Recomeçar...onde???
A meia hora atrás, o cheiro da liberdade me parecia realmente bom. Agora, tudo o que consigo sentir é o cheiro de mato e asfalto molhado por essa chuva que parece nunca parar. Sim, eu sou uma pessoa livre, a apenas pouco mais de meia hora, mas sou livre de uma maneira geral. Não, eu não fugi de casa, se é isso que você está pensando nesse momento,. Aliás, eu jamais faria uma coisa dessas, amo demais meu pai para ser capaz de cometer tal ato, isso o arrasaria demais. Na realidade, eu sou apenas uma garota saindo de sua cidadezinha para conhecer o resto mundo – que se resume ao território de meu país, porque mais longe esta difícil de ir – e que escolheu Londres por destino. Esse vai ser o lugar onde serei feliz (ou irei me iludir, como meu pai disse brincando ainda mais cedo).
A meia hora atrás eu era só um garoto revoltado com meus queridos amiguinhos. Agora eu sou um garoto desesperado, molhado e indo buscar meus amiguinhos rebeldes que, com certeza, estão enroscados no balcão daquele boteco de novo. É incrível o tempo que eles conseguem passar lá, será que só eu tenho mais o que fazer do que ficar bebendo e conversando??
Bom, pensemos pelo bom lado, com toda essa chuva, vou chegar em casa de corpo e alma lavada, dispensando qualquer possibilidade de um banho às nova horas da noite... Brincadeira! Com essa chuva tem de ser muito maluco pra sair por aí, se bem que, pode ser apenas minha imaginação, mas acho que tem alguém ali na frente. Não, não é minha imaginação. O que, por Deus, aquela garota está fazendo ali na frente do bar, tomando essa baita chuva e ainda por cima com aquele monte de coisa??
- Você não pode entrar ai, sabia? Está fechado – eu disse chegando perto dela e apontando a placa na porta.
- Se está fechado, o que você está fazendo aqui e agora?- pergunta a garota desconfiada.
Caracaaaa, como os olhos dela são azuis!!
- Eu... Eu sou Remus, e você é... – digo estendendo a mão desesperadamente (você jamais me verá assim de novo, ok?!)
- Isabella. Mas você sabe que não foi isso que perguntei, né?- ela disse apertando a minha mão e sorrindo.
Gente, que sorriso maravilhoso, como alguém pode sorrir desse jeito?
- Então, na verdade eu estava vindo...
- Remie, como você demorou! Já estava achando que teria que voltar soziiiinhaa para casaaa!!!! – uma Lene desesperada acaba de pular no meu pescoço vinda de não sei onde – Ah, tem alguém com você... Oi, eu sou a Marlene!! – a Lene ta acenando com um tchauzinho vergonhoso para a Isabella agora.
- Ei Lene, porque você não deixa o Remus entrar agora.. Oi, você é...? – Gabriel acabou de aparecer pra tirar a Lene de cima de mim, mas parece que mudou de idéia.
- Oi, eu sou a Isabella. Na verdade, eu não queria atrapalhar, só achei que poderia esperar aqui até a chuva passar...
- Claro que pode, entra ai com a gente. – finalmente Gabe resolveu abrir espaço na porta pra gente entrar. Bom, parece que ele realmente se esqueceu de me ajudar a levar a Lene pra dentro e fazer ela me largar.
- Olha só quem apareceu pra tomar conta da gente – Sirius não agüenta de saudades de mim, não é mesmo? – E ele trouxe visitas!! Por que você não apresenta sua nova amiguinha pra gente, hein?... Não vamos roubar ela de você, meu querido. – ele esta lançando nesse exato momento um daqueles olhares de cão na porta do açougue para a Isabella, que pelo jeito esta a ponto de sair correndo.
- Ah Sirius, quando você vai aprender a não constranger as pessoas? Prazer, meu nome é James Potter – estendendo a mão a uma Isabella meio confusa – aquele que acabou de se atirar pra cima de você é o Sirius Black, aquela coitada com cara de desesperada ali é Sarah Kingsley. Dá um oizinho Sarah – Imaginem a Sarah dando o oi mais desanimado do mundo. – Aquela maluca que você conheceu na porta é Marlene McKinnon e aquela ruiva maravilhosa é a Lilian Evans – James tem sempre que terminar tudo mandando um beijinho pra Lily?
- E eu sou Gabriel McKinnon,. Mas chega de apresentações, vou pegar alguma coisa pra vocês beberem ok?! – Gabe some atrás do balcão – E você Isa, posso te chamar de Isa, né? O que te trás até nossa linda e agradável Londres no meio dessa baita chuva? - Disse ele estendendo duas garrafas de Coca pra mim e para Isa.
