Perdoa o que não disse



Eu julguei-te eterna porque tu sempre o pareceste. Tu eras tão jovem e sempre que passavas por mim com esse teu sorriso deslumbrante e cheio de vida, oh quem poderia dizer… Eu sempre te tratava como uma amiga. Porque foi o que tu sempre foste para mim. Tu foste aquela que me aceitou prontamente quando eu entrei em Hogwarts. Eu via todos os olhares na minha direcção, alunos que se afastavam de mim assustados como que me culpando por erros que eu nunca cometera mas dos quais a minha família foi acusada. Mas eu era diferente e a minha principal diferença é que nunca tinha tido a oportunidade de mostrar isso mesmo. E eu lembro-me de estar sozinho na carruagem, pois todos os outros saiam quando viam quem ali estava sentado, e uma menina veio-se sentar ao meu lado. Tu eras linda… sempre foste. Trazias os longos cabelos ruivos ondulados soltos pelas costas, o uniforme de Hogwarts já vestido e na face salpicada por umas ligeiras sardas exibias um sorriso doce. Espantei-me quando te vi olhar-me de cima a baixo e mesmo assim sentares-te… E então eu perguntei-te se não tinhas medo ao que tu respondeste apenas com um: “Porque haveria de ter?”. Passámos o caminho todo a conversar até á escola e nem por um segundo me julgaste ou á minha família. Pouco nos importámos quando eu lhe disse que era um Malfoy e ela me disse que era uma Weasley filha de uma Granger… pelo contrário até nos rimos da coincidência. Bastou eu dizer-te que era diferente que tu logo acreditaste. Tu entregaste-me a tua amizade. Entregaste-me tudo de ti e eu apenas me arrependo de não te ter dito tudo aquilo que sempre quis dizer.


 


Sorry I never told you


(Desculpa eu nunca te disse)
All I wanted to say


 (Tudo o que eu sempre te quis dizer)
And now it's too late to hold you


(E agora é tarde de mais para te abraçar)
Cause you've flown away


(Porque tu voaste para longe)
So far away


(Para tão longe)


Tornámo-nos amigos inseparáveis desde então. Tu lutavas contra os teus primos Potter que nunca aceitaram a nossa amizade e eu lutava contra os meus colegas de equipa que achavam uma amizade “Slytherin-Gryffindor” inaceitável. Nós passámos os intervalos sempre juntos, conversávamos no lago e muitas vezes eu deitava-me simplesmente na relva a ver-te ler compenetrada. Até que entrámos ambos para as equipas de Quidditch. Tu como keeper e eu como seeker. Vimo-nos confrontados realmente pela primeira vez com uma competição mais renhida entre os dois mas nem isso vacilou a nossa amizade. Tu ajudavas-me em tudo. Tu sempre me fazias acreditar que eu era maior que o mundo, que mesmo depois de uma forte queda é possível voltar a voar… Tu tinhas uma força Rose! Tu sempre parecias doce e ingénua mas eras sempre tão esperta e os teus ataques de fúria faziam tremer todo o castelo.


Foi no 3ºano que comecei a perceber realmente que poderia tudo ser muito mais que uma amizade. Estava a nevar com tanta força e todo o castelo assim como os campos estavam cobertos com uma grande espessura de neve fofa e branca. Eu tinha-te procurado por todo o castelo e tu não estavas em lado nenhum, quando te vi por um dos vitrais do castelo. Sentada junto ao lago encostada a uma árvore por entre toda aquela neve. Corri o mais rápido que podia, tu poderias ficar doente e quando cheguei junto a ti percebi com tristeza que choravas. Eu nunca te tinha visto chorar e senti o meu mundo desabar. Ajoelhei-me ao teu lado e tu rapidamente me abraçaste começando a murmurar palavras desconexas. Pelo meio só consegui perceber algo sobre o teu pai ter descoberto a nossa amizade. Eu lembro-me de nesse dia chorar contigo, morrendo de medo que isso nos pudesse separar… mas não separou! Mantiveste-te sempre fiel a mim assim como eu me mantive fiel a ti.


