Esquecendo
Naquela tarde, Harry não faltou ás aulas. Não se entristeceu. Não se desesperou. Sequer considerou falar com Hermione. Simplesmente leu duas ou três vezes o bilhete, dobrou-o, guardou-o embaixo do colchão e procurou encontrar um lugar adequado para colocar o colar de sua mãe. Poderia ser útil mais tarde.
Tentou explicar para si mesmo o porquê daquela indiferença toda, apenas horas depois de ter quase demolido a sala de Poções. Chegou à mesma conclusão que chegara de manhã: estava, mesmo que involuntariamente, se desligando de Hermione. “Já não era sem tempo” diriam seus amigos. Porém, para ele, isso significava uma verdadeira reviravolta em seu “eu”. Teria de repensar tudo, e planejar o que faria dali para frente. Seria muita ignorância dizer que estava completamente recuperado, Hermione, por muito tempo, fora o amor de sua vida, e isso não é algo que o tempo apaga com facilidade. Entretanto, a questão era justamente essa: o tempo acabava por apagar. Necessariamente. Involuntariamente. Inflexivelmente.
Ele não tinha, exatamente, muitas certezas, mas sabia que as coisas tendiam a ficar mais fáceis. Da próxima vez que visse Willian, não tremeria de raiva. Não se entristeceria. Não enxergaria Hermione como uma “traidora”. Apenas como “mais uma namorada que não havia dado certo”.
Em seu íntimo, sabia que não seria tão fácil esquecê-la. Mas ele estava determinado a tentar. Iria com Rony no sábado, ver se conhecia alguém interessante. E tentaria apagar as lembranças desagradáveis. Não mais se preocuparia, perdendo noites e noites de sono pensando nela. Era um capitulo de sua vida que ele tentava desesperadamente esquecer.
Harry encarou aquela tarde quase como um teste: ao descer as escadas de seu dormitório, cruzou com Hermione. Ela o encarou longamente, como que esperando por uma reação. O moreno, com a posse de suas emoções, apenas acenou discretamente com a cabeça e continuou seu caminho. Estava cansado de sofrer. Ela o olhou com uma expressão de surpresa. Compreendeu que, literalmente, algo havia se rompido entre eles. Talvez para sempre.
A noite, os dois amigos cruzaram juntos o salão comunal, rumo ao dormitório masculino. Harry não havia comentado em nenhum momento os acontecimentos do dia, tanto os que envolviam Willian, quanto os que eram relacionados ao colar. Resolveu que não era certo privá-lo disso, já que Rony o havia ajudado tanto no passado.
- Rony – chamou, enquanto se trocavam – Você está a fim de me ouvir hoje?
A atenção do ruivo foi imediatamente posta em alerta. Ele o olhou com cautela, como se tivesse medo de descobrir o que havia acontecido.
- Claro que estou – respondeu ele – Sobre o que quer falar? Willian?
- Isso – concordou Harry, sentando-se. Aconselhou Rony a fazer o mesmo antes de prosseguir – Você sabe que tive de trabalhar com ele hoje, certo? Como era esperado, ele começou a me irritar. Mas aí... Bem, ele disse uma coisa meio absurda.
- Deixa eu adivinhar: foi isso que te deixou tão bravo, não? Confesso que, quando você o lançou na parede, não parecia mais meu amigo. Sei lá... Dava até medo de você daquele jeito – disse Rony, mirando o chão. Harry concordou com um gesto de cabeça. Realmente, havia se descontrolado – Mas e aí? O que foi que ele disse para te deixar tão furioso?
- Rony, ele... Dormiu com a Hermione – murmurou, na defensiva.
- ELE O QUÊ? – gritou o ruivo, levantando-se de um salto. – Aquele filho da...
- Eu sei, eu sei – resmungou Harry, sentindo ondas de raiva percorrerem novamente seu corpo. Respirou fundo, tentando se controlar. Estava decidido a apagar Hermione de sua vida. – Na hora, eu fiquei furioso. Meti ele na parede, como você deve ter visto. Mas, não sei por que, não estou mais tão bravo com ele. Talvez esteja deixando de me importar com eles.
- Como assim, deixando de se importar?! Harry, cara, eu sei que te incentivei a procurar uma nova companhia, e é o que vamos fazer no sábado, mas não te disse para desistir da Hermione! – exclamou Rony, gesticulando.
