecia tão perigoso com metade dos bigodes arrancados que ninguém se atreveu a discutir. Dez minutos depois eles tinham retirado as tábuas para passar nas portas e estavam no carro, correndo em direção a estrada. Duda fungava no banco traseiro, o pai tinha lhe dado um tapa na cabeça por atrasá-los tentando empacotar a televisão, o vídeo e o computador na mochila esportiva. Eles viajaram no carro. E viajaram. Nem tia Petúnia se atrevia a perguntar aonde iam. De vez em quando tio Válter fazia uma curva fechada e seguia na direção oposta por algum tempo. — Para despistá-los... Despistá-los — resmungava sempre que fazia isso. Não pararam para comer nem beber o dia inteiro. Quando a noite caiu Duda estava uivando. Nunca tivera um dia tão ruim na vida. Estava com fome, sentia falta dos cinco programas de televisão que queria assistir e nunca levara tanto tempo sem explodir um alienígena no computador. Tio Válter parou finalmente à porta de um hotel de aspecto sombrio na periferia de uma grande cidade. Duda e Harry dividiram um quarto com duas camas iguais e lençóis úmidos que cheiravam a mofo. Duda roncou, mas Harry ficou acordado, sentado no peitoral da janela, espiando as luzes dos carros que passavam enquanto pensava... Comeram cereal velho e torradas com tomates enlatados frios no café da manhã do dia seguinte. Tinham acabado de comer quando a proprietária do hotel aproximou-se da mesa. — Com licença, mas um dos senhores é o Sr. Harry Potter? É que eu tenho umas cem dessas na recepção. — E ergueu uma carta para eles poderem ler o endereço em tinta verde: Sr. H. Potter Quarto 17 Railview Hotel Cokewrth Harry tentou pegar a carta, mas tio Válter afastou sua mão. A mulher ficou olhando. — Eu recebo as cartas — disse tio Válter, levantando-se depressa e seguindo a mulher que se retirava do salão de refeições. — Não seria melhor simplesmente irmos para casa, querido? — tia Petúnia sugeriu timidamente horas depois, mas tio Válter não parecia ouvi-la. Exatamente o que andava procurando ninguém sabia. Ele os levou até o meio de uma floresta, desceu do carro, espiou a volta, sacudiu a cabeça, tornou a embarcar no carro e partiram outra vez. A mesma coisa aconteceu no meio de um campo arado, no meio de uma ponte pênsil e no alto de um edifício garagem. — Papai enlouqueceu, não foi? — Duda perguntou, cansado, à tia Petúnia no fim daquela tarde. Tio Válter estacionara no litoral, passara a chave no carro com todos dentro e desaparecera. Começou a chover. Grandes gotas batiam no teto do carro. Duda choramingou. — É segunda-feira — falou à mãe. O Grande Humberto vai se apresentar hoje à noite. Quero estar em algum lugar que tenha televisão. Segunda-feira. Isto lembrou a Harry uma coisa. Se era segunda-feira e em geral podia-se confiar que Duda soubesse os dias da semana, por causa da televisão, então o dia seguinte, terça-feira, era o décimo primeiro aniversário de Harry. Naturalmente seus aniversários não eram lá muito divertidos, no ano anterior, os Dursley tinham-lhe dado um cabide e um par de meias velha do tio Válter. Ainda assim, não se fazia onze anos todos os dias. Tio Válter voltou sorrindo. Carregava um pacote comprido e fino e não respondeu à tia Petúnia quando ela perguntou o que comprara. — Encontrei o lugar perfeito! — falou. — Vamos! Saiam todos! Fazia muito frio do lado de fora do carro. Tio Válter apontou para o que parecia ser um grande rochedo no meio do mar. Encarrapitado no alto do rochedo havia o casebre mais miserável que se pode imaginar. Uma coisa era certa, ali não havia televisão. — Estão anunciando uma tempestade para hoje! — disse tio Válter alegre, batendo palmas. — E este senhor teve a bondade de concordar em nos emprestar seu barco! Um homem desdentado vinha descansadamente em direção a eles, e apontava com um sorriso muito maldoso para um barco a remos velho que subia e descia nas águas cinza-grafite lá embaixo. — Já comprei algumas rações para nós — disse tio Válter — portanto, todos a bordo! Fazia muito frio no barco. Salpicos de água gelada do mar escorriam pelos pescoços deles e um vento cortante fustigava seus rostos. Depois do que pareceram horas eles chegaram ao rochedo, onde tio Válter, escorregando, levouos ate a casa em ruínas. O interior era horrível, cheirava a algas marinhas, o vento assobiava pelas frestas nas paredes de tábuas e a lareira estava úmida e vazia. Havia apenas dois quartos. Afinal as rações de Tio Válter eram uma embalagem de cereal para cada um e quatro bananas. Ele tentou acender a lareira, mas a embalagem de cereal apenas fumegou e carbonizou. — Aquelas cartas viriam a calhar agora, hein? — disse ele animado. Estava de muito bom humor. Obviamente achava que ninguém teria chance de alcançá-lo ali, durante uma tempestade, para entregar cartas. Harry concordava intimamente, embora este pensamento não o animasse nem um pouco. Quando a noite caiu, a tempestade prometida desabou ao redor deles. A espuma das altas ondas chapinhava nas paredes do casebre e um vento ameaçador sacudia as janelas imundas. Tia Petúnia encontrou uns cobertores mofados no segundo quarto e preparou uma cama para Duda ao sofá comido pelas traças. Ela e tio Válter foram se deitar na cama cheia de calombos ao lado e deixaram Harry procurar a parte mais macia do assoalho e se enrolar no cobertor mais rasgado e ralo. A tempestade rugia cada vez com maior ferocidade à medida que a noite avançava. Harry não conseguia dormir. Tremia e revirava, tentando encontrar uma posição confortável, seu estômago roncando de fome. Os roncos de Duda eram abafados pela trovoada que começou por volta da meia-noite. O mostrador luminoso do relógio de Duda, que estava pendurado para fora do sofá em seu pulso gordo, informava a Harry que dentro de dez minutos ele completaria onze anos. Deitado, ele viu seu aniversário se aproximar, perguntando-se se os Dursley se lembrariam, perguntando-se onde estaria o remetente das cartas agora. Faltavam cinco minutos. Harry ouviu alguma coisa estalar lá fora. Desejou que o teto não caísse, embora quem sabe conseguisse se esquentar se isto acontecesse. Quatro minutos. Talvez a casa na Rua dos Alfeneiros estivesse tão abarrotada de cartas que quando voltasse ele pudesse surrupiar uma. Três minutos. Seria o mar batendo tão forte na rocha? E faltavam dois minutos, que barulho esquisito de trituração era aquela? Será que a rocha estava se desintegrando no mar? Mais um minuto e ele completaria onze anos. Trinta segundos... Vinte... Dez... Nove... Talvez acordasse Duda, só para aborrecê-lo... Três... Dois... Um... O casebre todo estremeceu e Harry sentou-se reto, arregalando os olhos para a porta. Havia alguém lá fora, que batia querendo entrar.4 BUM! Bateram outra vez. Duda acordou assustado. — Onde está o canhão? — perguntou abobado. Ouviam coisa cair atrás deles e tio Válter entrou derrapando pela sala. Trazia um rifle nas mãos, agora sabiam o que era aquele pacote fino e comprido que ele carregava. — Quem está ai? — gritou. — Olha que estou armado! — Silêncio. E em seguida... TRAM! À porta levou uma pancada tão violenta que se soltou das dobradiças e, com um baque ensurdecedor, desabou no chão. Um homem gigantesco estava parado ao portal. Tinha o rosto completamente oculto por uma juba muito peluda e uma barba selvagem e desgrenhada, mas dava para se ver seus olhos, luzindo como besouros negros debaixo de todo aquele cabelo. O gigante espremeu-se para entrar no casebre, curvando-se de modo que a cabeça apenas roçou o teto. Abaixou-se, apanhou a porta e tornou a encaixá-la sem esforço no portal O ruído da tempestade lá fora diminuiu um pouco. Ele se virou para encarar todos. — Não poderia preparar uma xícara de chá para nós, poderia? Não foi uma viagem fácil... E dirigiu-se ao sofá onde Duda estava paralisado de medo. — Chegue para lá, gordão — disse o estranho. Duda soltou um guincho e correu a se esconder atrás da mãe, que parara encolhida, aterrorizada, atrás de tio Válter. — Ah, e aqui está o Harry! — disse o gigante. Harry ergueu os olhos para a cara feroz e selvagem em sombras e viu que os olhos de besouro se enrugavam em um sorriso. — A última vez que o vi, você era um bebê — disse o gigante. — Você parece muito com o seu pai, mas tem os olhos da sua mãe. Tio Válter fez