A Armadilha
- Granger, você tem que me prometer que não dirá nada para Potter ou Rony ou até mesmo o professor Dumbledore. Meu mestre jamais perdoaria se soubesse que eu o traí e a punição para traição é a morte para VOCÊ-SABE-QUEM.
- Oh, sim! Eu compreendo! – disse Hermione sarcástica – O seu mestre é tão benevolente e compassivo. E depois você me pergunta por que sou fiel a Harry Potter? Seu mestre não é muito melhor que Harry, é? Você vive falando que Harry jamais me visitou em Azkaban, mas por acaso, Voldemort visitou seu pai, alguma vez?
Draco ficou calado. Hermione achou melhor não provocar mais, esperava que ele compreendesse o que ela tencionava. Apesar de não gostar de Malfoy, Hermione queria ser capaz de convertê-lo para o bem. Draco só tinha as convicções que tinha porque seu pai o ensinara assim. Talvez, se Malfoy tivesse nascido noutra família, fosse um bom garoto, uma pessoa decente. Hermione rezava para que Draco tivesse, no fim, algo de bom, algo que o fizesse desistir de seus ideais deturpados.
No todo, Hermione sabia que, se as armações de Voldemort dessem certo, e ele assumisse o poder no mundo mágico, tudo iria mudar. Provavelmente haveria uma nova Inquisição, só que esta seria o inverso: haveria a caça aos trouxas que seriam “queimados em fogueira”, ou seja, eliminados via “Avada-Quedavra”, e mesmo os nascidos trouxas como ela, receberiam castigos severos. Se não fosse eliminada, Hermione viveria como uma escrava ou pior. Mas nem mesmo prevendo este futuro alternativo cruel para si, Hermione mudaria seus princípios. Ela seria para sempre fiel a Harry e tentando, mesmo errando certas vezes, ser uma pessoa melhor, boa e índole.
Pensando nisto, a idéia de vingança que tivera quando discutira com Harry simplesmente desvaneceu de sua mente. Sabia que deveria manter o que descobrira em segredo até provar a todo mundo de uma maneira que não envolvesse Draco para protegê-lo de uma rechaça, mas, por enquanto, Hermione não via como.
***************
Três dias passaram-se sem que Hermione tivesse concebido um plano. Ela estava treinando Oclumência todos os dias e estava conseguindo proteger sua mente com sucesso. Hermione também começou a testar a Legitimência. Hermione ainda estava proibida de utilizar sua varinha sem a presença de um professor, mas ela conseguiu dar um jeito nesta proibição. Todas as noites ela despejava pequenas proporções de poção do sono no leite da Professora Minerva que dormia tranqüila enquanto Hermione utilizava a varinha da professora para treinar os feitiços. Hermione sentia-se muito culpada por enganar a Macgonagal e ainda legitimentá-la enquanto dormia, mas sabia que era de máxima importância que dominasse esta técnica.
É claro, a professora sempre acordava um pouco enjoada e com dores de cabeça, muito desconfiada da aluna, mas como Hermione era, apesar de ser esforçada e brilhante, muito nova para conseguir ler mentes (como Minerva desconfiara), ela imaginava que era apenas uma má sensação, ou então que estava ficando doente.
Na quarta manhã enquanto Minerva descia para acompanhar Hermione até a aula de poções, chegou a comentar com Hermione que tivera um sonho muito estranho durante a noite. Hermione, é claro, fingiu-se inocentemente interessada.
Harry, Rony e Malfoy já estavam na sala quando ela entrou. Ela fez questão de olhar para os três: os três mereciam um bom castigo por desconfiarem dela, o único que ela indulgenciava era Rony, afinal, Gina era sua irmã.
Snape passou um feitiço que ninguém a não ser ela conseguiu executar. Como Snape estava muito mais simpático com Hermione depois que ela repelira Harry, o professor chamou a atenção de todos para a eficiência dela e até pediu que todos se reunissem ao redor de seu caldeirão.
- Vou dar cinco pontos a Grifinória. É uma pena que a senhoria não faça parte da Sonserina, Srta. Granger.
Hermione sentiu que Harry fizera uma careta ante o comentário de Snape.
Quando acabou a aula, Hermione foi a última a sair da sala. Quando cruzou o corredor, uma mão agarrou seu robe. Ela virou-se curiosa para encarar a face de Malfoy.
- O que é? – Hermione perguntou. Draco parecia agitado e nervoso.
