Abstração 01
Neve e mais neve descia compulsivamente daquele céu, a quem diga famoso, onde um dia foi contemplado por várias outras pessoas no mesmo lugar em que ele se encontrava agora. A diferença, é que aquele ponto em especial de Hogsmead não era acostumado a receber visitantes solitários e cabisbaixos. Se ele virasse sua cabeça para a direita, sem muito esforço conseguiria enxergar dali menos que cinco metros, um afetuoso casal abraçado a conversar animadamente entre os intervalos de seus longos beijos. Caso virasse para esquerda, igualmente encontraria um outro casal, este um pouco mais prático e assim deixando as teorias pra depois e assim se limitando apenas aos beijos e amassos. Era por isso que ele estava evitando olhar para os lados, concentrando-se no seu chão, o que fazia pouco mais de uma hora e meia. Assistir à divertida cena de seus pés sendo acobertados pela neve deveras ser mais apaziguador do que ter de ficar dentro do castelo de Hogwarts, pois qualquer coisa que visse lá naquela tarde... Iria fazê-lo lembrar dela.
Não. Por que foi iniciar este pensamento? Não, mil vezes não. Não era pensar nela ali. Caso fosse, correra o risco de pegar algum tipo de hipotemia em vão. No entanto, era mais forte que si próprio. Nem mesmo os agressivos genes paternos de Remus Lupin os quais corriam em suas veias, era alguma forma de ajuda naquele momento. Eles poderiam ajudá-lo com os conflitos externos, as ocasiões da vida, contudo... Simplesmente inúteis e insignificantes diante daquele monstro que sentia em seu peito. Uma forma animalesca de vida o qual lhe sugava todo o tempo, emoções e forças para rende-las todas a uma única pessoa. Seu nome trazia calor a Teddy até mesmo ali, debaixo do frio, praticamente um garoto de gelo uma vez que não se importara em limpar os flocos que caíram sobre seu corpo. Ainda tentou um último esforço para não voltar a memória aquele nome e sua imagem, contudo, fora tarde demais...
Victoire Weasley.
Os cabelos dele chegaram a mudar de cor ao impacto daquela pessoa em sua estrutura. Novamente ganhara o casual tom azulado, brilhando e combinando de alguma forma diante do tom azul-gelo do cenário em que se encontrava ao redor. Teddy então reprimiu toda a força que lhe foi cabível naquele segundo, e enfim segurou-se, não permitiu que o pensamento continuasse, e assim abrisse mais ainda o vazio que corroia seu interior. De repente, ele se viu sorrindo. Rindo de si mesmo por ter feito tal façanha. Mas como uma tirada sem graça do destino, lá estava a figura surgindo bem diante de seus olhos, trazendo novamente todas as lembranças de cinco dias atrás...
- O que você pensa que está fazendo, senhor Lupin? – ela lhe questionara com aquele peculiar olhar mortal, tremendamente avassalador diante da cor azulada de suas pupilas.
- Se você pensa que estou aplicando alguma forma de afeto íntimo a essa pessoa, pode ter certeza que não é isso. – ele respondeu um pouco mais impaciente que o normal. Também, pudera. Não era a primeira vez em que Victoire aparecia com aqueles ciúmes idiotas, parecendo não confiar em Teddy como este confiava nela.
No início ele até que julgou interessante, esse medo da linda garota de perdê-lo, como se ele fosse bem mais do que imaginava ser. Entretanto, conforme o tempo foi passando e ela foi se mostrando tão nervosa e apreensiva com relação à união deles... Não havia mais nada de interessante naquilo. Como das últimas vezes, não lhe restou outra opção se não responder com o seu peculiar sarcasmo. Ele simplesmente adorava ser sarcástico.
- Ah é? Então o que é? – a jovem replicou entrando no seu tom de voz, carregada de desdém – Um demorado abraço amigo? Pela cara dela não está sendo nada “amigo”...
- Por favor, Vic... Você está interpretando as coisas de forma errada... – Dalila McLaggen respondeu entrando na súbita discussão entre os namorados, desvencilhando-se rapidamente dos braços fortes de Teddy e se afastando tanto dele quanto da garota à sua frente – Eu estava passando mal, quase desmaiei... E o Teddy foi a primeira pessoa quem apareceu para me ajudar... Ele foi bastante respeitador, até...
- Ah sim, com certeza. Que engraçado, não? Justamente o cara por quem todos nós sabemos que você é apaixonada desde o segundo ano, aparecer assim, do nada, como o seu grande herói para essa sua tonteira idiota.
- Victoire Weasley! Você já está passando dos limites! – ele bradou tão alto que até mesmo a diretora Minerva poderia ouvir lá de sua sala – Como ousas falar assim dela? A garota realmente estava passando mal. Na verdade, ela ainda está passando mal.
- E certamente você está bem mais preocupado com ela do que comigo, não é mesmo... Teddy Lupin?
