Suspeitas
Snape caminhava rapidamente. Seus passos ecoavam pelo corredor escuro, e o farfalhar de sua capa nunca parecera tão alto. Mas ele não se importava. Ali estava seguro. Tão genialmente óbvio, pensava. No nariz de Hogwarts. No nariz do Ministério. E, mais importante, no nariz de Dumbledore. Congratulou-se mentalmente mais uma vez pelas idéias propícias que tivera. Uma série de corredores interligados. Praticamente outra Hogwarts, bem ao lado da primeira. Estendia-se para além dos muros.
Refletiu novamente sobre Willian Kenbril. Era um garoto muito audacioso, o que o irritava. O poder que possuía era obviamente muito grande, e Snape não entendia como aquilo poderia ter passado despercebido por ele. Seu disfarce era muito bem trabalhado, mas muito complexo para um garoto daquela idade. Passar-se por sobrinho do Ministro da Magia, por mais de seis meses, sem que o próprio se desse conta? Impossível.
Ouvira muitos boatos ultimamente. O que se dizia pelos cantos das tavernas era que Rufo Scrimegeour andara mudado ultimamente. Estranhamente aéreo. Snape cogitara a possibilidade de que seu mestre o tivesse colocado sob o efeito da maldição Imperius, mas sem dizer nada a ele? Agora lhe vinha à cabeça que talvez, apenas talvez, sua causa não tivesse nada a ver com isso.
Havia outra coisa que o preocupava no momento. De acordo com uma de suas muitas fontes no Ministério, a verdadeira intenção de sua presença em Hogwarts fora revelada não por uma investigação, mas por um informante anônimo. Isso evidenciava uma traição. Mas um fato era demasiadamente berrante para ser ignorado: todos, sem exceção, que sabiam de sua intenção, haviam jurado perante seu mestre e sob a condição de um Voto Perpétuo permanecerem calados. A conclusão que isso indicava era incontestável.
Detestava ver-se nessa posição, mas a circunstâncias eram extremas. Teria de levar o caso a Lorde Voldemort.
MacGonagall estava aturdida. Que noite, pensava. Recebera a pouco a notícia de que Granger estava melhor, e que Potter encontrava-se junto a ela na enfermaria. Contudo, Madame Ponfrey a havia advertido que o estado dela não era definitivo: muita coisa poderia mudar. O veneno que Willian Kenbril usara ainda era desconhecido, apesar de a enfermeira estar trabalhando arduamente nisso.
O jovem bruxo era, definitivamente, o maior problema no momento. Enquanto esperavam diante da enfermaria, Potter havia narrado a ela o acontecido. MacGonagall sentiu que ele ocultava alguns detalhes, mas preferiu concede-lo essa liberdade. Na realidade, detalhes não a preocupavam. O garoto mostrava-se muito poderoso. Suspeitava que não agira sozinho. Seria ele um aliado das Trevas? Era essa uma das muitas perguntas que apenas Severo Snape poderia responder.
Mas a noite ainda lhe reservava uma última surpresa: ao adentrar no gabinete, descobriu que o sistema de segurança havia sido ativado, e que o professor desaparecera. Amaldiçoou-se mentalmente por sua tolice. Obviamente, o efeito da poção que limitava seus poderes a muito havia se dissipado. A cena no interior do gabinete será cômica, se a situação não fosse tão séria. Todas as quatro pessoas que se encontravam no gabinete na hora do incidente pareciam ter acabado de acordar. Jason Meyer era o que aparentava maior disposição, provando-se rapidamente eficiente ao desativar as travas de segurança e permitir que os quadros reaparecessem. Já os dois assessores do Ministro ainda estavam no chão, confusos. O próprio Ministro já se levantara e, arrumando as vestes amassadas pela queda, berrava e ralhava com todos. Quando avistou Minerva, passou a gesticular furiosamente, dizendo que o que é isso, como ela pode ser tão irresponsável, Hogwarts já não era a mesma de antes, sua diretoria mostrava-se insatisfatória, e para piorar Severo Snape havia fugido bem debaixo de seu nariz, sem que ninguém fizesse nada a respeito e...
- Acalme-se, Ministro. Deixe-me explicar ao senhor alguns fatos das últimas horas. – MacGonagall respirou fundo – Hermione Granger teve tempo de explicar a todos nós sua posição diante de Willian Kenbril que, por sinal, intitulava-se seu sobrinho. Acredito que ele foi o responsável por isso, por incrível que possa soar. Esse feitiço que nos atingiu englobou todo o castelo, tamanha sua magnitude. Nesse meio tempo, também, Harry Potter se confrontou com Willian, que havia feito a Srta. Granger refém. Nesse momento, o estado dela é crítico, e Willian fugiu. Quando a Severo Snape, não sei determinar seu grau de envolvimento com os acontecimentos desta noite, ou o de Willian com as forças das Trevas. Mas creio que ele acabou se aproveitando da situação, revelando-se um legítimo traidor. Pelo que vejo, ele utilizou-se do mecanismo de segurança que ele mesmo projetou para orquestrar sua fuga. Imagino que seja inútil procurá-lo, a essa altura. Ele conhece essa escola melhor do que ninguém.
