Senso de Honra
OS OLHOS de Gina estavam pesados das lágrimas contidas, por tudo o que tinha vivido, e por tudo o que nunca viveria. Seu futuro com Harry estava acabado, destruído por uma mulher que todos julgavam morta.
Quando Gina perguntou a Harry o que pretendia fazer, ele meramente meneou a cabeça.
— Quero ficar sozinho.
Viu nos olhos dele que Harry não a queria por perto. O velho vazio retornou em seu rosto, a máscara de indiferença. Estava sofrendo tanto quanto Gina e já começava a se afastar.
Se Cho estivesse viva Harry iria atrás dela. Repararia qualquer diferença entre eles. E Gina... Seria descartada.
O medo dela se dissipou, substituído pela raiva. Sentia uma fúria incalculável da mulher que roubava sua segunda chance de felicidade.
Gina pegou a capa e o manto, precisava sair. Os guardas tentaram bloquear seu caminho, mas ela os ignorou. Deixava a fúria consumi-la, assumir controle total.
Colin tentou detê-la, mas ela o repeliu.
— Ouvi tudo — ele murmurou. — Você esta bem?
— Não. — Gina segurava o choro. — Por favor, Colin, preciso sair. Deixe-me cavalgar... preciso de algum tempo para chorar.
Colin sinalizou para que trouxessem um cavalo.
— Ele não vai querer que você saia.
— Ele não se importa mais comigo — ela disse cansada. — Tudo o que importa é Cho estar viva. Ele só pensa nela.
— Não é verdade. Ele se importa com você — disse Colin.
— Não se importa o bastante — murmurou Gina. Seu coração sabia que se Harry tivesse escolha, sempre escolheria Cho. Tudo por causa de seu senso de honra, apesar de seus sentimentos.
Colin a ajudou a montar e Gina incitou o cavalo a andar. Colin convenceu os guardas do portão a Ihe darem passagem e logo ela estava cavalgando pela neve, os cabelos flutuando atrás dela.
O vento gelado a congelava até os ossos, mas Gina nada sentia. Cavalgava rápido, observando o cenário desaparecendo borrado sob os cascos da égua. O céu cinzento estava repleto de flocos de neve, refletindo as lágrimas presas em seu coração. O sol se escondia na escuridão das sombras, desaparecendo no horizonte sob o abraço da noite.
Gina alcançou o bosque que Harry Ihe mostrara na manhã anterior. Ela reduziu o passo da égua e desmontou, andando em direção ao círculo de pedra. A cada passo, seu coração se partia em mais um pedaço. Gina encostou o rosto no monólito maior, sua aspereza estranhamente calmante.
Caiu de joelhos, a neve úmida ensopando seu vestido. Gina chorou por Harry e por todos os anos que não passariam juntos.
Mas, acima de tudo, chorava por ele sequer ter considerado mantê-la como esposa.
QUANDO ELA voltou mais tarde, encontrou Harry no quarto deles. O baú de Cho estava aberto e ele segurava o retalho de linho nas mãos, aquele que pertencera à mãe e filha.
Gina deu um passo na direção dele.
— Harry — disse baixinho. — E se... e se Pomfrey estiver enganada? Se nada disso for verdade?
— É verdade — ele assegurou. — E acho que você sabe tão bem disso quanto eu.
— Não entendo por que ela o deixou — ela murmurou. Porque Harry era o homem que ela amava. Ficava devastada por ver a dor bruta em seus olhos. Envolveu-lhe o pescoço com os braços, mas ele não a abraçou. As mãos permaneceram ao lado do corpo.
— Pelas mesmas razões que você deixou Draco. Sabia que ele viria atrás de você, não importa o que acontecesse. — A voz dele soava áspera e os olhos estavam baixos. — Ela preferiu fugir a me enfrentar.
— Você não é Draco — ela disse. — Não pense em se comparar com ele.
— Sou assim tão diferente? — perguntou Harry. — Eu queria matar os homens que a tomaram de mim. Se eu tivesse descoberto que ela amava Diggory, nem sei dizer o que teria feito com ele.
