Loba



-Afasta, afasta, afasta! – Dizia Carlinhos, o irmão do ramo forte da família, enquanto ajudado por Bill carregavam um pinheiro de porte médio para o lado da mesa imensa que haviam posto no jardim. Em menos de três segundos, varinhas cortaram o ar e a árvore havia sido pintada, decorada, e cantava Jingles natalinos enquanto brilhava débilmente.

-Eu trouxe o diário, e eu descobri tanta coisa! – Disse Luna, animada, sentando-se ao lado de Ron.

-Sério? – Perguntou, bocejando. Ele não dormia bem há algum tempo naquela barraca, e agora teria de ficar esperando até a meia noite para uma reles troca de presentes? Ele expressou seu tédio para Luna, que retrucou:

-Como você é vazio. É esse o sentido que você dá para o Natal? Uma reles troca de presente?

Ron riu, e abraçou Luna pela cintura. – Você não perde uma oportunidade de me criticar. Você é uma bagagem bem pesada, hein?

-Eu tenho certeza que você é forte o suficiente.

Logo, Ron sentiu-se sendo arrastado pra fora de sua cadeira, e viu que Luna também. Carlinhos e George puxavam ambos para longe das outras pessoas, e suas expressões eram sérias.

-O-o que foi? – Perguntou Ron, receoso.

-Queremos saber dessa moça que vos corteja, digno irmão. – Disse Carlinhos, autoritário.

-Ela é católica? Quantas posses lhe cabe? E seus pais, são distintos? – Completou George, que mesmo em péssimo estado não podia perder a piada.

Luna riu com gosto por horas e horas até o fim da frase, mas Ron ficou vermelho até a raiz dos cabelos e voltou a sentar-se.

Logo, Molly, Fleur, Gina e Andrômeda irromperam casa à fora flutuando travessas, tigelas, pratos e panelas. Elas arrumaram rapidamente a mesa, e se detiveram a impedir que as pessoas comessem antes da hora.

Xenófilo bebia um copo de rum, se encolhendo... gentilmente, tendo Harry Potter ao seu lado. Ela parecia desconfortável, e não conversava muito. Duas ou três vezes Ron viu Harry tentar puxar assunto com o velho homem, e ele respondia vaga e rispidamente.

-Papai... – Sussurrou Luna. Ela talvez estivesse prevendo alguma coisa.

Tudo fluiu normalmente, até que Carlinhos falou depois de consultar o relógio:

-Hum... Já passou da meia noite há pelo menos 20 minutos. – Todos riram e se abraçaram, desejando um Feliz Natal, e se trocando presentes.

Ron ganhara um suéter cor de tijolo. Surpresa. Uma caixa de sapos de chocolate. Surpresa. Surpreendente fora os abafadores de ouvido em formato de conchas que Bill e Fleur lhe deram, ou o Dente de Dragão de Fogo Perpétuo, que ganhara de Carlinhos e aquecia quando havia perigo por perto, e várias outras coisas interessantes.

Se passou uma hora, e Carlinhos já estava tonto, se escorando em uma árvore, assim como Xenófilo que conversava alegremente com Arthur.

-Como vai seu trabalho, Arthur?

-Está indo como sempre. Agora estamos investigando um caso de postes de luz que se apagam toda vez que um trouxa passa por perto. E o caso d’O Pasquim, Xenófilo?

-FALIU! – Disse ele, levantando os braços. – Fechou as portas, não opera mais! E a feliz causa dos meus problemas está entre nós, caros amigos! – Disse, se segurando na mesa. – Harry Potter!

Harry levantou uma sobrancelha, sabendo que o homem estava bêbado e relevou. – Eu não fiz nada, você bem sabe.

-Você nasceu: aí está o problema. E ainda pior, você não aceitou sua sina de pronto, e não morreu! Agora eu estou sem trabalho por que? Por que eu quis proteger minha filha! Por que eu tomei a decisão que todo pai racional tomaria! Mas minhas motivações o Profeta não publica, ah, isso não!

-Xenófilo! – Exclamou Arthur se levantando, enquanto Molly e Fleur em conjunto puseram a mão na boca. – Não estamos questionando seus motivos, ou a confiabilidade do profeta.

-Com licença, Arthur, agora que eu peguei no tranco eu vou falar. – Disse, sorrindo como um retardado. – Você sabe o que minha Luna teve de suportar por sua culpa? Sua culpa? Mas o profeta diário publica que "Editor-chefe d'O Pasquim entregou o Menino que Sobreviveu, e compactuava com comensais da morte!", mesmo eu tendo sido absolvido diante da Corte Bruxa! Sua culpa... Sua culpa... - Repetiu ele.

-E você esperava o que, papai? – Perguntou Luna, de repente. – Que ele se entregasse e simplesmente arruinasse nossa última chance de matar Voldemort?