 


Never had I imagined


(Eu nunca tinha imaginado)
Living without your smile


(Viver sem o teu sorriso)
Feeling and knowing you hear me


(Sentindo e sabendo que tu me ouves)
It keeps me alive, alive


(Isso mantêm-me vivo, vivo)


 


Enfrentar a tua família foi deveras complicado. Não a família em geral mas em mais o teu pai e os teus primos. Eu vi-te chorar muitas vezes depois daquele dia na neve e isso dava cabo de mim lentamente. Tu apenas mentias dizendo que estavas bem, que eles iriam acabar por aceitar e dizendo que lutarias para sempre pela nossa amizade. Mas tu não estavas bem e eu ponderei pela primeira vez em te abandonar. Eu percebi como a tua família era importante para ti e isso era algo que eu não te queria tirar. Eu tentei afastar-me de ti, fingindo que não existias mas ninguém te enganava assim tão facilmente não é? Tu rapidamente percebeste o que eu estava a tentar fazer e impediste-me. Nessa noite não dormimos nos dormitórios… Adormecemos os dois numa cabana abandonada que tu disseste ter pertencido outrora a um amigo dos teus pais chamado Hagrid e que casara em França. A cama era enorme mas a cabana era pequena e aconchegante. Dormimos os dois, tu deitada no meu peito sobre aquela cama. Tu parecias sempre tão pura a dormir. Dormias tal e qual um anjo. Desde aí ficámos ainda mais íntimos se isso ainda fosse possível. Havia entre nós uma amizade tão forte cuja definição é ainda inexistente. Mas toda essa paz em que nos envolvia durou apenas até ao fim do nosso 4ºano quando a guerra estourou…


 


Darling I never showed you


(Querida eu nunca te mostrei)
Assumed you'd always be there


(Assumi que tu sempre estarias aqui)
And I, I took your presence for granted


(E eu, eu tomei a tua presença como garantida)
But I always cared


(Mas eu sempre me importei)


And I miss the love we shared


(E eu sinto falta do amor que partilhávamos)


 


 


Eu tive imenso medo nessa altura. Não tinha sequer a certeza do lado que a minha família ia escolher. Aliás nessa altura eu apenas tinha a certeza duma coisa: eu iria escolher o lado que me fizesse permanecer ao teu lado. E quando os ataques começaram lá fora tu disseste-me o teu desejo. Disseste que querias abandonar Hogwarts, que em breve ela não seria mais segura e que querias lutar ao lado dos teus pais contra aquele que era filho de Lord Voldemort e Bellatrix Lestrange e que agora desejava tomar o mundo como o pai fizera. Eu apenas te queria seguir para onde fosses mas ainda não estava preparado para isso. Eu sabia que lá fora não existia apenas o lado da coragem e da honra. Era muito mais do que isso…. Havia pessoas a morrer, pessoas a sofrer… e eu não queria um destino assim para nós. Nós tínhamos apenas 15 anos e nem idade tínhamos para tal. A cada dia que passava e quando lias as notícias no Profeta eu via os teus lindos olhos escurecerem. Tu tinhas medo por aqueles que amavas e que sabias estarem na primeira linha de combate e que eram os principais alvos deste lunático. Mas eu fiz-te entender algo mais importante. Fiz-te ver que os teus pais nunca te deixariam entrar na batalha, eles nunca o permitiram e que além disso eras demasiado nova para tal e podias prejudicar. Por tudo isso tu voltaste no outro ano embora mais fechada e amargurada. Os teus olhos estavam mais escuros e o teu coração impregnado de dor. Finalmente havias percebido o que era uma guerra. Nas noites que dormíamos naquela cabana e tu te abraçavas a mim eu ouvia-te gritar e mexer durante a noite. Pesadelos que tinhas daquele horrível acontecimento que houveras testemunhado nas férias. A morte de Albus Potter. Eu tentei entender a tua dor e nem por um momento me afastei de ti até ao dia em que essa dor já não era um demónio dentro de ti, apenas uma memória como uma ferida que deixara cicatriz. Tu passaste a lutar, todas as noites na Sala das Necessidade juntavas um grupo de alunos para treinarem tudo o que era preciso, uma ideia que tinhas retirado das histórias do teu pai. Eu via-te tão compenetrada…


 


And I know you're shining down on me from heaven


(Porque eu sei que tu me estás a iluminar aí do Céu)
Like so many friends we've lost along the way


(Como muitos amigos que perdemos pelo caminho)
And I know eventually we'll be together


(E eu sei que provavelmente nós estaremos juntos)
One sweet day


(Um dia doce)