um som estranho e rascante. — Exijo que saia imediatamente! — disse — O senhor invadiu minha casa! — Ah, cala a boca, Dursley seu cara de passa — disse o gigante, e esticou o braço para trás do sofá, arrancando a arma das mãos de tio Válter, vergou-a no meio como se fosse de borracha e atirou-a a um canto da sala. Tio Válter fez outro som esquisito, como um camundongo sendo pisado. — Em todo caso, Harry — disse o gigante, dando as costas para os Dursley —, feliz aniversário para você. Tenho uma coisa para você aqui, talvez tenha sentado nela sem querer, mas o gosto continua bom. De um bolso interno do casaco preto ele tirou uma caixa meio amassada. Harry abriu, com os dedos trêmulos. Dentro havia um grande e pegajoso bolo de chocolate com a frase Feliz Aniversário escrita em glacê verde. Harry olhou para o gigante. Quis dizer obrigado, mas as palavras se perderam a caminho da boca, e em lugar disso o que disse foi: — Quem é você? O gigante deu uma risada abafada. — É verdade, não me apresentei. Rúbeo Hagrid, Guardião das Chaves e das Terras de Hogwarts. Estendeu uma mão enorme e sacudiu o braço inteiro de Harry. — E que tal o chá, hein? — perguntou esfregando as mãos. — Eu não diria não a uma pessoa mais forte, se é que você me entende. Seus olhos bateram na lareira vazia em que ficara o pacote carbonizado de cereal e ele soltou uma risadinha desdenhosa. Curvou-se para a lareira, não virão o que ele estava fazendo, mas quando se afastou um segundo depois, havia dentro dela um clarão ribombante. O fogo estrondoso encheu todo o casebre úmido com sua luz tremeluzente e Harry sentiu o calor envolvê-lo como se tivesse mergulhado em um banho quente. O gigante se recostou no sofá, que afundou um pouco sob o seu peso, e começou a tirar coisas de todo gênero dos bolsos do casaco: uma chaleira de cobre, uma embalagem amassada de salsichas, um espeto, um bule de chá, várias xícaras lascadas e uma garrafa de um líquido âmbar de que ele tomou um gole antes de começar a preparar o chá. Logo o casebre se encheu com o ruído e o cheiro de salsichas fritas. Ninguém disse nada enquanto o gigante trabalhava, mas assim que ele empurrou as primeiras salsichas gordas e suculentas, ligeiramente queimadas, do espeto, Duda se mexeu. Tio Válter disse com rispidez: — Não toque em nada que ele lhe der, Duda. O gigante deu uma risadinha ameaçadora. — Esse pudim de banha do seu filho não precisa engordar mais Dursley, não se preocupe. E passou as salsichas para Harry, que estava tão faminto e nunca provara nada tão maravilhoso, mas ainda assim não conseguia tirar os olhos do gigante. Finalmente, como ninguém parecia disposto a explicar nada, ele disse: — Me desculpe, mas continuo sem saber realmente quem você é. O gigante tomou um grande gole de chá e limpou a boca com as costas da mão. — Chame-me de Rúbeo, é como todos me chamam. E como lhe disse, sou o guardião das chaves de Hogwarts, você sabe tudo sobre Hogwarts, é claro. — Ah, não — disse Harry. Hagrid pareceu chocado. — Sinto muito — apressou-se Harry a dizer. — Sente muito? — vociferou Hagrid, virando-se para encarar os Dursley, que tinham recuado para as sombras. — Eles é que deviam sentir muito! Eu sabia que você não estava recebendo as cartas, mas nunca pensei que nem ao menos sabia da existência de Hogwarts, para apelar! Você nunca se perguntou onde foi que seus pais aprenderam tudo? — Tudo o quê? — perguntou Harry — TUDO O QUÊ? — berrou Hagrid — Ora espere aí um segundo! Ele se levantara de um salto. Na raiva parecia encher o casebre todo. Os Dursley se encolhiam contra a parede. — Vocês vão querer me dizer — rosnou para os Dursley — que este menino, este menino! Não sabe nada, de NADA? Harry achou que a coisa estava indo longe demais. Afinal tinha freqüentado a escola e suas notas não eram ruins. — Eu sei alguma coisa — falou — Sei, sabe, matemática e outras coisas. Mas Hagrid dispensou-o com um abano de mão e disse: — Do nosso mundo, quero dizer. Seu mundo. Meu mundo. O mundo dos seus pais. — Que mundo? Hagrid parecia preste a explodir — DURSLEY! — urrou ele. Tio Válter, que ficara muito pálido, murmurou alguma coisa ininteligível Hagrid olhou alucinado para Harry. — Mas você deve saber quem foram sua mãe e seu pai — disse — Quero dizer, eles são famosos. Você é famoso. — Quê? Meu pai e minha mãe eram famosos? — Você não sabe... Você não sabe... — Hagrid correu os dedos pelos cabelos, fixando em Harry um olhar perplexo. — Você não sabe quem é? — perguntou finalmente. Tio Válter de repente encontrou a voz. — Pare! – ordenou — Pare agora mesmo! Eu o proíbo de contar qualquer coisa ao menino! Um homem mais corajoso do que Dursley teria se intimidado com o olhar furioso que Hagrid lhe deu, quando Hagrid falou, cada sílaba tremia de raiva. — VOCÊ NUNCA CONTOU? NUNCA CONTOU O QUE DUMBLEDORE DEIXOU ESCRITO NAQUELA CARTA PARA ELE? EU ESTAVA LÁ! EU VI DUMBLEDORE DEIXAR A CARTA, DURSLEY! E VOCÊ ESCONDEU DELE TODOS ESSES ANOS? — Escondeu o que de mim? — perguntou Harry ansioso. — PARE! EU O PROÍBO! — gritou tio Válter em pânico. Tia Petúnia deixou escapar um grito sufocado de horror. — Ah, vão tomar banho, vocês dois — disse Hagrid. — Harry, você e um bruxo. O casebre mergulhou em silêncio. Ouviam-se apenas o mar e o assobio do vento. — Eu sou o quê? — ofegou Harry. — Um bruxo, é claro — repetiu Hagrid, recostando-se no sofá, que gemeu e afundou ainda mais —, e um bruxo de primeira, eu diria, depois que receber um pequeno treino. Com uma mãe e um pai como os seus, o que mais você poderia ser? E acho que já está na hora de ler a sua carta. Harry estendeu a mão finalmente para receber o envelope meio amarelo, endereçado em tinta verde para: Sr. H. Potter, O Assoalho, Casebre sobre Rochedo, O Mar. Ele puxou a carta e leu, ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA HOGWARTS Diretor: Alvo Dumbledore (Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos). Prezado Sr. Potter, Temos o prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista dos livros e equipamentos necessários. O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar. Atenciosamente, Minerva McConagall. Diretora Substituta. As perguntas explodiam na cabeça de Harry como fogos de artifício, e ele não conseguia decidir o que perguntar primeiro. Passados alguns minutos, gaguejou. — O que querem dizer com "estão aguardando a minha coruja"? — Gárgulas galopantes! Isto me lembra uma coisa — disse Hagrid, batendo a mão na testa com força suficiente para derrubar um cavalo, e de outro bolso interno do casaco tirou uma coruja, uma coruja de verdade, viva, meio arrepiada, uma longa pena e um rolo de pergaminho. Com a língua entre os dentes, ele rabiscou um bilhete que Harry pôde ler de cabeça para baixo: "Prezado Sr. Dumbledore Entreguei a carta a Harry. Vou levá-lo amanhã para comprar o material. O tempo está horrível. Espero que o senhor esteja bem. Hagrid.” Hagrid enrolou o pergaminho, entregou-o à coruja, que o prendeu no bico, depois ele foi até a porta e lançou a ave na tempestade. Quando voltou, sentou-se como se aquilo fosse tão normal quanto pegar o telefone. Harry percebeu que sua boca se abrira e fechou-a rapidamente. — Onde é que eu estava? — disse Hagrid, mas naquele momento, tio Válter, ainda cor de cera, mas parecendo muito furioso, adiantou-se até a luz da lareira. — Ele não vai — falou. Hagrid resmungou. — Eu gostaria de ver um grande trouxa como você impedi-lo. — respondeu. — Um o quê? — perguntou Harry interessado. — Um trouxa — disse Hagrid — é como chamamos gente que não é mágica como nós. E você teve o azar de ser criado na família dos maiores trouxas que já vi na vida. — Juramos quando o aceitamos que poríamos um fim nessa bobagem — disse tio Válter —, juramos que erradicaríamos isso nele. Bruxo, francamente! — Você sabia? — perguntou Harry. — Você sabia que sou um... Bruxo? — Sabia! — guinchou tia Petúnia de repente. — Sabia! Claro que sabíamos! Como poderia não ser, a maldita da minha irmã sendo o que era? Ah, ela recebeu uma carta igual a essa e desapareceu, foi para aquela... Aquela escola, e voltava para casa nas férias com os bolsos cheios de ovas de sapo, transformando xícaras em ratos. Eu era a única que a via como ela era. Um aborto da natureza! Mas para minha mãe e meu pai, ah