Capítulo 6



CAPÍTULO VI


 


Naquela noite, recostada em almofadas, muito bem acomodada no sofá Gina estava atenta as palavras de  Harry, que  desabafava, exagerava e praguejava:


— O camarada era um vigarista, sem dúvida! — avaliava ele. —   Aplicou o golpe a vários bruxos ricos aqui de Lisboa, pegou o ouro, jóias e sumiu. Os aurores daqui estão atrás dele, claro, porque ele aprontou com gente muito importante. Uma bagunça. O pior é que consertei o problema aqui, mas o espertinho aplicou o golpe também em Madri.   Vou para Madri amanhã cedo ver as pistas por de lá... Talvez esteja por lá ainda... Comensal filho da mãe...


Gina ficou tensa, mordeu os lábios com força.


— Não vai voltar para casa?


— Não. — Harry suspirou. — Tentei encaixar um pulo rápido em Londres, mas não vai dar mesmo. O Ministério em Madri exige a minha presença imediatamente.


— Oh. — Gina baixou os ombros. — Bem, sim, claro, faz sentido… acho. Não, esqueça. Definitivamente faz sentido. É só que eu…


Hesitou confusa.


Sentia saudade de Harry e o queria ali, em casa, com ela… naquele instante. O mais estranho era que se tratava de uma saudade diferente da que experimentara antes, um sentimento com o qual começava a se acostumar.


Não saberia apontar precisamente a diferença, mas definitivamente havia alguma. Era como se uma nuvem negra estacionasse sobre sua cabeça ao se dar conta de que Harry não bateria três vezes na parede para anunciar sua chegada por… quem saberia quanto tempo?


— E só que você… o quê? — instigou ele.


— Oh, bem, nada. Lamento que esteja com tantos problemas, Harry.


— Eu também. A única coisa boa é que já sei que esse comensal infeliz trabalha sozinho e já estamos preparando uma armadilha para ele em Madri.


— Quanto tempo?


— Não sei dizer ao certo… talvez um mês, em vez dos dois que passei aqui.


— Mais um mês inteiro? — protestou Gina, quase gritando. Bateu a mão livre na testa e abandonou-se sobre a almofada. — Ignore-me, Harry. Estou parecendo uma esposa ranzinza.


Ele riu.


— Se casasse comigo, teria todo o direito de reclamar, Gi.


— Não, obrigada. — Ela fez uma pausa. — Precisa desabafar mais sobre a situação aí? Não o estou apressando, só estava pensando se já terminou.


— Sim, vou fechar a boca — replicou Harry. — Descarregar em você não vai mudar nada.


— Fico contente em ouvir.


— Eu sei, Gi, e estou agradecido. Então! Como vai você? E o bebê? Ora, espere um pouco. Você teve uma consulta com Hermione hoje. Atualize-me. O que ela disse?


— Estou bem. O bebê também — resumiu Gina. — Mas estou gorda, uma leitoa mesmo.


Ele riu.


— Duvido, Gina. Só está de três meses.


— Não estou brincando, Harry. Não consigo mais fechar as saias e calças. Hermione disse que aparentemente vou ser uma grávida do tipo que estufa logo. Todo mundo vai saber antes do que eu imaginava.


— Bem…


— Harry, tenho de lhe contar e lamento muito mesmo… estava conversando, você sabe como eu fico às vezes, e dei dicas aqui e ali sem perceber, e Hermione… Harry, ela  descobriu que você é o pai deste bebê.


Harry permanecia em silêncio.


— Oh… Você está furioso, não está? Hermione prometeu que não contaria a ninguém da família, Rony… que você… que nós… eu lamento tanto, tanto…


— Calma — pediu Harry. — Calma, Gina. Não estou zangado. Em absoluto. Por mim, todo o clã Weasley podia ser avisado sobre o bebê agora mesmo. Mas eu queria estar do seu lado...


Ela se sentou, tensa novamente.


— Não diga absurdos! Serão meses de especulação: "Por que não se casam?". Não. De jeito nenhum. Ninguém vai saber até eu não conseguir mais esconder minha condição. Prometa que não vai contar a nenhum dos meus irmãos, nem aos meus pais ainda, Harry. Por favor, prometa.


— Está bem, está bem, não fique estressada, Gi. Mas quando eu voltar para casa, precisaremos conversar mais.


Gina estreitou o olhar.


— Sobre o quê?


— Prefiro esperar para falar, porque é realmente muito importante.


