Prólogo
O expediente acabara por aquela noite no Ministério. Hermione estava simplesmente exausta. Estendera seu expediente naquela sexta-feira para terminar de ler alguns papéis e encaminhar algumas burocracias. Burocracias, aliás, parecia o sobrenome do Ministério da Magia. Qualquer trouxa que se aventurasse por aqueles corredores não conseguiria perceber que já estava em território bruxo.
Hermione, na realidade, tinha o hábito de fazer hora extra. Evidentemente, não abandonara seus princípios após deixar Hogwarts. Ser a melhor estava acima de qualquer coisa. Talvez por isso ela e Rony brigassem tanto nos últimos tempos. Sua relação não estava propriamente calma.
Ia caminhando pelo Átrio do Ministério. Já previa a briga que teria com Rony assim que chegasse em casa, em breve. Talvez por isso caminhasse tão devagar, ao contrário do que normalmente fazia em seu atarefado dia-a-dia. Ser bruxa não a livrava dos problemas tão comuns aos trouxas.
Parou, por um momento, e pôs-se a contemplar a Fonte dos Irmãos Mágicos. Suas formas, seu tom dourado e, em especial, a bela bruxa que, não sabia por que, lhe chamava a atenção agora.
Depois da derrota do Lord das Trevas, voltara a Hogwarts e concluíra seu sétimo ano. E dez anos haviam se passado desde então. Aquele lugar lhe trazia lembranças muito impactantes. Difícil dizer se eram boas ou más. Ali Dumbledore travara seu último grande duelo, ela, Harry e Rony haviam passado apuros durante os tempos da supremacia de Voldemort e finalmente conseguiram seus cargos depois de tudo. Como seria possível esquecer tudo?
Estava imersa em seus pensamentos quando, atrás de si, um barulho vindo do lado esquerdo a despertou de seu transe. Sabia bem o que era. Alguém entrara no ministério.
Virou-se para ver quem era, mas não conseguiu. Estava muito longe de si. Seria o Ministro da Magia?
- Kingsley? –Perguntou Hermione – É você?
Ela obteve o silêncio como resposta.
À medida que o vulto se aproximava, Hermione começava a perceber sua forma e, em pouco, teve a certeza de que não era Shacklebolt. Vinha envolto em uma capa preta que lhe escondia todo o corpo. Ela conhecia bem aquele traje. E não queria acreditar no que via.
Sacou a varinha.
Uma risada cínica seguiu-se. E então um arrepio atravessou-lhe a espinha. Aquela risada também não lhe era nem um pouco estranha.
- Não lhe parece... poético, um reencontro nesses termos, justamente aqui, onde tantas coisas aconteceram em nosso passado?
- Lucio Malfoy... - Balbuciou Hermione, quase incrédula – Como conseguiu entrar no Ministério? E como ousa vestir-se dessa forma?
Malfoy gargalhou.
- Velhos hábitos, no final das contas, nunca são esquecidos.
Lúcio parou a alguns metros de distância de Hermione. Um silêncio mortal abateu-se sobre o local, como se ambos esperassem apenas o passo do outro para atacar. Foi Hermione quem resolveu dar o primeiro passo:
- Expecto Patronum – Berrou, e uma lontra saiu, desesperada, de sua varinha, em direção à saída mais próxima daquele lugar.
Lúcio gargalhou novamente.
- Eu esperava mais do que uma lontra covarde de uma bruxa como você.
- Não sei se isso o desaponta – revidou Hermione – mas eu esperava justamente essa reação de um bruxo como você.
Lúcio conteve a gargalhada. Não entendeu o que ela quisera dizer. Mas não importava. Não era mais hora pra isso. Ele tinha algo a fazer. Sacou sua varinha, sacudiu-a vigorosamente e berrou:
- Incarcerous.
- Protego – Defendeu-se rapidamente Hermione, fazendo as cordas voarem longe.
- Bom, muito bom. – Falou Malfoy. – Vejo que terei de ser um pouco mais ... enérgico. Magia branca, afinal, nunca foi minha preferida.
Foi Hermione quem riu, então.
- Bem, Comensal da Morte desde a primeira ascensão do Lord das Trevas, uma passagem por Azkabam, livre de uma pena pior há dez anos pelo simples fato de ter abandonado Voldemort nos últimos momentos da guerra ... bem, acho que você não precisava ter dito nada. Você exala odor de magia negra.
- Como ousa, sua sangue ...
- Travalíngua – Hermione lançou o feitiço tão inesperadamente que Lúcio nem sequer conseguiu se defender, sendo atingido em cheio.
Embora Lúcio não pudesse mais lançar feitiços verbais, Hermione sabia o perigo que corria. Lúcio não era um bruxo subestimável. Não sabia o que esperar, não sabia o que fazer. Estava sozinha no Ministério àquela hora.
De repente, Lúcio sacudiu a varinha e conjurou um feitiço que Hermione conhecia bem. Um risco de chamas rochas veio em sua direção, e, na tentativa de se proteger, pulou para detrás da estátua mais próxima da fonte dos três irmãos mágicos, quase caindo na fonte. O feitiço atingiu o chão e deformou parte da madeira próxima .
Antes que Malfoy pudesse tentar atingí-la novamente, segurou sua varinha e enfeitiçou as estátuas:
- Piertotum locomotor.
As estátuas começaram a se mover, despertas de tantos anos de sono. Antes que Malfoy tentasse mais alguma coisa, Hermione ordenou, com um movimento de sua varinha, que o centauro imobilizasse Lúcio. O animal dourado avançou na direção deste, mas antes que pudesse cumprir sua tarefa, o louro o destruiu com um poderoso feitiço detonador. Sacudiu a varinha novamente e, num gesto de invulgar vigor, lançou longe todas as demais estátuas, que afundaram na madeira da parede direita e destruíram parcialmente algumas lareiras.
Hermione ficou sem reação. E Lúcio soube aproveitar esse momento. Apontou a varinha em sua direção e, sem dizer palavra, penetrou fundo sua mente. Legilimencia.
Oclumencia nunca fora seu ponto forte. Na verdade, Hermione nunca fora tão boa em defesa contra a arte das trevas quanto nas demais matérias em Hogwarts. Mas seu suplício durou pouco. Apenas alguns segundos após Lúcio invadir sua mente, das lareiras do lado esquerdo do hall, dezenas e dezenas de aurores chegavam pela rede de flu, dentre eles Harry, em seu comando. Ele recebera seu patrono mais rápido do que imaginara. "Comensal da Morte no Átrio". Bastante chamativo e providencialmente curto. Perfeito para o tempo que tivera para pensar em tudo. Não era a bruxa mais proficiente em arte das trevas mas nunca subestimava a magia branca.
Sua mente foi instantaneamente largada. Lúcio tinha outros problemas agora.
Hermione contemplava tudo caída no chão, a metros de distância da multidão de aurores, todos de varinhas à mão. Lúcio já estava de costas para si quando conseguiu firmar sua vista novamente. E parecia sem escapatória. Voltaria para Azkabam.
Mas não foi tão simples. Malfoy não teria corrido tanto risco à toa. Sem que qualquer auror pudesse esperar, girou a varinha discretamente e simplesmente desaparatou na frente de todos, deixando-os boquiabertos.
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