- Na verdade, eu acabei de chegar em Londres. Tomei toda essa chuva e ainda não faço a mínima idéia de onde vou passar a noite. É que eu meio que sai de casa, sei lá, pra encontrar meu rumo, eu acho – ela realmente parece alguém tentando encontrar algo, suspeitei desde o princípio.
- Ai, eu sempre quis fazer isso. Quero dizer, sair de casa e procurar um rumo e talz... – lá vem a Lene com toda a sua loucura ambulante...
- Lene, a gente esta fora de casa e também estamos procurando um rumo para nossas vidas. – Lily disse olhando para Lene com uma cara de ‘fica quieta vai’ – Mas você não conhece ninguém por aqui onde você possa ficar? Nenhum parente ou amigo?
- Na realidade não. Eu meio que estou perdida, se é que vocês me entendem...
- Tipo assim Isa, posso te chamar de Isa, né? – disse a Lene – Você poderia ficar com a gente, assim, até você achar um lugar melhor....
- Boa Lene. – Disse o James batendo palmas – Até que enfim uma idéia boa saiu dessa sua cabeça cheia de cerejinhas. Você pode ficar com a gente, o que acha??
- Acho que vai ser estranho... - Disse Isa com cara de preocupada.
- Bom, mais estranha do que nossa vida já é? – disse Sirius mais pra si próprio do que para alguém – Aaahh não. A não ser que você seja o Jack estripador disfarçado de garotinha, acho que você é que está correndo mais riscos do que a gente.
Bom, vocês devem imaginar a cara que eu fiz quando adentrei aquele apartamento estranho, localizado no terceiro andar de um prédio totalmente velho e caindo aos pedaços, naquela ruazinha mal encarada bem no meio de Londres. Era inacreditável como aquelas paredes esburacadas ganharam vida com a chegada daqueles adolescentes estranhos e alegres. Qualquer outra pessoa não acreditaria no quanto aquelas paredes tinham histórias de tudo o que já acontecera entre elas.
- Assim, não é o paraíso, mas.... tipo....é só por um tempo sabe, até você encontrar um lugar...
- Eu? Ficar aqui? Com todos vocês? – pergunta a loira olhando rapidamente para todos.
- Bom, se o temporal lá fora te agrada mais...juro que não vou te impedir de ir embora!!!! – diz o moreno de cabelo bagunçado apontando para a janela por onde não se via nada.
- É que... parece que estou abusando de vocês. Acabaram de me conhecer e estão me acolhendo.... não é incômodo para vocês, digo, de verdade?
- Não, não é incômodo nenhum. Além do mais, faz tempo que não temos visitas – disse a ruiva passando os braços pelos meus ombros e me levando na direção de uma porta – Vem, vamos procurar uma roupa limpa e seca e alguns cobertores. Você não vai querer sentir o frio de Londres em sua primeira noite aqui.
Lilian me levou ao quarto das garotas onde Sarah já revirava o guarda-roupa e procurava por cobertas. Lene veio correndo logo atrás de nós e parecia muito animada com a idéia de ter uma visitante.
- Você já sabe o que vai fazer amanhã? Quero dizer, você precisa dar um jeito em sua situação escolar, já que você caiu de pára-quedas em nossa cidade. A gente também tem que arrumar um espaço aqui no quarto e uma cama... OMG, onde vamos arranjar uma cama?
- Calma Lene, deixe-a respirar. Ela acabou de chegar e desse jeito você vai faze-la voltar correndo. Amanhã a gente dá um jeito nisso. E Lene, estamos de férias, então sossega a franga e relaxa...
- Falando de férias, Lily, as aulas voltam na segunda – disse Sarah de algum lugar no meio de uma pilha de roupas.
- Bom, quanto a escola, seria ótimo se a Sarah pudesse dar uma passadinha lá amanhã cedo pra verificar tudo certinho... afinal, a loja não vai abrir de manhã mesmo. Agora vamos todos dormir, que a essa hora o que realmente precisamos é de sossego e uma boa noite de sono,. Principalmente a Isa, certo?
Voltando para a sala, agora vazia, Sarah me mostrou um sofá onde colocou o que encontrou para mim e, quando voltei do banheiro onde troquei de roupa, Lilian e Marlene já haviam feito diversos varais com minhas roupas molhadas, todos atravessando o teto de onde achei que fosse a cozinha.
-Acho que os garotos adorariam ter dado boa noite, mas resolveram deixar isso para um momento mais oportuno. Bom, qualquer coisa você grita ou corre. Primeira porta a esquerda é nossa, a outra é o quarto dos garotos. Jay, Gabe e Remie são legais, mas você não vai querer acordar o Sirius. Ele fica horrível com creme de abacate. Bom, boa noite Isa.
-Noite.
