Faróis
Fevereiro chegara de mansinho. O frio ainda era rascante, mas as geadas quase não caiam mais – ocasionalmente havia tempestades de neve, mas estas eram cada vez mais escassas.
Era um desses dias em que não nevava.
Lily olhava pela janela do quarto para chuva que caía furiosamente do lado de fora. Sentia-se esquisita; uma semana após seu aniversário, sua euforia se reduziu a nada e nem a chegada do Dia dos Namorados, dali a dois dias, deixava-a verdadeiramente alegre.
Olhou para as gordas nuvens cinzentas que decoravam o céu e se sentiu como elas: solitária, fria, sem brilho. Mal se lembrava da última vez em que estivera tão angustiada quanto naquele momento.
Lily sentia que havia alguma coisa errada.
Controlando a vontade de chorar – que ela não sabia de onde saíra – Lily pegou um dos livros que ganhara de Charles, e se sentou no sofá para lê-lo. Esforçou-se para se concentrar, mas não conseguia; as letras não se conectavam em sua mente e ela não conseguiu absorver uma palavra. Precisava se distrair. E sabia quem devia procurar.
Desceu as escadas de dois em dois e o encontrou lendo o jornal na sala de leitura. Ele espiou por cima das páginas assim que ela entrou no cômodo, e franziu as sobrancelhas.
- Está tudo bem? – Charles perguntou, desconfiado.
- Tudo, tudo bem. – Lily respondeu, sem parecer convincente, e se jogou ao lado dele no sofá. Mexeu e remexeu as mãos, como sempre fazia quando estava nervosa, e Charles percebeu.
- O que você tem?
- Não sei. – suspirou pesadamente e olhou o amigo, apreensiva. Lily sabia que podia contar com Charles: apesar de sempre irritá-la com aquela história de tentar lhe agarrar, ele havia se provado um bom amigo quando ela precisara de um. E ela precisava agora. – Não sei o que eu tenho, Charles. Só sei que faz dias que eu me sinto mal, angustiada... estou com um mau pressentimento.
- Sobre o quê? – ele perguntou, jogando o jornal para o lado e prestando total atenção a ela.
- Esse é o problema! Não sei por que estou me sentindo assim. Não sei o que esperar e isso me deixa preocupada, Charles. Realmente preocupada.
Charles pegou a mão dela entre as suas e apertou firme, olhando sério em seus olhos.
- Está tudo bem, Lily. – disse ele. – Aposto que não é nada de mais, você só precisa se acalmar.
- Talvez você tenha razão. – Lily sorriu ternamente para ele, juntando a outra mão ao aperto. – Provavelmente não é nada. Mas mesmo assim eu preciso dar um jeito nessa sensação ruim e não consigo me concentrar no livro que você me deu.
- Isso é um insulto à Jane Austen. E a mim, obviamente. – eles riram. – Você precisa de um pouco de distração. Ande, - Charles se levantou e estendeu a mão para ela. – vamos sair.
- Você promete que não vai tentar me agarrar? – Lily perguntou, olhando desconfiada para a mão que ele lhe estendia. Charles revirou os olhos, impaciente.
- Hoje não. Você não está num bom dia para isso. Agora venha. – Lily sorriu ante a atitude decente de Charles e deixou que ele lhe puxasse. Os dois pegaram os casacos grossos e correram para a garagem. Lily se perguntou aonde iriam debaixo daquela chuva sem carro, já que ela não podia usar nenhum dos seus e Charles não iria mesmo pedir emprestado. Mas eles passaram direto por todos os carros até os fundos da garagem, onde havia uma caminhonete velha. – Conheça a Betsy.
- Betsy? – riu Lily, sentando-se no banco do carona. Charles rapidamente entrou ao seu lado e girou a chave. Em segundos estavam debaixo do temporal. – Não sabia que você tinha um carro.
- Um carro, não. A Betsy.
- Ah, sim, desculpe. – rindo, Lily fechou os olhos e recostou no banco. Já estava um pouco mais tranquila. Eles ficaram passeando em silêncio por alguns minutos, até que Lily perguntou: - Onde está me levando?