não era Lílian isso e Lílian aquilo, tinham orgulho de ter uma bruxa na família! Ela parou para suspirar profundamente e aí continuou seu discurso. Parecia que estava querendo dizer aquilo havia anos. — Então ela conheceu Potter na escola e eles saíram de casa, casaram e tiveram você, e é claro que eu sabia que você ia ser igual, esquisito, anormal e então ela vai e me faz o favor de se explodir e nos deixar entalados com você! Harry ficara muito branco. Assim que encontrou a voz, disse: — Se explodir? Você me disse que eles morreram num acidente de carro! — ACIDENTE DE CARRO! — rugiu Hagrid erguendo-se com tanta raiva que os Dursley voltaram correndo para o canto da sala — Como é que um acidente de carro poderia matar Lílian e Tiago Potter! Isto é um absurdo! Um escândalo! E Harry Potter não conhecer a própria história, quando qualquer garoto no nosso mundo conhece o nome dele! — Mas por quê? O que aconteceu? — perguntou Harry ansioso. A raiva desapareceu do rosto de Hagrid. Ele pareceu repentinamente aflito. — Eu nunca esperei isso — disse numa voz contida e preocupada. — Eu não fazia idéia do quanto você desconhecia, quando Dumbledore me disse que eu poderia ter problemas para encontrá-lo. Ah, Harry, não sei se sou a pessoa certa para lhe contar, mas alguém tem de contar, você não pode viajar para Hogwarts sem saber. Ele lançou um olhar feio aos Dursley. — Bom, é melhor você saber o que eu puder lhe contar, mas não posso lhe contar tudo, é um grande mistério, algumas partes. Ele se sentou, fitou o fogo durante alguns segundos e então falou: — Começa, eu acho, com.. Com uma pessoa chamada, mas é incrível você não saber o nome dele, todo o mundo no nosso mundo sabe... — Quem? — Bom... Não gosto de dizer o nome dele se puder evitar. Ninguém gosta. — Por que não? — Gárgulas vorazes, Harry, as pessoas ainda estão apavoradas. Droga, como é difícil. Olha, havia um bruxo que virou... Mau. Tão mau quanto alguém pode virar. Pior. Pior do que o pior. O nome dele era... Hagrid engoliu em seco, mas não conseguiu dizer nada. — E se você escrevesse? — sugeriu Harry. — Não, não sei soletrar o nome dele. Está bem, Voldemort. — Hagrid estremeceu. — Não me faça repetir. Em todo o caso, esse... Esse bruxo faz uns vinte anos agora, começou a procurar seguidores. E conseguiu alguns por medo, outros porque queriam ter um pouco do poder dele, sim, porque ele estava ficando poderoso. Dias funestos Harry, ninguém sabia em quem confiar, ninguém se atrevia, a ficar amigo de bruxas ou bruxos desconhecido. Coisas horríveis aconteciam. Ele estava tomando o poder. E claro que algumas pessoas se opuseram a ele, e ele as matou. Terrível. Um dos únicos lugares seguros que restaram foi Hogwarts. Acho que Dumbledore era o único de quem Você-Sabe- Quem tinha medo. Não ousou se apoderar da escola, não no começo, pelo menos. Ora sua mãe e seu pai eram os melhores bruxos que eu já conheci. Primeiros alunos em Hogwarts no seu tempo! Suponho que o mistério era por que Você-Sabe-Quem nunca tentou convencer os dois a se aliar a ele antes... Provavelmente sabia que eram muito chegados a Dumbledore para querer alguma coisa com o lado das Trevas. Talvez ele achasse que podia convencê-los... Talvez quisesse tirar os dois do caminho. Só o que sabemos é que ele apareceu na vila em que vocês estavam morando, num dia das bruxas, faz dez anos. Na época você só tinha um ano de idade. Ele foi à sua casa e... E... Hagrid puxou depressa um lenço muito sujo e manchado e assoou o nariz, fazendo o barulho de uma buzina de nevoeiro. — Desculpe — disse. — Mas é muito triste, conheci sua mãe e seu pai e não podia existir gente melhor, em todo o caso... Você-Sabe-Quem matou os dois. E então, e esse é o verdadeiro mistério da coisa, ele tentou matar você. Queria fazer o serviço completo, acho, ou então tinha começado a gostar de matar. Mas não conseguiu. Você nunca se perguntou como arranjou essa marca na testa? Isso não foi um corte normal. Isso é o que se ganha quando um feitiço poderoso e maligno atinge a gente, destruiu os seus pais e até a sua casa, mas não fez efeito em você, e é por isso que você é famoso, Harry. Ninguém nunca sobreviveu depois que ele decidia matá-lo, ninguém a não ser você, e ele já havia matado alguns dos melhores bruxos da época, os McKinnon, os Bone, os Priuet, e você era apenas um bebê, e sobreviveu. Algo muito doloroso passou pela cabeça de Harry. Quando a história de Hagrid ia terminando ele viu de novo um lampejo ofuscante de luz verde, com mais clareza do que se lembrava antes e se lembrou de mais uma coisa, pela primeira vez na vida, uma risada alta, fria e cruel. Hagrid o observava com tristeza. — Eu mesmo o retirei da casa destruída, por ordem de Dumbledore. Trouxe você para essa gente... — Um monte de baboseiras antigas — disse tio Válter. Harry se assustou, quase esquecera que os Dursley estavam ali. Tio Válter, sem dúvida, tinha recuperado a coragem. Olhava ameaçador para Hagrid e tinha os punhos fechados. — Agora, ouça aqui, moleque — vociferou —, aceito que você seja meio estranho, provavelmente nada que uma boa surra não pudesse ter curado, e quanto aos seus pais, bem, eles eram excêntricos, não há como negar e o mundo está melhor sem eles, receberam o que mereciam por se meter com essa gente dada a bruxarias, foi o que previ, sempre soube que iam acabar mal. Mas naquele instante, Hagrid ergueu-se de um salto do sofá e puxou um guarda-chuva cor-de-rosa e arrebentado de dentro do casaco. Apontou-o como uma espada para tio Válter, e disse: — Estou lhe avisando, Dursley, estou lhe avisando, nem mais uma palavra... Ameaçado de ser furado pela ponta de um guarda-chuva por um gigante barbudo, a coragem de tio Válter fraquejou outra vez, ele se achatou contra a parede e ficou em silêncio. — Assim está melhor — disse Hagrid, arquejando e tornando a se sentar no sofá, que desta vez afundou de vez até o chão. Harry, nesse meio tempo, continuava a ter perguntas e a fazer centenas dela. — Mas o que aconteceu ao Vol... Desculpe... Quero dizer, Você-Sabe- Quem? — Boa pergunta, Harry. Desapareceu. Sumiu. Na mesma noite em que tentou matar você. O que faz você ainda mais famoso. É o maior mistério, entende... Ele estava ficando cada dia mais poderoso, porque foi embora? Tem quem diga que ele morreu. Besteira, na minha opinião. Não sei se ainda tinha humanidade suficiente para morrer. Tem quem diga que ainda está lá fora esperando, ou coisa parecida, mas não acredito. Gente que estava do lado dele voltou para o nosso. Uns pareciam que estavam saindo de uma espécie de transe. Acho que não teriam feito isso se ele fosse voltar. A maioria de nós acha que ele ainda anda por ai, mas perdeu os poderes. Está fraco demais para continuar. Porque alguma coisa em você acabou com ele, Harry. Aconteceu alguma coisa, naquela noite, com que ele não estava contando, eu não seio que foi, ninguém sabe, mas alguma coisa em você o aleijou, para valer. Hagrid fitou Harry com calor e respeito iluminando seus olhos, mas Harry, ao invés de se sentir contente e orgulhoso, teve a certeza de que tinha havido um terrível engano. Bruxo? Ele? Como era possível? Passara a vida dominado por Duda e infernizado pela tia Petúnia e pelo tio Válter, se era realmente um bruxo, por que eles não tinham se transformado em sapos toda vez que tentaram prendê-lo no armário? Se uma vez derrotara o maior feiticeiro do mundo, como é que Duda sempre pudera chutálo para cá e para lá como se fosse uma bola de futebol? — Rúbeo — disse calmo — acho que você deve ter cometido um engano. Acho que não posso ser um bruxo. Para sua surpresa, Hagrid deu uma risadinha abafada. — Não é bruxo, hein? Nunca fez nada acontecer quando estava apavorado ou zangado? Harry olhou para o fogo. Pensando bem... Cada coisa estranha que deixara os seus tios furiosos tinha acontecido quando ele, Harry estava perturbado ou com raiva... Perseguido pela turma de Duda, pusera-se de repente fora do seu alcance, receoso de ir para a escola com aquele corte ridículo, conseguira fazer os cabelos crescerem de novo, e da última vez que Duda batera nele, não fora à forra sem perceber que estava fazendo isto? Não mandara uma cobra atacá-lo? Harry olhou para Hagrid, sorrindo, e viu que ele ria abertamente para ele. — Viu? — disse