Capítulo 3
Não voltou mais à sua penumbra. Não voltaria a se perder na penumbra de seu quarto. Era hora de construir outro inferno. Um inferno só seu, sem a presença de Lúcio Edward Malfoy ou de Narcisa Amèlie Malfoy. Apenas ele, Draco Alexander Malfoy. Sim, nome de conquistadores. Nome de destruidores. Seu nome.
O antebraço esquerdo queimou. Não, também não voltaria àquele inferno. Não voltaria ao inferno construído por seu Mestre e compartilhado por centenas, talvez milhares, quem sabia? Seria julgado traidor. Não se importava. Que o matassem. Quem sabe ele não fosse ao verdadeiro inferno? Amargar pela eternidade. Não se importava.
Saiu de seus devaneios. Estava em frente a um prédio majestoso em sua decadência. Como ele. Como sua família. Entrou. Perguntou se havia algum apartamento disponível. Havia. Foi conduzido ao apartamento. Bolor. Mofo. Decadência. Era esse o cheiro do lugar. Sim, era perfeito. Instalou-se imediatamente, sem abrir as janelas, acender as luzes. Mergulhado em escuridão. Como sua alma. Conseguiu identificar um colchão no chão. Tombou sobre o colchão, fitando o teto. Mergulhava ainda mais em solidão. Mergulhava cada vez mais em escuridão.
Sonhava. Sonhos escuros e sombrios. Subitamente, enchiam-se de luz. Uma luz quase se apagando. A luz se tornava mais forte. A luz iluminava tudo. O deixava ofuscado. Insônia. Inferno. Sorriu ironicamente, com um lado da boca, apenas. Do que reclamava? Que horas eram? Não se interessava. Ficou ali deitado. Perdido no tempo.
A claridade invadia o quarto. A escuridão se fora. Mas não de seu espírito. Sabia que os olhos da cor da prata brilhavam quase que insanamente. Por quê? Não sabia. Eram assim desde sempre. Beirando a insanidade. O que diriam se o vissem ali? Ele sorriu, novamente apenas um dos lados, em escárnio silencioso. Quando fora a última vez que dera um sorriso verdadeiro? Que rira? Essa vez simplesmente não existia.
Suas entranhas começaram a rugir de fome. Fazia dias que não tinha uma refeição decente. Sem vontade, levantou-se do colchão. Saiu do apartamento, batendo a porta atrás de si. Foi ofuscado pela luz pálida que incidiu sobre ele. Vendo manchas dançando a sua frente, pôs-se a descer as escadas. O prédio não tinha elevador e ele não tinha vontade de aparatar.
Ganhou a rua. Ventava horrivelmente. Estava nublado. Enquanto todos os transeuntes encolhiam-se, fugindo do frio, ele queria sentir o ar cortante e gelado, penetrando até os ossos. Pôs-se a andar. A direção não importava. Entrou no primeiro lugar que tinha o aspecto de vender comida. Era um bar. Pediu um café. Em minutos, um líquido preto e ralo fumegava a sua frente. Bebeu de um só gole. Sentiu a bebida queimando sua boca e sua garganta. Não se importou. Nem sequer fez uma careta ou algum movimento que denunciasse a dor que sentia enquanto suas entranhas eram escaldadas. Pelo menos elas não rugiam mais. Dando as costas, voltou ao vento. À sua volta, pessoas coradas apertando os casacos de encontro a si, tentando fugir do vento cortante, que agora uivava. Não ele. Sabia que jamais ficaria corado pelo vento. Quanto ao frio cortante, era bem vindo. Não vestia nada de mais pesado além de uma capa negra, como tudo o que vestia.
Viu que estava na frente do hospital. Os gritos voltaram à sua mente. Pareciam tão próximos no tempo...Quando percebeu, ele adentrava o quarto. Lá estava ela, com seu brilho pálido. Ela era real? Não parecia. Era frágil demais. Precisava tocá-la, saber se era real ou se não passava de ilusão. Como era possível que um ser tão belo não tivesse ninguém a seu lado. Será que ninguém dera pela falta dela? Quanto a ele, sabia que a essas alturas já estava sendo caçado pelos companheiros. Com qual finalidade não sabia. Se para ser morto ou se para ser restaurado a seu lugar como segundo em comando do Mestre. Não sabia.
-Continua na mesma...Há dois dias ela começou a gritar, mas depois voltou ao que era. Uma desconhecida em choque.- uma voz atrás de si.
Dois dias? Passara realmente dois dias naquele apartamento? Deu de ombros. Não havia como recuperá-los. Voltou a observar o anjo, ignorando o medibruxo atrás de si, permanecendo parado ao lado da cama. O medibruxo foi até a ficha médica que encontrava-se em uma cômoda simples.
-24 anos, grávida de algumas semanas, em estado de choque há dois dias. Aparentemente, tem pesadelos, daí os gritos. Não identificada, por isso a família não foi identificada. É uma pena...Tão linda...Segunda vez no hospital em duas semanas. A primeira vez foi trazida por um casal de meia idade. A encontraram desmaiada na rua. No entanto, ao saber que estava grávida, fugiu. Horas mais tarde, voltou, após tentativa de suicídio, trazida pelo senhor, senhor...?
Não recebeu resposta. Ele estava absorto demais absorvendo as informações que recebera. Era bom ter alguma coisa para desviar seus pensamentos dos usuais pensamentos depressivos. Não havia pedido essas informações, mas nenhuma tortura fora necessária para obtê-las.
Quando finalmente voltou a si, estava novamente sozinho. Apenas ele e ela. Viu, em um dos pulsos dela, uma risca, em relevo, que o atravessava. Precisava tocá-la, saber se não passava de ilusão. Aproximou-se da cama. Ajoelhou-se ao lado da cama. Estendeu a mão. Ao tocar na pele macia dela, ela novamente pôs-se a gritar. Agora tinha certeza. Não era ilusão. E conhecia aqueles gritos. Ergueu-se rapidamente. O medibruxo entrou apressado na sala. Ela ainda gritava e debatia-se, mas ainda dormia. Ela agora acalmava-se.
Outro pesadelo, aparentemente.
Ele saiu dali atordoado. Conhecia aqueles gritos. Aqueles gritos já o haviam atormentado. Mas onde? E quando?
N/A
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