Dúvidas



 Harry acabou estendendo seu sono até as primeiras horas da madrugada. Ao acordar, sobressaltado pelo silêncio da noite, surpreendeu-se ao constatar que dormira ininterruptamente desde que saíra da exaustiva aula com Jason. Seu estômago roncava de fome, pois havia perdido o jantar. Sabia que tinha aula no dia seguinte (ou seria mais tarde, no mesmo dia?), mas também sabia que não adiantava tentar dormir mais. Já acordara de vez.


     Agachou-se silenciosamente ao lado de seu malão. Os roncos estridentes de Rony cortavam a madrugada, mas ninguém parecia se importar. Na cama mais distante da sua, Willian ressonava tranquilamente, cortinas abertas. Sacudiu a cabeça.


        Levantou as sobrancelhas ao avistar, no fundo de sua mala, uma grossa capa escura. Imaginou o tamanho do atraso com que teria de arcar, caso o livro em questão fosse da biblioteca. Apanhou-o e reconheceu o título em dourado: Magia das Trevas: Os Feitiços Mais Macabros. Já que não ia dormir mais mesmo, resolveu descer até o salão comunal e dar outra olhada no livro.


         As escadas rangeram sob seus pés descalços. Sentou-se em uma das confortáveis cadeiras estofadas em frente à lareira e abriu o livro, no capítulo das Horcrux. Recostou-se da maneira que mais lhe agradou e começou a ler.


Horcrux: a divisão da alma


 


       Esse método pouco ortodóxico foi descoberto por Mathew Pyers, no século XIX. Na época, a busca da imortalidade era freqüentemente posta em discussão pelos bruxos mal-intencionados que desejavam perpetuar-se em seu reino de terror. Pyers era comprovadamente membro de uma importante organização das trevas da época. Passou anos e anos a fio tentando realizar a mais fantástica descoberta do mundo que conhecia: permitir ao homem viver por quanto tempo desejasse, com poderes que se assimilavam aos de um deus. Pyers desenvolveu uma teoria na qual a alma, em sua consistência de peso, poderia ser dividida em duas partes. O bruxo demorou a concluir que o único evento capaz de romper a alma verdadeiramente era o ato de matar. Foi descoberto que tirar a vida de outro ser vivo é capaz de corromper de tal forma a alma do individuo que, de maneira apropriada, poderia-se armazenar parte dela em um objeto. Assim, uma vez que o individuo morresse, parte de si continuaria preservado, permitindo a ele “voltar à vida”.


          Quando Pyers divulgou sua descoberta a alguns poucos privilegiados, não houve um que não se sentiu tentado a realizar essa façanha. Entretanto, poucos tiveram coragem de fazê-lo. Houve casos de corrompimento brutal da alma, em que o individuo morria antes mesmo de completar o ritual de magia negra. Mesmo após muitas décadas, não se teve noticia de alguém suficientemente louco capaz de dividir sua alma em mais de duas partes distintas.


 


              Harry finalizou sua leitura com o queixo caído. Surpreendia-o o fato de Dumbledore ter deixado passar de sua vista rigorosa informação tão precisa a respeito desse tipo de magia negra. Esses dois parágrafos que introduziam o leitor ao mundo macabro das Horcrux estavam cercados de imagens nas quais bruxos e bruxas contorciam-se, parecendo sofrer da pior das dores. Provavelmente eram os casos de corrompimento extremo, relatados no texto.


             As páginas seguintes revelavam ainda mais informações perigosas. Haviam textos que detalhavam o processo de formação de uma Horcrux, desde a escolha do objeto até o ato de matar que possibilitava a conclusão de tal ritual. Alguma pessoa com más intenções poderia facilmente tentar fazer uma Horcrux, a partir dos dados fornecidos por aquele livro alarmante. Era praticamente uma receita, que ensinava quase tudo que alguém precisa saber para dividir sua alma em dois.


