Capitulo 5



Ambos se olharam, com ar de desafio. Por fim, Gina sorriu.


 


— Sabe de uma coisa, capitão? Estamos nos portando como duas crianças malcriadas.


 


— É o que parece — Harry concordou, antes de propor: — Que tal uma nova trégua?


 


— Sugestão aceita — Gina respondeu, afastando da testa uma mecha ruiva e ajeitando-a detrás da orelha. — Mesmo porque, não sinto a menor vontade de brigar com você... Sobretudo depois que vi Madison. Acho que um homem que tem uma filha tão encantadora não pode ser de todo mau... — concluiu, com uma ponta de humor.


 


— Se isso é um elogio, agradeço — Harry declarou, no mesmo tom.


 


Ignorando o aparte, Gina continuou:


 


— A menos que Madison tenha puxado apenas à mãe...


 


Harry meneou a cabeça, num gesto de negação:


 


— De modo algum...


 


O tom subitamente triste das palavras de Harry surpreenderam Gina.


 


— Por que diz isso? — ela perguntou, cautelosa.


 


— Oh, por nada.


 


Harry parecia ainda mais triste. E Gina insistiu:


 


— Você... não se dá bem com a mãe de Madison?


 


— Nem bem, nem mal — ele respondeu, desviando os olhos. — Apenas, não temos nenhum contato.


 


— E quanto a Madison? Ela costuma visitar a mãe?


 


— Não. Tenho a custódia total sobre Madison.


 


Franzindo o cenho, Gina indagou:


 


— Quer dizer que você... proibiu ambas de se verem?


 


— Não, Gina Weasley — ele respondeu, impaciente. — Quero dizer que a mãe de Madison não manifesta nenhuma vontade de vê-la. É por isso que as duas não mantêm contato.


 


— Desculpe. — Gina engoliu em seco. — Por um momento, pensei que...


 


— Você pensa demais — Harry a interrompeu. — Este é o problema.


 


— Já pedi desculpas — ela argumentou. — Portanto, não precisa se irritar.


 


— Tudo bem, srta. Weasley — Harry retrucou, irônico. — O que mais quer saber sobre a mãe de Madison?


 


— Onde ela está?


 


— Na última vez em que mandou notícias, ela se encontrava em Los Angeles. Estava tentando realizar um antigo sonho.


 


— Qual?


 


— Ser estrela de cinema.


 


— Mas para isso era preciso deixar a filha de lado?


 


— Não sei — Harry resmungou, inquieto. — Por que não pergunta a ela?


 


— Pronto! — Gina exclamou, contrafeita. — Aí está você, sendo grosseiro novamente.


 


— Você faz perguntas demais.


 


— Não era minha intenção parecer intrometida.


 


— Imagine se fosse! — ele retrucou, lançando um olhar ao relógio de pulso. — Bem, agora realmente preciso ir.


 


— Posso dizer só mais uma coisa?


 


— Fale, Gina Weasley — Harry aquiesceu. — O que mais quer saber?


 


— Não se trata de uma pergunta e sim de uma confidencia...


 


— Sim?


 


Ela hesitou, antes de confessar:


 


— Sua relação com Madison me causa um forte sentimento de admiração... Que se tornou ainda mais intenso, neste exato momento.


 


— Como assim?


 


— Saber que você a cria sozinho, com todo o carinho e dedicação, faz com que eu me recorde de meu pai...


 


— Por quê? — Harry indagou, curioso.


 


— Porque minha mãe morreu quando eu tinha apenas dois anos. Então, meu pai cuidou de mim... Assim como você está fazendo com Madison. Isso é comovente, sabe?


 


Harry não queria admitir, mas as palavras inesperadamente doces de Gina o estavam desarmando... E isso não era nada bom.


 


Afinal, ele quase nunca se expunha diante das pessoas. Havia aprendido, desde algum tempo atrás, que era sempre bom manter as defesas erguidas... Para o caso de ser necessário acioná-las rapidamente.


 


— O jeito como você e Madison se olham, se amam... É tão lindo — Gina continuou. — E me trouxe tantas lembranças...


 


Harry sorriu, emocionado. E como poderia reagir, diante daquela declaração tão simples e sincera?


 


Esquecendo-se por um instante de que aquela mulher significava um empecilho ao sucesso de sua expedição, e de tudo o que estava em jogo, ele perguntou:


 


— Diga-me, Gina Weasley...


 


—    Sim?


 


— Quando criança, você não sentia falta de uma presença feminina, em sua vida?


 


— Algumas vezes, sim... E essa carência se tornou ainda mais forte, quando entrei na adolescência.