- Hampstead Heath Park. Já foi lá? – Lily negou. – Eu sei que está chovendo e eu prometo não te tirar do carro e fazer você pegar essa chuva, mas lá é muito bonito e calmo. Acho que é disso que você precisa agora.
- Você está muito gentil hoje, Charles. O que deu em você?
- Você me faz querer ser um homem melhor, Lily. – ele respondeu, olhando-a sugestivamente. Lily meramente revirou os olhos.
- Não devia ter perguntado.
- Relaxa, estou brincando. Ei, veja, estamos chegando. – Charles apontou para a entrada de um parque enorme. Como estava chovendo muito, o parque estava completamente vazio, o que fez Charles entrar com o carro. Antes que Lily perguntasse, ele respondeu – Bom, se antes não podia entrar com o carro, agora pode.
- Que belo exemplo. – disse Lily, sem realmente recriminá-lo. Olhou pela janela e sorriu admirada: já não se importava se Charles tinha ou não entrado com o carro; estava mais interessada em olhar as muitas e belas árvores que os cercavam. Passaram por uma estradinha ladeada por elas e logo se viram diante de um imenso lago, que quase transbordava por causa da chuva. Charles parou o carro à margem do lago e quando o motor cessou, o barulho da tempestade pareceu ensurdecedor, mas nenhum deles ligou. – Uau, que lugar lindo. Como você o conhece? Pensei que nunca tivesse vindo a Londres.
- Aproveito para fazer um tour pela cidade quando tenho tempo. Semana passada, acabei chegando aqui. Gostou?
- Adorei. Maravilhoso. – Lily falou. Era um espetáculo da natureza, pensou ela, olhando distraída para os pingos de chuva que batiam insistentemente na superfície do lago.
Aquele era realmente um lugar especial. Lily já se sentia imensamente mais calma e agora aquele pressentimento ruim estava alojado em algum lugar distante do coração dela. Quase não se lembrava mais dele.
Quase.
Estava tão distraída que só lembrou que Charles estava ali ao seu lado quando o ouviu se mexer e esticar o braço. Em seguida, a música encheu o carro. Charles estava cantarolando baixinho enquanto Lily fazia força para identificá-la. Sabia que já tinha escutado. Quando a música chegou ao refrão, Lily a reconheceu.
- Ah! – disse ela, rindo. Charles, sem parar de cantar, fez um sinal que a convidava a se juntar a ele. Sorrindo, os dois começaram a cantar mais alto.
Do I have to tell the story
Eu tenho que contar a história
Of a thousand rainy days since we first met
De mil dias chuvosos desde que nos encontramos pela primeira vez
It’s a big enough umbrella
É um guarda-chuva grande o suficiente
But it’s always me that ends up getting wet
Mas sou sempre eu quem acaba se molhando
Lily e Charles cantavam alto dentro do carro e quando chegaram ao refrão mais uma vez, viraram um para o outro, fizeram uma pausa dramática junto com a batida da música e, então, continuaram aos gritos.
Every little thing she does is magic
Cada coisinha que ela faz é mágica
Everything she does just turns me on
Tudo que ela faz me excita
Even though my life before was tragic
Mesmo que antes minha vida fosse trágica
Now I know my love for her goes on
Agora eu sei que meu amor por ela continua
Tomada por um impulso, Lily colocou a música no volume máximo e abriu a porta do carro. Charles ainda tentou chamá-la, mas ela já estava sob a chuva, os braços abertos e a cabeça jogada para trás.
- Você é maluca? – gritou Charles para se fazer ouvir ante o barulho da chuva. Lily abriu os olhos e viu Charles ao seu lado, encharcado da cabeça aos pés. Sorriu.
- É provável. – ela respondeu com a voz alta, fechando os olhos novamente – Eu nunca gostei muito de chuvas, Charles, mas eu concordo que às vezes elas são bem vindas. Eu acredito, assim como um monte de gente, que a chuva lava nosso corpo de energias ruins, lava a nossa alma. É o que eu preciso nesse momento: lavar a alma.
- Você é maluca. – constatou Charles, fitando-a como se quisesse se certificar de que ela não era louca. Aparentemente, ele se convenceu de que estava tudo certo com ela, porque seu passo seguinte foi puxá-la pela mão. Take me home, de Phil Collins, era a música que agora os auto-falantes do carro gritavam.