            A cabeça de Harry estava a mil. Teria sido aquele mesmo livro em que Tom Riddle teria se baseado para realizar a divisão de sua alma? Como tais informações passaram sem alarde pelas vistas rigorosas dos mestres de Hogwarts? E, o mais importante: Quem era aquele garoto de cabelos negros que lia com tanto interesse aquele livro maldito?


             O moreno recordava-se perfeitamente do rosto do desconhecido, e lembrava-se de jamais tê-lo visto de novo por toda Hogwarts. Mas aquilo não era possível. Como poderia alguém desaparecer? Seria então algum intruso, escondido sobre um muitíssimo bem elaborado disfarce?


            Apenas uma coisa em sua mente permanecia clara: precisava falar com Dumbledore. E rápido.


 


 


        Harry sequer preocupou-se em se vestir descentemente. Colocou a primeira roupa que encontrou na mala, deixando seu pijama amassado sobre a cama de qualquer maneira. Tentou fazer silencio, a fim de que ninguém notasse sua saída. O ambiente ressonava tranquilamente, em meio ao sono de pessoas que não tinham preocupação maior do que o dever de casa. Como Harry queria poder ser um deles...


         Desceu apressadamente as escadas, com o livro debaixo do braço. Sequer preocupou-se em levar a Capa da Invisibilidade, pois a noite em Hogwarts era sempre tão calma... Mas não demorou muito até perceber que estava tremendamente enganado.


         O castelo tinha um movimento anormal naquela noite. Funcionários rondavam os corredores sem parar, atentamente e com varinhas em punho. Harry avistou até mesmo alguns professores, conversando em um canto. Snape, entre eles, quase o viu se esgueirando por trás de uma passagem.


       Harry encostou-se, ofegante, na parede suja do corredor escondido. Seria quase impossível chegar até a diretoria... Caminhou atentamente pelo corredor, sem saber ao certo onde ele iria dar.


       Acabou saindo próximo à Sala Precisa. Anotando mentalmente aquela passagem como ótimo atalho, espiou a virada do próximo corredor. Ninguém. Harry estranhou os contrastes daquela noite. Tudo estava tão agitado nos andares debaixo e ali, em frente à gárgula que dava entrada ao escritório do diretor, o que reinava era o silencio. Todas as luzes e candelabros estavam apagados, sendo que a única iluminação vinha dos raios tênues projetados pela lua. Sombras caiam sobre a gárgula, fazendo Harry estremecer involuntariamente.


       Por sorte, a senha para entrar era a mesma da ultima vez que estivera ali. Amaldiçoou mentalmente o rangido provocado por seus pés ao subir as escadas. Entretanto, pensou estar ouvindo vozes em certo ponto de sua subida cautelosa. Vozes que vinham do gabinete do diretor...


        Mas o que faziam pessoas acordadas àquela hora da noite? A vozes pareciam mais fortes e irritadas à medida que Harry se aproximava.


        - Dumbledore, isso é inadmissível. O garoto apresenta risco para toda essa sociedade...


        - Isso vai acabar causando prejuízo a todos nós, escute o que digo...


        Harry foi se aproximando mais e mais da porta, lançando rapidamente um olhar ao espelho ao seu lado antes de levar à mão a maçaneta. Congelou e voltou-se novamente para o espelho. Teve que morder muito fortemente os lábios para não gritar.


          Aquela não era a sua imagem. No espelho, Harry aparecia desfigurado, ensangüentado e ofegante, varinha apontada pateticamente em frente ao corpo. Uma onda de pavor invadiu seu peito ao levar os olhos para acima de seu ombro. Pupilas vermelhas e diabólicas brilhavam contra a escuridão, ao mesmo tempo em que vozes invadiam sua mente...


           Você vai morrer, Harry Potter...


            As vozes em sua mente misturavam-se com as que vinham da sala. Uma confusão inimaginável tomou conta dele, acentuada por uma flamejante dor na cicatriz.