E no 7ºano Hogwarts foi invadida. Tu eras meio-sangue mas o facto de teres os pais que tinhas não ajudava assim como o facto de eu ser filho e neto de traidores do Lord das Trevas. Por isso nós fugimos…. Fugimos com o Mapa do Salteador que o teu primo James te dera ao sair de Hogwarts. Fomos parar a Hogsmeade e saímos dali o mais rápido que conseguíamos. Andámos de lado em lado, roubámos uma tenda que usávamos para dormir e que tu rodeavas de feitiços. Arranjávamos comida improvisada e líamos notícias que davam conta de um novo regime em Hogwarts. Nós ouvíamos falar da morte de amigos e com o tempo fomos aprendendo a não chorar. Mas nós mesmo assim éramos fracos… porque nós não tínhamos uma razão como os teus pais e Harry Potter tinham tido. Nós tínhamos apenas uma vontade de viver que não nos permitia voltar a casa com o risco de sermos apanhados. Além disso nós nunca tínhamos passado pelas provações que o trio maravilha passara… mas mesmo assim aguentámo-nos. Até ao dia em que tu adoeceste… Estavas fraca pela comida cada vez mais escassa, cheia de dores pelas breves batalhas que por vezes tínhamos mesmo de enfrentar e cheia de gripe pelas baixas temperaturas que tínhamos de aguentar. Eu estava mal mas mesmo assim aguentei-me melhor. E quando tu adoeceste eu passei as noites todas á beira da cama que havia na tenda. Zelando por ti, colocando-te panos frios na esperança de apagar a febre alta e ouvindo-te delirar e murmurar coisas desconexas. Foi então que não me importando com os riscos te agasalhei o mais que pude e parti. Só parei á porta da nova sede da Ordem da Fénix na morada que me havias dito. Eles assustaram-se com a minha presença mas esqueceram-no ao te verem. Nesse dia aconteceram as tréguas entre mim e a tua família. Eles agradeceram-me por te ter protegido e com os cuidados necessários rapidamente ficaste boa.


 


 


Although the sun will never shine the same


(Embora o sol nunca mais volte a brilhar da mesma maneira)
I'll always look to a brighter day


(Sempre verei o dia mais brilhante)
Lord I know when I lay me down to sleep


(Deus eu sei que quando me deitar para dormir)
You will always listen as I pray


(Tu sempre me irás ouvir quando eu rezar)


Foi aí que tudo mudou. Nós deixamos de viver apenas pelo simples acto de sobreviver, agora nós vivíamos por uma causa maior. Havia amigos a salvar e uma guerra para findar. Nós lutávamos todos os dias e todos os dias eu tremia sempre que ias a uma batalha. Sempre tentava ir contigo sabendo que de certa forma te poderia proteger mas nas vezes em que tínhamos missões diferentes o meu coração parecia rebentar com o medo de não te voltar a ver. Eu sofria sempre que não estavas e eu agora sabia que o que havia dentro de mim há muito que tinha ultrapassado a barreira da amizade. Mas mesmo assim nunca te contei porque algo em mim me dizia que não era correspondido. Eu era o teu melhor amigo, eu conheci cada expressão do teu rosto e eu via a admiração com que olhavas para o James Potter. A sua força, a sua garra, a coragem de um Potter. Então eu percebi que por mais que tu o negasses, por mais que me apoiasses e me percebesses haveria coisas que nunca mudariam, coisas que vêm no sangue e nos genes. Potter’s são símbolos de coragem, lealdade e honra. Weasley’s são símbolos de ingenuidade, bravura e espírito forte. E Malfoy’s… Malfoy’s serão sempre símbolos de frieza e cobardia. E no fundo isso nunca mudaria porque ninguém fazia nada por isso. James Potter liderava, concebia planos e eu cumpria-os. Porquê? Porque por mais que o meu orgulho se ferisse eu tinha algo mais importante: tinha-te a ti. Como amiga, mas algo sempre era melhor que nada. E tu crescias e eu sorria ao ver-te crescer. Tu não eras mais a pequena criança do comboio, eras uma mulher. Uma mulher linda. Corpo esbelto e bem formado, pele branca como a neve, longos e ondulados cabelos de fogo e olhos cor-de-água. Sempre decidida, organizando planos, sempre tão forte… E eu tinha orgulho em ti como um pai se orgulha de uma filha… Como se de certa forma eu tivesse tido um papel importante nesse teu crescimento. E eu queria muito contar-te o que sentia. Eu precisava de te dizer… mas havia algo em mim que não o permitia


 


 


And I know you're shining down on me from heaven


(Porque eu sei que tu me estás a iluminar aí do Céu)
Like so many friends we've lost along the way


(Como muitos amigos que perdemos pelo caminho)
And I know eventually we'll be together


(E eu sei que provavelmente nós estaremos juntos)
One sweet day


(Um dia doce)


 


Então houve uma batalha… uma dura batalha. A última de todas. O fantástico Harry Potter contra o grande filho de Lord Voldemort. E eu vi-me ali metido naquela batalha contra os meus pais que haviam cedido ao outro lado ignorando o bem que o Potter havia feito por eles. Eu lutei contra os meus pais. Eu lutei contra amigos de família e contra desconhecidos. A nenhum eu matei. Todos eles foram atordoados mas sempre acabavam por acordar. Então eu ouvi a voz de James Potter.