Hagrid — Harry Potter não é bruxo? Espere, você vai ser famoso em Hogwarts. Mas tio Válter não ia ceder sem brigar. — Eu não já disse que ele não vai? — sibilou. — Ele vai para a escola secundária local e vai me agradecer por isso. Li aquelas cartas e dizem que ele precisa de um monte de lixo, livros de feitiços, varinhas mágicas e... — Se ele quiser ir, um trouxão como você não vai poder impedir. — resmungou Hagrid raivoso. — Impedir o filho de Lílian e Tiago Potter de ir para Hogwarts! Você enlouqueceu. Ele está inscrito desde que nasceu. Vai freqüentar a melhor escola de bruxos e bruxedos do mundo. Sete anos lá e ele nem vai se reconhecer. Vai estudar com garotos iguais a ele, para variar, e vai estudar com o maior mestre que Hogwarts já teve, Alvo Dumbledore..... — NÃO VOU PAGAR A NENHUM VELHO BIRUTA E PATETA PARA ENSINÁ-LO A FAZER MÁGICAS! — gritou tio Válter. Mas ele finalmente fora longe demais. Hagrid agarrou o guarda-chuva e girou por cima da cabeça. — NUNCA — trovejou — INSULTE... ALVO DUMBLEDORE NA... MINHA FRENTE! E girou o guarda-chuva no ar baixando-o até apontar para Duda, houve um lampejo de luz violeta, o estalo de uma bombinha, um grito agudo e, no segundo seguinte, Duda estava dançando no mesmo lugar com as mãos apertando a barriga banhuda, guinchando de dor. Quando Duda virou de costas, Harry viu um rabo de porco enroscado saindo de um buraco nas calças dele. Tio Válter urrou. Puxando tia Petúnia e Duda para o quarto, lançou um último olhar aterrorizado a Hagrid e bateu a porta ao entrar. Hagrid olhou para o guarda-chuva e coçou a barba. — Não devia ter perdido as estribeiras — disse arrependido —, mas em todo o caso saiu errado. Queria transformá-lo em porco, mas acho que ele já parecia tanto com um que não pude fazer muita coisa. E olhou de esguelha para Harry, por baixo das sobrancelhas peludas. — Fico agradecido se não contar isso para ninguém em Hogwarts — falou. – Não... Hum... Tenho permissão para fazer mágicas, rigorosamente falando. Permitiram que eu fizesse alguma coisa para seguir você e entregar as cartas e coisas assim, uma das razões por que eu queria tanto este trabalho. — Porque você não pode fazer mágica? — perguntou Harry. — Ah, bom... Eu estive em Hogwarts, mas.. Hum... Fui expulso, para falar a verdade. No terceiro ano. Eles partiram a minha varinha ao meio e tudo o mais. Mas Dumbledore me deixou ficar como guarda-caça. Grande sujeito o Dumbledore. — Por que você foi expulso? — Já está ficando tarde e temos muito que fazer amanhã — disse Hagrid em voz alta. — Temos que ir à cidade, comprar os seus livros e etc. Ele tirou o grosso casaco preto e atirou-o a Harry. — Pode ficar com ele. Não se assuste se ele se mexer um pouco acho que ainda tenho uns ratos do campo em um dos bolsos.5 Harry acordou cedo na manhã seguinte. Embora soubesse que já era dia, continuou com os olhos bem fechados. "Foi um sonho", disse a si mesmo com firmeza. “Sonhei que um gigante chamado Rúbeo Hagrid veio me dizer que eu ia para uma escola de magia. Quando abrir os olhos estarei em casa no meu armário.” De repente ouviu um ruído alto de batidas. "É a tia Petúnia batendo na porta", pensou Harry, desanimando. Mas, ainda assim, não abriu os olhos. Tinha sido um sonho tão bom. Bum. Bum. Bum. — Está bem — resmungou Harry — já estou levantando. Sentou-se e o pesado casaco de Hagrid escorregou de seu corpo. O casebre estava inundado de sol, a tempestade passara, o próprio Hagrid estava dormindo no sofá desmontado e havia uma coruja batendo com a garra na janela, trazendo um jornal no bico. Harry ergueu-se de um pulo, sentia-se feliz como se houvesse um grande balão crescendo dentro dele. Foi direto à janela e abriu-a com um puxão. A coruja entrou voando e deixou cair o jornal em cima de Hagrid, que nem acordou. A coruja então voou pelo chão e começou a atacar o casaco do gigante Hagrid. — Não faça isso. Harry tentou espantar a coruja, mas ela o ameaçou com o bico e continuou a atacar ferozmente o casaco. — Rúbeo! — chamou Harry alto. — Tem uma coruja... — Pague a ela — resmungou Hagrid dentro do sofá. — Quê? — Ela quer receber o pagamento pela entrega do jornal. Procure nos bolsos O casaco de Hagrid parecia ser feito só de bolsos, molhos de chaves, fichas de metal, rolinhos de barbante, balas de hortelã, saquinhos de chá... E finalmente, Harry puxou um punhado de moedas estranhas. — Dê a ela cinco Nuques — disse Hagrid sonolento. — Nuques? — As moedinhas de bronze. Harry contou cinco moedinhas de bronze e a coruja esticou a perna para ele enfiar o dinheiro numa carteirinha de couro que trazia presa. Em seguida saiu voando pela janela aberta. Hagrid bocejou alto, sentou-se, espreguiçou-se. — É melhor nos despacharmos, Harry, temos muito que fazer hoje, temos que ir a Londres comprar todo o seu material escolar. Harry revirava as moedas mágicas para examiná-las. Acabara de pensar em uma coisa que o fez se sentir como se o balão da felicidade que havia dentro dele tivesse furado. — Hum... Hagrid? — Hum? — respondeu Rúbeo, calçando as enormes botas. — Não tenho dinheiro nenhum, e você ouviu tio Válter à noite passada, ele não vai pagar para eu aprender magia. — Não se preocupe com isso — disse Hagrid, coçando a cabeça enquanto se levantava. — Você acha que seus pais não lhe deixaram nada? — Mas se a casa foi destruída... — Eles não guardavam o ouro que tinham em casa, garoto! Não, nossa primeira parada vai ser em Gringotes. O banco dos bruxos. Coma uma salsicha, elas não são ruins frias, e eu não deixaria de comer uma fatia do seu bolo de aniversário. — Bruxos têm bancos? — Só este. Gringotes. É administrado por duendes. Harry deixou cair o pedaço de salsicha que tinha na mão. — Duendes? — É, e por isso que só um louco tentaria roubar o banco, é o que lhe digo. Nunca se meta com duendes, Harry, Gringotes é o lugar mais seguro do mundo para qualquer coisa que você queira guardar bem, com exceção de Hogwarts, talvez. Aliás, preciso mesmo ir a Gringotes. Para Dumbledore. Negócios de Hogwarts. — Hagrid se endireitou, orgulhoso. — Ele sempre me manda tratar de assuntos que acha importante. Buscar você, pegar coisas em Gringotes, sabe que pode confiar em mim, entende? Apanhou tudo? Vamos, então. Harry seguiu Hagrid em direção ao rochedo. O céu estava bem claro agora e o mar cintilava ao sol. O barco que o Válter alugara continuava lá, com muita água no fundo depois da tempestade. — Como foi que você chegou aqui? — perguntou Harry, procurando um segundo barco. — Voando — respondeu Hagrid. — Voando? — É... Mas vamos voltar nisso ai. Não tenho permissão de usar mágica depois de apanhar você. Eles se acomodaram no barco, Harry ainda de olhos arregalados para Hagrid, tentando imaginá-lo voando. — Mas parece um desperdício remar — disse Hagrid, lançando a Harry um dos seus olhares de esguelha. — Se eu quisesse... Hum... Apressar um pouco as coisas, você se importaria de não dizer nada em Hogwarts? — Claro que não — falou Harry ansioso para ver mais mágicas. Hagrid puxou outra vez o guarda-chuva cor-de-rosa, deu duas pancadinhas no lado do barco e eles dispararam em direção ao continente. — Por que só um louco tentaria roubar Gringotes? — perguntou Harry. — Feitiços... Encantamentos — disse Hagrid desdobrando o seu jornal. — Dizem que há dragões guardando os cofres de segurança. E depois é preciso conhecer o caminho. Gringotes fica embaixo de Londres, centenas de quilômetros abaixo, entenda. Mais fundo que o metrô. Você morreria de fome tentando sair de lá, mesmo que conseguisse pôr as mãos em alguma coisa. Harry ficou sentado pensando no que ouvira enquanto Hagrid lia o jornal, O Profeta Diário. Harry aprendera com o tio Válter que as pessoas gostavam de ser deixadas em paz quando faziam isso, mas era muito difícil, nunca tivera tantas perguntas para fazer na vida. — O Ministério da Magia anda aprontando as trapalhadas de sempre — resmungou Hagrid, virando a página. — Tem um ministro da Magia? — perguntou Harry antes que conseguisse se conter. — Claro. Queriam nomear Dumbledore ministro, é claro, mas ele nunca ia largar Hogwarts, então o velho Cornelius Fudge ficou com o cargo. Trapalhão como ele só. Por isso ele bombardeia Dumbledore com corujas, toda manhã, pedindo conselhos. — Mas o que é que o