-Considero-o corajoso, por saber que ele resolveu fazer do jeito mais difícil, sabendo que estava apostando alto, e que podia perder muito, senão tudo. – Pronunciou-se Andrômeda, serena como sempre.

Xenófilo a olhou curioso. Contornou a mesa, cambaleante, e se curvou para ela. Ela afastou Ted, como se Xenófilo estivesse doente e pudesse contagiar.

-Você mais que eu, Andrômeda, tem por que odiar Harry Potter. E Ted, depois de nós. Por que ele não se entregou em primeira instância, a doce Ninphadora e o gentil Lupin estão a sete palmos, se decompondo neste exato momento.

-Cale a boca! – Disse Harry. Desenterrar os mortos era pisar nos calos de Harry, abrir sua ferida mais profunda.

-Você não se satisfez em causar a morte de seus próprios pais...

-Cale a boca! – Repetiu Harry.

-Você ainda tentou destruir mais lares... Típico de um egoísta.

-Xenófilo, cale a boca! – Gritaram três vozes ao mesmo tempo. Foram Molly, Luna, e antes que pudesse se dar conta, Ron Já tinha gritado também. Ron observou o olhar penetrante de Xenófilo à Harry, e o que aconteceu foi rápido demais para os olhos dele, pois aconteceu em frações de segundo.

Xenófilo sacou sua varinha. Ouviu-se um feitiço pronunciado com sotaque francês pesado, e a varinha de Xenófilo já voara longe. Bill, Arthur e Molly, os que sacaram mais rapidamente a varinha se entreolharam, e quem se levantou foi Fleur, varinha em riste.

-Non ousse atacarr ningam da minhe família novament! Ou est poderá ser su ultime erre!! – Disse, aproximando-se perigosamente de Xenófilo e apontando a varinha para sua testa. Foi naquele momento que Ron viu não a Fleuma, ou a garota fresca que se casara com Bill, mas a campeã Triwizard que era tão princesa quanto Alastor Moody.

-N-não vamos precisar nos exaltar. – Disse Xenófilo, dando as costas. – Venha Luna! – E quando Luna fez menção de beijar o rosto de Ron, Xenófilo rugiu – E NÃO SE DESPEÇA DESTE TRAIDOR!

Luna não entendeu de imediato, e encarou preplexa seu pai. Depois encarou Ron, questionadora, e ele devolveu seu olhar de incerteza. Ela acenou timidamente para todos ali, e pediu: - Não amaldiçoem papai por extravasar. Ele anda sofrendo muito coitado. Claro que tentar azarar o Harry foi bem... mal da parte dele, mas Meu Deus, Fleur você foi rápida ein! Ouvi dizer que... – Quando Luna já se apoiava na mesa para começar a tagarelar, Xenófilo gritou mais uma vez e ela se apressou a acompanhar seu pai.

Assim que eles deram as costas e começaram a andar até seus quartos, Ron viu uma feixe discreto de luz voar até a cabeça de Xenófilo, mudando seus escassos tufos de cabelo de branco para verde-limão.

-FRED! – Sibilou Molly, raivosa. – Tudo o que não precisamos hoje é de um engraçadinho em volta fazendo palhaçadas!

A ruína dos Weasley estava feita! Foi uma cena de partir o coração, ver George agarrado à mesa, tentando não se alterar. Suas unhas cravaram-se na mesa de madeira, e seus olhos encheram-se d’água. Uma lágrima escorreu quando ele encarou Molly, e disse entre arfadas de ar:

-Eu sou... O George, Mamãe.

Molly olhou assustada para seu filho, e ele se levantou abruptamente, entrando n’A Toca. Houve um silêncio que perdurou uma eternidade, até que Gina e Hermione se levantaram discretamente e foram para o quarto de Ron. Bill beijou Fleur e puxou Ron e Harry para a tenda. No fim só sobrara Molly naquela mesa, e eles ouviam seus soluços.

Harry mal falara com eles, e deitou, imóvel, tal a dimensão de sua perturbação. Bill e Ron ficaram acordados um bom tempo em completo silêncio, até que Ron fez algo que não fazia desde que seu irmão morrera. Ele chorou. Ele apoiou-se no colo de Bill que o abraçou fraternalmente e chorou, não se importando em soluçar ou em molhar a camisa do seu irmão. Ele queria tirar aquele peso de suas costas, ele queria mostrar ao mundo que tinha sentimentos. Ele queria se sentir mais humano. Bill sussurrava palavras de conforto que chegavam desconexas aos ouvidos de Ron. Seu coração era uma estrela no fim de sua vida, queimando como nunca para finalmente apagar. A calmaria depois da tempestade veio, como sempre vinha, e ele adormeceu no colo de seu irmão, que o enfiou como pôde no seu saco de dormir. Algo que ele nunca soube foi que Bill fizera vigília a noite inteira, cuidando e olhando para Ron.

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