Lily deixou que Charles a rodopiasse e a puxasse de volta para ele. Giraram juntos sobre a grama molhada do parque, chapinhando os pés nas pequenas poças d’água. Lily ficou surpresa quando se deu conta de que Charles a mantinha a uma distância bastante segura do corpo dele. E gostou de saber que só estavam dançando ali como amigos, sem segundas intenções. Ela se sentiu alegre, rodopiando sob a chuva, e se divertia de tal modo que suas preocupações lhe deram tchau e se esqueceram de avisar se voltariam ou não.
Dançaram uma, duas, três músicas, mas quando Your song, de Elton John, estava na metade, Lily teve que se afastar mais uns centímetros de Charles para soltar um sonoro espirro.
- Ok! Estamos com um problema aqui. – disse Charles, gargalhando. – Acho que está na hora de irmos embora, Lily. Se você pegar um resfriado, minha mãe come meu fígado e vai me culpar para sempre por ter te tirado de casa nesse temporal.
- Mas foi mesmo culpa sua. – brincou Lily, entrando no carro e prendendo o cinto de segurança. Charles entrou ao seu lado e estirou a língua para ela. – Desculpe por molhar seu carro todo. Afinal a ideia de ir para a chuva foi minha.
- Tudo bem, a Betsy é muito acostumada a aventuras como essa. Houve uma vez em que eu estava com uma menina e nós estávamos...
- Eeeeew! Não, Charles! Poupe-me dos detalhes sórdidos, por favor. – gritou Lily, tapando os ouvidos. Charles soltou uma gargalhada alta.
- O fato é que a polícia nos viu e ia me multar ou qualquer coisa assim. Mas eu não deixei: Betsy nunca correu tanto.
- Meu Deus, eu estou na companhia de um fugitivo da polícia. – riu Lily, provocando-o.
- Não queria te contar, mas na verdade eu sou o tarado da machadinha. – disse Charles, olhando muito sério para ela. Lily devolveu seu olhar e sem conseguirem se conter, explodiram numa gargalhada alta.
Foram rindo até em casa e quando chegaram à mansão, entraram de fininho, conferindo se a Sra. Phillip não estava em nenhum lugar à vista e tendo certeza de que não deixavam um rastro de água e lama pelo caminho. Separaram-se à porta do quarto de Lily.
- Obrigada pela tarde, Charles. – ela agradeceu.
- Confesse que foi divertido.
- Foi muito divertido, acredite. E você se comportou muito bem, então obrigada por isso também. – Charles revirou os olhos e Lily lhe fez uma careta. Antes de fechar a porta, completou – Idiota.
Charles riu no corredor, mas Lily não respondeu. Precisava tirar as roupas molhadas e tomar banho antes que ficasse gripada de verdade. Depois de tomar um banho quente e secar os cabelos, ela vestiu um conjunto de moletom e se jogou no sofá. Fechou os olhos, a fim de tirar um relaxante cochilo. Apagou no instante seguinte.
Estava tendo um pesadelo. Não tinha ideia de onde estava, mas não estava sozinha: James, Sirius e Marlene estavam com ela. Ninguém falava, ninguém se mexia. Então, antes que Lily pudesse entender o que estava acontecendo, Marlene sumiu. Um segundo depois, James desapareceu. Apenas Sirius ainda estava lá ao seu lado. Ele sorriu: um sorriso sem vida, que mais parecia um esgar. Lentamente, muito lentamente, Sirius foi sumindo, o sorriso frio ainda estampado em seu rosto. Apavorada, Lily tentou gritar para que ficasse, mas nenhum som saía de sua boca escancarada. No segundo seguinte, Sirius havia ido.
Ela agora estava sozinha, abandonada. Finalmente se deu conta de que estava num lugar muito escuro e tão, tão frio. A escuridão a cegava e ela sentiu que o ambiente em que estava ia ficando cada vez menor. As paredes iam se fechando ao redor dela e Lily sentia uma tristeza angustiante sufocá-la. Precisava de ar, de luz, precisava sair dali. Lily sabia que estava sonhando: só precisava abrir os olhos.
Abra os olhos! Gritou em sua mente.
Abra os olhos! Ela fez força para voltar à realidade.