Ministério da Magia faz? — Bom, a principal tarefa é esconder dos trouxas que ainda existem bruxas e bruxos andando pelo país. — Por quê? — Por quê? Ora, Harry, todo o mundo ia querer solucionar os problemas com mágicas. Não, é melhor que nos deixem em paz. Nesse instante o barco bateu suavemente na parede do cais. Hagrid dobrou o jornal e eles subiram os degraus de pedra que levavam a rua. As pessoas que passavam olhavam muito para Hagrid enquanto os dois atravessaram a cidadezinha até a estação. Harry não podia culpá-los. Não só Hagrid era duas vezes mais alto do que todo o mundo, como também não parava de apontar para coisas absolutamente comuns como parquímetros e comentar em voz alta: — Está vendo isso, Harry? As coisas que esses trouxas inventam, hein? — Rúbeo — isso Harry, meio ofegante de correr para acompanhar o passo dele. — Você disse que há dragões em Gringotes? — Bem, é o que dizem — Calou Hagrid. — Maneiro, eu gostaria de ter um dragão. — Você gostaria de ter um? — Sempre quis ter um desde pequeno, é aqui que vamos. Tinham chegado à estação. Havia um trem para Londres dali a cinco minutos. Hagrid, que não entendia o dinheiro dos trouxas, como o chamava, entregou as notas a Harry para comprar as passagens. No trem as pessoas ficaram olhando ainda mais Hagrid quando ocupou dois lugares e se pós a tricotar uma coisa amarelo-canário que lembrava uma lona de circo. — Você guardou sua carta, Harry? — perguntou enquanto contava as malhas do tricô. Harry tirou o envelope de pergaminho do bolso. — Ótimo. Aí tem uma lista de tudo que você vai precisar. Harry desdobrou um segundo pedaço de papel em que não reparara na noite anterior e leu: ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS Uniforme: Os estudantes do primeiro ano precisam de: 1. Três conjuntos de vestes comuns de trabalho (pretas) 2. Um chapéu pontudo simples (preto) para uso diário 3. Um par de luvas protetoras (couro de dragão ou similar) 4. Uma capa de inverno (preta com fechos prateados) As roupas do aluno devem ter etiquetas com seu nome. Livros: Os alunos devem comprar um exemplar de cada um dos seguintes: • Livro padrão de feitiços (1ª série) de Miranda Goshawk • História da magia de Batilda Bagshot • Teoria da magia de Adalberto Waffing • Guia de transfiguração para iniciantes de Emerico Ewitch • Mil ervas e Fungos mágicos de Fílida Spore • Bebidas e poções mágicas de Arsênio Jigger. • Animais fantásticos e seu habitat de Newton Scamander • As Corças das trevas: Um guia de autoproteção de Quintino Trimble. Outros Equipamentos: • 1 varinha mágica • 1 caldeirão (estanho, tamanho padrão 2) • 1 conjunto de frascos • 1 telescópio • 1 balança de latão • 1 pokemon inicial (charmander squirtle bulbassaur cindaquil totodile chicorita torchic mudkip treecko chimchar piplup ou turtuig) LEMBREMOS AOS PAIS QUE OS ALUNOS DO PRIMEIRO ANO NÃO PODEM USAR VASSOURAS PESSOAIS. — Podemos comprar tudo isso em Londres? — perguntou-se Harry em voz alta. — Se você souber aonde ir — respondeu Hagrid. Harry nunca estivera em Londres antes, Hagrid, embora parecesse saber aonde ia, obviamente não estava acostumado a chegar lá pelos meios comuns. Ficou entalado na roleta do metrô e queixou-se em voz alta que os assentos eram demasiado pequenos e os trens demasiado lentos. — Não sei como os trouxas conseguem se arranjar sem mágica — disse, quando subiam uma escada rolante gasta que levava a uma rua movimentada com saídas dos dois lados. Hagrid era tão grande que abria caminho pela multidão sem esforço, Harry só precisava segui-lo de perto. Passaram por livrarias e lojas de musica, lanchonetes e cinemas, mas nenhuma loja parecia vender varinhas mágicas. Aquela era apenas uma rua comum cheia de gente comum. Seria realmente possível que houvesse montes de ouro dos bruxos enterrados quilômetros abaixo dali? Haveria realmente lojas que vendessem livros de feitiços e vassouras? Não seria talvez uma grande peça que os Dursley tinham pregado? Se Harry não soubesse que os Dursley não tinham senso de humor, poderia ter tirado uma dessas conclusões, mas, por alguma razão, embora tudo que Hagrid tivesse dito até ali fosse inacreditável, Harry não podia deixar de confiar nele. — É aqui — disse Hagrid parando. — O Caldeirão Furado. É um lugar famoso. Era um barzinho sujo. Se Hagrid não o tivesse apontado, Harry nem teria reparado que existia. As pessoas que passavam apressadas nem olhavam para aquele lado. Os olhos delas corriam da grande livraria a um lado a loja de discos no outro como se nem conseguissem ver O Caldeirão Furado. Na verdade Harry teve a sensação muito estranha de que somente ele e Hagrid eram capazes de vê-lo. Antes que pudesse comentar isto, Hagrid o empurrou para dentro. Para um lugar famoso, o Caldeirão era muito escuro e miserável. Havia umas velhas sentadas a um canto, bebendo pequenos cálices de xerez. Uma delas fumava um longo cachimbo. Um homenzinho de cartola conversava com o velho garçom do bar, que era bem careca e parecia uma noz viscosa. O zunzum das conversas parou quando eles entraram. Todos pareciam conhecer Hagrid, acenaram e sorriram para ele, e o garçom apanhou um copo, perguntando: — O de sempre, Hagrid? — Não posso, Tom, estou a serviço de Hogwarts — disse Hagrid, dando uma palmada com a manzorra no ombro de Harry, o que fez joelhos do garoto dobrarem. — Meu Deus — exclamou o garçom, fitando Harry. — É... Será possível? O Caldeirão Furado repentinamente parou e fez-se um silêncio total. — Valha-me Deus — murmurou o velho garçom. — Harry Potter... Que honra. E saiu correndo de trás do balcão, precipitou-se para Harry e agarrou suas mãos, as lágrimas nos olhos. — Seja bem-vindo, Sr. Potter, seja bem-vindo. Harry não sabia o que dizer. Todos tinham os olhos nele. A velha com o cachimbo puxava o fumo sem se dar conta de que o cachimbo apagara. Hagrid sorria radiante. Logo houve um grande arrastar de cadeiras e no momento seguinte Harry se viu apertando as mãos de todos no Caldeirão Furado. — Dóris Crockford, Sr. Potter não acredito que finalmente posso conhecêlo. — Estou tão orgulhosa, Sr. Potter, tão orgulhosa. — Sempre quis apertar sua mão estou nas nuvens. Encantado, Sr. Potter, nem sei lhe dizer o quanto, Diggle é o meu nome, Dédalo Diggle. — Já o vi senhor antes! — disse Harry, e a cartola de Diggle caiu de tanta excitação. — O senhor se curvou para mim uma vez numa loja. 6 — Ele se lembra! — exclamou Dédalo Diggle, olhando todos à volta. — Vocês ouviram isso? Ele se lembra de mim! Harry apertou muitas mãos. Dóris Crockford não parava de voltar para um novo aperto. Um rapaz pálido adiantou-se, muito nervoso. Um olho trêmulo. — Professor Quirrell! — disse Hagrid. — Harry, o Professor Quirrell vai ser um dos seus professores em Hogwarts. — P... P... Potter. — gaguejou o Professor Quirrell, apertando a mão de Harry — N... N... Nem sei o que d... D... Dizer que p... P... P... Prazer enorme é c... C... Conhecê-lo. — Que tipo de mágica o senhor ensina, Professor Quirrell? — D... Defesa c... C... Contra as a... Artes das t... Trevas — murmurou o Professor Quirrell, como se preferisse não pensar no assunto. — não que você p... P... Precise, hein, Potter? — Ele riu nervoso. – V... Você veio c... Comprar o material, suponho? Tenho que c... Comprar um livro n... Novo sobre vampiros — Parecia aterrorizado só de pensar. Mas os outros não queriam deixar o Professor Quirrell ficar com Harry só para ele. Levou bem uns dez minutos para o menino se livrar de todos. Finalmente, Hagrid conseguiu se fazer ouvir naquela balbúrdia. — Precisamos nos apressar. Temos muitas compras a fazer. Vamos, Harry. Dóris Crockford apertou a mão de Harry uma última vez e eles passaram pelo bar e saíram num pequeno pátio murado, onde não havia nada exceto uma lata de lixo e um pouco de mato. Hagrid sorriu para Harry. — Eu lhe falei, não foi? Falei que você era famoso. Até o professor Cessar Quirrell ficou tremendo de emoção de o conhecer, mas, em geral, ele está sempre tremendo. — Ele é sempre tão nervoso? — Ah, é, coitado. Uma cabeça brilhante. Foi bem enquanto estudou em livros, mas quando tirou um ano para aprender na prática... Dizem que encontrou vampiros na Floresta Negra e teve um problema feio com uma feiticeira, nunca mais foi o mesmo. Tem pavor dos alunos, tem