- Eu preciso lhe dizer uma coisa! – Draco falou. Hermione percebeu que ele tremia.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? – Hermione perguntou.
Draco, muito desconfiado, puxou Hermione até uma sala vazia, olhando para ambos os lados.
- Fala, Draco, o que aconteceu? – Hermione indagou novamente, já nervosa.
- Você precisa fugir.
- O que?
- Você precisa fugir, Hermione.
- Não seja insano, Draco. Você sabe o que vai acontecer comigo se eu tentar qualquer coisa? Eu vou voltar para Azkaban.
- Você vai voltar para Azkaban de qualquer jeito se não fugir.
- Do que esta falando? Você está louco.
Draco aproximou-se. Hermione sabia que ele estava nervoso demais para estar só brincando, mas não entendia o que ele queria com aquilo. Ela sabia que se fugisse seria o fim para ela no mundo mágico. Ela jamais faria isso.
- Minha mãe escreveu-me uma carta contando que VOCÊ-SABE-QUEM tem um plano para acusar você do assassinato de outra pessoa.
- Isto é mentira, Malfoy! – Hermione replicou com impaciência. – Eu dominei a arte da Oclumencia e Lord Voldemort não pode invadir minha mente novamente, nem mesmo em sonho.
- Não é sua mente que ele vai invadir desta vez, e saiba que ele pode invadir a mente de mais uma pessoa, além de você, em Hogwarts.
- Harry? – Hermione perguntou, começando a sentir pavor dentro de si.
- É! – Draco confirmou – eu não sei direito o que vai acontecer, mas VOCÊ-SABE-QUEM vai colocar você como suspeita. Você vai terminar seus dias em Azkaban Hermione e ainda: uma pessoa vai morrer!
- Eu posso impedir! – Hermione falou, com confiança – eu posso impedir! Diga-me quem é?
- Eu não sei, Granger. E não creio que possa impedir. O lord das Trevas tem tudo planejado e você está dormindo noutro lugar, não?
- Mas eu posso sair durante a noite. Posso ir até a sala comunal da Grifinória tentar impedir.
- Talvez seja isto que VOCE-SABE-QUEM esteja pretendendo desde o inicio. Talvez seja por isto que minha mãe me escreveu. Ela não confiava em mim desde o episódio do assassinato dos teus pais. Achei esquisito que agora ela confie em mim, acho que talvez este seja o plano.
- Mas se eu não fizer isto, eu posso ficar no meu quarto sem nem me mover, não poderão me acusar se alguém...
- Alguém vai morrer... – Draco concluiu – Mas se você fugir, eu escrevo uma carta a minha mãe e o lord das trevas cancelará o plano e ninguém precisará morrer.
Hermione teve que concordar com Draco. Sabia que não poderia arriscar a vida de alguém. Ela sentou-se desolada tentando raciocinar: se fugisse seria o fim. Nunca mais veria a Harry, Rony ou qualquer pessoa do mundo mágico e jamais poderia ser o que seu coração mandava. Seria uma trouxa abandonada no mundo. Ela chorou pensando nesta perspectiva. Mas uma voz dentro dela, trouxe-a de volta a realidade: “não seja boba, Hermione. Você pode tentar provar sua inocência fora de Hogwarts”, disse a si mesma para animar-se.
- E então, Granger? – Draco perguntou.
- Tudo bem, você tem razão. Eu vou fugir. É bom mandar já esta carta. Só vou pegar umas coisas no meu quarto e tentarei a fuga em seguida. Minerva e Snape quase não me acompanham mais, será fácil fugir. – Era verdade. Tanto Minerva, quando Snape não a vigiavam com a mesma intensidade que no início. Mas seu coração doía em ter que abandonar Hogwarts, talvez para todo o sempre.
- Você tem dinheiro? Dinheiro de Trouxas? – Draco perguntou.
- Não. O inventário de meus pais ficou a cargo de Dumbledore que se tornou meu tutor perante a lei dos trouxas e não vou pedir a ele.
- Eu também não tenho. – Draco falou. Hermione por um instante imaginou que Malfoy parecia dissimulado. Não seria um plano de Draco para seduzi-la como tentava ultimamente? Não! Draco não sugeriria isto se não fosse realmente verdade. Malfoy não teria coragem de sacrificar a vida dela no mundo mágico. Teria? – Mas vamos combinar assim, Hermione. Você foge e nos encontramos no Três Vassouras hoje à noite às nove. Eu vou conseguir dinheiro com minha mãe e levo pra você.