Abra os olhos! Sentiu que começava a se debater no sofá.
Abra os olhos! Estava voltando. A escuridão rareava.
Abra os olhos! A luz do quarto incidiu sobre seus olhos quando ela acordou. Estava de volta. Sentou-se ereta no sofá e passou a mão pelos cabelos: estavam empapados de suor.
Lily estava assustada e sabia que o pesadelo tinha relação com o pressentimento que a assolava fazia dias. Mas ela achava que a tarde com Charles a fizera esquecer os problemas; pelo visto estava enganada. Foi só ela relaxar, deixar a animação passar que as sensações ruins voltaram com força total. E ela não sabia o que esperar.
Foi só um sonho, foi só um sonho, foi só um sonho repetia ela incessantemente.
Decidida a acreditar nisso, Lily lavou o rosto e tentou se livrar da expressão desolada refletida nele. Desceu as escadas e se dirigiu direto ao piano. Tocou Endless Love, cantarolando a música em voz baixa. Era uma música bonita e ela gostaria de um dia tocá-la para James. Estava pensando nisso quando o telefone da sala tocou. Era Adele.
- Ah, oi, Adele. – ela cumprimentou desanimada. Adele hesitou por um instante ao perceber a completa falta de ânimo na voz de Lily.
- Hm, você está bem?
- Estou, não se preocupe. – Lily respondeu tentando inflingir um pouco de segurança à voz. – Então, Adele, você ligou porque... – completou fazendo força para não ser um pouco rude.
- Ah, sim! – Adele respondeu animada. – Liguei porque vai ter uma festa de Dia dos Namorados na casa da Jen Parker, você sabe, aquela ex-amiga da Sawyer, e eu quero saber se você quer ir. Ela faz questão da sua presença.
- Aposto que faz. – resmungou Lily. – Ela só quer que eu vá porque eu me tornei subitamente popular. Não acho que seja uma boa ideia, Adele.
- Todo mundo sabe que é só por isso que ela quer que você vá, Lily, mas vai ser divertido. Os pais dela liberaram a casa e vai ter até um DJ. – Adele fez uma pequena pausa e então concluiu – E pelo tom animador da sua voz, eu sei que você precisa se divertir. Vamos lá, vai ser legal. A casa dela é grande, então você nem precisa ficar perto de ninguém que você não queira ver.
- Ok, eu vou pensar. – Lily prometeu, começando a considerar a ideia. Qualquer coisa para distraí-la daquela péssima sensação. – Posso levar James, Sirius e Marlene?
- Claro que pode. A festa é completamente liberada. Você vai?
- Certo, certo, acho que vou.
- Isso! – exclamou Adele, mais animada ainda. – Ok, a festa é amanhã à noite, umas 9 horas. Sabe onde ela mora?
- É ela que mora perto do Picadilly Circus? – ouviu uma confirmação da amiga – Então eu sei, já ouvi a Parker gritando seu endereço pela escola quando dava festas que eu não estava convidada. Certo, Adele, vejo você lá amanhã.
- Maravilha! – e antes que pudesse dizer tchau, Lily desligou o telefone. E não se sentiu mal pela falta de educação ao encerrar a ligação na cara da amiga.
Uma festa era tudo que Lily não queria no momento, mas realmente não custava nada tentar. O passo seguinte foi ligar para James, Sirius e Marlene e combinar tudo. Como sempre, Sirius passaria para buscar todos eles.
- Pelo visto eu te ajudei mesmo. – disse Charles quando entrou no quarto de Lily na noite seguinte e a encontrou terminando de se arrumar. – Está tão bem que até vai sair.
- Eu não queria ir, Charles. Acredite. – ela respondeu com um sorrisinho fraco. – Mas eu preciso fazer qualquer coisa que me distraia e essa festa surgiu em boa hora. Eu chamei James e o pessoal, e eles ficaram animados em ir. – Charles fez uma careta, como sempre fazia quando ouvia o nome de James. Lily revirou os olhos. – Você pode ir se quiser. Deve ser divertido. Haverá montes de garotas querendo se jogar em cima de você.
