Imprescindível



Draco acordou antes de todos ali. “Finalmente uma coisa boa”, pensou satisfeito por não ter que encarar os olhares acusadores dos outros. Ele levantou-se e foi ao banheiro. Se apoiou na pia, forçando um olhar para sua tatuagem no antebraço esquerdo. A marca estava ali, quase imperceptível, mas estava ali. A marca negra nunca sairia dali, permaneceria como um lembrete, de tudo o que Draco fizera, de tudo o que ele se dispusera a fazer. Encarou no espelho a face que lhe retribuía seu olhar de tédio, e odiou aquela face mais que nunca.

Lavou seu rosto e bocejou alguma vezes antes de conseguir cambalear até seu malão ao lado da sua cama. Se vestiu, pegou sua varinha, livros e horários, e desceu para o salão comunal verde e prata da Slytherin.

Ficou ali até que os primeiros sextanistas desceram e franziam o cenho para ele; Ele fechou o punho e se segurou para não sacar sua varinha e ameaçá-los de alguma coisa. Ele com certeza sabia alguma coisa sobre a família daqueles pirralhos exibidos, mas pra que voltar a ser o Draco de antigamente?!

Ele saiu do salão comunal da Slytherin, e se viu nas masmorras. Subiu até o segundo andar, e entrou na sala de História da Magia. Não tinha ninguém além do professor-fantasma Binns, que dormia em pé, flutuando alguns centímetros do chão. Sentou-se numa carteira dupla ao fundo da aula, e esperou impacientemente as aulas começarem, se bem que ele não tinha expectativas boas para esse ano, afinal, eram dois turnos de História da Magia logo na segunda, e depois vinham três doses INTEIRAS de Transfiguração com um professor novato.

Foi quando um Griffindor entrou na sala que ele desabou internamente. “Minha primeira aula será a mais chata, e ainda com esses Griffindors?!”. Mas no momento seguinte ele se viu pensando a coisa mais improvável do mundo. Se Hermione viria.

Ele ficou prestando atenção na porta, ignorando as pessoas que passavam por ele e sussurravam xingamentos, ou palavras de desprezo, até que Hermione aparecera finalmente, junto com Potter e aquela Weasley. Como se ele tivesse prendido a respiração até que ela aparecesse, ele respirou fundo, aliviado. Hermione não deixou passar essa, e sorriu para ele, pondo o cabelo atrás da orelha. Potter olhou desamparado para a amiga, e cutucou suas costelas.

-Hei! – Ouviu-se Hermione dizer, e andar em passos determinados até Draco. – Olá, Draco. – Disse, simpática. Mas Draco sabia que ela só viera até ele por que ela fora desafiada.

-Hermione. – Disse.

-Hum, você vai sentar com alguém?

-Alguém está disposto a correr o risco de sentar perto de mim?

-Bem, eu estou. – Disse, jogando seus – pelo menos quinze – na mesa, e sentando. Draco olhou para Potter, e ele parecia não acreditar no que estava acontecendo. Draco notou que o Weasley de pés e mãos descomunais os alcançara assim que Hermione se juntara a ele, e que ele também o encarava. Draco o encarou por alguns segundos, furiosos segundos, até que Harry o puxou até uma carteira dupla não muito longe de Draco e Hermione, e Ginny sentou-se com uma garota sextanista.

Como sempre que tem aulas com Slytherins e Griffindors na mesma sala, há uma tênue linha que divide os dois territórios. Hermione quebrara a linha da fronteira e estava na nação inimiga, e o Weasley estava vermelho o quanto podia por causa disso.

Professor Binns acordou quando deu o primeiro sinal para as aulas, e esperou um pouquinho para os atrasados chegarem.

-Muito bem, meu nome é Professor Binns. – Disse, bocejando. Sua voz era anasalada, arrastada, sonolenta, tediosa e difícil de entender. E nas suas aulas, ele só falava. – Tenho quinhentos e poucos anos. Perdi as contas mais ou menos no Quinhentos e Vinte e Três, mas o que eu quero dizer é que... – Ele pensou um pouco. – Omessa, esqueci onde eu queria chegar. Mas de qualquer forma. Abram... Livro... Página 34. – Ele pareceu que ia cair no sono novamente, mas balançou a cabeça e seguiu falando, e falando, e falando.

