Lembranças



Já faz cinco anos desde que tudo acabou, vencemos depois de muitos sofrimentos e perdas. Nunca mais ninguém ousou tornar-se o próximo Voldemort para alívio de todos e depois de constatar que não era mais necessário vigiar constantemente qualquer movimento temendo o renascimento tive de me desconectar do mundo mágico por um tempo.


Tudo que fizemos durante aquele ano, todas as fugas, feitiços e batalhas tiraram o brilho que a magia tinha para mim. Isso não quer dizer que nunca mais usarei magia ou que não mantenho contato com o mundo mágico, continuo falando com meus amigos, indo a Toca e às vezes não resisto e uso magia para coisinhas básicas tipo cozinhar mais rápido ou secar o cabelo.


Atualmente moro no centro de Londres em um apartamento alugado, o qual eu pago com o dinheiro que ganho como jornalista da sessão de cultura de um jornal importante. Basicamente recebo convites para ir em exposições, concertos e peças e depois exponho minha opinião em uma coluna. Não ganho o que ganharia se seguisse a carreira de auror, mas realmente não podia continuar com aquela caça contínua, precisava de outros ares, outras companhias, outros pensamentos.  


Como é possível perceber mudei muito desde aqueles tempos, não sou mais aquela garota que só pensava em estudos ou em meus amigos, mudei porque a vida me fez mudar de um jeito brusco e até agora irremediável. Junto com vários trouxas minha mãe morreu e isso arrancou metade do meu coração, da minha vontade de viver, se meu pai não tivesse sobrevivido acho que não agüentaria. Ele continua morando na mesma casa e a deixou do mesmo jeito que minha mãe deixava, os primeiros dois anos foram complicados para ele, mas depois começou a levar a vida como antigamente trabalhando bastante e tentando não deixar brechas para a saudade bater. Nos vemos todo final de semana, sempre arranjo um convite extra para levá-lo a alguma peça ou saímos para jantar e conversar. Outro dia ele me contou que estava saindo com alguns colegas de trabalho e que tinha conhecido uma mulher muito agradável, fiquei um pouco assustada, pois nunca imaginei meu pai com outra mulher, mas não posso impedi-lo de seguir com sua vida, na verdade eu deveria fazer o mesmo, mas realmente não consigo.


Meus amigos não concordaram quando eu disse que estava desistindo por um tempo do nosso mundo, mas compreenderam depois de algumas brigas. Vejo no olhar deles que sentem pena de mim e isso me deixa louca, sei que só querem ajudar, mas cada vez que eu os encontro desejo manter mais distância deles. Não é que eu não goste deles, mas aquela piedade me destrói completamente. Harry continua praticamente o mesmo, cabelo bagunçado, olhos verdes, sorriso maroto, um irmão mais velho, mas com mudanças que fazem toda a diferença. Quando conseguiu matar Voldemort sua expressão mudou, não tinha mais com que se preocupar constantemente, então seus olhos ficaram mais claros e amáveis e aquelas rugas de preocupação desapareceram, tornando-o mais leve e jovem. Além disso, agora ele e Ginny estão namorando e estão tirando todo o atraso que tiveram no passado, se é que vocês me entendem.


Ginny é minha melhor amiga, com quem eu mais mantenho contato, ela sempre me visita e sempre diz as mesmas coisas, fala que eu tenho que sair mais, conhecer gente nova e me divertir. Ela me dá notícias de todos e me mantêm informada das novidades, como quando começou o seu namoro com o Harry, eram 11h da noite quando ela aparatou saltitante no meu apartamento me dando um baita susto e me contando todos os detalhes de tudo. Ela é a que tem menos piedade nos olhos, pois ela sabe tudo o que sinto e de certo modo conseguiu compreender meu sofrimento e me respeitar enquanto não consigo voltar ao que era antes.