- Obrigado, mas eu dispenso. – Lily se virou para ele com as sobrancelhas arqueadas em pura descrença. – Estou falando sério. Não vou por dois motivos: não quero e não posso. Tenho prova na faculdade essa semana e preciso estudar. Algo que eu já devia estar fazendo, por isso – ele se aproximou dela, deu um beijo em sua bochecha e depois deu um apertão encorajador em seus braços. – eu já vou. Divirta-se hoje e esqueça os problemas. Depois você pode encará-los.
- Eu encararia se soubesse quais são eles! – Lily disse, mas ele já estava saindo do quarto. Suspirando, ela terminou de se arrumar e ficou esperando que os amigos chegassem.
Quinze minutos depois estava entrando no carro ao lado de James no banco traseiro. Forçou um sorriso animado ao encará-los.
- Oi. – disse James, curvando-se para lhe dar um beijo. Lily não correspondeu com o entusiasmo de sempre e ele percebeu. – Está tudo bem?
- Claro. – ela respondeu sorrindo. Não ia aguentar expôr sua angústia de novo, por isso sustentou o olhar firme do namorado. Eles se encararam por um segundo, James estudando minuciosamente o rosto dela, e por fim, ele se deu por vencido.
Ou ela achou que James havia acreditado no sorriso forçado. Mas ele conhecia a namorada e sabia que tinha alguma coisa errada, mas depois a abordaria sobre o assunto. Aquela noite era noite de festa.
A casa de Jen Parker era bem grande, mas, como Marlene fizera questão de sussurrar nos ouvidos de Lily, não chegava aos pés da mansão dos Evans. O quintal, que reservava uma grande piscina, estava todo decorado com o tema do Dia dos Namorados, tudo enjoativamente bonitinho. O DJ já arrastava a multidão de adolescentes para a pista de dança improvisada. Eles mal tinham conseguido absorver tudo quando Jen Parker, enfiada num vestido rosa muito cheio de fru fru e pouco tecido praqueles meados de inverno, apareceu saltitante. Sem que pudessem se conter, Lily e Marlene se entreolharam rapidamente e então sorriram falsamente para Jen.
Meninas... são todas iguais.
- Lily! – esganiçou-se Jen, sorrindo. – Que bom que veio, fico feliz!
- É, hm, obrigada por me convidar, Jen. – Lily respondeu, forçando animação. – Ahn, estes são meus amigos, Sirius Black e Marlene McKinnon, e meu namorado, James Potter.
- Muito prazer. – respondeu ela, medindo Sirius e James de cima a baixo, parecendo extremamente satisfeita com o que via. Marlene fechou os punhos ameaçadoramente, mas Jen não viu. – Bom, fiquem à vontade. A mesa de bebidas fica logo ali, podem tomar quantos drinques quiserem. Temos também um correio do amor, vocês só precisam ir lá, escrever um bilhete e pedir para entregar diretamente à pessoa ou ler em voz alta na frente de todos. Ahn, acho que é só. – Jen sorriu esfusiante e virou as costas – Divirtam-se! – gritou antes de sumir.
- Uau, ela é... – começou James, incerto.
- Uma vaca. – completou Marlene, de cara feia.
- Eu ia dizer “alegre”, mas “vaca” serve também.
- Isso porque vocês nunca tiveram o desprazer de conhecer a Kim. – disse Lily. – Aí sim vocês veriam quem é vaca. A Jen é só uma cópia barata dela.
- Aquela ali não é a Adele? – interrompeu Sirius, apontando cabelos dourados que acabavam de se embrenhar no meio dos convidados. – Ei, Adele! Adele!
- Oi. – como se tivesse se materializado do nada, Adele estava ao lado deles, sorrindo. Os quatro pularam de susto. – Por que estava me gritando? Eu estava bem ali atrás, já estava vindo falar com vocês.
- Achei que você fosse uma garota loira que acabou de sumir ali no meio. – explicou Sirius. – Mas, a não ser que você consiga se teletransportar, era outra menina.
- Infelizmente não tenho esse poder. – riu Adele. Virou-se para Lily – Bom, fico realmente feliz que você tenha vindo, Lily. Sua voz não parecia muito boa no telefone, achei que você precisava se animar. – Adele falou sem parecer perceber os olhares de Lily, que fazia um pedido mudo para que a amiga calasse a boca. Mas já era tarde: James a encarava desconfiado, com a sobrancelha arqueada.