— E o que vai ser de nós? — ela perguntou baixinho. Gina tentou segurar a mão dele, mas Harry se afastou. O gesto fez o coração dela se despedaçar mais.
— Não há mais casamento entre nós — ele afirmou. — Você deve voltar para a casa de seus pais.
Ele a estava dispensando. Gina esqueceu o orgulho e disse o que pensava.
— Se você se divorciar formalmente de Cho, poderíamos casar novamente.
Harry meneou a cabeça devagar.
— Preciso encontrá-la — ele disse. — E quando a encontrar, eu a trarei de volta para Grifinória.
— E se ela não quiser vir?
Ele curvou os ombros.
— Não sei o que ela dirá. Dois anos se passaram. Muitas coisas mudaram.
— Você ainda a ama?
Harry hesitou, a piedade enchendo-lhe os olhos.
— Não sei o que sinto por ela.
Gina se virou para que ele não visse suas lágrimas. Por que foi se importar com ele? Por que precisava sofrer tanto?
Ela respirou fundo e se controlou.
— E Godric?
— Viveremos em Hogwarts até a questão ser resolvida nos tribunais. — Harry desviou o olhar por um momento. — Talvez seu pai aceite me vender as terras.
Gina queria discutir, mas de que adiantaria? Fechou os olhos, desejando de alguma forma poder desfazer os eventos daquele dia.
— Ainda me importo com você — ela murmurou. — Apesar de tudo. As palavras dela eram como uma faca no coração de Harry, pois também a queria. Mas não podia tê-la. Estava casado com Cho, os momentos passados com Gina não representavam nada além de pecado.
Não podia dizer nada. Responder a Gina só traria mais dor para ambos.
— Foi um longo dia para nós dois — ele disse. — Você deveria dormir.
— Onde? — gaguejou Gina. O olhar dela procurou a cama, onde naquela manhã estiveram deitados nos braços um do outro, pele contra pele.
— Não importa. Dormirei lá embaixo com meus homens.
— Mas... — Gina estendeu a mão para tocá-lo.
Ele recuou.
— Não vê, Gina? Você não é mais minha esposa. Está acabado entre nós.
Sem olhar para trás, Harry fechou a porta ao sair, deixando-a sozinha. Esperou alguns instantes, então ouviu o som de lágrimas. Seus olhos ardiam, mas não havia nada que pudesse ser feito.
Harry encostou as costas na porta, a cabeça baixa. Embora não derramasse lágrimas, não sofria menos do que ela. A única maneira de reparar seu pecado seria trazer a esposa para casa e tentar fazê-la feliz.
E não veria Gina outra vez.
HARRY SE levantou ao amanhecer, empacotando apenas o básico para levar consigo. Fez o desjejum no silêncio da manhã e parou apenas para acordar Colin, sacudindo o garoto em sua cama.
Colin se espreguiçou, alongando os músculos.
— O que é? — ele resmungou, bocejando.
— Estou partindo para a Lufalufa. Quero que chame Neville. Vocês dois cuidarão de Godric e de Gina enquanto eu estiver fora.
— Vai atrás dela, não é? — O olhar de desgosto do irmão revelava sua opinião quanto ao assunto. — Não sei por que não fica com Gina. Gosto dela. E a comida dela e melhor. — Colin fez cara zangada, esfregando os olhos.
Harry meneou a cabeça exasperado. Colin sempre estava pensando no estômago.
— Se Cho estiver viva, preciso encontrá-la. Ela pertence a este lugar.
— Ela não quis ficar aqui — retrucou Colin.
Harry sabia disso, mas precisaria convencê-la do contrário. A culpa o atormentava por ter desonrado a primeira esposa. Tinha compartilhado as intimidades do casamento com outra mulher. O destino atendeu ao seu desejo, ter a esposa viva novamente. Não tinha escolha senão trazê-la de volta.
Contudo, Colin tinha razão. Harry não sabia como convenceria Cho a voltar se ela havia partido por vontade própria.