— Harry, não é justo! Vou ficar aqui sentada, fervendo, maluca tentando descobrir o que se passa na sua cabeça. De tão preocupada, vou me esquecer de seguir o esquema de horários para tomar leite.


— Isso é chantagem, Gi.


— Se funcionar…


Harry praguejou, e ela se encolheu.


— Está bem — concordou ele, finalmente. — Você ganhou, mas realmente preferia esperar e falar pessoalmente sobre isso. Gina, apesar das longas horas de trabalho aqui, tive tempo para pensar, no meu quarto de hotel, à noite. Bastante tempo.


— E?


— Você está gerando um filho meu.


— Um filho nosso.


— Você entendeu. Bem, quero que nosso filho tenha o meu nome, que seja um Potter. Preciso que ele saiba que estou orgulhoso e feliz por ser seu pai, não quero que duvide jamais de que sempre o quis muito mesmo.


— Ohhh — entoou Gina, com os olhos marejados. — Isso é tão meigo.


— Ouça, está bem?


— Sim. Desculpe-me.


— Sei que acha que não devemos nos casar, Gi, porque somos tão diferentes, e também porque você acha que amar, amor romântico, não fraternal, é o mais importante na hora de fazer os votos.


— Isso mesmo.


— Então, não sei o que dizer — prosseguiu Harry. — Não posso pedir que dê a nosso filho  o meu nome, como se você não existisse. A única solução, acho, seria ligar nossos sobrenomes, algo como "Bebê Weasley-Potter".


— E muita coisa para uma criança aprender a soletrar na primeira série, Harry — observou Gina, amuada.


— Eu sei, mas é realmente importante para mim que ele tenha o meu nome… de algum modo. Promete pensar no assunto enquanto eu estiver fora, para discutirmos quando eu voltar?


— Está bem. Claro. Vou pensar bastante nisso. — Gina fez uma pausa. — Harry, por que fala do bebê como se fosse menino?


Harry riu.


— Porque é menino, Gi, tenho certeza. Não sou um Weasley, mas me sinto como! Sabe a aposta que Gui faz toda vez que vai nascer um bebê?


— Sim... – Gina sorriu. - Quando o pai diz o sexo da criança, é batata! Desde que Fleur engravidou da primeira vez... Victorie, depois George acertou que seria um menino o filho dele com Angelina... Desde então, os papais sempre ganham.


— Carlinhos disse que teriam um menino e… bingo… tiveram. Agora Carlinhos disse que ele  e Jennifer iam ter uma menina… que deve chegar este mês, aliás. Acredite, Jennifer vai ter uma menina. - Concluiu: — Portanto, nós vamos ter um menino, Gina. Pode ir preparando tudo em azul.


Gina pousou a mão no abdome levemente arredondado.


— Um filho — sussurrou, extasiada. — Um garotinho precioso. Você o torna tão real, Harry.


— Ele é real, e é nosso, Gi — festejou ele. — Ele é nosso filho, nosso milagre.


— Sim — sussurrou Gina.


Um calor estranho parecia chegar pelas labaredas da lareira,  aproximando-os, tornando o momento especial e significativo.


Então, devagar, mas com certeza, o calor suave transformou-se em chama pulsante a gerar desejos e trazer lembranças sensuais do ato de amor que haviam partilhado tantas semanas antes.


— Gi, eu… — retomou Harry, finalmente, rouco. Mas se deteve e pigarreou.


Gina piscou e saiu do devaneio passional no qual flutuava.


— Sim, bem, é melhor que durma um pouco — aconselhou ele. — Nos falamos amanhã à noite, de Madri. Lamento muito ter de ficar tanto tempo longe, Gina. Gostaria de estar aí com você, de ter lhe acompanhado a consulta, agora que Hermione já sabe, não vejo porque não acompanhá-la.


— Eu gostaria que estivesse aqui também, mas entendo que não pode. Sempre ficou fora por longos períodos e sempre ficará, acho. Tem de ser assim, por causa da sua carreira.


— Estive pensando nisso também, mas… Cuide-se, e de nosso filho. Boa noite, Gina.


— Boa noite, Harry.


Harry sumiu entre as chamas esverdeadas da lareira e Gina ficou fitando a lareira  por um longo tempo.


— Tenho saudade de você, Harry — sussurrou, suspirando para aplacar as lágrimas.


Harry sentou-se na beirada da cama do hotel, ainda fitando a lareira vazia.