Passei a noite acordada imaginando como conseguira encontrar pessoas tão maravilhosas em menos de dez minutos na cidade. Estava quase pegando no sono quando ouvi leves passadas de alguém que, decididamente, estava empenhado em não me acordar. As surpresas nunca acabam por aqui...
- Gostaria de saber o que ainda faz acordado a essa hora – disse surpreendendo um Remus numa pose constrangedora de pé-ante-pé numa tentativa frustrada de não me acordar.
Nesse momento ele foi acometido de um baita susto que pude praticamente ouvi-lo prender a respiração. Devo ter assustado ele pra valer tamanho o salto que deu quando se virou pra me olhar. Sua expressão me fazia a mesma pergunta.
-Bom... eu... eu só queria tomar um pouco de leite, mas... e você? O que está fazendo acordada? As surpresas não foram suficientes?
- Tá brincando?! Vim para Londres atrás de surpresas e aventuras... Acho que acompanho você no copo de leite – disse esperando que me mostrasse o caminho da cozinha.
Seguimos até o cômodo do lado que era pequeno. Tinha apenas uma janela de frente a um muro (que paisagem). Tinha também uma mesa cheia de milhares de cadeiras ao redor, e parecia tão pequena para acomodar todas aquelas pessoas. Sentei-me em uma das cadeiras enquanto Remus pegava uma caixinha de leite e dois copos.
- Não parece estranho tudo isso? – disse sentando-se de frente comigo me oferecendo um copo cheio de leite – Quero dizer, a gente se encontrando bem no meio daquela chuva. Parecia que era um encontro marcado.
- Nem sei o que pensar sobre tudo isso. Só sei que estava no lugar certo na hora certa.
Ele tomou um gole do leite que acabou deixando-lhe um “bigodinho”. Lembrei do meu pai e seu total desleixo na hora de tomar leite, e instintivamente limpei o bigode dele com a ponta de meu dedo, o que deixou ele totalmente vermelho e eu envergonhada depois de perceber o que havia feito.
- Desculpe – eu disse olhando meu copo – foi o meu senso de cuidado com meu pai que fez isso.
- Sente falta dele? – ele disse tomando mais um gole de leite cuidando para não deixar mais nenhuma marca.
- Na verdade o meu pai é tudo o que tenho nesse mundo. Não sei como foi que tive coragem de deixá-lo assim, sozinho – disse brincando com a borda do copo para não olhá-lo. Na realidade, eu não costumo falar com ninguém sobre o que penso, muito menos com um quase estranho.
- Você não tem mãe ou alguém que possa cuidar dele, quero dizer, para que não fique totalmente sozinho? – perguntou tentando olhar pra mim.
- Minha mãe foi embora quando eu ainda era bem pequena. Meu pai disse que a culpa não foi minha, mas sei que tenho parte nisso. Ela não estava preparada para esse tipo de vida, não era o que ela queria, sabe... crianças e um marido para cuidar. Ela sempre quis ser sozinha, construir sua vida de uma maneira independente. Quando viu que nada iria mudar, ela simplesmente achou que abandonar a gente seria a solução.
- Você nunca mais viu ela desde então?
- A gente nunca manteve contato, se você quer saber. Uma vez ela escreveu uma carta, apenas para dizer que sentia muito e que tinha certeza de que eu cresceria melhor longe dela, que seria melhor para mim dessa forma. Recebi a carta no meu aniversário de 9 anos, e jamais pensei em responder. Eu era feliz com meu pai e, pela primeira vez, tive a certeza de que ela tinha razão, seria mais feliz sem ela.
Ficamos um tempo em silêncio, ouvindo os pingos de chuva que ainda insistiam em cair. De repente, como que movido pela minha onda de pensar na vida, Remus disse:
- Sabe, eu acho que morar aqui também é uma espécie de fuga de nossos lares. Não quero dizer que não gostássemos de lá e que fomos embora sem olhar para trás, é só que aqui é onde podemos ser quem queremos realmente ser, sem regras ou horários e recriminações. Podemos pensar e falar sobre o que quisermos, sermos nós mesmos.
- Vocês saíram fugidos, é? – perguntei achando graça no modo como coloquei a situação. Tomei mais um gole de leite enquanto ele refletia sobre a pergunta.
-Não sei se ‘fugidos’ seria bem o termo. Saímos de casa em comum acordo com nossos pais. Falamos sobre o que acreditávamos ser o melhor para nós. Eles sabem onde estamos, mas para eles basta irem ao colégio, cuidar de nossa educação e de nossa disciplina.
- Vocês nunca vêem seus pais? – perguntei meio que incrédula.