            - O interrogatório de Severo será realizado aqui mesmo, amanhã à noite...


           Você nunca sobreviverá a essa guerra...


            - Acreditamos que ele tenha algo de muito sério a esconder...


           Matarei qualquer criança, adulto ou velho que se puser em meu caminho até você...


            - A Srta. Granger também tem tido um comportamento suspeito...


           Covarde, covarde, covarde...


            - Devemos tirá-lo desse lugar imediatamente, ele é uma ameaça...


          Você é patético, Potter...


           - O Lorde das trevas tem fama de cumprir sua palavra...


          Despeça-se de sua vida miserável...


           - Estamos todos preocupados, afinal de contas...


         Seu sangue irá correr por entre meus dedos muito em breve...


           - Devemos interrogá-la?


          Vou te matar, matar, matar...


           Sua vista embaçou-se e seu peito apertou, impedindo-o de respirar. A voz gélida e maquiavélica ecoava as mesmas frases em sua mente, enquanto ele ia ao chão com as mãos da cabeça. O livro caiu com um baque perto de seu pé. Ele arranhava e apertava a cabeça, tentando desesperadamente fazer tudo aquilo passar... Os olhos brilhantes se aproximavam mais e mais dele, ao mesmo tempo em que uma mão pálida erguia-se da escuridão e vinha na sua direção... Seu coração parecia que ia explodir em seu peito, batendo louco sob sua camisa encharcada de suor.


            A última visão que teve foi a de uma luz direto em seus olhos e um par de sapatos lustrosos vindo em sua direção. Mãos fortes o agarraram pelos ombros enquanto mergulhava lentamente de volta a escuridão.


N/A: Atrasei. De novo. Eu sei. Me desculpem. Acontece.
        Capitulo tenso. Muito tenso. Abre espaço para vcs especularem bastante. Não tenham medo! Deixem suas teorias mirabolantes registradas para mim como comentários. Quem sabe algum de vcs acerta?


         Esse cap reviveu uma parte da fic aparentemente esquecida: a da busca pelas Horcrux, mais especificamente a do livro. Acharam que eu tivesse me esquecido? Agora a pergunta: eu conheço essa fic do começo ao fim ou não?


          O cap também apresenta a vcs ao lado maligno do enredo. Os meus personagens maus, o meus comensais da morte, o meu Voldemort não é aquela brincadeira de criança dos livros originais. Ele é mau.  É ardiloso. Maquiavélico. É inteligente. É realmente o que podemos chamar de vilão perverso. E os protagonistas ao sofrer muito com isso. Sim, eu sou má.


            Mudando de assunto: já estamos indo para o cap 34! E, no fim do mês, uma ano de fic vai se completar. E eu não posso dizer a que história está acabando, pq não está. Tenha a impressão de que chegaremos com facilidade ao capítulo 40... Caramba. Isso já está se tornando um dos meus maiores projetos. Mas vamos em frente, que atrás vem gente.


           Olha, gent, agora mais do que nunca. Prestem atenção, pelo amor de Deus. Se não ninguém vai entender nada. Está tudo ali. Ou pelo menos quase tudo. Vcs tem a sua disposição pistas importantes do que está por vir.


          Preparem-se para o cap 34, onde muitas coisas serão explicadas. Mas haverá pontos em que a cabeça da vcs vai virar mais ainda! A Hermione deve voltar nos próximos caps, de uma maneira impressionante. Esperem e verão.


          Agradecimentos à Erica, que me fez o favor de corrigir meu português.


 


Bjos, e até o próximo cap.

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Comentários (1)

  • Isis Brito

    Teoria mirabolante: o Harry tá ouvindo o Voldy falar que ele vai morrer, enquanto que o Dumbledore e o Jason conversam sobre os possíveis traidores, que são Snape e William!! E o William tá conseguindo todas as informações pro Snape pela Mione, que tá amaldiçoada com a Imperius...E aí? Gostou da minha teoria?? ^^" 

    2012-04-29
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