A Prisioneira
Hermione ergueu os pés para que as pontas dos dedos das mãos alcançassem os primeiros raios de sol que invadiam sua cela pela mínima janela. O calor irradiava por todo seu corpo aquecendo-a após uma noite gélida.
O dia em Azkaban era terrível, mas suportável. Era uma prisão horrível, fétida, suja, escura e muito pouco confortável (Hermione era obrigada a dormir sobre um catre duro e mofado), no entanto, quando surgia a escuridão tudo ficava intensamente pior: durante o dia, talvez pela influencia da claridade, os dementadores faziam pouquíssimas rondas pelos corredores mal iluminados, mas durante a noite, as rondas eram intensificadas e vez ou outra, algum dementador entrava em sua cela e tentava absorver o pouco que lhe restava de energia.
E cada vez que um dementador estava por perto, mesmo que somente nos corredores, todos os pensamentos ruins que Hermione conseguia evitar durante o dia, vinham à tona durante a noite. Ela era freqüentemente assaltada por más recordações: a morte de Cedrico, a morte de Sirius, a morte de seus pais, a morte de Gina e por fim, a acusação de Harry em seu julgamento. Quando finalmente amanhecia, Hermione sentia aparecer em seu rosto uma marca mais profunda de olheiras, os primeiros sulcos sobre a face, o desgrenho no cabelo denotando sua infelicidade. Ela tentava sobreviver como podia, tentava pensar em coisas boas, mas não estava sendo fácil. Depois de um mês naquela prisão, Hermione finalmente estava sendo vencida.
Hermione escutou os passos de alguém que se aproximava no corredor. Sabia que não poderia ser um dementador, já que eles costumavam deslizar. Imaginava que talvez fosse Macgonagal, a única pessoa que a visitara na prisão, e Hermione agradecia a Deus por isso. Esperou ansiosa que a porta se abrisse, mas, quando a porta finalmente girou, uma figura, que Hermione esperava nunca mais encontrar, apareceu a sua frente.
- Malfoy!
- Sim, eu! Eu mesmo minha querida Granger.
Draco deu um passo à frente. Por um secundo Hermione achou que ele tentaria beijá-la novamente e retrocedeu assustada.
- Ora, acalme-se, Granger. Não vim aqui violentá-la. Só vim checar como você está. – Draco olhou em volta, demorando-se sobre o catre, para depois observar suas roupas: um uniforme de cor marrom. Hermione tentou desamassar em vão a blusa que lhe caia mais como uma camisola, enrubescendo de vergonha. – Granger, Granger. O que fizeram com você? Onde estão os seus amigos agora?
Draco tocou em seu ponto sensível. Ela jamais recebera a visita de Rony ou Harry e por mais que tentasse compreender, estava muito magoada com este comportamento, sentindo-se escorraçada pelas únicas pessoas que lhe sobraram no mundo depois da morte de seus pais.
- Você veio aqui para me provocar? – Hermione perguntou, tentando mudar rapidamente de assunto. Por mais que estivesse fragilizada, não demonstraria a Malfoy.
- Eu não seria tão ingrato, Granger. Você sempre ficou do lado do Potterzinho herói dos sangues-ruins e trouxas nojentos. E onde está agora? Eu tenho te vigiado e sei que ele não veio te visitar.
Hermione ficou calada. Tentou, com todas as forças, manter sua aparência impassível e calma.
- Você sempre o amou não é? Eu noto há anos, o modo como você o olha, como você o admira. E o que Harry Potter fez para você depois de tanta lealdade, Granger?
- Harry sempre me ajudou, Harry sempre...
Hermione não conseguiu terminar de falar. Os olhos ficaram úmidos, os lábios começaram a tremer, os pensamentos ruins começaram a assolá-la novamente. Imaginava se um dementador estivesse passando pelo corredor agora, mas sabia que, na verdade, estava sofrendo tanto que já não conseguia conter seus sentimentos.
Ela titubeou, achou que fosse desmaiar, mas Malfoy a amparou antes mesmo que ela se sentasse.
Ele passou a mão pela sua cintura, envolvendo-a em seus braços e a beijou. No entanto, diferentemente da ultima vez que se beijaram, Hermione não cedeu aos desejos. O beijo de Malfoy não era o beijo que ela queria. Seus lábios sobre os dela não tinham o gosto que o sorriso de Harry tinha para ela. Sabia que não merecia mais o sorriso de Harry, nem seus abraços, nem a sua companhia, mas morreria desejando o único que fazia sua vida ter sentido.
Malfoy sentiu que Hermione não se envolvera em seu beijo. Ele afastou a cabeça de modo que, mesmo ainda muito próximos, os dois pudessem se olhar. Ele viu nos olhos de Hermione que ela precisava ficar sozinha. Normalmente ele não costumava ser gentil com os outros, mas ultimamente estava propenso a ceder às vontades de Hermione. E, depois de ser rejeitado como agora, era melhor mesmo ir embora, mas não deixaria barato:
- Ah, minha adorável prisioneira... eu queria ser o homem para o qual você dedica toda esta lealdade. – Ele disse, ironizando de uma maneira que a magoasse profundamente. Ele fazia pequenos cachos nos cabelos agora opacos e desgrenhados dela, muito diferente de como outrora foram.