- Na realidade, vou às vezes ao escritório do papai levar alguma coisa para minha mãe ou simplesmente para dar um oi, mas nem todos nós fazemos o mesmo. James, por exemplo, está em Londres enquanto a família está em algum lugar do mundo, devido ao trabalho de seu pai; Lilian tem os pais morando em Londres, mas estão sempre ocupados trabalhando. Os pais de Sarah são separados, o pai trabalha o dia todo e a mãe passa as tardes no clube e os fins de semana na Riviera. – disse olhando para o nada, talvez imaginando o que acabara de dizer.
- E a Lene, o Gabriel e o Sirius? – perguntei esperando que ele me olhasse.
- Marlene e Gabriel? Esses talvez tenham realmente fugido. Saíram de casa antes que ficassem malucos com a idéia que os pais tinham de transformá-los nos queridinhos da sociedade londrina. Pura loucura. Bom, já o Sirius...ele sempre esteve por ai. Para os pais, não fazia muita diferença onde estivesse desde que não desse gastos ou trabalho, e olha que o pai dele nada em uma caixa forte tipo a do Tio Patinhas.
- Como acharam isso? – perguntei olhando o apartamento.
- Gabriel achou sem querer, olhando os classificados. Viemos ver e achamos que era perfeito, considerando que éramos jovens desempregados na época. Bom, ainda parece o apartamento de jovens desempregados... – disse olhando bem para o papel de parede velho da cozinha.
- Vocês devem ser realmente amigos então, para cometerem uma loucura dessas.
- Somos praticamente irmãos e acredito que morreríamos uns sem os outros. Meio que crescemos junto e nos entendemos muito bem.
Nessa hora ouvimos um som de arrastar de coisas e, de repente, um Gabriel muito sonolento entrou na cozinha.
-Acordaram meio cedo para o café, hein... – disse tentando nos encarar com os olhos abertos.
- Cedo? –olhei para um relógio na parede e percebi que já eram quase seis horas. Decidi levantar e ir ao banheiro me trocar – Melhor eu ir dando um jeito na vida e AAAAhh – gritei num sobressalto.
Na porta da cozinha estava a coisa mais feia que eu já vira na vida. Havia alguém parado ali, mas esse alguém estava vestindo um pijama verde com elefantinhos cor-de-rosa e com a cara totalmente coberta com algo gosmento que cheirava a abacate.
- Bom dia pra você também – disse a figura que descobri ser o Sirius.
- Agora você sabe por que eu disse que você não iria querer vê-lo durante a noite – disse Lilian entrando na cozinha completamente vestida – Vocês já tomaram café? – perguntou olhando decepcionada para os dois copos de leite vazios que Remus tinha na mão.
- Na verdade, a gente acordou meio sem sono e acabamos topando na cozinha – disse ele colocando os copos na pia – Ficamos conversando e perdemos a noção da hora.
- Perderam a noção da hora. Ah, conta outra, vai certinho. – disse James entrando na cozinha todo arrumado – E você toma cuidado com ele, ta. É perigoso, não pode ver nenhuma garotinha indefesa que já cai matando – disse virando-se para mim sério, deixando Remus constrangido pela segunda vez em menos de 24 horas.
- Caraca, será que as manhãs não podem começar normais, só para variar? A gente sempre vai parecer um bando de malucos discutindo?
- Liga não, a Lene sempre acorda de mau humor às quintas-feiras – disse Sarah entrando na cozinha logo atrás da morena revoltada.
No final das contas acabamos todos ficando por ali tomando café antes de sair. Aliás, eu precisava procurar um emprego senão acabaria morrendo de fome, e também precisava encontrar um lar, afinal não queria ficar dependendo deles até o fim da vida. James disse que poderia tentar encontrar algo no estúdio onde trabalhava, mas decidi procurar por mim mesma, o que não foi definitivo. Assim que Gabriel voltou da padaria, jogou a página de classificados do jornal na minha frente.
- Não sei o que procura, mas aqui diz que no jornal estão precisando de alguém para preencher uma coluna, é um trabalho de meio período, talvez possa lhe servir.
- Falando em procurar... – disse me levantando e procurando pela calça jeans que vestia na noite anterior, pendurada em um dos inúmeros varais da cozinha, e pegando um papel no bolso dela – preciso encontrar esse lugar. - disse entregando o papel na mão de James – Meu pai disse que quando chegasse deveria ir a esse lugar que encontraria algo para mim.
- Esse lugar é o nosso colégio – disse James levantando os olhos para mim.
- Eu vou lá agora – disse Sarah – se quiser pode ir junto, aí você já resolve isso tudo.
Decidi, por fim, ir ao colégio e depois dar uma passada no jornal. Eles haviam me dito que o jornal não era uma grande publicação, mas que o pessoal era gente boa e talvez conseguisse o emprego. No final das contas, todos se arrumaram e saíram para trabalhar, enquanto eu e a Sarah rumamos para o colégio. Eles haviam dito que a diretora era legal e que era só eu conversar direitinho com ela que resolveria tudo, o que quer que fosse.