- A voz dela não parecia boa de que modo, Adele? – ele perguntou sem tirar os olhos de Lily.
- Não é nada, James! – Lily falou entre dentes, puxando o namorado para onde estavam todas as outras pessoas. – Anda, gente, vamos para a festa.
Não demorou muito e eles já estavam esquecidos do problema da “voz não tão boa da Lily”, divertindo-se na festa. Odiavam admitir, mas estava bem legal. Está certo que a decoração era exageradamente rosa, mas era Dia dos Namorados. Deveria ser romântico.
Ou o mais próximo de romântico que aquelas garotas fáceis que se jogavam em cima dos caras conseguissem chegar.
Os quatro e Adele, que já tinha arranjado um acompanhante para aquela noite, dançavam juntos na pista de dança. Realmente, a festa não havia sido má ideia, pensou Lily. Ela estava mesmo se divertindo. O DJ intercalava músicas animadas e dançantes com baladinhas românticas para a felicidade dos casais. E Lily e Marlene estavam realmente causando inveja às garotas que estudavam na Academia, porque seus namorados eram os garotos mais bonitos da festa.
Sirius então, era o escolhido no 1. Se fizessem uma enquete com todas as meninas da festa, elas diriam que o garoto com cara de bad boy acompanhado da amiga-da-Lily-Evans era o mais lindo e atraente e gostoso da festa.
Bom, a gente sempre soube que ele causava esse efeito nas pessoas. E por “pessoas”, eu quero dizer “mulheres”.
À medida que as horas iam passando, os convidados iam ficando mais bêbados. Já passava da meia-noite quando dois caras doidões pularam na piscina. O pessoal gritou ensandecido, rindo dos garotos que tiritavam de frio dentro d’água. Jen Parker, para a surpresa de todos, mandou os dois saírem da piscina e os acompanhou até a casa, falando bastante alto que não queria ninguém morto de hipotermia em sua festa. Lily, Marlene e Adele trocaram um olhar espantado, mas nada disseram. Elas estavam sozinhas, sentadas numas cadeiras próximas à piscina, porque os garotos haviam saído para fazer não-sei-o-quê não-sei-onde.
Uns dez minutos depois, a música parou e Jen, já de volta depois de dar toalhas e roupas secas para os dois garotos, foi para frente de todos, com um microfone nas mãos.
- Oi, pessoal. – disse ela, com um sorriso luminoso. – Bom, não sei se lembram, dado o nível de álcool que deve correr em suas veias agora, mas no início da festa eu falei que havia um correio do amor e que vocês podiam mandar bilhetes ou pedir para que suas declarações de amor fossem lidas aqui na frente. Vários bilhetes já foram entregues até agora, mas já passa da meia-noite e é oficialmente Dia dos Namorados. Então, está na hora de ler o que vocês escreveram para seus amores. Posso começar? – os gritos de aprovação foram unânimes e Jen pegou o primeiro bilhete rosa e o ergueu à altura dos olhos. – Este aqui é de... Joshua para Hannah: “Hannah, você está para mim assim como a água está para um cara no deserto do Saara. Ou seja, preciso de você para viver. Te amo.” Que lindo, gente! Olhem lá a Hannah correndo para agarrar o Joshua. Isso aí, Josh! – todos se viraram para olhar a garota ruiva agarrar o namorado num abraço apertado. Lily, rindo da declaração de amor breguíssima, voltou a prestar atenção no que Jen dizia.
Havia declarações muito ruins. Outras muito engraçadas. E outras realmente bonitas. Jen estava na vigésima quando sorriu e procurou Lily com os olhos.