— Se eu não voltar em uma semana, mande Ronald para a fronteira do Corvinal. Ele saberá o que fazer se eu for mantido prisioneiro.
— Está indo sozinho? — Colin encarava o irmão como se este agora tivesse duas cabeças. — Não pode ir sozinho!
— Não posso levar um exercito comigo — disse Harry. — O barão não vai desistir de Cho sem uma luta. E não vejo razão para começar uma guerra se eu conseguir convencê-la a voltar. Pretendo me disfarçar de plebeu. Terei mais liberdade para observar o castelo.
— É perigoso. E se ela o trair? — perguntou Colin.
Harry vestiu a capa e o manto.
— Só posso esperar que ela não faca isso.
Mas o comentário de Colin o deixou abalado. Teria Cho os traído naquela primeira batalha contra os sonserinos? Tinham conseguido fazer o inimigo recuar, mas a grande custo.
Harry sabia que era um risco, mas precisava fazer isso. Acima de tudo, precisava saber se ela ainda estava viva. Nos últimos dois anos, sonhara em apertar a esposa nos braços novamente, e amá-la.
Não sabia se ainda a amava Ambos tinham sido infiéis, embora a infidelidade dele não tivesse sido intencional. O que diria quando voltasse a encontrá-la? Um peso se apossou de seu coração. Devia estar se sentindo radiante de alegria. No entanto, sentia tristeza por seu casamento com Gina ter terminado.
Aquele casamento nunca foi verdadeiro, agora sabia. Mas era como se fosse. Harry adorava ver Gina acordar de manhã, espreguiçando-se e tentando roubar seu cobertor. Nunca mais teria isso novamente.
Harry olhou para a escada, sabendo que Gina dormia lá em cima. Melhor partir sem se despedir. Enfrentaria seu futuro incerto sem a recordação de olhar para ela uma última vez.
O ar do inverno estava gelado, tomado pelo pungente aroma da fumaça de turfa. Seu corcel estava selado e carregado com os suprimentos que requisitara.
— Onde ficará antes da travessia? — perguntou Colin.
— Com os Dursleys — respondeu. Seu irmão Dudley fora criado pela família, e os primos de sua mãe moravam em Corvinal.
As terras de Diggory ficavam um pouco além da fronteira de Corvinal, seria mais seguro seguir viagem para o norte pela costa antes de atravessar as águas até a Lufalufa.
— O que devo dizer a Gina? — Colin olhou para cima. — Ela ficará zangada com você.
— Diga-lhe o que quiser. Mas a mantenha aqui, faça ela o que fizer. Mande mensagem para que os pais venham para levá-la para casa.
— Esta é a casa dela — argumentou Colin.
Harry não respondeu, apenas montou no cavalo. Nem um único floco de neve caia do claro céu azul. O chão frio rachava sob os cascos do cavalo, transformado em gelo após a chuva da noite anterior.
— Fique com Deus — disse Colin.
— E você também. — Harry disparou com o corcel pelos portões, rumando para o norte na direção de Corvinal, onde faria a travessia para Lufalufa. Enquanto Godric ficava mais distante, ele tentava não pensar em Gina.
— ELE VAI me matar — comentou Colin quando as terras de Corvinal surgiram à vista. — Prometi que a manteria em Godric.
— Você prometeu me proteger — disse Gina. — E não poderia fazer isso se estivesse viajando sozinha.
Quando Gina acordou e descobriu que Harry havia partido, decidiu que não seria deixada para trás. Enquanto não visse Cho com seus próprios olhos, tentaria manter seu casamento. Cho talvez não estivesse viva, mesmo que ainda se encontrasse no verão passado. E Gina precisava se agarrar às esperanças, pois não tinha mais nada, além disso.
Durante várias noites, viajaram para o norte, com Colin protestando a cada passo da jornada. Mas ele a manteve segura e agora Gina enfrentaria a ira de Harry por ter desobedecido suas ordens.