O colégio não era muito longe dali, apenas cinco quadras, a uma quadra e meia da biblioteca e de esquina com um parque cheio de arvores e velhinhos sentados lendo jornal, ou seja, totalmente bem localizado. Será que esses velhinhos iriam ler o que quer que eu escrevesse? Melhor não pensar nisso.
Aquele colégio era, com certeza, mais velho que minha avó, mas, ao contrário dela, estava totalmente conservado. Era uma grande casa cor-de-rosa onde a Sarah me disse que ficava a direção e o prédio ao lado, meio colorido, era onde ficavam as salas de aula, laboratórios, biblioteca e todo o resto. Achei divertido o lugar e estava dando uma olhada por ali quando Sarah voltou e me disse que a diretora estava me esperando na sala dela, aí minha coragem desceu no nível, o que eu deveria fazer mesmo?
- Com licença. A senhora gostaria de me ver? – perguntei entrando em uma sala adornada com móveis antigos e uma grande estante onde haviam milhares de livros e alguns troféus. Alguém dividia a sala com a diretora, pois havia duas mesas.
- Sim. Você é a Srta. Keller, não é? Muito prazer, sou Anabeth Connor – disse estendendo a mão para que eu apertasse – Sente-se, por favor, e me conte porque está aqui.
Sentei-me e comecei a relatar quase tudo o que já havia dito ao Remus na noite anterior. Contei como cheguei e encontrei eles por acaso, e como estavam me ajudando sem nem mesmo me conhecerem. Também contei sobre o papel que meu pai me dera com o endereço do colégio e que me dissera para ir até lá, mas não me explicara mais nada.
-A Srta. teve muita sorte de encontrá-los pois são pessoas muito boas, um pouco estranhas e os meninos, bem, eles adoram vir dar um passeio em minha sala, mas são todos ótimas pessoas. Em que ano você disse que estava?
- Estou no terceiro ano senhora, mas...
- Bom, acho que gostará de saber que seu pai mandou você até aqui para que pudesse efetuar sua matrícula para este ano. Recebi uma ligação dele a algum tempo, quando você decidiu vir, e então discutimos sobre o assunto e decidi dar-lhe a vaga do terceiro ano.
- Mas, como meu pai sabia...
- Seu pai e eu somos velhos conhecidos e digamos que eu tinha uma dívida com ele que não vem ao caso. Também me senti muito bem em lhe oferecer esta vaga, pois ele disse que não iria me arrepender. Gostaria que soubesse que esta é uma instituição que preza certos valores como uma boa educação e bom desempenho. Para fazer parte dela deverá se esforçar muito e dar o devido valor ao lugar conquistado.
- A senhora não se decepcionará comigo. Muito obrigado por tudo o que fez por mim – disse me levantando e estendendo novamente minha mão.
-Passe e deixe sua documentação com a Claudia na secretaria. Espero que esteja aqui segunda-feira, pontualmente e arrumada adequadamente. Até segunda.
- Até segunda, e novamente, muito obrigada. Com licença.
Quando sai da sala passei imediatamente na secretaria para deixar meus documentos e a Claudia, uma moça loira de cabelos curtos e óculos, muito divertida, me entregou um cartãozinho. Disse que a diretora mandara entregar, dizendo que tudo o que precisaria encontraria no local indicado. Do lado de fora do prédio, Sarah me aguardava com os braços abertos.
-Que bom que conseguiu, sabia que daria tudo certo – disse me abraçando. Viu que eu trazia um cartão na mão e deu um salto de felicidade – Compras!! Adoro fazer compras. Vamos que eu te levo lá, é pertinho daqui, e eles servem chá com biscoitos na recepção.
Fomos então até a loja de uniformes e, não é que serviam chá com biscoitos mesmo? Era um lugarzinho pequeno, como quase tudo por ali. Logo saímos de lá levando os uniformes novos do colégio e mais algumas coisas que encontramos em uma lojinha ao lado. Não acredito que meu pai tinha tudo premeditado, minhas roupas, minha vaga, tudo.
Quando chegamos em casa não havia mais ninguém lá. Na realidade Sarah só estava em casa porque tinha recebido uma folga de manhã, caso contrário eu estaria sozinha. Arrumamos algumas coisas e preparamos algo para comermos. Aos poucos o pessoal foi chegando e contamos sobre minha vaga na escola.
- Isso é maravilhoso. Agora você será da nossa turma – disse Lene pulando em volta de mim igual uma maluca – Vamos poder fazer tudo juntas...
- Por favor Lene, deixa ela respirar – disse Gabriel me abraçando – Parabéns Isa, espero que goste de lá, vai ser ótimo ter você na nossa turma.