Não queria romper aquela conversa com Gina, percebeu. Era como se tivesse partido de Londres para nunca mais voltar. Nunca mais ver Gina, nunca conhecer o filho de ambos, que crescia dentro dela.


As conversas noturnas não estavam adiantando, não bastavam. Precisava ver Gina, abraçá-la, assegurar-se de que ela estava bem. Queria pousar a mão na barriga de leitoa, segundo ela, e estabelecer contato com o filhinho.


Com um suspiro doído, forçou-se a sair daquela letargia e estendeu-se na cama, apoiando a cabeça nas mãos entrelaçadas.


Tinha de voltar para casa. Não importava que parecesse um garotinho birrento que fugira do acampamento de férias. Queria ir para casa… para Gina.


Também queria se casar com Gina Weasley, comprar uma casa que tornariam um lar, onde formariam uma família… mãe, pai e filho. Como sempre desejou ter... Como um dia teve com seus pais...


Mas isso não ia acontecer, porque Gina nunca concordaria em se casar com ele, porque não estavam apaixonados um pelo outro.


— Ah, raios! — praguejou, e franziu o cenho enquanto fitava o teto. — Tudo é tão complicado.


Por que Gina não via que o que tinham era especial, que ser amigos era importante e significava muito, mais do que muitas pessoas tinham?


Claro, não andavam ofuscados de paixão um pelo outro, mas o que tinham era valioso, verdadeiro, e contava. Formariam uma frente única, pais dedicados ao filho, que a criariam num lar cheio de alegria e brilho.


Riu e meneou a cabeça.


Seria um lar com os armários sempre vazios, porque Gina não se importava em comprar comida.


Mas, e daí? Ele podia se encarregar das compras e contratar uma empresa de limpeza para manter a ordem na casa.  Teriam um elfo doméstico. Isso! Até podia conviver com rock and roll, desde que pudessem ouvir valsas de Strauss de vez em quando.


Raios, por que Gina estava sendo tão difícil, tão… feminina, teimando em querer viver um conto de fadas?


Pensando bem, como alguém sabia quando estava apaixonado? Que ingredientes deveriam ser misturados para que aquele tipo de amor surgisse? Gina sabia? Ele sabia? Não, não fazia a mínima ideia.


Cercavam-se de casais Weasleys apaixonados. O que eles tinham que faltava a ele e Gina com seu amor de amigos? O que faltava para ele e Gina transformarem a amizade em amor? Não imaginava.


Só sabia, naquele quarto de hotel vazio e impessoal, que sentia falta de Gina Weasley, que precisava ver seu sorriso e seus olhos castanhos brilhantes.


Pela primeira vez em tantos anos viajando a trabalho, sentia-se sozinho.


Queria ir para casa. Queria dormir abraçado em Gina...


Suspirando novamente, pousou os pés no chão, calçou os sapatos e foi tomar banho, preparando-se para outra longa noite de insônia, revirando-se na cama… e desejando…


 


******


Gina trabalhou como nunca nas três semanas seguintes, tentando comentar todos os campeonatos de quadribol da Europa, mandou repórteres para todos os cantos, ela não se sentia preparada para viajar, não nesse estado, apesar de Hermione dizer que estava ótima. Com tanto trabalho, Gina mal tinham tempo de tomar um café ou de pensar que precisava contar para os pais e os irmãos sobre a gravidez que estava cada vez mais evidente.


Gina chegava exausta em casa, praticamente arrastando-se. Jantava, tomava um banho de espuma e rastejava até o sofá  para esperar o chamado de Harry a lareira.


Quando percebeu que ela acordava do cochilo para falar, ele se descontrolou:


— Raios, Gi, não são nem nove horas e você está tão cansada que já estava dormindo! Não é preciso ser gênio para perceber que está trabalhando demais. Isso tem de parar. Está me ouvindo, Gina?


Ela bocejou.


— Hum… estou ouvindo, Harry. As coisas vão se acalmar no jornal assim que terminar os campeonatos. E sempre assim em agosto.


— Mas nunca esteve grávida em agosto — resmungou ele. — Ficar exausta noite após noite não deve fazer bem a você nem ao bebê. Hermione sabe que está trabalhando assim?


— Não falei com Hermione. Tenho consulta na semana que vem. Pare de gritar comigo, Harry. Tenho responsabilidades com meu trabalho, assim como você. Nunca reclamei do fato de você trabalhar sete dias por semana, reclamei?


— Não sou eu que vou ter um bebê — retrucou ele, alterado. — E as suas responsabilidades com nosso filho?


