Minhas Lembranças.



O sol pairava no horizonte. Uma leve brisa batia, brincando levemente com os cabelos negros do garoto. A noite começava a se formar, deixando para trás o lindo dia de verão. Os imensos jardins do terrenos já estavam quase desertos. Um único garoto encontravas-se sentado na beira do lago, aparentemente, absorto em pensamentos.



Harry estava sentado naquele local a horas. Rony e Hermione pareciam respeitar isso, e o deixavam só, como ele queria. Seus cabelos, naturalmente desarrumados, remexiam-se ao leve tocar do vento. Já deveriam passar das seis. O sol se punha ao longe, deixando tudo em um agradável tom alaranjado. Provavelmente o jantar já começava a ser servido, mas Harry não parecia com vontade e, muito menos, disposto a ir a seu encontro.



Estava ligeiramente abatido, provavelmente pelas horas e mais horas que ficava sem comer. Estava mais magro que de costume, e nem Quadribol o interessava mais. Não fazia nada, exceto ficar assim, perdido em devaneios, desde o dia que voltou do Ministério. Não havia contado a ninguém sobre a profecia, também não pretendia contar, por enquanto. Tinha medo, medo de que seus amigos o abandonassem ao saber sobre a profecia, ou pior, seguir com ele por um caminho que não teria volta, e que o destino seria provavelmente a morte. Não queria, não agüentaria perder mais ninguém. Ao lembrar de tudo isso, um forte sentimento invadia seu peito. Culpa. Era isso que estava sentindo, culpa. Culpa por ter arrastado seus amigos para uma aventura perigosa como a que tiveram ano passado, que fora apenas um sonho, um maldito sonho. Perdeu seu padrinho, e poderia ter perdido também seus amigos, por causa de um ridículo sonho... Um sonho.



Uma lagrima silenciosa escorreu pelo rosto do garoto. Não era fácil lembrar-se dos acontecimentos do ano passado. Não era fácil lembrar de sua vida, de seu destino. Vitima ou assassino, não sabia qual era pior. “Você estará em legitima defesa, não será um assassino!”, a voz de Hermione soou em seu ouvido. Mesmo não sabendo de nada, Harry tinha certeza que sua reação seria esta. “Não se pode chamar de assassino alguém que mata você-sabe-quem!”, foi a vez da voz de Rony surgir. Ele conhecia tão bem seus amigos que sabia até qual seria a reação deles.



- Você vai ficar ai até quando, Harry? – O garoto assustou-se ao ouvir a doce voz atrás de si. Virou-se, em um pulo, para encontrar os olhos azuis de Gina. Ao perceber o espanto de Harry, a garota emendou. – Desculpe-me se lhe assustei, é que o jantar já será retirado.



Harry voltou a olhar para o lago, limitando-se a um chacoalhar de ombros. Ela pareceu entender. Estava inerte, novamente, em pensamentos quando sentiu o ar se movimentar. Gina encontrava-se sentada ali, ao seu lado. Deu um suspiro ao lembrar-se do estado em que a garota se encontrava quando saiu do Ministério no final do ano passado. Ela poderia ter morrido, e, apesar de ter sido uma das únicas a sair consciente de lá, saiu bastante machucada.



- Desculpe – ele murmurou, de uma maneira que nem ele escutou direito. Gina pareceu escutar e lançou-lhe um olhar espantado.

- Como? – perguntou ela, ainda com aquele olhar sobre ele.

- Desculpe-me. – Harry abaixou os olhos, esperando a pergunta que viria a seguir.

- Pelo que? – ela questionou-o, como ele esperava. Suspirou profundamente, antes de continuar a falar.

- Desculpe por ter posto você em perigo, aquele dia no Ministério. – Gina pareceu entender o que ser passava. Limitou-se a um sonoro “Ah!”, seguido de um suspiro.



Ela estava inquieta, parecia querer dizer algo, mas não encontrava as palavras certas. Harry voltou a olhar para baixo, imaginando o que mais viria a seguir. Mais quantas mortes, feridos e vitimas inocentes. Quanto mais ele iria destruir antes de conseguir seu objetivo: Mata-lo.



Agora já devia passar das sete. O sol já tinha sumido por completo, dando lugar a bela lua pairada a cima de sua cabeça. Assim como Gina dissera, já deviam ter tirado o jantar, e agora Harry se arrependia de não ter ido comer. Talvez ainda desse tempo de ir jantar, mas suas pernas pareciam não obedece-lo.



- Não precisa se desculpar. – A voz de Gina o assustou pela segunda vez naquele dia. Ela não percebera, mas ela havia se levantado e estava para, em pé, a seu lado. Ela respirou, parecendo buscar coragem, enquanto Harry a olhava nos olhos. – Nada daquilo foi culpa sua. Tanto eu, quanto Rony, Mione, Luna e Neville, fomos por que queríamos. Por que queríamos, ninguém nos obrigou. A morte de Sirius também não foi culpa sua. – Ela parou por um instante. Harry iria retrucar, mas ela foi mais rápida. – Não adianta falar que foi, Harry, por que não foi. Você foi até lá para salva-lo, ninguém sabia que era tudo uma armadilha, Harry! A culpa não é sua. Eu acreditei no que você disse ano passado, e se você tivesse outro sonho, previsão, avisando outra coisa daquele tipo eu acreditaria de novo, e de novo. Você salvou meu pai por causa de uma dessas visões. Acho que nunca lhe agradeci por isso. Obrigada, Harry. Obrigada por salvar meu pai, por me salvar da câmara secreta, obrigada por ser meu amigo. Só peço por favor que você não abandone a vida. Acho que Sirius não iria querer isso, ver você morrendo. Viva, pois essa é a maior arma de Voldemort. Não deixe que ele acabe com você desse jeito. Você está sofrendo pela perda de Sirius. Rony, Mione e eu, estamos sofrendo por duas perdas: Sirius e você.



Ela concluiu com um suspiro, virando-se para o castelo em seguida. Talvez ela tivesse razão. Harry levantou-se, enquanto ela se dirigia ao castelo.



- Obrigada. – ele disse, sinceramente. Gina parou de andar e, sem se virar, assentiu. Retomou sua caminhada, depois de um leve suspiro, observada pelo o olhar de orgulho e admiração de Harry, não Harry Potter, o-menino-que-sobreviveu, apenas, Harry.

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