Enquanto todos me davam os parabéns, alguém tocou a campainha, mas a Lily se encarregou de ver quem era. Depois de um tempo ela voltou com uma cara de espanto.
- Isa, você é a guria de maior sorte que eu já vi – disse me olhando com uma cara de incrédula.
- Quem era Lily? – perguntou James curioso.
- Parabéns Isa, você acabou de conseguir um meio de poder ficar aqui com a gente definitivamente – disse a Lily parecendo extremamente feliz.
- Diz logo quem era, senão vou arrancar de você a força – ameaçou Sirius sob uma carranca de desaprovação de James.
- Era o Fill do 220. Ele disse que viu que tínhamos uma visitante e talvez estivéssemos precisando de mais uma cama. Já que a irmã se mudou para Oxford com o namorado e não pretendia voltar, ele tinha a cama dela sobrando e ocupando um espaço que ele praticamente não tinha e decidiu oferecê-la à Isa. Ele não cobrou nada, mas bem que podíamos encontrar um meio de recompensá-lo.
- Pera ae... quer dizer que a Isa agora é definitivamente uma de nós? Isso se ela realmente quiser, se não tiver outros planos e também se não estiver traumatizada por ter visto o Sirius de manhã...
- Cala a boca sua morena maluca – disse Sirius encarando a janela ao invés da Marlene.
- Meu Deus, alguém lá em cima gosta muito de mim. – disse sentando-me em uma cadeira – É claro que quero ficar aqui. Prometo que vou ajudar em tudo que for possível.
- Bom, agora temos de achar um lugar para colocar a cama no quarto de vocês. Ela não pode ficar na sala, senão o Remus vai acordar todo dia na cozinha tomando leite... – disse o Sirius com cara de preocupado.
- Ha-ha, não teve graça – disse Remus rangendo os dentes para o amigo – Mas a gente precisa dar mesmo um jeito. Olha, tenho que voltar para a biblioteca, mas lá pelas três estou saindo, afinal fecha mais cedo hoje. Assim que chegar, ajudo vocês com isso, ok? – disse já se levantando para sair – Beijos para todos e, Sirius, te amo meu querido, sentirei saudades – disse indo para a porta e mandando um beijinho para o Sirius que fechou a cara para ele.
- Falando em sair, está na hora da gente ir também não está? – disse Lene preocupada olhando para o relógio – Lily, vamos senão a gente atrasa.
Elas saíram correndo levando com elas os garotos, afinal todos estavam atrasados. Fiquei com Sarah para arrumar tudo, mas logo ela também teve que ir. Na realidade, ela não tinha certeza se precisariam dela, então resolveu dar uma passadinha na loja e ver o que poderia fazer. Eu, como já não tinha aonde ir, decidi dar um pulo no jornal e ver o que conseguiria.
Acompanhei Sarah até a porta da loja que era a apenas três quadras do apartamento e depois segui sozinha até o The Chronicle, que ficava em um prédio grande de esquina, com paredes cinzas e portas de vidro escritas. Falei com a recepcionista e mostrei o anúncio do jornal. Ela me indicou o escritório do diretor e disse que deveria conversar com ele. O gerente estava no telefone quando cheguei, provavelmente gritando com alguém.
- Ah, esses fotógrafos inúteis, nunca sabem o que fazer. – disse estendendo a mão para mim – Eu sou Robert Smith, diretor do the Chronicle. Em que posso ajudá-la, srta...
Robert era um desses caras grandes que faziam me sentir minúscula e apavorada. Tinha um bigode preto e espesso igual os seus cabelos; usava uma camisa azul claro combinando com uma gravata azul marinho que o fazia parecer um executivo.
- Keller – disse apertando sua mão com firmeza – Isabella Keller. Vi o anúncio no jornal dizendo que precisavam de alguém e decidi ver se podia ajudar.
- Tem boa linguagem? – perguntou avaliando com seus olhos azuis.
- Claro, não sei se sou capaz de criar muita coisa, mas possuo uma linguagem perfeita.
- Que bom. Afinal, isso é um jornal e espera-se que pelo menos nós consigamos escrever bem. Ahh, e você têm algum problema com mortos?
- Não senhor. Mas devo informar-lhe que só posso trabalhar no período da tarde, pois começarei a estudar na segunda-feira e não terei tempo de manhã.
- Quanto a isso não precisa se preocupar, pedirei a Sanny que separe o seu material de trabalho para que possa realizá-lo durante as tardes. Lembre-se, a edição fecha às 4:30, ou seja, tudo deverá ser entregue revisado até esse horário, senão ficará de fora da edição. Espero que seja responsável e cuide bem de seu trabalho, assim como sei que cuida de seu cabelo mocinha. Parabéns, você é agora a oficial da seção de obituários. Bem vinda ao The Chronicle.