Colin cumprimentou os homens guardando a entrada da fortaleza de Corvinal. Os guardas Ihes permitiram passagem, e Colin ajudou Gina a desmontar.
— Cuidarei dos cavalos enquanto você procura por ele.
— Covarde — retrucou Gina. Mas também sentia um frio no estômago. Não sabia o que Harry diria quando a visse.
— Sim. Mas prefiro ficar longe do alcance dos punhos dele.
— Harry não bateria em você.
— Coloquei você em perigo, acho que ele nem hesitaria. — Colin olhou para a entrada da casa e segurou as rédeas. — Deixo você com ele.
Gina endireitou os ombros. Havia repassado todos os argumentos até ter certeza de que poderia apresentar suas razões com lógica.
Uma mulher de bochechas rosadas, pesada por estar grávida, a cumprimentou com um sorriso.
— Procuro por Harry — disse Gina, tirando a capa.
— Ele está jantando com meu marido. Sou Rowena Ravenclaw — disse a mulher. — Que nome devo anunciar a ele?
— Diga que sua esposa Gina esta aqui.
Rowena parecia surpresa, mas escondeu isso com outro sorriso.
— Venha jantar conosco. Mandarei Colin se juntar a vocês quando terminar com os cavalos.
Gina seguiu Rowena até uma sala cheia de gente, onde uma harpista tocava uma animada canção. Pratos de comida eram servidos e tochas brilhavam alegremente nas arandelas presas nas paredes.
Quando Harry a viu, Gina concluiu que Colin podia estar certo. Ele tinha um ar assassino nos olhos.
Mesmo assim, Gina o encarou. Tinha chegado ate ali, então Harry teria que escutá-la. Ele não disse nada, apenas segurou-a pelo ombro com um forte aperto. Com um sorriso para seus anfitriões, praticamente a arrastou para um canto da sala.
— Não deveria estar aqui, Gina.
— Nem você — ela retrucou, surpresa com a raiva que inesperadamente sentia. — Sim, Cho o deixou. Não é o corpo dela que está ao lado do de sua filha. Mas isto é tudo que você sabe. Talvez ela não esteja com Diggory. Talvez tudo isso não sirva de nada.
— Preciso saber — ele disse. — E farei isso sozinho.
— Não — ela disse. — Enquanto eu mesma não vir essa mulher, você ainda é meu marido.
A mulher tímida que ele conhecera tinha desaparecido e em seu lugar estava uma esposa indignada. Harry escondeu o sorriso antes que este surgisse em seus lábios.
— Sou?
— Sim, você é. — Gina segurou as mãos dele, a voz quase um sussurro. — E não desistirei de meus últimos dias com você.
A mão de Harry Ihe tocou o rosto, o desejo surgindo dentro dele. Deus! Como queria não ter que fazer esta jornada. Desejava esquecer o testemunho de Pomfrey. Se não fosse verdade, poderia levar sua esposa para cima e fazer amor com ela até o amanhecer.
Contudo, por causa da revelação, Harry não tinha escolha. Quebrara seus votos de casamento e não tinha o direito de tocar ou estar com Gina.
Mas Cho quebrara os votos primeiro.
Harry tentou ignorar o argumento. Não podia se esquecer de sua honra, apesar do que a esposa tinha feito. Continuaria leal a Cho, apesar de seu desejo por Gina.
Mais tarde naquela noite, quando ficaram sozinhos, uma única cama os esperava. Harry ficaria no chão e deixaria Gina dormir na cama.
— O que esta fazendo? — ela perguntou, quando Harry esticou a capa no chão.
— Pretendo dormir. — Ele tirou as botas e tentou fazer da capa uma cama.
Gina veio se sentar ao lado dele no chão.
— Não seja tolo. Pode dividir a cama comigo. Prometo não seduzi-lo.
Ele a olhou desconfiado.
— Duvido que não tente.
Gina riu, a tensão entre eles aliviada.
— Harry, apenas por esta noite, vamos esquecer o amanhã. Durma a meu lado. Não há pecado nisso.