- Será que eu posso confiar em você, Malfoy? – Hermione perguntou desconfiada.
Malfoy empalideceu.
- Estou tentando te ajudar. Eu te ajudei antes, não? – Draco perguntou, parecendo irritado.
- Sim... claro. Eu te devo minha vida. Mas saiba que... – Hermione tinha os olhos marejados de lágrimas e tentava usar um tom sério e urgente – se esta é uma brincadeira, Malfoy, saiba que vai destruir a minha vida no mundo mágico e eu não sei se quero viver longe de tudo isso, principalmente, sem meus pais.
Draco também marejou os olhos. Ele parecia ainda mais preocupado e nervoso.
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Já era perto das nove quando Hermione aproximou-se do Três Vassouras. Estava nevando muito, e o vento assolava a quem tentasse transitar nas ruas de Hogsmeade. Ela tinha um pesado casaco e levava uma pequena mochila com alguns pertences, mas não via a hora de finalmente encontrar um lugar para ficar, pois estava ficando muito cansada.
Sua fuga de Hogwarts não poderia ter sido mais fácil, mas imaginava que a esta hora, provavelmente Snape, Minerva e Dumbledore já estariam conscientes de seu misterioso desaparecimento, e isto não lhe dava muito tempo. Teria que encontrar Malfoy o mais rápido, pegar o dinheiro que ele prometera arranjar-lhe e partir em seguida, por isto Hermione apressou os passos e abriu a porta do pub com força.
O bar estava completamente vazio, nem Madame Rosmerta estava a vista o que era bastante suspeito. Hermione cerrou a porta atrás de si para impedir a nevasca de entrar e caminhou em direção ao balcão, o salto de suas botas fazendo um barulho aterrador.
- Alô? – disse em voz baixa, sem ninguém responder. Um pressentimento ruim cruzou seu corpo fazendo-a estremecer. Era uma armadilha. Tinha consciência disto como no dia em que seus pais morreram. Com o coração pulsando muito alto, mas alto do que ela desejava, Hermione girou nos calcanhares e correu em direção à porta, parando de chofre: à sua frente esta aquele a qual todos temiam, lord Voldemort.
Hermione gelou. Nunca o tinha visto, mas soube no mesmo momento que era Voldemort: um homem de avançada idade de aparência grotesca e olhos de fenda como uma cascavel.
- Então, finalmente, estou conhecendo a Srta. Hermione Granger.
- Voldemort! – Hermione balbulciou.
- Você é mais tola do que seu amigo Harry Potter, pronunciando o nome sem medo. – disse Voldemort numa voz sibilante e rouca.
- Deixe-me ir. – Hermione pediu, tentando controlar as batidas do coração.
O homem gargalhou a sua frente.
- Há muito tempo venho querendo colocar minhas mãos na melhor amiga de Harry Potter. Não vou deixá-la escapar agora que finalmente a tenho.
O homem ergueu uma varinha já muito velha e descascada. Hermione pensou que era o fim. Ele tentara matá-la uma vez através de Narcisa Malfoy. Com certeza não hesitaria em seu objetivo desta vez.
O segundo que Voldemort levou para erguer a varinha e lançar o feitiço em Hermione passou para ela como se fosse em câmera lenta: ela viu um flash de toda a sua vida, de tudo o que passara em Hogwarts, de como fora feliz mesmo apesar das muitas aventuras e desventuras que sofrera ao lado de Harry Potter, e depois de tudo só o que podia fazer era rezar para que pudesse ver seu amigo uma última vez, culpando-se por cair numa armadilha que custaria muito mais do que sua vida. Sua estupidez poderia custar a vida de Harry Potter, se ele tentasse salvá-la, e, por conseqüência, de toda a comunidade bruxa. Se Harry Potter caísse, Voldemort ascenderia a rei no mundo mágico.
Da ponta da varinha de Voldemort saiu um jato de luz vermelha que a atingiu diretamente no peito. Mesmo lutando para manter-se consciente Hermione não conseguiu resistir à dor que se espalhou por todo o seu corpo e sucumbiu à escuridão, tombando com estrondo no chão frio do Três Vassouras.
Eram nove horas em ponto...
Comentários (1)
O Draco mentiu pra ela... Que horror!
2013-10-05