- Como não? – perguntou Harry, confuso – Você sugeriu que eu procurasse outra garota! É obvio que isso quer dizer que sim, seria melhor eu esquecê-la!
- Não, eu não... – murmurou ele, também parecendo confuso – Olha Harry: eu só não quero que tome decisões precipitadas só por que eu sugeri uma coisa, ok? Fiz aquilo porque, francamente, você estava um caco. Precisava, como seu amigo, te animar um pouco. Agora, você diz que Willian dormiu com a Hermione, e ainda por cima diz que já não se importa tanto! O que houve com você?
- Sinceramente, eu não tenho idéia. Fiquei completamente irado depois que saí das masmorras, mas aos poucos fui me acalmando. Então, quando voltei para cá, achei um bilhete da Hermione que dizia: “Sinto muito. Por favor, me perdoe”, e junto com ele o colar que a dei no Natal. Normalmente, teria ficado ainda mais bravo com isso, mas não fiquei. Eu cansei, Rony. Cansei de sofrer por causa dela. Cansei de perder noites e mais noites de sono por causa dela. Cansei de sentir raiva toda vez que vejo Willian com ela. Cansei de tudo isso – disparou o moreno, um tanto quanto frustrado. Rony não respondeu, e o silencio se fez presente por longos minutos.
- Eu não sei se você está certo, ou errado. Acho que você deve saber o que é melhor para você. Alias, tenho certeza. Então, se você ainda quiser companhia, eu vou com você, no sábado. Faço o que você achar melhor. – disse, por fim – Só acho... Que uma amizade como a de nós três não precisava acabar desse jeito. Tudo por causa de um filho-da-mãe ignorante. Mas eu estou com você, Harry, e não com ela. Hermione perdeu a razão com isso tudo. Eu só espero que, um dia, a gente descubra o que houve... Porque, pelo menos para mim, essa situação está longe de parecer esclarecida.
Harry concordou com um aceno de cabeça. Realmente, as coisas mudaram muito de repente. E simplesmente não cabia em sua cabeça que ela “se apaixonara perdida e repentinamente” por Willian. Não assim, de uma hora para outra. Estavam tão felizes... Ele sacudiu a cabeça, procurando pensar em outra coisa. Estava se questionando de novo, voltando a se lamentar. Ele queria evitar isso. Pelo resto da vida.
No dia seguinte, após o jantar, Harry resolveu dar uma volta por Hogwarts. Nem se preocupou em levar sua Capa da Invisibilidade, como normalmente faria. Simplesmente tomou um corredor, ao acaso, e andou.
Cerca de dez minutos depois, passou pela tapeçaria na qual havia visto Hermione e Willian se beijarem. Surpreendeu-se ao ver uma sombra silenciosa caminhando por detrás dela. Para seu espanto, saiu, de lá, Jason.
- Olá, Harry. Posso te chamar assim, não é? – e, sem esperar uma resposta, continuou – Vamos caminhar um pouco.
Harry assentiu, sem muito receio. Tinha a impressão de que o motivo que trouxera o auror até ele o interessaria. Reparou que não havia prestado muita atenção em Jason em seu encontro anterior. Na ocasião, ele usava óculos escuros e chapéu, o que dificultou a visão do rosto do bruxo como um todo. Alem do mais, no momento em que ele o abordara Harry estava furioso com Willian.
Agora, não. Jason não parecia estar vestido para trabalhar. Usava calças jeans surradas e tênis de lona. A camiseta, justa em seu peito forte, possuía um emblema de um time de Quadribol que Harry não conseguiu identificar. Seu longo cabelo castanho liso estava preso firmemente em um rabo-de-cavalo no topo de sua cabeça. Apenas seus olhos, escuros e sérios, pareciam alerta. Entretanto, ele estampava o mesmo sorriso caloroso e acolhedor do ultimo encontro. Olhando-o assim, Harry estimou que tivesse algo entre 30 e 35 anos.
- Falei com Dumbledore hoje mais cedo, sabe. Contei-lhe que queria aprender a moldar a magia. – disse Jason, sem olhá-lo.
- E então, ahn...Sr. Meyer? – perguntou, tentando parecer educado.
- Que Sr. Meyer que nada. Não sou tão velho assim – disse ele. E completou com uma piscadela – Pode me chamar de Jason, mesmo.