Não, mas era um tormento pensar em deitar ao lado dela sem poder tocá-la. Desejava tomá-la nos braços, saborear a doçura de sua pele mais uma vez. Uma última vez.
Harry fechou os olhos, lutando contra a tentação. De qualquer maneira, não conseguiria mesmo dormir naquela noite.
Gina tomou a decisão por ele, afastando as cobertas e deitando-se em uma das pontas da cama. Fechou os olhos, virando-se de costas para ele. Harry segurou um gemido ao ver a pele nua. Deitou-se ao lado dela, ainda vestindo a calça, o colchão de palha estalando com seu peso.
— Boa noite — ela murmurou.
— Para você também — ele respondeu. O corpo de Gina estava a centímetros do dele. Quando ela se movia, a pele resvalava na dele. Harry ficou imediatamente excitado, então se deitou de costas, olhando para o teto.
Contava mentalmente, não querendo ceder ao desejo. O perfume de lavanda o atormentava, então ele fechou os olhos, tentando ignorá-lo.
Horas se passaram e Harry não conseguia parar de pensar na jornada. Será que Cho queria vê-lo? Será que revelaria sua identidade ao barão? O estômago dele se apertava de tensão. Admitia a si mesmo que não queria ir. Desejava nunca ter descoberto a verdade.
Olhou para Gina. Os ombros dela subiam e desciam no sono, os cabelos vermelhos espalhados sobre o travesseiro.
Harry acreditava na santidade do matrimonio, acreditava em seus votos. E por causa desses votos teria que sacrificar a própria felicidade e retornar para Cho. Ele a amara uma vez; aprenderia a amá-la novamente.
Seu peito ficou pesado ao pensar em deixar Gina. Não poderia levá-la com ele, não suportaria ver sua tristeza quando levasse Cho para casa. Havia um convento perto de Corvinal. Ali os dois se despediriam. Mandaria uma mensagem para que os pais viessem buscá-la.
Na escuridão, Gina se virou e escondeu os pés frios entre as coxas dele.
— Minha nossa! — ele suspirou. Primeiro pensou em afastá-la. Depois percebeu que aquela seria a última noite que teriam juntos. Nunca mais poderia tocar em Gina.
Esticando as mãos, começou a esfregar os pés dela para que esquentassem. Primeiro um, depois outro. Gina nem se mexeu, mas quando os pés dela estavam mais quentes, Harry a puxou para perto.
Pondo os braços ao redor dela, finalmente caiu num sono desprovido de sonhos.
COLIN SE inclinou sobre a sela. O sol já quase alcançara seu zênite no céu de inverno, seu estômago roncava. Harry havia partido no meio da manhã, ordenando que Colin voltasse para casa sozinho.
Ele impelia o cavalo, desfrutando da velocidade, ainda ressentido com as ordens do irmão. Quando Harry aprenderia a ter fé nele? Colin passava horas treinando todos os dias para se tornar um forte lutador. Estava melhorando. Mas isso nunca bastaria para Harry.
Às suas costas, ouviu o som de cavalos se aproximando. Colin observou o horizonte, mas não havia nenhuma árvore que pudesse Ihe oferecer proteção. Ali no descampado, era um alvo fácil. Precisava ficar calmo e controlado. Olhando para trás, viu um pequeno grupo de cavaleiros, sonserinos a julgar pela aparência. Reconheceu as armaduras e, quando eles se aproximaram, foi mais difícil manter as emoções sob controle.
Eram os homens de Sir Draco. O próprio Malfoy cavalgava um corcel castanho, equipado com uma elaborada armadura. Colin esperava que passassem direto, mas logo ficou claro que pretendiam cercá-lo.
Colin respirou fundo. Recitou mentalmente uma oração, deixando que as palavras o distraíssem do desejo de fugir. Os soldados surgiram na frente dele e o forçaram a parar. Colin baixou a cabeça.
— O mais novo dos Potter, não é? — perguntou Malfoy. Ele parou o cavalo ao lado de Colin. — E o mandaram para casa.