Dizendo isso, virou-se e pegou novamente o telefone, aí achei que era hora de me mandar. Quando passei pela recepção, a secretária me entregou um cartãozinho com os horários e telefones de contato que guardei no meu bolso e também me disse que se houvesse algo para trazer, deveria arrumar porque começaria na segunda.
Fiquei tão abismada com a minha sorte que sai de lá andando aleatoriamente pela rua. Quando dei por mim já havia passado o colégio e estava na quadra da biblioteca. Resolvi entrar e dar as boas novas ao Remus.
Quando entrei não encontrei ninguém no balcão, então constatei que ele deveria estar em alguma estante. Assim, comecei a procurar e acabei achando ele de pé em uma pequena escada colocando alguns livros de Machado de Assis na prateleira. Viva a Literatura Brasileira. Me postei atrás dele e gritei cutucando-o:
- Dê os parabéns a nova oficial da seção de obituários do The Chronicle.
Tamanho o susto que levou (pela segunda vez) ele imediatamente foi ao chão levando consigo todas as edições de Dom Casmurro.
- Sua assassina da literatura! Você acabou de derrubar milhares de volumes de uma obra importantíssima, sua maluca desvairada dona de uma seção barata sobre mortos!
- Seção barata sobre mortos? Sabia que posso te colocar lá agora mesmo? E com sorte vai sair na edição de amanhã. – disse com cara de ofendida olhando para o meu amigo estirado no chão.
- Quero ver como vai explicar isso tudo ao Sirius, ele vai chorar de saudades sabia? – disse abrindo um sorriso e pegando minha mão estendida para levantar.
- Sim, ele vai chorar, e muito, pelo que vi hoje. – disse olhando desconfiada e divertidamente para ele – Mas nada que uns novos produtos de beleza não o façam superar...
- Oh, sim. Depois da dor vem a troca. Vou ser esquecido para sempre e trocado por potinhos cheios de creme verde e gosmento... eca – disse fazendo cara de nojo – que bom que você conseguiu o emprego, acho que isso merece uma comemoração. Cama, colégio e emprego, tudo num dia só. Diria até que merece uma voltinha no Gloverdilly com a Lene, mas é melhor deixar isso para outra hora, não é? Veio me buscar ou só tentar me matar mesmo?
- Vim para te matar, mas já que não consegui, posso te levar para casa. – disse pensando bem – Acho que a gente deveria ir logo, porque se bem me lembro, deve haver uma cama na frente de nossa porta me esperando agora mesmo.
- Claro, já estou fechando por aqui também – disse ele fechando alguns cadernos que estavam sobre uma mesa atrás do balcão e desligando um rádio – Lucyy... Já tô indo, ok? Amanhã eu termino de colocar tudo nas estantes, tem algumas coisas que ainda faltam catalogar.
Enquanto uma voz gritava de volta para ele, terminei de reunir os livros que o fiz derrubar e coloquei-os atrás do balcão junto com outros.
- Obrigado Isa, acho que podemos ir agora. Tchau Lucy – gritou acenando para uma cabecinha que estava espiando por uma porta bem no final de um corredor entre as estantes.
Fomos embora discutindo sobre as possíveis mortes que eu iria escrever e um pouco também sobre o colégio e como seria na segunda. Quando chegamos ao apartamento eu realmente estava certa, havia uma cama desmontada na porta.
- Olha só o que estava nos esperando. – disse Remus olhando a cama – Melhor a gente levar pra dentro e procurar um lugar para ela no quarto.
Levamos tudo direto para o quarto das garotas, onde parecia que a Sarah já havia separado um espaço. Fui levar a mochila do Remus para o quarto dos garotos e encontrei um recado dela em cima da mesa da sala. Dizia:
“Fui buscar algo para comer e passei pegar as garotas. Provavelmente o Jay e o Sirius logo chegarão (ou não). Não espere pelo Remie ou pelo Gabriel, eles estão sempre atrasados. BjÔ. Te amo. Sarah :p”
Mostrei o recado para o Remus que achou graça no “sempre atrasados”.
- Ela é que sempre quer fazer tudo antes da hora. Eu sou apenas pontual. – disse começando a montar toda aquela parafernalha cheia de parafusos – Não precisa me ajudar se não quiser, tá. – disse concentrado e sentado no chão feito uma criança.
- Me desculpe. No que precisa de ajuda? – perguntei fazendo pose de assistente.
- Só continue falando, é engraçado quando você filosofa.
- Ah tá.