O Ministro permaneceu calado. MacGonagall fora, ao mesmo tempo, polida e raivosamente direta em suas palavras, usando um tom levemente ameaçador. Os dois assessores se entreolharam por um instante, e em seguida saíram rapidamente. O Ministro, alegando ter de supervisionar o trabalho de seus oficiais em Hogwarts, apressadamente os seguiu, deixando MacGonagall sozinha com Jason e Dumbledore, cujo retrato acabara de reaparecer.
- Bem... Imagino que isso dará uma história e tanto para o Profeta Diário amanhã. Com sorte, eles publicam na edição das 10h... – comentou Minerva, sarcástica – Alguma chance de isso não vazar?
- Nenhuma – disse Jason, sentando-se – Se me permite dizer... Estamos ferrados.
- Decididamente – disse Dumbledore, cruzando os dedos na sua habitual posição de pensador – Os repórteres aparecerão por aqui como ratos. Mas não creio que esse seja o nosso maior problema no momento... Duas horas, duas fugas. Concordo com você, Minerva, quando disse que Severo Snape provavelmente se aproveitou da situação. A essa altura, já deve estar a caminho do covil de Voldemort. Mas Willian Kenbril... – Dumbledore suspirou, pesaroso – Como está a Srta. Granger?
- Seu estado é crítico, mas estável. Madame Ponfrey disse que tudo depende de como seu corpo reagirá ao veneno, bem como a seu antídoto. Willian tentou matá-la com um punhal. E Harry... Você não o viu, Alvo. Lutou com unhas e dentes para protegê-la. Quando eu finalmente consegui encontrá-lo, seu estado era desesperador. Ele achava que ela estava morta. Sinceramente, não sei como ela se salvou. Mas, a julgar pela situação do corredor... Ele lutou bravamente. – Minerva permitiu-se um pequeno sorriso, e virou-se para Jason – Você teria ficado orgulhoso.
- Tenho certeza que sim – disse Jason – Mas e quanto a Willian? Fugiu mesmo?
- Sim, mas ainda não tive oportunidade de perguntar a Potter como. Mas seu poder é assombrosamente grande para um garoto dessa idade, como vocês devem ter reparado. Ele apagou todo o castelo de uma vez. - observou Minerva.
- Também me parece muitíssimo inteligente. Passou-se por sobrinho do Ministro, convenceu uma garota tão esperta quanto a Srta. Granger a submeter-se a sua vontade, enganou a Harry, aos alunos e a todo o corpo docente – disse Dumbledore. Em seguida, suspirou novamente – Enganou a mim.
- Se me permitem a observação... Correm certos boatos no Ministério ultimamente. O Ministro não vem sendo ele mesmo a um longo tempo. O que se dizia pelos cantos é que ele parecia estar sendo controlado. Acontece... – Jason riu-se por um instante – Que ninguém dava muita importância a isso. Apenas uma boa e velha teoria de conspiração. O Ministro Rufo Scrimegeour, sob uma Imperius! Imagine só. Agora, começo a pensar que todo boato tem algum fundamento.
- Realmente... – refletiu Dumbledore, vago – Mas não creio que esse seja o momento certo para discutirmos isso. Estamos todos muito cansados, foi uma longa noite. Imagino que devemos nos reunir em breve, contando, é claro, com a presença de Harry e Hermione. Mas deixemos as coisas se acalmarem. Além disso, tenho que comprovar algumas teorias antes de tirar minhas próprias conclusões.
- Muito bem, então. Falaremos sobre isso em outro momento. – disse Minerva – Jason, eu sei que a situação é ruim, mas acho que essa noite mostrou o quanto o treinamento que Potter está recebendo é importante. Seria interessante que o continuasse o quanto antes.
- Sim, senhora.
- Bem, então boa-noite a todos. Tenho certeza que nós precisamos descansar. Minerva, apenas passe pelos dormitórios para conferir a situação de nossos alunos, está bem? Eles devem estar fervilhando em suas camas a essa altura. – concluiu Dumbledore.
MacGonagall concordou com um aceno de cabeça, e se retirou, seguida rapidamente por Jason. Minerva tomou a direção do dormitório da Grifinoria, e Jason apressou-se para seus aposentos. Precisava conferir alguns documentos.