Colin não respondeu, apenas fingiu que Malfoy não estava ali. Tentou se lembrar de como contar, mas a espada apontada em sua garganta tornava isso impossível.
— Para onde estão indo?
Colin permaneceu imóvel, o pânico se avolumando na garganta. Aqueles homens o torturariam se não falasse. Mas como poderia trair o irmão e Gina? Já tinha falhado com Harry uma vez, fazendo com que ambos fossem capturados por causa de sua covardia.
Não deixaria que isso acontecesse pela segunda vez.
A espada Ihe rasgou a pele, Colin sentiu o calor úmido do sangue. Um ruído Ihe invadiu os ouvidos, a visão falhava.
— Não Ihe direi nada.
Rezou para ter coragem para suportar o que Malfoy planejava.
— Estão viajando sozinhos — comentou Malfoy. — Que curioso. Por que não levariam uma escolta? A não ser que não queiram ser notados. — A voz do homem era macia, escorregadia.
Colin tentou sacar a espada, mas Malfoy Ihe torceu o braço. O cavaleiro puxou uma adaga e correu a lâmina pela palma da mão de Colin.
— Para onde estão indo, garoto?
Os Potter são os maiores guerreiros de Grifinória. Eles nunca se rendem. A coragem deles e lendária.
Mas quando a adaga de Malfoy escavou sua pele, Colin só conseguiu dizer "Lufalufa" antes que a escuridão o reclamasse.
— NAO O deixarei — disse Gina, assim que chegaram próximo do convento. — Se pensa que ficarei num convento enquanto você vai atrás de Cho, está muito enganado.
— Não a levarei comigo — ele disse, fazendo os cavalos pararem. — Já está decidido.
— Se não me levar, eu o seguirei outra vez. — Gina permanecia ereta sobre a sela. Homem teimoso. Gina sabia que havia uma grande chance de Cho estar viva. Mas ainda tinha uma pequena esperança. E pretendia se agarrar a ela, rezando para que de alguma forma conseguisse salvar seu frágil casamento.
Gina virou o cavalo na direção da costa. Harry se emparelhou com ela, raiva e preocupação evidentes no rosto.
— Gina, obedeça minha ordem.
Ele não a deixaria ir. Ela já sabia. Com um suspiro, parou para enfrentar a raiva dele.
— Harry, escute-me. — Gina baixou a voz, abrandando o tom. — Coloque-se em meu lugar por um instante. Se Draco ainda estivesse aqui, deixaria que eu fosse enfrentá-lo sozinha?
— Não e a mesma coisa
— É sim. Você sentiria medo por mim porque sabe como ele é. Assim como eu temo por sua segurança. O que o faz acreditar que Diggory o deixara partir? Se ele apanhá-lo, será a sua morte. Se eu estiver com você, ao menos poderei buscar ajuda. Ir sozinho é loucura.
Gina percebeu que ele começava a considerar a idéia, então insistiu mais.
— Se ela estiver viva, eu... eu ficarei só até saber que vocês ficarão a salvo. Depois partirei. Prometo.
As garras do ciúme apertavam o coração de Gina, pois sabia que Harry se esqueceria dela assim que visse a esposa. Qualquer sentimento que tivesse por ela se evaporaria feito fumaça quando colocasse os olhos em Cho.
Gina queria lutar por ele, fazer com que Harry a amasse. Mas sua única escolha era partir, deixá-lo. Sentia o coração sangrar só de pensar que nunca mais o veria.
Gostando ou não, já tinha perdido o marido. Harry estava determinado a esquecê-la para procurar Cho. E, embora isso fosse como um cravar uma espada em sua alma, deixaria que ele se fosse para ser feliz ao lado de Cho.
No entanto, Gina tinha um consolo. Uma pequena semente de esperança. Suas regras estavam atrasadas, talvez estivesse grávida. Ela rezava desesperadamente para que isso fosse verdade, pois assim poderia ter uma parte dele. Mas não contaria a Harry, não até ter certeza.
— Não quero magoá-la, meu coração — ele disse. — E não quero colocá-la em perigo.