- Não vês que eles se estão a levantar?! Isto é uma guerra Malfoy. Na guerra mata-se se for preciso!


Mas eu não era um assassino. Nunca fui. Mas há momentos na vida em que temos de escolher… Então eu vi-o lá ao fundo. O grande Harry Potter esvaindo-se em sangue enquanto o meu pai parecia ganhar cada vez mais força. Uma maldição. Quanto mais fraco Harry Potter ficasse mais o meu pai se fortalecia. E só havia algo a fazer… Matar o meu próprio pai. Não que isso me fizesse diferença pois eu não nutria qualquer espécie de sentimento por aquele monstro que se ditava meu pai mas simplesmente eu não era um assassino. Mas se eu não o fizesse o que restaria ao mundo sem um Harry Potter para vencer o filho de Voldemort e com um Draco Malfoy mais forte do que nunca? Havia em mim um desejo de o fazer mas a ideia de pôr fim a uma vida com as próprias mãos parecia-me demasiado remota. Então ela veio… eu vi-a chegar a correr com os cabelos longos esvoaçando á sua frente. Vi-a pôr-se á minha frente e depois olhar para o seu tio e os olhos se esbugalharem numa expressão de compreensão. Lembro-me de ela sussurrar apenas: “Tu não és um assassino Scorpius”. E então ela atirou a varinha dela para o tio e completamente desprotegida foi de imediato atacada por um Sectumsempra enviado pelo meu pai. A luta desenrolava-se mas eu não via mais nada, apenas a ela. O corpo esvaindo-se em sangue por um corte enorme junto ao peito. E eu murmurava feitiços mas nada resultava. Ela simplesmente disse em voz fraca:


- Magia Negra… não há nada a fazer.


- Não…


Eu sentia as lágrimas correrem-me pela face desesperadamente enquanto o rosto dela transmitia uma expressão de serenidade.


- Eu não tenho medo de morrer…


- Tu não vais morrer… não podes morrer.


- Morro feliz…


- Não… ainda tens muito para viver!


Eu falava num tom desesperado sentindo a voz faltar-me. As lágrimas corriam enquanto eu sentia que cada pedaço da vida do meu grande amor se ia desvanecendo lentamente. Ouvi um baque e Draco Malfoy cair ao chão. Hoje tenho a consciência que todas as lágrimas que chorei foram apenas por ela e não por aquele homem que se dizia meu pai. Passou algum tempo e mais que vê-la morrer era sentir que ela morria dolorosamente. Lentamente… E passou muito tempo, muito tempo mesmo. O tempo suficiente para Harry Potter vencer o mau da fita e os urros aumentarem sem que ninguém tivesse consciência que aquela jovem morria de forma lenta e dolorosa. Então houve um aluno que passou a correr gritando: PAZ!


Lembro-me de ela ter sorrido por apenas mais uma vez e me apertado a mão com a pouca força que lhe restava.


- Era isto que eu esperava…


- Não Rose não podes ir…


- Shhhhh…. Eu preciso de te dizer uma coisa…


- Não…


- Amo-te. Sempre te amei…


Então uma última lágrima caiu pelo meu rosto e ambos fechámos os olhos. A única diferença é que ela nunca mais os voltou a abrir.


Passaram 3 anos desde aquele dia. A vida prosseguiu para todos, menos para mim. Foste honrada e tiveste a morte que sempre desejaste. Sacrificaste a tua vida pelo nosso mundo e todos te recordarão por isso. Tu és eterna agora Rose. Para todos mas principalmente para mim. Eu lembro-me de todos os momentos desde que entraste no meu compartimento com apenas 11 anos até ao dia em que fechaste os olhos nos meus braços. Não me arrependo de nada do que fiz apenas de nunca te poder dito: eu também. Eu também te amo. Eu também sempre te amei. Nunca o disse, agora já não importa. Eu sei que tu o ouves aí de cima, durante as minhas orações. Eu sei que tu me iluminas a vida. E espero que um dia nos voltemos a reencontrar onde tu estás com todos os amigos que perdemos nesta guerra. Eu amei-te Rose. Amei-te muito e não te amarei menos apenas pelo facto de tu nunca o teres chegado a saber. Tu amaste-me e eu sei que no fundo tu sempre soubeste que eu te amava também. E foi por isso que disseste que morrias feliz…


Até um dia meu amor…


 


 


Sorry I never told you


(Desculpa eu nunca te disse)
All I wanted to say


(Tudo o que eu sempre te quis dizer)

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