Gina estreitou o olhar.


— Não ouse insinuar que não estou cuidando direito do nosso bebê, Harry Potter. Não estou vendo você aqui me servindo leite. Faço tudo sozinha e não estou negligenciando minha saúde nem a do bebê. Portanto… portanto… pare de resmungar comigo.


Harry suspirou.


— Tem razão. Não estou aí com você, e devia estar. Desculpe-me por ter gritado com você, Gi. Sinto-me como se estivesse em outro planeta, e não apenas em outro país. — Fez uma pausa. — Você está tomando o leite, não está?


— Aaaiii! — berrou Gina. — Você está me deixando maluca.


— Desculpe, desculpe, desculpe — apressou-se Harry. — Vamos mudar de assunto antes que você comece a planejar o meu assassinato.


— É bom!  — respondeu Gina, e bocejou novamente.


— Sonhei com você ontem à noite, Gi. – Harry falou.


— Sonhou? Como foi?


— Meio confuso… sabe como são os sonhos, mas o principal era que estávamos dançando… valsa, acho, num grande salão cheio de gente. Você usava um vestido longo florido, e eu, smoking. Então, de repente, estávamos dançando em um campo florido.


— Ohh — emitiu Gina. — Que romântico. Dançar valsa em um campo florido. Ohh.


— Isso é romântico?


— Harry, você não reconheceria um romance nem que o esfregassem no seu nariz. O que mais aconteceu no sonho?


— Ficou esquisito depois disso — avisou ele. — Estávamos dançando e então… bem… estávamos segurando bebês. Um punhado deles, tentando equilibrá-los nos braços, pois eram tantos. Muito estranho.


— E simbólico — analisou Gina. — Teremos de equilibrar nossas carreiras e os cuidados com nosso bebê. E uma idéia desanimadora, assustadora até.


— Mas não no sonho, Gi. Ríamos e nos divertíamos com os bebês. Era divertido. Então, meu despertador tocou, e acordei. Mas a impressão que ficou era que estávamos nos divertindo dançando e cuidando dos bebês.


— Oh. Bem, é reconfortante — opinou ela. — Tem certeza de que estávamos dançando valsa? Talvez estivéssemos fazendo o dois passos ao som de rock.


— O sonho era meu, Gina. Era valsa de Strauss. Não tente mudar o roteiro.


— Não fique ranzinza de novo. Acho maravilhoso que tenha sonhado comigo e com o bebê. O fato de haver mais bebês no sonho deve significar que esta criança é um ponto importante em nossas vidas, exigindo todo tipo de ajuste da nossa parte.


— Desde quando virou especialista em interpretação de sonhos?


— Só estou ponderando.


— Bem, faz sentido — concedeu Harry. — Tudo ficará mais fácil para nós dois quando eu estiver em casa. Então, você não ficará mais sozinha e eu não me sentirei tão… tão excluído do que está acontecendo.


— Mas você parte em poucos dias… em uma semana no máximo, Harry. Sempre parte.


— Veremos. Vamos encerrar essa conversa para que você durma. Talvez sonhe conosco esta noite.


— Seria ótimo — aprovou Gina, gentil.


— Ou talvez você sonhe comigo.


— Sim, talvez. Isso seria ótimo também.


— Boa noite, Gina.


— Boa noite, Harry. Tenha… bons sonhos.


Três noites depois, Gina entrou no apartamento e correu para a lareira.


— Oi?


— Gina? É Audrey.


— Oi, Audrey — saudou Gina. — Como vai? E Percy? E as gêmeas?


— Estamos todos bem. Ouça, Jennifer entrou em trabalho de parto no St Mungus neste momento.


— Oh, que notícia boa, Audrey.


— Bem, você é como um membro do clã, Gi. De qualquer forma, alguns de nós irão ao hospital, e outros ficarão com as crianças. Estou aqui com as gêmeas, mas Percy já foi para a maternidade. Ele disse que Carlinhos já estava nervoso quando o avisou. Se Carlinhos desmaiar na sala de parto, nunca vai suportar a gozação.


— Com certeza — concordou Gina, rindo. — Pobre Carlinhos. Espero que aguente firme. Audrey, imagine só, a filha de Carlinhos e de Jennifer vai nascer nesta noite ainda!


— Ah, estou vendo que acredita na brincadeira da família. Carlinhos disse que seria menina, portanto, deve ser.


E este, pensou Gina, levando a mão ao ventre, é um menino, pois Harry disse que seria.


