Único.
Fora, de modo geral, simples. Praticamente um presente, posto que aquele reles habitante do mundo já tentara por diversas vezes me vencer, usufruindo de toda e qualquer técnica que lhe fosse apresentada, porém armado apenas de uma singular e desprezível tolice. Ele cria erroneamente na própria superioridade, achava que por ter boa retórica e ter convencido meia dúzia ou pouco mais cavalheiros que invariavelmente também viriam a ser meus um dia, poderia desafiar-me e sair impune, livre, imortal. Afogou-se na própria revolta, o tal 'Lord'. Realmente uma pena que não tenham lhe avisado que perante a mim não são válidos títulos ou riqueza alguma, que a realidade de quem cruzava meu caminho era mesmo aquela que ele tanto temia, que realmente não havia qualquer saída.
Mas primeiro, me foi oferecida ela.
Leve, frágil, como um pássaro assustado que cai na armadilha fatal. Ela dera a alma lutando por uma causa tão contraditória como nunca entendera. Dizia a tal mulher que amor era para os fracos, desdenhava aqueles que em seu nome davam a vida e no fim, isso fora o que a própria fizera. Quando aquela que há milênios me entregava os bruxos a atingiu em sua cruel magnitude, Bella nem mesmo havia compreendido ou sequer percebido que a luz verde saida da varinha daquela que julgava inferior atingira seu peito e lhe tirara o direito de continuar lutando. Aliás, fora isso que a fizera chorar pela primeira vez. Não poder mais lutar. E, pela segunda vez em todo o sempre, ela chorou por vê-lo partir.
Ao que lhe acariciei os cabelos agora sedosos, acalentando seus medos e tentando persuadi-la a perdoar-se para que pudesse aceitar o presente que decidira dar a ela. Bella merecia o que eu pretendia oferecer-lhe, merecia um mimo pelos anos de dedicação maligna e ao mesmo tempo nobre. Precisava compensá-la pelos anos em Azkaban, sofrendo e perdendo aos poucos a vida que terminara em minhas mãos. E, afinal de contas, ele precisava dela.
A luz vermelha, de nobreza e força subestimada, atingiu o núcleo do pedaço já tão fragmentado de alma que aquele corpo habitava e dissipou em fim o que lhe restava de força. Ao cair em meus braços, Lord Voldemort era infinitamente menor e mais frágil do que todos que ousara desprezar em vida e mesmo assim, mesmo habitando uma insignificante massa disforme, eu podia sentir a prepotência emanando de suas fendas oculares. Como gostaria de poder esmagá-lo, porém estava decidida a entregá-lo a ela, como forma de piedade, quem sabe assim talvez um deles entendesse o quão fora importante o sentimento que a Comensal nutrira pelo Lord durante todo esse tempo, mesmo escondendo até de si mesma.
Seus braços alvos e leves envolveram a coisa viscosa onde os fragmentos de alma se uniram rusticamente. Uma certa ternura maternal envolveu os corpos deles, de modo que só se via um feixo de luz verde iluminando o pequeno espaço que ocupavam na imensidão negra que lhes fora destinada. Sorri, aprovando o destino de ambos os amantes.
Me contou o vento que se passasse em silêncio, de maneira imperceptível por entre o pouco espaço que os separava, poderia-se ouvir um doce canto deslizando por entre o espaço tênue que separava os lábios dela, enquanto o esboço de face daquele que outrora fora Lord parecia sorrir.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!