Ron, bom ele é um caso a parte. Quando a guerra acabou começamos a namorar, ele me deu todo o suporte que eu precisava para enfrentar os momentos mais difíceis da minha vida e nunca esquecerei o que ele fez por mim. Eu realmente o amava - ainda amo, mas de uma forma diferente  - e ele retribuía todo esse amor, mas com o tempo fui mudando e depois de um ano de namoro ele terminou comigo, pois no estado que eu estava não dava conta do meu namorado, ele queria atenção e eu não tinha cabeça para namoro. Nos separamos, mas não deixamos de ser amigos e o tempo que passei com ele rendeu boas músicas. É eu arranjei um novo hobby, toco violão e componho músicas no tempo livre e muitas delas são momentos e sentimentos que tive com ele.


Draco Malfoy, acreditem ou não, eu vou falar do Malfoy. O cara que mais detestei na minha vida agora é amiguinho dos meus melhores amigos. Na guerra final ele mudou de lado trazido por Snape que por causa do que prometera a Narcisa Malfoy precisava defendê-lo com sua vida. Antes de dar um tempo na minha vida de magias todos os meus amigos o detestavam assim como eu, principalmente Harry, pois por causa da mesma promessa Snape teve que matar Dumbledore, mas um tempo depois de eu sair da Toca eles começaram a se entender, não acredito como, mas Ginny diz que ele é muito engraçado e que os três de divertem com ele. Não fiquei lá para ver esse lado do Malfoy, então continuamos a nos tratar do mesmo jeito que antigamente, exceto pelos xingamentos que por delicadeza aos outros presentes não pronunciamos. Sempre o vejo nas festas ou encontros que sou convidada e sou o mais educada possível, mas tem horas que ele me tira do sério. Como na última festa, era aniversário de Molly e ele não perdeu a mania de me irritar, eu estava conversando normalmente com todos e ele soltando as gracinhas dele, teve um momento que eu não agüentei mais e tive que revidar, aí o clima mudou todos ficaram sem graça então fui embora, pedi desculpas a Molly e ao Arthur, agradeci por tudo e me retirei. Paciência nunca foi o meu forte.


E por último, mas não menos importante, Abigail minha amiga trouxa que logo que eu entrei no jornal se tornou minha companheira de trabalho me acompanhando aos lugares para onde sou convidada. Se não fosse ela acho que não conseguiria me manter sã naquele jornal de loucos, a editora chefe é totalmente pirada, fica gritando de um lado para o outro, nem sei como ela consegue respirar durante os gritos que duram pelo menos 10 minutos. Lembro-me do meu primeiro dia no trabalho, ninguém olhou para minha cara enquanto eu ia em direção a minha mesa a não ser aquela tampinha sorridente e saltitante, que muitas vezes me lembra Ginny. No começo fiquei impressionada, como alguém conseguia sorrir tanto e ser animada o tempo todo? Só não a irrite, pois quando ela fica irritada, sai de baixo! Ela é loira e mede no máximo 1,55cm, por isso vive de salto alto para ganhar uma vantagem e ela nunca me deixa usar salto perto dela, porque diz que parece menor ainda. Além disso, ela tem o poder de me fazer rir por qualquer besteira, principalmente quando está irritada. Sem ela eu não sei o que seria dessa experiência trouxa.


Hoje é aniversário dela e para variar estou atrasada, ela vai me matar. Ficar relembrando tudo me fez esquecer o tempo em baixo do chuveiro e agora tenho que escolher uma roupa correndo, acho que vou colocar aquele vestido que comprei outro dia com ela assim ela não fica com tanta raiva de mim. Saímos para fazer compras, porque ela disse que precisa urgente de roupas, que não agüentava mais usar as mesmas todos os dias e junto do tanto de saias, blusas e vestidos que ela escolheu pegou um vestido dizendo que era minha cara e que eu precisava experimentá-lo, ele é um tomara que caia – o que realmente me irrita, não é que eu não ache bonito, mas incomoda ficar subindo ele o tempo todo – branco perolado com uma fitinha vermelha e um laçinho em baixo do busto, é um pouco mais solto em baixo e vai até o joelho. Resumindo a história, ela me obrigou a comprar dizendo que se nunca me visse usando ela me mataria. Ela sempre me ameaça de morte, é normal. Vou colocar um salto alto, sei que vai a irritar, mas quando ela vir o vestido vai esquecer de todo o resto.