— Vou para o St Mungus agora mesmo, Audrey — prontificou-se. — Obrigada por ter me avisado.


— E eu vou torcer daqui. Até, Gi.


— Até.


Gina agarrou a bolsa e saiu. No corredor, trombou com um grande objeto inflexível e gritou, surpresa. Ergueu o olhar e não acreditou no que viu.


— Harry! Harry?


— Em carne e osso — afirmou ele, sorrindo enquanto a abraçava. — Como é bom ver você, Gi.


Ela aninhou a cabeça no peito de Harry, saboreou o calor, inalou seu cheiro familiar e sentiu os braços fortes envolvendo-a por inteiro.


— Estou contente em ver você, também — confessou, afastando o rosto para fitá-lo. — Por que não me disse que estava voltando?


— Não sabia se conseguiria pegar o infeliz lá em Madri — contou ele. — Mas consegui e estou aqui. E aonde a senhora ia com essa pressa toda?


— Oh, ao St Mungus! Jennifer entrou em trabalho de parto. Audrey acaba de me avisar.


Gina contou detalhes:


— Percy disse que Carlinhos está desmoronando. Conhecendo George, ele deve organizar uma aposta para saber se Carlinhos vai ou não desmaiar na sala. Acha que meu irmão vai conseguir ver a filha nascendo? E uma menina, sabe, porque Carlinhos disse que era, assim como você disse que teríamos um menino e…


Harry beijou-a.


Fez isso porque estava muito contente em vê-la, afinal, e de alívio, por estar em casa.


Beijou-a também porque ela parecia uma flor de verão delicada naquele vestido bonito, e porque seus olhos castanhos brilhavam como diamantes à excitação do nascimento da filha de Jennifer e Carlinhos.


Beijou-a porque ela estava gerando seu filho, e apenas esse fato o deixava atônito.


Beijou-a porque era Gina, e sentia muita, muita saudade dela.


Encerrou o beijo com relutância, o que era inquietante, e viu uma emoção semelhante no semblante confuso de Gina.


— Você está em casa — constatou ela, sem fôlego. Bem, era algo banal para se dizer, mas espantava que conseguisse falar, depois daquele beijo. Um beijo maravilhoso, de tirar o fôlego, passional, ao qual correspondera com total abandono. Oh, raios, o que estava acontecendo? — Harry?


— Eu… estou contente por estar de volta — improvisou ele, com a voz embargada. — Não planejava beijá-la assim, mas… mas beijei. Então, processe-me ou atire em mim, ou… — Deteve-se, arregalou os olhos e fitou Gina ainda aninhada em seus braços. — Oh, Gi, estou sentindo nosso bebê se mexendo. Seu ventre está…


— Como o de uma leitoa — completou ela, rindo. — Está vendo? Eu disse que estava engordando rápido.


Harry tomou-lhe os ombros delicados e afastou-a. Atentou à barriguinha que se insinuava sob o vestido. Ergueu a mão.


— Tudo bem se eu… Quero dizer… eu realmente gostaria de… Mas, se você não quiser que eu…


Gina pegou a mão dele e pousou-a em seu abdome.


— Harry, esta é o seu… nosso filho — apresentou, sorridente.


— Olá, querido — saudou ele. — Como vai? Sou eu, seu pai, seu papai. Estou em casa, fofinho.


Mas por quanto tempo? Pensou Gina, sentindo um arrepio. A simples imagem de Harry fazendo as malas novamente e deixando-a sozinha era tão deprimente, tão triste e angustiante… Não queria que Harry a deixasse de novo, não.


Por quê? - indagou a si mesma, no mesmo instante. Para poderem se beijar a toda hora? Não queria processá-lo, atirar nele, nem nada, só queria que ele a beijasse mais uma vez, e outra, e outra.


Oh, era loucura. E aquela linha de pensamento tinha de parar… já. Aquele era Harry, seu melhor amigo, que por acaso era o pai do bebê em seu ventre.


O beijo que partilharam não significava nada no quadro geral. Harry simplesmente se empolgara com o momento, exultante por estar em casa, encantado por sentir o bebê. Não a beijara de fato, apenas reagira à situação, às circunstâncias. E ela correspondera ao beijo pelos mesmos motivos.


Pronto. Tudo esclarecido. Felizmente. Estava tudo sob controle, satisfatório. Exceto que se encontrava parada à porta de seu apartamento, com a mão de Harry Potter sobre seu abdome, céus.