pavor da matéria que ensina, agora, cadê o meu guarda-chuva? Vampiros? Feiticeiras? A cabeça de Harry estava girando. Entrementes, Hagrid contava tijolos na parede por cima da lata de lixo. — Três para cima... Dois para o lado... — murmurou. — Certo, chegue para trás, Harry. Ele bateu na parede três vezes com a ponta do guarda-chuva. E o tijolo que tocou estremeceu, torceu-se. No meio apareceu um buraquinho, que se foi alargando cada vez mais. Um segundo depois se viram diante de um arco bastante grande até para Hagrid, um arco que abria para uma rua de pedras irregulares, serpeava e desaparecia de vista. — Bem-vindo — disse Hagrid — ao Beco Diagonal. Ele riu do espanto de Harry. Atravessaram o arco. Harry deu uma espiada rápida por cima do ombro e viu o arco encolher instantaneamente e virar uma parede sólida. O sol refulgia numa pilha de caldeirões à porta da loja mais, próxima. Caldeirões — Todos os Tamanhos — Cobre, Latão, Estanho, Prata — todos os tamanhos, dizia um letreiro acima. — É você vai precisar de um — disse Hagrid —, mas temos de apanhar o seu dinheiro primeiro. Harry desejou ter oito olhos. Virava a cabeça para todo o lado enquanto caminhavam pela rua, tentando ver tudo ao mesmo tempo: as lojas, as coisas as portas, as pessoas fazendo compras. Uma mulher gorducha do lado de fora de uma farmácia abanou a cabeça quando passaram por ela e disse: — Fígado de dragão, dezessete sicles trinta gramas, eles endoidaram... Um pio baixo e suave veio de uma loja escura com um letreiro onde se lia "Empório de Corujas — douradas, das torres, do campo, marrons e brancas". Vários garotos mais ou menos da idade de Harry espremiam os narizes contra a vitrine que tinha vassouras. — Olhe — Harry, ouviu um deles dizer — a nova Nimbus 2000, mais veloz que nunca. Havia lojas que vendiam vestes, lojas que vendiam telescópios e estranhos instrumentos de prata que Harry nunca vira antes, janelas com pilhas de barris contendo baços de morcegos e olhos de enguias, pilhas mal equilibradas de livros de feitiços, penas de aves para escrever e rolos de pergaminhos, vidros de poções, globos de... — Gringotes — anunciou Hagrid. Tinham chegado a um edifício muito branco que se erguia acima das lojinhas. Parado diante das portas de bronze polido, usando um uniforme vermelho e dourado, havia... — É, é um duende — disse Hagrid baixinho, enquanto subiam os degraus de pedra branca até o duende. Ele era uma cabeça mais baixa do que Harry. Tinha uma cara escura e inteligente, uma barba em ponta e, Harry reparou, mãos e pés muito compridos. O duende os cumprimentou com uma reverência quando entraram. Em seguida depararam com um segundo par de portas, desta vez de prata, onde havia gravado o seguinte: Entrem, estranhos, mas prestem atenção, Ao que espera o pecado da ambição, Porque os que tiram o que não ganharam Terão é que pagar muito caro, Assim, se procuram sob o nosso chão, Um tesouro que nunca enterraram, Ladrão, você foi avisado, Cuidado, pois vai encontrar mais do que procurou. — Não te disse? Só um louco tentaria roubar o banco — lembrou Hagrid. Dois duendes se curvaram quando eles passaram pelas portas de prata e desembocaram em um grande saguão de mármore. Havia mais de cem duendes sentados em banquinhos altos atrás de um longo balcão, escrevendo em grandes livros-caixas, pesando moedas em balanças de latão, examinando pedras preciosas com óculos de joalheira. Havia ao redor do saguão portas demais para contar, e outros tantos duendes acompanhavam as pessoas que entravam e saiam por elas. Hagrid e Harry se dirigiram ao balcão. — Bom dia — disse Hagrid a um duende desocupado. Viemos sacar algum dinheiro do cofre do Sr. Harry Potter. — O senhor tem a chave? — Tenho em algum lugar — disse Hagrid e começou a esvaziar os bolsos em cima do balcão, espalhando um punhado de biscoitos de cachorro mofados em cima do livro-caixa do duende. O duende franziu o nariz. Harry observou o duende do lado direito pesar um monte de rubis do tamanho de carvões em brasa. — Achei — exclamou Hagrid finalmente, mostrando uma chavinha de ouro. O duende examinou-a cuidadosamente. — Parece estar em ordem. — E tenho aqui também uma carta do professor Dumbledore — falou Hagrid com ar importante, tirando-a do bolso do casaco. — É sobre Você-Sabe-O-Quê que está no cofre setecentos e treze. O duende leu a carta com atenção. — Muito bem! — Calou, devolvendo a carta a Hagrid. — Vou mandar alguém levá-lo aos dois cofres. Grampo! Grampo era outro duende. Depois que Hagrid enfiou todos os biscoitos de cachorro de volta nos bolsos, ele e Harry acompanharam Grampo a uma das portas que havia no saguão. — O que é o Você-Sabe-O-Quê no cofre setecentos e treze — perguntou Harry. — Não posso lhe contar — respondeu Hagrid misterioso — Muito secreto. Negócios de Hogwarts. Dumbledore me confiou. Meu emprego vale mais do que à vontade de lhe contar. Grampo segurou a porta aberta para eles passarem. Harry, que esperara mais mármore, surpreendeu-se. Encontravam-se em uma passagem estreita de pedra, iluminada por archotes chamejantes. Era uma descida íngreme, em que havia pequenos trilhos. Grampo assobiou e um vagonete disparou pelos trilhos em sua direção. Eles embarcaram Hagrid com alguma dificuldade e partiram. A princípio eles apenas viajaram em alta velocidade por um labirinto de passagens cheias de curvas. Harry tentou memorizar, esquerda, direita, direita, esquerda, em frente no entroncamento, direita, esquerda, mas era impossível. O vagonete barulhento parecia conhecer o caminho, porque Grampo não o estava dirigindo. Os olhos de Harry ardiam no ar frio que passava rápido por eles, mas mantinha-os bem abertos. Uma vez, ele pensou ter visto uma labareda no fim da passagem e se virou para conferir se era um dragão, mas foi tarde demais, eles mergulharam ainda mais fundo, passaram por um lago subterrâneo onde se acumulavam no teto e no chão enormes estalactites e estalagmites. — Eu nunca sei — gritou Harry para Hagrid poder ouvi-lo — qual é a diferença entre uma estalactite e uma estalagmite. — Estalagmite tem um "m" — disse Hagrid — E não me faça perguntas agora acho que vou enjoar. Ele realmente estava muito verde e quando o vagonete afinal parou ao lado de uma portinhola na passagem, Hagrid saltou e precisou se apoiar na parede para os joelhos pararem de tremer. Grampo destrancou a porta. Saiu uma grande nuvem de fumaça verde e enquanto ela se dissipava, Harry ficou sem respirar. Dentro havia montes de moedas de ouro. Colunas de prata. Pilhas de pequenos nuques de bronze. — É tudo seu — sorriu Hagrid. Tudo de Harry — era inacreditável. Os Dursley com certeza não sabiam da existência daquilo ou teriam tirado tudo mais rápido do que uma piscadela. Quantas vezes tinham se queixado do quanto lhes custava criar Harry? E durante todo aquele tempo havia uma pequena fortuna que lhe pertencia, enterrada no subsolo de Londres. Hagrid ajudou Harry a guardar um pouco do dinheiro em uma saca. — As moedas de ouro são galeões — explicou ele. — Dezessete sicles de prata fazem um galeão e vinte e nove nuques fazem um sicle, é bem simples. Certo, isto deverá ser suficiente para uns dois períodos letivos, guardaremos o resto bem guardado para você. — Hagrid virou-se para Grampo. — O cofre setecentos e treze agora, por favor, e será que podemos ir mais devagar. — Só tem uma velocidade — calou Grampo. Viajaram mais para o fundo agora e ganharam velocidade. O ar foi se tornando cada vez mais frio enquanto disparavam pelas curvas fechadas. Sacolejavam por uma ravina subterrânea e Harry debruçou-se para um lado para tentar ver o que havia no fundo, mas Hagrid gemeu e o puxou para trás pelo cangote. O cofre setecentos e treze não tinha fechadura. — Para trás disse Grampo com ar de importância. Alisou a porta devagarinho com o seu dedo comprido e ela simplesmente se dissolveu. — Se alguém que não fosse um duende de Gringotes tentasse o mesmo, seria engolido pela porta e ficaria preso lá dentro — explicou Grampo. — Com que freqüência você vem ver se tem alguém lá dentro? — perguntou Harry. — Uma vez a cada dez anos — disse Grampo, com um sorriso maldoso. Devia haver alguma coisa realmente extraordinária nesse cofre de segurança máxima, Harry tinha certeza, e se curvou para frente