- Hm, hm, hm. Essa é de James Potter para Lily Evans. Preparada, Lily? Espero que esteja, porque essa é grande – Jen riu quando viu Lily arregalar os olhos, envergonhada. Olhou para James, agora ao seu lado, e viu que ele sorria. – Vamos lá: “Estava chovendo, você lembra? Estava chovendo e você entrou na cafeteria e sentou no balcão de frente para mim. Eu não pude evitar falar com você, porque você chamou minha atenção no momento em que entrou por aquela porta. Bom, e também porque a cafeteria estava vazia, então eu tive que olhar para você. Mas estou feliz de ter olhado. Conversamos. Você mordeu um pedaço da sua bomba de chocolate e sujou o rosto de creme. Eu não consegui conter o impulso de limpá-lo e você ficou vermelha de vergonha quando eu te toquei. Ali, embora não soubesse, eu já estava apaixonado por você. E até hoje agradeço à chuva por ter te trazido a mim. Eu te amo, Lily. Assinado: James” – morrendo de vergonha, mas ainda assim ignorando todos os olhares da festa cravados nela, Lily sorriu e se ergueu nas pontas dos pés para beijar James apaixonadamente, sob assovios e palmas dos outros convidados. – Olha, gente, que amor. Você é uma garota de sorte, Lily Evans.
- Sou mesmo! – Lily concordou, abraçada a James, arrancando risos dos outros. – Vamos sair daqui? – completou olhando para ele.
- Em um segundo, só quero ouvir a próxima declaração. – Lily concordou e se virou para Jen, que pegava o bilhete seguinte.
- Uau, enquanto a outra declaração era enorme, essa aqui é bem curtinha. – disse Jen, parecendo confusa ao fitar o papel depois de revirá-lo atrás de alguma outra coisa. – Ok, vamos lá. De Sirius Black para Marlene McKinnon: “Obrigado por me salvar. Te devo a minha vida e vou dedicá-la para sempre a você. Eu te amo.”
Naquele segundo, todas as meninas da festa perderam qualquer esperança de ficar um dia com Sirius Black. Ele acabara de deixar bem claro que só havia uma em sua vida.
Marlene, com um olhar incrivelmente apaixonado, agarrou Sirius e lhe chapou um beijo de cinema. Quando eles conseguiram se separar, James revirou os olhos e disse:
- Você ficou todo aquele tempo pensando para escrever só isso?
- É mais do que suficiente. – disse Marlene sem encará-lo. Seus olhos azuis estavam cravados em Sirius, que mandou um dedo do meio para James e depois tornou a agarrar Marlene.
- Acho que essa é a nossa deixa. – riu Lily, puxando James para um outro canto da festa. Ela o abraçou e encostou a cabeça em seu ombro. – Adorei a declaração que você escreveu. Não acredito que você lembra mesmo do que aconteceu no dia em que nos conhecemos.
- Minha memória é ótima. – disse James sorrindo. Deu um beijinho no topo da cabeça dela. – E eu preciso gravar essas coisas para poder mencionar no meu discurso quando completarmos cinquenta anos de casados.
- Acredita mesmo nisso?
- Acredito. Eu ainda vou casar com você, Lily Evans.
- Lily Potter... soa bem, não?
- Muito bem. – James hesitou por um instante e disse – Mas estou falando sério. Eu sou muito, muito, muito apaixonado por você. E se alguém me dissesse há um ano que eu iria conhecer o amor da minha vida aos dezoito anos, eu provavelmente diria que isso seria impossível. Eu nunca imaginaria me apaixonar tão perdidamente por uma menina que havia acabado de entrar na cafeteria do meu pai fugindo da chuva. Mas foi o que aconteceu. Foi só você entrar por aquela porta para eu começar a pensar que meus filhos seriam lindos se tivessem olhos verdes como os seus. – ele pausou mais um segundo, como se pegasse fôlego. – Nada disso é da boca pra fora. Eu realmente te amo.
- Eu... t-te a-amo – soluçou Lily. James tomou um susto e afastou delicadamente para que pudesse olhar seu rosto.
- Por que você está chorando? Espero que seja de emoção, porque eu fiz uma baita declaração de amor para você. – ele brincou, mas Lily não sorriu, preocupando-o. – O que houve, Lily?
- E-eu não s-sei. É só que eu venho me sentindo t-tão m-mal há uns dias, com um p-pressentimento muito ruim. E quando você disse essas coisas tão l-lindas, eu n-não p-pude evitar pensar que esse p-pressentimento está ligado a n-nós.
- É por isso que você estava desanimada e Adele disse que sua voz estava ruim?