— Corro mais perigo sozinha do que com você — ela disse. — Nada de mal me acontecera se eu estiver sob sua proteção.
A fé que Gina tinha nele desarmava sua resolução. Embora não quisesse ver a tristeza no rosto dela, compreendia suas razões. Era a mesma necessidade que ele tinha de ver Cho, descobrir se ainda estava viva.
Com um suspiro, ele assentiu.
— Está bem. Pode vir comigo.
Rumaram até a costa para fazer a travessia. O céu estava tomado por nuvens escuras, lançando sombras nas águas. Em poucos dias alcançariam o castelo de Diggory e descobririam a verdade.
Harry fixou o olhar no horizonte, onde a costa de Corvinal em breve apareceria. Além da fronteira estavam as resposta que ele procurava. Limpou a mente de qualquer pensamento, fortalecendo a si mesmo para o que estava por vir.
AS TERRAS do barão Diggory equivaliam às de Hogwarts em magnitude. A fortaleza ficava no topo de um morro, elevando-se acima dos pátios circundantes. As construções eram feitas de madeira, cobertas por gesso, salvo as vigas que sustentavam as estruturas. Rodeavam a fortaleza no padrão circular, e o castelo ostentava duas paliçadas de proteção.
Harry se vestira como plebeu, e Gina fizera o mesmo, colocando um vestido marrom e cobrindo a cabeça. Ele carregava a espada amarrada por baixo da túnica o punho escondido pelo capuz. Se necessário, poderia levar a mão às costas e puxá-la. Entrariam no castelo comportando-se como servos, enquanto Harry procurava Cho.
Gina não conseguiu comer naquela manhã. O estômago se revirava de nervosismo. Rezou com cada fibra de seu ser para que Cho não estivesse lá, que a jornada tivesse sido em vão. O medo dizia ao seu coração que hoje perderia Harry para sempre.
Ele mesmo tinha comido pouco, seus modos eram distantes. Quando Gina tentava conversar, ele respondia com monossílabos, quando muito. Tomava o cuidado de não tocar nela, e se comportava como se ela não estivesse ali. Gina sabia a razão de ele agir assim, mas doía do mesmo jeito.
À medida que se aproximavam da fortaleza, ela se sentia morrer um pouco. Os olhos ardiam, mas ela seguia em frente, cada passo mais pesado que o anterior. Tudo ao redor do castelo fervilhava de atividade. Cães latiam, correndo pelo pátio interno. Um ferreiro trabalhava numa armadura em sua forja, enquanto uma mulher trazia vasilhames fumegantes da cozinha.
Quando Harry estava prestes a entrar, Gina parou. Sentia como se o corpo tivesse virado gelo com o pressentimento de que Pomfrey estava certa. Não poderia suportar ver outra mulher abraçando o homem que amava.
— O que é? — Harry veio para junto dela, o rosto preocupado.
— Não quero entrar.
Ele a afastou da multidão de servos, trazendo-a para perto do muro externo.
— Fale.
Gina piscou para conter as lágrimas.
— Vá. Encontre-a. — Ela segurava os cotovelos, tentando manter um tênue controle sobre seus sentimentos. — Acho que deve estar sozinho quando a vir pela primeira vez.
Harry tocou-lhe o rosto. Algumas mechas de cabelo Ihe cobriram a mão. No fundo, sofria por ela. Gina o curou quando tudo o que queria era vingar a morte de Cho. Ela Ihe ofereceu muito de si. E hoje ele teria de deixá-la partir.
— Sinto muito. — Harry deixou um beijo na testa dela, amaldiçoando a si mesmo pelo que precisava fazer. — Voltarei assim que descobrir o que preciso.
Gina assentiu, uma única lágrima escapando. Vê-la chorar era como uma faca no peito. Mas precisava ir.
— Gina. — Ele sussurrou o nome dela como numa oração. — Eu...
Ela aguardou, enquanto os segundos se estendiam. Harry baixou a cabeça.