pressuroso, esperando ver no mínimo jóias fabulosas, mas no primeiro momento achou que estava vazio. Depois notou um embrulhinho encardido no chão. Hagrid apanhou-o e o guardou muito bem no casaco. Harry tinha muita vontade de saber o que era, mas sentia que era melhor não perguntar. — Vamos voltar para esse vagonete infernal, e não fale no caminho de volta é melhor eu ficar de boca fechada comentou Hagrid. Depois de mais uma viagem no vagonete descontrolado, eles chegaram à claridade do sol do lado de fora de Gringotes. Harry não sabia aonde correr primeiro agora que tinha uma saca cheia de dinheiro. Não precisava saber quantos galeões perfaziam uma libra para saber que estava carregando mais dinheiro do que jamais tivera na vida inteira mais dinheiro até do que Duda jamais tivera. — Vamos comprar logo o seu uniforme — falou Hagrid, indicando com a cabeça a loja Madame Malkin — Roupas para Todas as Ocasiões. — Escute aqui, Harry, você se importa se eu der uma corrida no Caldeirão Furado para tomar um tônico? Detesto esses vagonetes de Gringotes. — Ele realmente parecia meio enjoado, por isso Harry entrou na loja Madame Malkin sozinho, um pouco nervoso. Madame Malkin era uma bruxa baixa, gorda e sorridente, toda vestida de lilás. — Hogwarts, querido? — perguntou quando Harry começou a falar. — Tenho tudo aqui. Para falar a verdade, tem outro rapazinho agora ajustando uma roupa. Nos fundos da loja, um garoto de rosto pálido e pontudo estava em pé em cima de um banquinho enquanto uma segunda bruxa encurtava suas compridas vestes pretas. Madame Malkin colocou Harry num banquinho ao lado do outro, enfiou-lhe uma veste comprida pela cabeça e começou a marcar a bainha na altura certa. — Alô — cumprimentou o garoto. — Hogwarts também? — É — confirmou Harry. — Meu pai está na loja ao lado comprando meus livros e minha mãe está mais adiante procurando varinhas — disse o garoto. Tinha uma voz de tédio arrastada. — Depois vou levar os dois para dar uma olhada nas vassouras de corridas. Não vejo por que os alunos de primeira serie não podem ter vassouras individuais. Acho que vou obrigar papai a me comprar uma e vou contrabandeá-la para a escola às escondidas. O garoto lhe lembrou muito o Duda. — Você tem vassoura? — perguntou o garoto. — Não. — Sabe jogar Quadribol? — Não — respondeu novamente Harry, perguntando-se que diabo seria esse tal de Quadribol. — Eu sei, meu pai falou que vai ser um crime se não me escolherem para jogar pela minha casa, e sou obrigado a dizer que concordo. Já sabe em que casa você vai ficar? — Não — respondeu Harry, sentindo-se a cada minuto mais idiota. — Bom ninguém sabe mesmo até chegar lá, não é, mas sei que vou ficar na Sonserina, toda a nossa família ficou lá, imagine ficar na Lufa-Lufa, acho que eu saia da escola, você não? — Hum-hum — concordou Harry, desejando que pudesse responder algo um pouquinho mais interessante. —já sabe qual vai ser o seu pokemon inicial ? —não — Caramba, olha aquele homem! — falou o garoto de repente indicando com a cabeça a vitrine. Rúbeo estava parado diante dela, rindo para Harry e apontando para dois grandes sorvetes para explicar que não podia entrar. — É o Rúbeo — disse Harry, contente por saber alguma coisa que o garoto não sabia. — Ele trabalha em Hogwarts. — Ah ouvi falar dele. E uma espécie de empregado, não é? — É o guarda-caça — explicou Harry. A cada segundo gostava menos do garoto. — É, isso mesmo. Ouvi falar que é uma espécie de selvagem. Mora num barraco no terreno da escola e de vez em quando toma um pileque, tenta fazer mágicas e acaba tocando fogo na cama. — Acho que ele é brilhante — retorquiu Harry com frieza. — Ah, é? — disse o garoto com um leve desdém. — Porque é que ele está acompanhando você? Onde estão os seus pais? — Estão mortos — respondeu Harry secamente. Não tinha muita vontade de alongar o assunto com esse garoto. — Ah, lamento — disse o outro, sem parecer lamentar nada. — Mas eram do nosso povo, não eram? — Eram bruxos, se é isso que você está perguntando. — Eu realmente acho que não deviam deixar outro tipo de gente entrar, e você? Não são iguais a nós, nunca foram educados para conhecer o nosso modo de viver. Alguns nunca sequer ouviram falar de Hogwarts até receberem a carta, imagine. Acho que deviam manter a coisa entre as famílias de bruxos. Por falar nisso, como é o seu sobrenome? Mas antes que Harry pudesse responder, Madame Malkin anunciou: — Terminei com você, querido. E, Harry, nada frustrado com a desculpa para interromper a conversa com o garoto, pulou do banquinho para o chão. — Bom, vejo você em Hogwarts, suponho — disse o garoto de voz arrastada. Harry ficou muito quieto enquanto comia o sorvete que Hagrid trouxera (chocolate e amora com nozes picadas). — Que foi? — perguntou Hagrid. — Nada — mentiu Harry. Eles pararam para comprar pergaminho e penas. Harry se animou um pouco quando descobriu um vidro de tinta que mudava de cor enquanto a pessoa escrevia. Quando saíram da loja, perguntou: — Rúbeo, o que é Quadribol? — Caramba, Harry, vivo me esquecendo que você não sabe quase nada, raios, não saber o que é Quadribol! — Não faça eu me sentir pior, — E contou a Hagrid sobre o garoto pálido na loja de Madame Malkin. —... E ele disse que nem deviam permitir a gente que pertence à família de trouxas... — Você não pertence a uma família de trouxas. Se ele soubesse quem você é... Ele cresceu sabendo o seu nome se os pais dele forem bruxos. Você viu o pessoal do Caldeirão Furado. Em todo o caso, o que é que ele sabe das coisas, alguns dos melhores bruxos que já conheci vinham de uma longa linhagem de trouxas. Veja a sua mãe! Veja só quem é irmã dela! — Então, o que é Quadribol. — É o nosso esporte. Esporte de bruxos. É como o futebol no mundo dos trouxas. Todos praticam Quadribol. A gente joga no ar montado em vassouras com quatro bolas. É meio difícil explicar as regras. — E o que são Sonserina e Lufa-Lufa? — Casas na escola. São quatro. Todo mundo diz que Lufa-Lufa só tem panacas, mas.. — Aposto que estou na Lufa-Lufa — disse Harry — deprimido. — É melhor a Lufa-Lufa do que a Sonserina — sentenciou Hagrid, misterioso. — Não tem um único bruxo nem uma única bruxa desencaminhados que não tenham passado por Sonserina. Você-Sabe- Quem foi um deles. — Vol ... Desculpe... Você-Sabe-Quem esteve em Hogwarts? — Há muitos e muitos anos. Eles compraram os livros escolares de Harry em uma loja chamada Floreios e Borrões, onde as prateleiras estavam abarrotadas até o teto com livros do tamanho de paralelepípedos encadernados em couro, livros do tamanho de selos postais com capas de seda, livros cobertos de símbolos curiosos e alguns livros sem nada. Até Duda, que nunca lia nada, teria ficado doído para pôr as mãos em alguns desses livros. Hagrid quase teve de arrastar Harry para longe do Pragas e Contrapragas (Encante os seus amigos e confunda os seus inimigos com as últimas vinganças: perda de cabelos, pernas bambas, língua presa e muitas, muitas mais) do Professor Vindicto Viridiano. — Eu estava tentando descobrir como rogar uma praga para o Duda. — Não vou dizer que não é uma boa idéia, mas você não pode usar mágica no mundo dos trouxas a não ser em situações muito especiais — disse Hagrid — De qualquer modo, você ainda não poderia lançar nenhuma dessas pragas, vai precisar de muito estudo antes de chegar a esse nível. Hagrid não deixou Harry comprar um caldeirão de ouro maciço tampouco ("Diz estanho na sua lista”),mas compraram uma balança bonita para pesar os ingredientes das poções e um telescópio desmontável de latão. Visitaram a farmácia, que era bem fascinante para compensar seu cheiro horrível, uma mistura de ovo estragado e repolho podre. Havia no chão barricas de coisas viscosas, frascos com ervas, raízes secas e pós coloridos cobriam as paredes, feixes de penas, fieiras de dentes e garras retorcidas pendiam do teto. Enquanto Hagrid pedia ao homem atrás do balcão um conjunto de ingredientes básicos para preparar poções para Harry, o próprio Harry examinava chifres de prata de unicórnios, a vinte e um galeões cada, e minúsculos olhos faiscantes de besouros (cinco nuques uma concha). Ao saírem da farmácia, Hagrid verificou a lista de Harry mais uma vez. — Só falta a varinha. Ah é, e ainda não comprei o seu presente