- Arrã. – ela respondeu, contendo o choro. – Eu estou angustiada há dias sem saber por quê. Estou começando a ficar com medo. Sinto que alguma coisa não vai dar certo. Acho que alguma coisa ruim vai acontecer. E... – Lily tentou conter as novas lágrimas, mas já não dava resultado. – agora eu estou me dando conta de que já senti isso. Eu era muito pequena, mas a sensação é tão ruim que eu consigo me lembrar.
- Quando foi que você se sentiu mal assim? – James perguntou, temendo de verdade a resposta dela. Lily levantou os olhos lacrimosos e disse vagarosamente.
- Antes da minha m-mãe m-morrer. – soluçando, ela continuou. – Estou com medo, James. E se alguma coisa acontecer com algum de nós?
- Shhh, está tudo bem. – disse ele, abraçando-a. – Vai ficar tudo bem. Não importa o que aconteça. Vai ficar tudo bem.
Ficaram em silêncio por vários minutos, até que Lily, embalada por James, parasse de chorar e se acalmasse. Quando isso aconteceu, ele a guiou até onde Sirius e Marlene se agarravam e pediu para ir embora. Os dois acataram o pedido no minuto em que viram a cara inchada de Lily, mas não fizeram perguntas, embora a lígua de Marlene estivesse coçando para perguntar por que a amiga estivera chorando.
Saíram da festa de fininho, sem parar para se despedirem e foram para o carro. James ia entrar no banco de trás com Lily, mas Marlene se ofereceu para acompanhá-la, afirmando que queria esticar as pernas. Na verdade, ela queria arrancar alguma coisa de Lily antes de chegarem em casa. Fazendo a vontade de Marlene, James sentou no banco do carona e ela sentou atrás dele no banco traseiro. Lily já estava recostada com a cara no vidro, atrás do banco de Sirius. James, de tempos em tempos, olhava para trás para espiar como Lily estava. Ele estava preocupado com ela e com o que havia sido dito. Mas, para seu alívio, nada havia acontecido.
Ainda.
Marlene tentou desesperadamente fazer Lily falar, mas não conseguiu arrancar uma palavra dela. Estava ficando seriamente preocupada. Será que a amiga estava em choque? E se estava, o que a tinha levado a ficar daquele jeito?
Mas Lily não estava em choque, apenas olhava distraidamente para a rua. E como era a única a olhar pelo vidro do lado direito, foi a única que viu aquele carro furar o sinal vermelho a toda e ir para cima deles. E quando Lily finalmente falou foi para gritar um aviso desesperado.
- SIRIUS! – e os grandes faróis foram a última coisa que ela viu antes de cair na escuridão.
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N/A: NÃO ME MATEM. NÃO ME MATEM. NÃO ME MATEM.
1) DESCULPEM PELA DEMORA. DESCULPEM MESMO, FUI SUPER RELAPSA COM O MEU BEBÊ (A FIC, DÃ) E COM VOCÊS. MAS, COMO PROMETIDO O CAPÍTULO FOI POSTADO ANTES DE JANEIRO. :D ENTÃO LEIAM E COMENTEM, OK? EU DISSE QUE IA SER BEM MENOR QUE O 8. ESSE SÓ TEM DEZ PÁGINAS.
2) QUANTO AO ACIDENTE... BOM, VAMOS VER O QUE ACONTECE. MAS NÃO ME MATEM. JÁ PREVEJO MARIANA RADCLIFFE ME AMEAÇANDO A FACADAS. D:
3) Essa é só uma obs. Eu estou no Rio e o cap está no pen drive, mas eu esqueci de passar a foto com a boca colorida, então tive que colocar aqui a do cap 4 mesmo, toda vermelhinha; :)
4) ENFIM, espero que gostem. Espero ansiosa os comentários de vocês e apostas para o capítulo dez. Vamos comentar muito, ok? Será meu presente de Natal, hahaha. Feliz Natal pra vocês, galera, e próspero ano novo. Vejo vocês em 2011.
Beijos,
Liv
Comentários (1)
Nossaaaaaaaa como assim para numa parte dessas ? O.O eu tô aqui passada. Ai meu Deus, o que será que aconteceu com eles ? O.O Espero que nada de grave. Sei lá ,eles podem ter conseguido desviar ou algo assim ahh agora eu Tô morrendo de curiosidade!beijoos!
2012-07-24