O trabalho foi realmente muito rápido e logo estávamos estirados no tapete da sala assistindo aqueles programas de TV malucos onde as pessoas vão discutir sobre o quanto sua família é esquisita. É engraçado estar nessa casa sozinha com o Remus dormindo no tapete. Não, não estou rolando com ele no tapete, ok?! E também essa ausência de pessoas não faz parte de nenhum plano para me atira em cima dos garotos de olhos cor de mel. A verdade é que ele é diferente, tipo, foi ele quem me encontrou e também o único com quem tive uma conversa séria de verdade até agora.
Pouco depois o Gabriel chegou, mas nem sinal da Sarah. Ele também se amontoou no tapete, depois de passar quinze intermináveis minutos cantando no chuveiro. James e Sirius também chegaram discutindo sobre algo como abajures e velhinhas. Lily, Sarah e Marlene demoraram mais uns vinte minutos, o que deu tempo a todos para tomarmos banho; e quando chegaram encontrar cinco pessoas revoltadas, afinal estávamos com fome, poxa.
- Gente, que caras feias são essas? A tia Sarah já chegou e olha só o que eu trouxe... PIZZA!! – disse mostrando duas caixas que trazia nas mãos.
- E eu, como sempre, o burro de carga, trago para vocês os refrigerantes e a bolsa da Sarah. Divirtam-se. – disse a Lene atirando um negócio preto e uniforme em cima do Gabriel – É Prada, deve valer alguma coisa...
- E ai gente, novidades? – perguntou Lily sentando no sofá apenas para tirar os sapatos e levantando-se em seguida para ajudar Sarah na cozinha. Levantei-me também e, junto com Gabriel, seguimos ela.
- Claro. – eu disse – Mas vou deixar para o jantar.
- É, a Isa tem ótimas notícias, medonhas, mas ótimas – disse Remus de algum lugar no chão da sala.
Quando finalmente nos sentamos para comer começamos a discutir as notícias do dia. De repente James se levantou e, segurando um copo de Coca, decidiu que faria um brinde. Claro que brindes com refrigerantes são os únicos autorizados durante o horário nobre, então...
- Um brinde a nossa querida irmã Isa, nossa mais nova integrante; pela sua vinda, sua vaga no colégio, sua cama e seu novo cargo como oficial da seção de obituários do The Chronicle. – disse olhando para mim com um sorriso – e também a minha ruiva linda – disse mandando um beijinho para Lily que revirou os olhos.
- Viva a seção de obituários – disse Sirius erguendo seu copo também.
- Obituários? Agora sei o que você quis dizer com medonho Remus – disse Lily olhando o amigo – Quem diria... Bom, se morrermos...
- Isa vai escrever horrores da gente para a cidade toda ler – disse Sirius sério.
- Eu? Magina. O que eu poderia escrever de horroroso sobre você? – perguntei fazendo cara de inocente.
- A propósito, Sirius, aquele seu pijama de elefantinho é uma gracinha – disse Gabriel dando um de seus melhores olhares sedutores para Sirius.
- Gracinha é a senhora sua avó dançando ballet na mesa do seu chefe. – rebateu Sirius
Foi imaginando cenas como essa que passamos o resto da noite sentado na cozinha, não fazendo nada para variar. O que eu poderia dizer de minha primeira noite com meus novos irmãos? Foi perfeita.
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N/A: Manuh finalmente apareceu para postar...haha! Bom, depois de muito tempo encenando eu finalmente consegui extrair alguma coisa dessa minha caixola. Também, com a ThiTi me infernizando por isso...AMO VC XUXU! Tá, espero que realmente tenham gostado ou pelo menos achado, no mínimo, divertido...BEijinhos (to sem criatividade pra escrever).
N/B: Manuuuh, o que posso dizer pra você, hein maninha?! Primeiramente devo dizer que é uma honra poder ser a beta dessa fic maravilhosa *-* Ela é tãão perfeitaa! Amei muito concertar os errinhos básicos e ser a primeira a ler õ// O nosso Remie tava maravilhoso como sempre! Mas você sabe que prefiro o Sirius, e cá entre nós que ele esta perfeito na fic *-* Ksaopkapoaspsap Pelo jeito o Gabriel com a Lene vão ter as típicas brigas entre gêmeos, não?! E o James com a Lily, muitos foras?! Só não pode judiar muito deles, eu amooO esse casal e você sabe disso ^_~ Sarah parece ser tão espivitadaa! São uns xuxus esses personagens (y’ Aiin, rachei com algumas cenas do capítulo! “Aquele colégio era, com certeza, mais velho que minha avó, mas, ao contrário dela, estava totalmente conservado.” A Isa ama a avó dela, né?! kspoaskpokapoksapas Nhaaa, porque será que eu acho que conheço essa “grande casa cor-de-rosa”, hein?! Escolinha linda do meu coração *-* ksapokaspoaskasp Resumindo mana, capítulo e fic perfeitooOs! ThiTi aqui já é fã nº 1 ^.^ AmooO você porkeira! BeeeijooOs!
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