Agora sim ela passara dos limites. Não mais parecia uma jovem de quinze anos como uma mera adolescente de doze emburrada porque os pais não a deixaram sair. Mais além de infantil, a atuação de Victoire estava sendo... constrangedora. Alguns alunos já haviam parado para assistir à cena, curiosos com o que parecia uma cena de novela entre um suposto triângulo amoroso. A diferença, era que não havia triângulo algum. Por mais bela e atraente que fosse Dalila – e isso ele não poderia negar, aqueles cabelos castanhos da mesma cor que os olhos era de fazer qualquer homem cair em tentação, no entanto, ele não era um qualquer, herdara toda a honestidade e compromisso que seus pais puderam lhe ensinar, tornando-se assim alguém em quem outrem pudesse se espelhar – ela jamais poderia roubar seu coração como fizera Victoire. Entretanto, esta já não era mais aquela que ele conhecera em seu terceiro ano, quando a menina estava ingressando ainda no seu primeiro. Em vez de amadurecer, Victoire parecia fazer o contrário.
- Já chega. – Teddy respondeu completamente o contrário de antes, no mais baixo e suave tom de sua voz – Pra mim... Já chega. Se é isso que você pensa de mim, Victoire... Então creio que não devo mais pensar em você.
Virou-se e se foi, deixando as duas garotas para trás. De fato Dalila gostava mesmo dele, e por isso sentiu na pele a tristeza a qual o envolvia naquele momento quando proferiu estas palavras. Por sua vez, a jovem Weasley nada disse, preferiu manter-se firme e com aquela imagem de inabalável – ainda que totalmente destruída por dentro. Esperou o rapaz sumir de vista, e quando isso aconteceu, ela entregou-se aos sentimentos, correndo para o seu quarto com as lágrimas do pranto vertendo enlouquecidas pelos seus olhos.
Teddy não chegara a ver suas lágrimas daquele dia, mas via as daquele instante, pois Victoire se apresentava diante de si da mesma forma que saíra de cena há cinco dias atrás. Seus penetrantes olhos azuis estavam avermelhados, rasos de fúcsia que insistiam em cair desastradamente. Ele não queria ser comovido por aquilo, não queria resistir e assim se entregar ao que ardia em seu peito... Mas não foi possível. Era mais forte que ele. Ou, na verdade, ele quem era fraco demais. Aliás, todos se tornavam fracos diante do chamado amor... Tentar medir forças com ele era como pedir pela dor... Dor que começava pelo coração, alcançava o espírito e terminava na alma. Destruição em plenitude. Não havia bomba nuclear que surtisse efeito maior.
- Olá... – ela murmurou ainda de pé, mas parecendo se desmoronar a qualquer segundo.
- Olá – ele respondeu um tanto rouco, julgando-se incrivelmente idiota por estar sentindo aquilo naquele momento.
- Eu... Eu... Eu posso conversar contigo?
- Eu já sei o que você quer falar, Vic – Teddy resolveu tomar a compostura e assumir as rédeas da situação. Ainda que estivesse sendo dominado pela emoção do coação acelerado, jamais iria voltar atrás em seus princípios – Se veio pela quarta vez me pedir desculpas...
- Não é isso! – Victoire o cortou num tom aveludado o qual esquentou ainda mais o corpo do rapaz, aproximando-se ainda mais dele e se ajoelhando diante de si, uma vez que Teddy estara sentado em um dos muitos bancos daquela praça – Eu sei que sempre estive errada, e insistir num mesmo erro não é algo digno de perdão.
- Então... O que você quer? Acabar de uma vez por todas comigo?
- Não. O que aconteceu no passado foi tão ridículo que não vale a pena recomeçar. – ela respondeu então, provocando uma dor ainda mais forte dentro do garoto. Fora tão súbito e impactante que por um momento ele achou que iria sumir do nada naquele mesmo instante.
- Quer dizer que você veio... Terminar de vez? – sua voz era agora nada mais que um fraco e falho som.
- Terminar. Não para recomeçar... Mas para ter o início que Teddy Lupin sempre mereceu e eu estive cega demais em ciúmes para perceber antes.
E ele não teve o tempo de questionar e muito menos dizer alguma outra coisa. Quando deu por si, a garota já estava bem diante de seu rosto, os olhos dela quase encostando nos seus, dirigindo os seus lábios até os deles num ritmo suave o qual Teddy pareceu ter pressentido o sabor daquele beijo antes mesmo dele acontecer. Assim que ambas as bocas estavam enfim entrelaçadas, o mundo e o tempo então pareceram parar, ou não se importar mais. Se fazia um frio de arrematar qualquer um naquele momento, ele não era tão potente como devia diante do calor que os envolveu. Se ambos os namorados sentiam alguma forma de dor e vazio dento do peito, esta fora substituída rapidamente pela evasão da mais profunda emoção a qual arrebatou o casal de coações... Acelerados e compulsivos... Desnorteados e ao mesmo tempo almejados... Tolos e tão somente maduros o suficiente para compreender que um não poderia viver sem o outro... Os dois conectados por meio de algo que não possuía origem, tão pouco algum meio e muito menos um destino, quem dirá uma explicação. E era exatamente a certeza disso que fazia tudo valer a pena.
♣ Fim ♣
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