O estado de Rony não melhorara um décimo na última hora. Estava esperançoso, dizendo para si mesmo que Harry e Hermione apareceriam em breve, ilesos. Ainda assim, sabia que era inútil. Como a grande maioria dos alunos da Grifinoria, o ruivo não conseguira permanecer em seu dormitório. A agitação era muita. Apesar de estarem no meio da madrugada, Rony duvidava que alguém dormisse.
MacGonagall adentrou imponente no salão, e todos se calaram. Ela pareceu mirar cada um demoradamente nos olhos, como que analisando fundo a alma perturbada de seus protegidos. Apesar de ser agora diretora, ela ainda preservava afeição por sua antiga casa. A maioria conhecia há anos. Não sabia o que dizer para eles, tão assustados. Era um baque forte demais para que não fosse relacionado à Guerra. Na verdade, era pouco provável que não houvesse ligação. A verdade, concluiu. É sempre melhor.
- Por favor, acalmem-se. – pediu ela – Peço que todos prestem muita atenção. Nosso castelo sofreu um atentado. Essa instituição encontra-se agora muito abalada, por poderes mais fortes do que podemos controlar. Não posso afirmar se isso de algum modo se relaciona com as Trevas. Não posso mesmo. Mas peço que se contenham antes de tirarem suas próprias conclusões, a fim de evitarmos pânico. Pânico este que, talvez, seja desnecessário. Ainda não tivemos tempo de apurar o que realmente houve. Mas fazia parte dos ideais do professor Dumbledore, e também dos meus, contar-lhes a verdade. Assim que os fatos ficarem devidamente evidenciados, os traremos a vocês. E tomaremos as medidas necessárias. Informo também que as aulas de amanhã serão canceladas, em virtude dessa mesma apuração. Espero sinceramente que a euforia seja contida. A situação não permite. Agora, boa noite.
Sem mais nenhuma palavra, Minerva MacGonagall se retirou do recinto. Os alunos se entreolharam. Curta e grossa, Rony pensou. A situação devia estar mesmo crítica.
Jason trancou apressadamente a porta de seu quarto, no primeiro andar do castelo. Era um quarto simples, não mais do que ele necessitava. Não possuía muitos bens, afinal. Consistia de uma cama de solteiro simples, encostada à parede; um pequeno armário, onde guardava suas roupas; e, ao lado da cama, uma cômoda, trancada a chave. Dirigiu-se até ela e acendeu o abajur. Retirou a chave do bolso, onde sempre a mantinha presa à calça. Abriu a gaveta e remexeu entre os papéis, até encontrar o maço de folhas que procurava. Todas possuíam um emblema do Ministério.
A primeira era a notificação que recebera, em novembro do mês anterior, informando-o de sua convocação para a prestação de serviços em Hogwarts. Era uma carta curta e direta, que apenas ordenava que ele se apresentasse no dia estabelecido. Jason teve de confessar que ficou feliz em recebê-la. Desde o acidente em Azkaban, não tinha nenhuma missão. Apesar de esse fato em parte ter sido uma opção sua, Jason começara a se sentir deprimido, na época. E, como diria seu pai, a melhor maneira de esquecer um passado ruim é construir um presente do qual se orgulhe. Ele tentara fazer isso.
Acreditava que ajudar Harry Potter a se tornar mais consciente de seus poderes, e, sobretudo, ensiná-lo a usá-los adequadamente era uma boa maneira de se redimir. Torná-lo mais poderoso, por outro lado, era um ato que Jason considerava errôneo. A verdade era que aquele garoto não tinha a menor idéia dos poderes que possuía, até então. Continuava não tendo, apesar de estar começando a descobri-los. Achou que fizera comentários suficientes por uma noite, na diretoria, mas estivera a ponto de falar uma idéia que lhe ocorrera no instante em que concluiu que Willian Kenbril era o responsável pelo incidente: que ele era tão poderoso quanto Harry na batalha, mas não representava um décimo do que o moreno poderia ser. Sentiu em Willian um controle muito peculiar de seus dotes mágicos: parecia medi-los, mapeá-los, como se fizesse questão de ter consciência de cada partícula mágica em seu corpo, pois ele sabia que isso era fundamental para a obtenção de vantagem. O que intrigava Jason era o fato dele, jovem como era, conseguir fazer isso de maneira tão perfeita.