— Sinto muito. Nunca desejei magoá-la, meu coração — ele murmurou.
— Não me chame assim. — Gina não poderia suportar o tratamento carinhoso. Fazia com que se lembrasse de como Harry a observava quando faziam amor, no escuro da noite. Ela ergueu os ombros.
— Desejo-lhe boa sorte. — Ela se afastou, puxando a capa ao redor dos ombros por causa do frio.
Assim que o viu partir, foi como se algo se destruísse dentro dela. Gina queria tanto que ele mudasse de idéia, que a escolhesse no lugar da primeira esposa. Mas ele não fez nada disso.
Perdê-lo doía fundo. Gina desejou ter guardado mais seu coração. Harry nunca Ihe pertenceu, nem nunca pertenceria.
Parou perto de uma parede, os pulmões ardendo. Com as mãos sobre a madeira gelada, chorou pelo casamento perdido. Deixou-se cair no chão coberto de neve, as costas contra a parede. A garganta arranhava e as bochechas ardiam. Não soube quanto tempo ficou chorando, mas as lágrimas a ajudaram a reunir o que ainda Ihe restava de orgulho.
Gina fugiu, misturando-se entre a multidão para garantir que ninguém a notasse. Então acompanhou um grupo que cruzava os portões, até se ver livre. Levou apenas alguns minutos para que voltasse para onde os cavalos estavam presos.
Colocando o cavalo para galopar, Gina atravessou a aldeia até alcançar os campos, querendo se livrar da aflição de perdê-lo.
Gina não sabia há quanto tempo cavalgava e, em seu estado de torpor, não ouviu os cavaleiros se aproximando por trás dela. A égua empinou quando um capuz foi jogado sobre sua cabeça. Gina caiu ao chão e, quanto tentou se erguer, um soco a fez cair novamente. Sangue começou a verter dos lábios, então ela parou de se debater. Amarraram seus pulsos com tiras de couro para que não fugisse.
— Levem-na para o acampamento — disse um dos homens.
— E Potter? — perguntou outro.
— Ele vira quando souber que estamos com ela. Mande o garoto.
Alguém a jogou no lombo de um cavalo. Gina quase teve vontade de rir. Harry não viria salvá-la. Nunca mais.
HARRY PEGOU uma braçada de lenha, seguindo um servo até a fortaleza. Com a cabeça abaixada, ninguém falava com ele.
O calor da fortaleza era um grande contraste com o ar frio lá fora. Harry deixou a lenha perto da lareira e se escondeu nas sombras. Deliberadamente, mantinha o olhar baixo. Se Cho estivesse ali, devia estar sentada no tablado com o barão, esperando pela refeição do meio-dia.
Contemplava os juncos no chão, subitamente desejando não ter vindo. Era feliz com Gina. Ela preenchera os espaços vazios dentro de si, tornando-o completo.
Sua vida com ela surgia em rápidas imagens. Lembrou de quando a salvou de Malfoy, observando as lesões desaparecerem junto com seus medos.
Lembrou do corpo deitado debaixo do seu quando se amavam, os olhos brilhando por confiar nele. Mesmo a maneira como ela tentava aquecer os pés nele no meio da noite era algo que não queria esquecer.
Tinha certeza de que ela o amava, embora nunca tivesse confessado. Então Harry se perguntou por que desistiria dela por uma mulher que o abandonara.
Mágoa e raiva o sufocaram ao pensar nisso. Não queria Cho. Não queria ver o vazio dos olhos dela quando podia ver a satisfação nos olhos de Gina. Queria acordar ao lado de Gina, dar-lhe os filhos que ela tanto desejava. Queria o sorriso dela, as risadas. Queria Ihe enxugar as lágrimas de sofrimento.
Harry fechou os olhos, virando as costas para o tablado. Vá embora. Finja que nunca veio aqui. Deixe o passado para trás.
Harry deu um passo atrás, convencido de que era a coisa certa a ser feita. Estava apaixonado por Gina e ela Ihe pertencia.
Então ele se virou... e a viu.
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