 


— E então, o que aconteceu? Você se rebelou contra seu pai?


 


— De jeito nenhum. Afinal, eu sabia que ele fazia tudo para me dar uma vida confortável e segura, não apenas sob o ponto de vista material, mas também emocional.


 


— E essa certeza nunca foi abalada, em seu coração?


 


— Nunca — ela respondeu, convicta. E confidenciou: — No fundo, eu acalentava o sonho de que algum dia papai se casaria com uma boa mulher, que seria minha segunda mãe... Só que não houve tempo para isso. Pois ele morreu poucos dias antes de eu completar dezesseis anos.


 


Harry assentiu, com uma expressão respeitosa.


 


— Você tem esse receio, com relação a Madison, não é mesmo? — Gina perguntou. — Acha que ela sente falta de uma presença feminina, em seu mundo?


 


— Sim. E, para ser franco, isso me apavora.


 


— Pois vou lhe dizer uma coisa, capitão Harry Potter... — Gina fitou-o nos olhos. — No fundo, Madison já sabe, e sempre saberá, que você dá o melhor de si, para oferecer-lhe uma vida digna. Isso é mais forte do que qualquer carência.


 


— Obrigado por suas palavras generosas, Gina Weasley — Harry agradeceu, entre comovido e surpreso.


 


— Além do mais, Madison ainda é muito pequena. Quem sabe se, algum dia, não terá a felicidade de ganhar uma segunda mãe?


 


— Não creio que isso seja possível — Harry respondeu, num tom esquivo. E mudou rapidamente de assunto: — Bem, eu preciso mesmo ir à cabine de comando, agora.


 


— Dê-me apenas um minuto para que eu lhe passe as coordenadas sobre...


 


— Vamos deixar uma coisa bem clara, Gina Weasley... — Harry apartou, num tom severo.


 


— Fale — ela cedeu, apreensiva.


 


— Não quero tomar conhecimento de suas coordenadas, antes de concluir esta etapa do trabalho.


 


— A que etapa você está se referindo?


 


— Bem, há dois dias, decidi vasculhar a área onde agora nos encontramos. Ela é apenas uma parte do vasto perímetro que devo pesquisar, para localizar o Isabella. E ao menos até que eu conclua as buscas por aqui, não quero mudar de rumo... Fui claro?


 


— Como a água, capitão — ela respondeu, com ar de desalento.


 


— Só que você não vai encontrar o Isabella, nesta área.


 


— Pode ser... Mas vou checar o local, mesmo assim.


 


— Depois disso, você concordará em me ouvir?


 


— Sim.


 


— E quanto tempo levarão essas buscas?


 


— Alguns dias, talvez duas semanas... Não sei, ao certo. Isso dependerá do tempo, das condições de mergulho e de navegação.


 


— Que pena — Gina suspirou, pesarosa.


 


— Por que diz isso?


 


— Porque estamos perdendo tempo. O que farei, até que você resolva me escutar?


 


— Que tal participar dos turnos de vigília, como eu e alguns tripulantes costumamos fazer?


 


— É uma idéia — ela aquiesceu, sem muito entusiasmo. — Bem, a que horas devo fazer meu turno?


 


— Pode ser da uma às sete. O que acha?


 


— Perfeito. Isso significa que devo começar meu turno logo após o almoço.


 


— Nada disso. — Harry a corrigiu. — Isso significa que você poderá descansar um pouco, depois do jantar, antes de iniciar seu turno. Sugiro que você jante às seis em ponto, como todos fazemos, por aqui. Depois, durma por algumas horas, levante, tome um banho e se prepare. — Ante a expressão de espanto de Gina, ele acrescentou: — Ah, e não se esqueça de usar um bom agasalho, certo? Apesar de estarmos no verão, as madrugadas são frias, em alto-mar.


 


— Espere um momento, capitão... — Gina reagiu, intrigada. — Você está me dizendo que devo começar meu turno... à uma da manhã?


 


— Sim — ele respondeu, com simplicidade. — Algum problema?


 


— Não... — Ela suspirou, resignada.


 


— Ótimo. Então, com licença. Preciso trabalhar, agora. — Harry se afastou, sentindo que dessa vez havia ganho um novo round contra Gina Weasley.


 


Dentro de alguns dias ela estaria exausta, devido às noites em claro. E certamente desistiria da expedição.


 


Voltando-se, Harry a viu afastar-se em direção ao corredor que levava às cabines.


 


Um sorriso melancólico estampou-se em seu rosto. Decididamente, a primeira impressão que tivera a respeito dela havia mudado... Para ceder lugar a uma quase simpatia.


 


 


 


 


 


 


(...)


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


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