de aniversário. Harry sentiu o rosto corar. — Você não precisa.. — Eu sei que não preciso. Vamos fazer o seguinte, vou comprar um bicho para você. Não vai ser sapo, os sapos saíram de moda há muitos anos, todo mundo ia rir de você, e não gosto de gatos, eles me fazem espirrar. Vou-lhe comprar uma coruja. Todos os garotos querem corujas, são muito úteis, levam cartas e tudo o mais. Vinte minutos depois, eles saíram do Empório de Corujas, que era escuro e cheio de ruídos e brilhos e olhos que cintilavam como jóias. Harry agora carregava uma grande gaiola com uma bela coruja branca como a neve, que dormia profundamente, a cabeça debaixo da asa. Ele não parava de agradecer, parecia até o Professor Quirrell. — Não tem do quê — respondia Hagrid rouco. — Acho que você nunca ganhou muitos presentes dos Dursley. Agora só falta Olivaras, a única loja de varinhas, Olivaras, e você precisa ter a melhor varinha do mundo. Uma varinha mágica... Era realmente o que Harry andara desejando. A última loja era estreita e feiosa. Letras de ouro descascadas sobre a porta diziam Olivaras Artesãos de Varinhas de Qualidade desde 382 A.C. Havia uma única varinha sobre uma almofada púrpura desbotada, na vitrine empoeirada. Um sininho tocou em algum lugar no fundo da loja quando eles entraram. Era uma lojinha mínima, vazia, exceto por uma única cadeira alta e estreita em que Hagrid se sentou para esperar. Harry teve uma sensação esquisita como se tivesse entrado em uma biblioteca muito exclusiva, engoliu um monte de perguntas novas que tinham acabado de lhe ocorrer e ficou espiando os milhares de caixas estreitas arrumadas com cuidado até o teto. Por alguma razão, sentiu um arrepio na nuca. A própria poeira e o silêncio ali pareciam retinir com uma magia secreta. — Boa tarde — disse uma voz suave. Harry se assustou. Hagrid devia terse assustado também, porque se ouviu um rangido alto e ele se levantou rapidamente da cadeira alta e estreita. Havia um velho parado diante deles, os olhos grandes e muito claros brilhando como duas luas na penumbra da loja. — Alô — disse Harry sem jeito. — Ah, sim — disse o homem. — Sim, sim. Achei que ia vê-lo em breve. Harry Potter. — Não era uma pergunta. — Você tem os olhos de sua mãe. Parece que foi ontem que ela esteve aqui, comprando a primeira varinha. Vinte e seis centímetros de comprimento, farfalhante, feita de salgueiro. Uma boa varinha para encantamentos. O Sr. Olivaras chegou mais perto de Harry. Harry desejou que ele piscasse. Aqueles olhos prateados lhe davam um pouco de medo. — Já o seu pai, deu preferência a uma varinha de mogno. Vinte e oito centímetros. Flexível. Um pouco mais de poder e excelente para transformações. Bom, digo que seu pai deu preferência, na realidade é a varinha que escolhe o bruxo, é claro. O Sr. Olivaras chegara tão perto que ele e Harry estavam quase encostando os narizes. Harry viu-se refletido naqueles olhos. — E foi aí que.... O Sr. Olivaras tocou a cicatriz feita pelo relâmpago na testa de Harry com um dedo branco e longo. — Lamento dizer que vendi a varinha que fez isso — disse ele suavemente. — Trinta e cinco centímetros. Nossa. Uma varinha poderosa, muito poderosa nas mãos erradas... Bom, se eu tivesse sabido o que a varinha ia sair por aí fazendo.. Ele sacudiu a cabeça e então, para alivio de Harry, viu Hagrid. — Hagrid! Hagrid, Hagrid! Que bom ver você de novo... Carvalho, quarenta centímetros, meio mole, não era? — Era, sim senhor. — Boa varinha, aquela. Mas suponho que a tenham partido ao meio quando o expulsaram? — disse o Sr. Olivaras repentinamente sério. — Hum... Partiram, é verdade — disse Hagrid, arrastando os pés. — Mas ainda guardo os pedaços — acrescentou animado. — Mas você não os usa? — perguntou o Sr. Olivaras severo. — Ah, não senhor — respondeu depressa Hagrid. Harry reparou que ele apertou o guarda-chuva cor-de-rosa com força ao responder — Hum — resmungou o Sr. Olivaras, lançando um olhar penetrante a Hagrid. — Bom agora, Sr. Potter vamos ver. — E tirou uma longa fita métrica com números prateados do bolso. — Qual é o braço da varinha? — Hum... Bom, sou destro — respondeu Harry. — Estique o braço. Isso. — Ele mediu Harry do ombro ao dedo, depois do pulso ao cotovelo, do ombro ao chão, do joelho à axila e ao redor da cabeça. Enquanto media, disse, — Toda varinha Olivaras tem o miolo feito de uma poderosa substância mágica, Sr. Potter. Usamos pêlos de unicórnio, penas de cauda de fênix e cordas de coração de dragão. Não há duas varinhas Olivaras como não há unicórnios, dragões nem fênix iguais. E é claro, o senhor jamais conseguirá resultados tão bons com a varinha de outro bruxo. Harry de repente percebeu que a fita métrica, que o media entre as narinas, estava medindo sozinha. O Sr. Olivaras andava rapidamente em volta das prateleiras, descendo caixas. — Já chega — falou, e a fita métrica afrouxou e caiu formando um montinho no chão. — Certo, então, Sr. Potter. Experimente esta. Faia e corda de coração de dragão. Vinte e três centímetros. Boa e flexível. Apanhe e experimente. Harry apanhou a varinha e (sentindo-se bobo) fez alguns movimentos com ela, mas o Sr. Olivaras a tirou de sua mão quase imediatamente. — Bordo e pena de fénix. Dezoito centímetros. Bem elástica. Experimente. Harry experimentou, mas mal erguera a varinha quando, mais uma vez, o Sr. Olivaras a tirou de sua mão. — Não, não. Tome, ébano e pêlo de unicórnio, vinte e dois centímetros, flexíveis. Vamos, vamos, experimente. Harry experimentou. E experimentou. Não fazia idéia do que é que o Sr. Olivaras estava esperando. A pilha de varinhas experimentadas estava cada vez maior em cima da cadeira alta e estreita, mas, quanto mais varinhas o Sr. Olivaras tirava das prateleiras, mais feliz parecia ficar. — Freguês difícil, hein? Não se preocupe, vamos encontrar a varinha perfeita para o senhor em algum lugar, estou em duvida, agora... É, por que não? Uma combinação incomum, azevinho e pena de fênix, vinte e oito centímetros, boa e maleável. Harry apanhou a varinha. Sentiu um repentino calor nos dedos. Ergueu a varinha acima da cabeça, baixou-a cortando o ar empoeirado com um zunido, e uma torrente de faíscas douradas e vermelhas saíram da ponta como um fogo de artifício, atirando fagulhas luminosas que dançavam nas paredes. Hagrid gritou entusiasmado e bateu palmas e o Sr. Olivaras exclamou: — Bravo! Mesmo, ah, muito bom. Ora, ora, ora... Que curioso... Curiosíssimo... Repôs a varinha de Harry na caixa e embrulhou-a em papel pardo, ainda resmungando: — Curioso... Curioso... — O senhor me desculpe — disse Harry —, mas o que é curioso? O Sr. Olivaras encarou Harry com aqueles olhos claros. — Lembro-me de cada varinha que vendi, Sr. Potter. De cada uma. Acontece que a fênix cuja pena está na sua varinha produziu mais uma pena, apenas mais uma. É muito curioso que o senhor tenha sido destinado para esta varinha porque a irmã dela, ora, a irmã dela produziu a sua cicatriz. Harry engoliu em seco. — E, tinha trinta e quatro centímetros. Puxa. É realmente curioso como essas coisas acontecem. A varinha escolhe o bruxo, lembre-se... Acho que podemos esperar grandes feitos do senhor, Sr. Potter. Afinal, Aquele-Que-Não- Se-Deve-Nomear realizou grandes feitos, terríveis, sim, mas grandes. Harry estremeceu. Não tinha muita certeza se gostava do Sr. Olivaras. Pagou sete galeões pela varinha e o Sr. Olivaras curvou-se à saída deles. — agora só falta o seu primeiro pokemon —tem muitos pokemons lá ? —antes não havia nenhum mas esse dias dumbledore abriu um portal para o mundo pokemon que fez varios deles virem para o nosso mundo —mas porque ele fez isso ? —eu realmente não sei eles entraram numa loja e assim que o fizeram notaram a loja vazia e o dono dela apressadamente veio até eles dizendo —acabaram os pokemons voltem amanha —mas não tem mais nenhum ? — sobrou um mais ele não é exatamente um pokemon inicial — levaremos esse então o homen os levou para o balcão de onde ele tirou uma pequena bola roxa — cade o pokemon ? — aqui dentro. disse o homen apontando a pokebola que harry pegou — jogue a pokebola. aconcelhou o homem e harry assim o fez e de dentro dela saiu um pokemon pequeno e rosa — este é mew e ele sera seu primeiro pokemon
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