Prólogo - Uma segunda oportuni
Parecia que já nem fazia sentido respirar. Todo o ar, tudo aquilo que um dia lhe foi essencial á vida tinha desaparecido. E mais uma vez…ás mãos de Voldemort. Ele sentia que esse monstro não lhe poderia retirar mais nada neste mundo. Primeiro os pais, em seguida o padrinho, Dumbledore e agora… Ron. Ron. Ron. Ron. Porque é que o nome dele tinha de ecoar dessa forma na sua cabeça. Ron era… quase como um irmão. Um amigo. Algo superior a tudo o que um dia ele tinha tido na vida. Ron e Hermione tinham sido ao longo daqueles anos de tormento a sua família. A família que ele nunca teve porque Voldemort sempre insistia em destruir. E ali… sozinho ele sentia as lágrimas percorrerem-lhe o rosto. Ginny estava provavelmente junto dos Weasley. Harry simplesmente não podia suportar aquele sentimento. Ver o sofrimento daquela família e saber que o grande culpado da morte de Ron. Assistir ao sofrimento de Hermione e saber que lhe tinha retirado o grande amor da sua vida destroçava-o por dentro. E o pior é que tudo aquilo não se limitava ao sentimento de culpa porque ele tinha sofrido a maior perda que um dia podia sofrer. Ele perdera Ron. O rapaz que sempre o compreendera. O primeiro a aproximar-se de si sem saber que o seu nome era Harry Potter. E por tudo isso ele chorava. Chorava porque nunca pensara que ele lhe podia ser retirado. Chorava porque a dor que habitava o seu peito não mais lá cabia. E acima de tudo chorava porque duvidava que houvesse alguém no mundo a quem lhe fosse reservado tanto sentimento. E então ele apenas se perguntou porquê? Porquê ele? Porque tinha sido ele o Escolhido? Porque não pudera ter uma vida igual á de todos os rapazes normais da sua idade.
- Gostavas que pudesse ser diferente?
Harry fechou os olhos com toda a força que conseguiu. Porque aquilo era impossível. Seria apenas mais um sonho… uma alucinação. E aquela não podia ser a voz de Ronald Weasley. Simplesmente não podia… E lentamente abriu os olhos preparando-se psicologicamente para mais uma desilusão. Mas não… Ali estava ele. Sentado ao seu lado. Os cabelos ruivos flamejantes desajeitados, os olhos azuis como água, a pele salpicada de sardas e o sorriso torto sempre tão característico. Harry tentou não ligar e virou a cara. Aquilo não era real…
- Tu não és real…
- Sou… Dentro da tua cabeça.
Harry sorriu trocista e virou-se para Ron (ou a alucinação em forma de Ron).
- Sabes… isso não é de fiar. Muitos dizem que sou maluco.
Ron riu-se naquele som tão puro e limpo e Harry arrepiou-se. Resistia a tentação de lhe tocar para saber se ele era real mas aquela era sem dúvida a gargalhada de Ron.
- Para que é que vou acreditar… Sei que tu não ficarás aqui sempre… - disse Harry melancólico e sentindo as lágrimas aflorarem-lhe o rosto de novo.
- Ficarei sim… - disse Ron permanecendo um pouco em silêncio – Dentro do teu coração.
-Desculpa…
Harry não disse mais nada. Sabia que Ron entenderia o que aquele pedido de desculpas significava.
- Eu não te culpo pelo que aconteceu Harry. Nunca culpei.
- Mas eu culpo…
- Eu e a Hermione escolhemos lutar ao teu lado… Nós sabíamos o que isso podia significar…
- A Hermione… - murmurou Harry baixando a cabeça
Ron sorriu nostálgico.
- Eu separei-vos…
- Não fostes tu Harry. Nunca serás tu… Nós voltaremos a reencontrar-nos. Eu sei que sim.
Harry sorriu.
- Como é tudo aí desse lado?
- Perfeito! O local perfeito para mim e para a Hermione. A propósito ela deve estar a chegar.
Harry fez um ar confuso e olhou em volta.
- Não onde estás… Onde eu estou.
Harry fez um ar confuso mas logo depois percebeu. Sentiu o ar faltar-lhe aos pulmões e então a mão de Ron pousou-lhe no ombro. Ele era palpável.
« Fantástico… agora tenho alucinações em 3D… e palpáveis » pensou Harry
Sentiu um calor enorme percorrer-lhe o corpo vindo da mão de Ron e o alivio percorrer-lhe a alma.
- Ela… ela… - balbuciou Ron
- Torre de Astronomia…
O rosto de Harry foi envolvido por lágrimas e uma angustia correu-lhe o coração. Não… aquilo era um pesadelo.
- Po… Porquê?
- Por mim… - disse Ron – Por amor. Por perda… pelo desejo de acabar com a dor mais depressa.
Harry abraçou os joelhos e deixou-se chorar.
- Eu queria que tudo voltasse atrás. Aquele dia….
- Em que os teus pais morreram?
Sem forças para mais nada Harry resumiu-se a abanar afirmativamente a cabeça.
- E se fosse possível? Podias perder-me… e á Hermione?
- Evitaria que vocês sofressem…
- Arriscarias?
- Sim… arriscaria apenas com a mínima possibilidade de poder mudar as coisas…
- E se eu te concedesse esse desejo…
- Não o podes fazer…
- Porquê? – sorriu Ron – Estamos ou não estamos em Hogwarts?
Harry sorriu fracamente e um clarão de luz invadiu o lago negro. Antes da luz o cegar apenas conseguiu ver pela última vez a imagem de Ron e Hermione acenando para ele em jeito de despedida.
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