Afastou-se de seus pensamentos por um momento, enquanto examinava a segunda folha em suas mãos. Essa era datada de dois anos antes, quando Scrimegeour assumiu o lugar de Fudge. Sua primeira convocação. Nos bastidores, muitos boatos correram sobre o novo Ministro. Mais jovem que o anterior e decididamente mais ambicioso, Scrimegeour provou-se duro quanto à conduta de seus funcionários, mas pouco preocupado com sua responsabilidade perante o mundo mágico. Alertado dessa situação de desconforto, o novo Ministro prontamente tratou de criar um conselho para apurar fatos desta ordem, o famoso Conselho Sênior da Ordem e Paz do Mundo Mágico. O nome longo e pomposo servia como faceta para o mesmo governo: um grupo de bruxos de elite, escolhidos a dedo por Scrimegeour e controlados de perto por ele, cuja função resumia-se a sentar em círculo vestindo suas togas imponentes com razoável freqüência para iludir o povo e a eles mesmos com relação à conduta ideal a ser tomada frente ao início da Nova Guerra. Para assegurar a veracidade de seu conselho, Scrimegeour convocou alguns membros da Ordem dos Bruxos. Contudo, ele pareceu apoiar-se apenas naqueles que compartilhavam seu ideal político. Dumbledore não foi convocado.
A terceira carta, a mais longa, tratava da emissão de um dossiê para averiguar a participação de Severo Snape na morte de Alvo Dumbledore, e todos os fatos que a sucederam. Mantido em estreito sigilo, Jason duvidava que Snape soubesse da existência de tal documento. Nem Dumbledore sabia. O próprio Jason, que rapidamente subiu até o mais alto escalão da ordem dos aurores, teve dificuldades para obter o documento. Obviamente, o problema de Snape era agora outro. Ainda assim, Jason esperava que o dossiê que tinha em mãos pudesse acrescentar em algumas acusações a pena de Snape perante a sociedade.
Respirou fundo e colocou as três cartas lado a lado, em ordem cronológica. Devido ao seu caráter oficial, todas as três tiveram de ser assinadas pelo Ministro Rufo Scrimegeour. As duas primeiras, o dossiê e a convocação, emitidas antes do início daquele ano letivo, traziam a mesma assinatura, perfeitamente grafada, Jason ousava arriscar, pela mesma caneta. Já a terceira, posterior ao início das aulas, era completamente diferente das anteriores. Assinaturas mudam com o tempo, disse Jason para si mesmo, tentando convencer-se. Mas não tanto assim. Deixou-se cair em sua cama, pelo choque não do fato, mas sim pela pessoa que ele suspeitava ter feito isso ocorrer.
Até então, os boatos sobre a mudança de comportamento do Ministro não passavam disso, boatos. Agora tinha provas de que havia algo muito errado ocorrendo por trás da fachada conservadora de um dos Ministérios mais importantes do mundo bruxo.
N/A: Muitos de vocês devem pensar que estou atrasada. Mas a verdade é que não estou.
Para quem viu a att do dia 19 e não entendeu, vai um comunicado: iniciei aquele projeto que mencionei, várias N/As atrás, de revisar e repostar cada capítulo dessa fic. Não que haja algum problema de enredo com eles, muito pelo contrário, mas a verdade que eu olho os dez primeiros capitulos e os dez ultimos e a diferença é gritante. É claro, isso mostra que eu evolui como escritora etc blá blá blá, mas a verdade é que eu não aguento ver aqueles caps de 2 pags, parágrafos de 3 linhas. Então, eu trabalhei nisso. E, de verdade, dá mais trabalho revisar um capítulo do que criar um novo. Como estou com a cabeça no ponto que o enredo parou agora, tenho que tomar cuidado para não adiantar demais. Mas eu acho que o resultado foi bom, e quem quiser por favor ler e comentar o que achou, eu agradeço. Só não esperem repostagem (tem hífen? com essa nova reforma, eu nem desconfio) e cap novo todo mes, se não eu fico louca.
Mas pq eu demorei tanto pra postar esse aqui? Well, amanhã eu saio de viagem para a Europa, e ficarei o mês inteiro por lá. Vou inclusive para a Alemanha, para aperfeiçoar minha língua e ter capacidade de prestar aquele exame que eu falei para vcs. Talvez eu me inspire com os ares de Berlim e escreva alguma coisa, mas eu duvido. Então, só no meio de agosto.
Vou falar do enredo? Acho que não. Não posso ficar falando muita coisa, e tenho que deixar vcs tirarem suas próprias conclusões. Só uma coisinha: alguém aí notou um ar de política no meio disso tudo? Pensem a respeito.
E eu fiz uma coisa que eu sempre quis fazer: escrever um capítulo inteiro, com suas 6 paginas e 2511 palavras, sem mencionar em nenhum momento Harry ou Hermione POV. Eu adoro explorar os coadjuvantes, e o bom é que posso criar para eles personalidades completamente diferentes. Vejam o senho Ministro, por exemplo. Ele não é nada do que parece ser.
Também quis fazer um capítulo sem Willian. Apesar dele ser o PO que mais amo nessa história, bastava da sua audácia e inteligencia por enquanto. Nem eu aguento.
Bjos, e até o próximo capítulo.
Giovanna de Paula
Comentários (1)
Adorei o capitulo embora ele tenha deixado mais perguntas do que respostas,boa sorte na viagem aproveite bem e juizo ta?
2011-07-06