Ai cadê meu sobretudo preto? Tá muito frio para ir só com isso. Ah, achei! Como esse quarto ficou tão bagunçado do nada? Deixa para lá, arrumo quando voltar, preciso colocar a maquiagem na bolsa, no caminho me maquio. Pronto, agora é correr para a estação pegar o metrô e em cinco minutos estou lá.


Faz tempo que não me arrumo tanto para uma ocasião, a última foi o casamento de Billy e Fleur, mas ainda era a antiga Hermione e queria me arrumar para o Ron me notar. Eu e Ginny nos arrumamos tanto e conseguimos impressionar a todos, mas não conseguimos o que realmente queríamos que era ficar com os nossos amados, Ron e Harry, respectivamente. E depois que consegui o que mais queria no mundo desperdicei, mas tudo bem eu e ele como amigos somos bem melhores do que como namorados.


Não sei me maquiar muito bem, uso o básico, rímel, blush, batom, lápis e delineador que aprendi depois de muito treinar com Ginny e com Abigail. Então usei tudo menos lápis, porque ainda está claro e não gosto de usar lápis esse horário e ao invés de colocar batom passei gloss, meus olhos já estavam fortes o suficiente, não precisava chamar atenção para mais nada.


Abigail estava dando a festa na casa do primo dela, uma casa linda por sinal, estava toda decorada para a festa com balões pretos e brancos fazendo um arco na entrada e levando até a sala, no corredor tinha um homem recebendo os convidados, pegando os casacos, bolsas e anotando nomes. Não sabia que a festa seria tão grande, do jeito que ela falou seria uma reunião apenas para os amigos mais íntimos, mas eu não sabia quantos amigos íntimos ela tinha e acabei constatando que ela é bem popular. Não entreguei meu casaco, pois ainda estava com um pouco de frio, quem mandou eu vir com um vestido tão solto, entra ar por tudo quanto é lado. E agora estou na sala que está ainda mais linda do que a entrada, sem muita decoração, mas a casa em si já é um espetáculo, foi só colocar algumas flores para torná-la perfeita. Adoro flores, elas dão um ar diferente a casa e deixam um aroma agradável.


Achar essa baixinha no meio dessa multidão vai ser complicado, mesmo com salto ela não alcança a altura de metade das pessoas dessa sala, que por sinal tem muitos homens e muitos lindos. Abigail tem um ótimo gosto para homens e para amigos homens principalmente, como consegue reunir tantos bonitos em um só espaço, ainda bem que me arrumei, não que eu vá ficar com algum, mas não faz mal ser admirada por qualquer um que seja.


Nossa, eu conheço aquela cabeça ruiva de algum lugar, ai meu Merlin o que é que o Ron está fazendo na festa da minha amiga? Tenho que falar com ele e rápido.


- Ron?


- Hermione? O que você está fazendo aqui? – perguntou Ron confuso


- Eu que deveria perguntar isso, o que você está fazendo aqui?


- Ué, Draco me convidou, então eu vim. – respondeu ainda mais confuso


- Malfoy?


- Opa, alguém me chamou? – virou-se para nós com um sorrisinho nos lábios que logo desapareceu ao me ver.


- O que vocês estão fazendo aqui? – aquilo já estava me irritando, não posso ir a uma festa sem que tenha alguém para me lembrar o que eu tento esquecer toda hora.


- Mi! Porque você demorou tanto, menina? Você sabe que era para você ter chegado antes para me ajudar com o finalzinho da arrumação e para eu te apresentar para uns bonitões... – Abigail chegou já tagarelando como sempre – Vejo que já conheceu meu primo Draco e o amigo dele, Ronald, que bom! – disse ela lançando um olhar diferente para Ron.


- Primo?


Aquilo não podia ser verdade e se fosse era um sonho, quer dizer, um pesadelo daqueles.

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