- Certo. Jason. O que ele disse? – questionou novamente, esperando obter uma resposta desta vez.
- Dumbledore achou uma ótima idéia. Disse que eu posso começar com você quando quiser. Também disse que acha que isso poderá lhe ser útil na batalha contra o Lorde das Trevas. “Sempre é bom ter um truque na manga”, ele me disse. – contou Jason.
- Voldem... Você-Sabe-Quem sabe? Quero dizer, essa coisa de moldar a magia? – perguntou o moreno sem se conter.
- Não precisa ter medo de pronunciar o nome de Voldemort comigo, Harry. – disse o auror, sorrindo despreocupadamente – E sim, Voldemort sabe. Creio que ele perca apenas para Dumbledore, e, modéstia a parte, talvez para mim. Até pouco tempo atrás, digamos, uns 40 anos, não era possível fazer magia sem um objeto canalizador, ou uma varinha. Bem, pelo menos achávamos que não era possível. Até que um bruxo, Lionel Hudson, acho que esse era o nome dele, descobriu que com treinamento adequado era possível, não só controlar como, também, moldar e aperfeiçoar a magia sem o uso de varinhas. O que ele não sabia era que Dumbledore já se utilizava desse método há muito tempo, e por isso era considerado tão poderoso. Porém resolveu não divulgá-la, para que não caísse em mãos erradas. Mas, então, o velho Lionel teve a brilhante idéia de divulgar sua descoberta ao mundo. E aí, Harry, a coisa desandou completamente: milhares de bruxos e bruxas começaram a querer parar de utilizar uma varinha, com toda a praticidade que isso significa. E, como você deve imaginar, Voldemort ficou louco para aprender. Passou anos e anos treinando, até que finalmente conseguiu chegar ao que ele considerava perfeito. Foi a partir daí que seu reinado de terror começou.
- Mas então qualquer um pode aprender a canalizar a magia sem uma varinha? – indagou, curioso.
- Não, não, de forma alguma. É preciso realmente ter uma certa aptidão para isso. Porem, alguns bruxos, e devo reforçar que são raros, já possuem uma espécie de talento espacial, que facilita e muito esse processo. Eu e Dumbledore acreditamos que você seja uma delas – explicou Jason, parando de andar. Harry se sentiu um pouco mais animado.
- Então... Quando começamos? – quis saber.
- Hum, digamos... No domingo? Lá pelas cinco da tarde, está bom para você? – sugeriu ele.
- Sim. Onde?
- A Sala Precisa parece adequada. Sabe onde fica? – perguntou.
- Claro. Te vejo lá, então. – disse Harry.
- Certo. Até breve, Harry! – dizendo isso, Jason virou um corredor e desapareceu.
N/A: CARAMBA, QUE DEMORA! Ta bom, agora vcs podem me xingar. Eu mereço. Mais de um mês sem escrever nada, putz! Depois de um mês super corrido, com provas, broncas, matérias novas, fim de namoro e problema no PC, estamos de volta com mais um cap. Um capítulo monotono, sem muita coisa nova, com cara de aula de História, mas que era necessário. E, algo que devo mencionar: eu gosto muito dele. Gosto porque tudo, absolutamente tudo, tem uma razão, causa e consequencia. E só que escreve sabe como é dificil juntar tudo de bom e útil em um capítulo só. Mas enfim.
Tenho uma boa notícia para vcs. A partir e agora, podem dizer adeus a maioria (se não forem todos) os meus grotescos erros de portugues. Arranjei alguem para corrigir os caps, coisa que eu não tenho paciencia para fazer. Eu e a Erica, a partir de agora, estamos começando uma parceria que, se Deus e ela quiserem, vai durar até o fim da fic. Tudo para melhorar a qualidade dos caps. Valeu, Erica!
Já comecei a escrever o proximo cap(coisa rara), que deve se chamar "Tentativas". É nele que Harry joga de vez Hermione para o alto(ou pelo menos tenta) e começa a se preocupar com coisas que realmente importam. Tentei colocar alguma tiradas engraçadas, mas como sou péssima para comédia, é possivel que vcs nem percebam. Vou tenta postar o mais rapido possivel, para tirar o atraso. Veremos. Bem, acho que é isso.
Bjos e até o cap 32!
Comentários (1)
Como assim jogar a Mione pro alto?? o.O
2012-04-29