— Vai comigo ao St Mungus esperar minha nova sobrinha? — indagou Gina, desvencilhando-se.


— Como? — Harry meneou a cabeça. — Oh, sim, pode apostar. Não perderia isso por nada. Mas tem certeza de que quer ir? Sem dúvida, teve outro longo dia no jornal.


— Estou bem — garantiu Gina. — Vamos indo. Só espero que estejam todos concentrados em Jennifer e Carlinhos e não reparem muito em mim. Um olho experimentado – que os Weasleys têm – veria logo que estou grávida. Estamos tão ocupados no jornal  que ninguém notou ainda. Acho que não estou pronta para encarar minha família com relação ao bebê, Harry.


Mas ele estava mais do que pronto, pensou Harry, enquanto Gina trancava o apartamento. Queria contar ao clã Weasley inteiro… E nem estava com medo de seus irmãos! Raios, queria anunciar ao mundo… que ia ser pai, que ele e Gina iam ter um bebê.


Pousou o braço nos ombros de Gina enquanto percorriam o corredor.


E mais, pensou ele, queria se casar com Gina Weasley. Ser vizinho dela não bastava. Não, senhor. Precisava participar de cada momento possível da vida daquela criança.


De algum modo… mas qual?… precisava convencer Gina de que não tinham de estar apaixonados um pelo outro para ser marido e mulher, que ser amigos bastava, pois proporcionava uma base forte e honesta na qual apoiar o futuro, que lhes permitiria criar aquela criança.


- Vamos aparatar! -  Harry olhou para Gina.


— Er... Prefiro ir de carro, se não se importa, ia pegar um taxi! — anunciou, já na entrada do prédio. — Aparatar, usar a lareira ou chave de portal... É muito incomodo para mim agora, antes me deixava muito enjoada, tonta, agora me sinto muito fraca quando uso esse tipo de magia!


— Verdade? — espantou-se  Harry.


— É triste, não é? — Riu. —Harry, minha magia ficou afetada por causa da gravidez. São tantas mudanças...  Meus hormônios de gravidez provavelmente vão me fazer chorar por uma semana por causa do bebê de Jennifer e Carlinhos...


— Bem, isso me faz pensar. — Harry lançou outro olhar a Gina. — Nós, humanos, somos abençoados com anos e anos de vida e devíamos nos esforçar para agarrar qualquer chance de felicidade que se apresente. Pode não ser o ideal, como fantasiamos ou sonhamos, mas, céu é melhor que nada.


— Do que se tá falando...  Bom, Fico imaginando como Jennifer e Carlinhos vão batizar a filha — desconversou Gina, pois sabia exatamente do que Harry falava.


Harry baixou os ombros e franziu o cenho


Tanto trabalho para ser significativo e profundo. Calculara com cuidado aquela palavras e Gina fingiu de desentendida.


Mas tinha uma missão agora, um propósito, um objetivo. Era um Potter, e os Potter lutavam com fé e venciam. Iria se casar com Gina Weasley. Ela veria a luz, passaria a entender a situação como ele, perceberia que, embora não estivessem apaixonados, amavam-se e respeitavam-se, e isso bastava.


Afinal, eram amigos.


E formariam uma família… mãe, pai e filho.


Criariam o filho e se felicitariam pela proeza.


E nunca, nunca mais… ficariam sozinhos. Ele nunca ficaria novamente sozinho...


Só precisava de um plano para realizar tudo aquilo.


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N/B: É oficial! Esses dois bateram a cabeça durante a batalha final! Merlin amado, mas como são obtusos!!! O amor é latente!!! Espero que tudo logo se ajeite! Beijos, Alessandra.


 


N/A: Bom, pessoal, fico muito feliz que estejam gostando da fic... Os comentários de vocês me empolgam cada vez mais... Adianto, que a cabeça dura da Gina ainda vai demorar um pouco para se entender com o tapado do Harry. Ah, sei que todos estão ansiosos para saber como vai ser a reação dos Weasleys a gravidez da Gina, como a Gina ainda não quer contar, sinto informá-los que vai demorar um pouco, acho que daqui a dois capítulos.


Próximo capítulo, no final da semana que vem, como sempre. Continuem lendo e comentando... Beijos para todos e um especial para:


 


JHULHANA, NATASCHA, RAYABE TAVARES, BIANCA, QUEZIA, BRUNA POTTER, ELENA BLACK, FLAVINHA, RAISSA DUERRE... Valeu!


 


 


Daiana


 

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