Ah, se fosse Harry! Ela daria tudo o que pudesse para estar nos braços de Harry àquela hora, sendo acariciada gentilmente como Draco fazia.
Ele afastou-se por fim, ao ver que nada produzia em Hermione o efeito que desejava. Mas antes de deixar sua cela, cerrando a porta, tentou-a uma ultima vez:
- Se um dia, você quiser mudar de lado, minha cara, eu estarei esperando por você de braços abertos, não serei ingrato como Potter.
Quando Hermione enfim escutou os passos de Draco se afastarem, se entregou às lágrimas: Ela esperava dia após dia a visita de alguém amigo. Agradecia a Deus pelas visitas de Macgonagal que sempre lhe trazia uma palavra de amizade, mas quem ela realmente queria ver, nem de perto a queria. Por mais que Hermione tentasse compreender a atitude de Harry, ela não conseguia. Entendia a gravidade da situação, afinal nem mesmo ela podia provar que não assassinara Gina deliberadamente, mas ela esperava o apoio de Harry. Ela lembrava-se do que ele lhe dissera: “você pode confiar em mim”. Ela confiava nele, mas não encontrou reciprocidade.
As palavras de Malfoy doeram fundo em seu coração: “E o que Harry Potter fez para você depois de tanta lealdade, Granger?”. Quando ela era leal a Harry, não era esperando algo em troca, mas sim por que acreditava em seu amigo e em suas convicções. Sabia que ele precisava dela e ela precisava estar presente. Foi por este motivo que durante todos estes anos que passaram juntos, jamais revelou seus sentimentos. Ela precisava estar ao seu lado lealmente, e abrir seu coração poderia colocar em risco a amizade sempre baseada na confiança que havia entre eles. Apesar desta doação que Hermione sempre fez sem esperar nada em troca, ela tinha consigo um nó que não podia tirar de sua mente. Ela sempre ficara do seu lado, mesmo quando todos o abandonaram. Lembrava-se quando, no tornei tribruxo, até mesmo Rony ficara contra ele, mas ela não. Ela ficou firme e forte do seu lado por que confiou em sua palavra, mesmo quando tudo depunha contra ele. Por que Harry não poderia ser assim com ela também? Sabia que tudo estava contra ela, mas, conhecendo-a como ele a conhecia, ele deveria ser o primeiro a duvidar de um ato que Hermione não sabia ser capaz: matar uma pessoa. Então porque ele primeiro agiu como se a compreendesse, como que querendo elucidar os fatos e depois, a acusou de maneira tão irascível?
***************
O mês que Hermione passaria em Azkaban estendeu-se por mais duas semanas por ordem do Ministro da Magia até que Dumbledore, depois de dar uma serie de justificativas, conseguiu uma liminar para libertá-la. Quando o diretor, acompanhado da professora Minerva e do professor Snape, veio buscá-la com a boa novidade, Hermione não conseguiu conter as lágrimas de felicidade: “finalmente estava livre, e o melhor, voltaria para Hogwarts”. No entanto, por mais que este pensamento a alegrasse, não podia sentir uma pontada de medo: logo, ela veria Rony, Harry e Malfoy novamente, as três pessoas que menos queria ver no mundo.
Para sua surpresa, Hermione foi isolada dos outros alunos, numa das torres e era constantemente vigiada por algum professor a mando de Dumbledore. Ela só descia para acompanhar as aulas, mas como era a ultima a chegar na sala e a primeira a sair, conseguiu manter a faceta de não olhar para os lados, embora sentisse que estava sendo observada o tempo todo, não se atrevia em olhar para onde Harry e Rony estavam.
No primeiro dia que teve aula depois de seu retorno, enquanto cruzava um corredor na companhia do professor Snape, um aluno da grifinória que Hermione sabia se tratar de Colin Creevey, agrediu-lhe verbalmente com um grito que parecia muito lembrar: “Assassina nojenta!”. Apesar disto, ela continuou sem se abalar. Esta era a primeira, mas não a última agressão, mas, agora que estava parcialmente livre, tinha a chance de tentar provar sua inocência ou culpa. Aproveitou um dos turnos com a professora Macgonagal para ir a Biblioteca. Ela foi direto para a seção de Legitimencia e Oclumencia, mas escondida num dos corredores, observou que numa mesinha distante estavam alguns alunos da sonserina e entre eles, Malfoy.
Aproveitou que a professora Minerva estava falando com Madame Pincey para tentar se aproximar da mesa onde eles conversavam animadamente. Quando chegou o mais perto sem ser vista, conseguiu escutar:
- É claro que não gosto da Granger – Malfoy discutia com Buldstrode – É apenas um plano do meu pai e da minha mãe. Você acha mesmo que eu iria me apaixonar por uma sangue-ruim nojenta?
Hermione não disfarçou mais: saiu de trás da estante, agitada e fazendo um rebuliço para ter certeza de que Malfoy a vira. Quando ela saia da Biblioteca olhou uma ultima vez para trás e o que viu a deixou mais confusa do que já estava: Draco tinha uma expressão indecifrável no rosto, não sabia dizer o que era, mas podia jurar que o que via nos olhos dele era mesmo paixão.
Comentários (1)
OMG! Perfeito!
2013-10-05