Até Hermione que era uma aluna exemplar – provavelmente a melhor que Hogwarts já abrigara – estava caindo de sono aos 5 minutos de aula.

-Puxa, não deve existir nada mais parado do que a “História e Percepção Atual das Artes e Esculturas dos Trolls.”

-Eu já vi coisas mais paradas. – Sussurrou Hermione, rabiscando atrás do seu livro.

Draco levantou uma sobrancelha e sorriu. – Falando do desempenho do Weasley, Hermione?

Hermione fechou o livro instantaneamente e com uma força exagerada, ficando vermelha até a raiz do cabelo.

-N-não era disso que eu estava falando seu... pervertido. Eu estava falando que eu já vi matérias mais chatas.

Draco riu baixinho, e Hermione resumiu-se a não encarar Draco até o fim do primeiro turno. Quando o sinal tocou, alguns alunos se levantaram, animados por deixar a aula, mas outros mostraram-lhes os horários e eles desabaram em suas carteiras novamente, sabendo que teriam que aguentar mais um turno de Binns.

O dia em geral foi normal. Ele conheceu o professor Heleno Oderok de transfiguração – um professor de nariz empinado, irritante, que passou dois turnos falando sobre suas qualificações e o por quê de estudar transfiguração. E a professor Irma Tartarum, uma grande professora – e todos os garotos concordavam com Draco neste ponto. As garotas a odiaram, talvez por que ficaram intimidadas com seus... Atributos para Defesa Contra as Artes das Trevas.

-Quer parar de olhar pra ela?! – Perguntou Hermione, no turno de DCAT que tiveram juntos.

-Ela é a professora, e aprender mágicas não verbais é importante!

-Como se você não soubesse, seu cínico! – Sussurrou ela. – Aprendemos no sexto ano, ano
retrasado, e ela só está revisando, por que vamos precisar pra próxima matéria!

-Sério? Faz tanto tempo que eu nem lembro mais! – Disse, rindo baixinho.

-O casalzinho lá do fundo? – Disse a professora, soprando os cabelos vermelhos da frente do rosto. Alguns Slytherin riram, mas nenhum Griffindor achou graça.

-Hermione Granger e Draco Malfoy, senhora... – Disse Hermione.

-E eles não são um casal! – Disse o Weasley. Draco olhou surpreso pra ele, e ele mais uma vez não tirava os olhos de Draco e Hermione.

-Obrigado pelo esclarecimento sr. Weasley – se eu estiver enganada me avise –, mas eu usei a palavra “casal” no sentido de “um homem e uma mulher”.

-Sim, imaginei. – Sussurrou o Weasley, com as orelhas ficando vermelhas de repente. Draco sorriu para a Srita. Tartarum e continuou “prestando atenção” à aula.

Já se passara o almoço, as aulas da tarde, e era hora do jantar, e Draco, que saíra da aula de DCAT com Hermione, antes de separarem-se, conversaram um pouco em pé, entre as mesas da Slytherin e da Griffindor.

-Por que você não senta comigo? – Disse Draco.

-Bem... Por mais que você queira, Malfoy, eu não sou da sua turma.

-Pois então seja a minha turma. – Disse, sorrindo.

-Eu teria o maior prazer de sentar com você se tivesse uma mesa para dois, mas como não tem, eu não vou sentar com você na mesa da Slytherin.

-Muito bem então.

-Muito bem. – Repetiu Hermione, determinada, de expressão inflexível.

-Obrigado. – Sussurrou Draco, baixando os olhos.

-O que? – Perguntou ela, quebrando a própria barreira.

-Olha, eu sei que isso não soa como eu, e eu juro que eu vou ser mais arrogante e desprezível a partir de agora, mas obrigado.

-Pelo quê?

-Por estar aqui comigo... Agora. – Disse Draco, tocando carinhosamente a mão de Hermione, fazendo-a corar instantâneamente.



Isso é de praxe, e não é coisa de novela. As pessoas sempre passam no momento mais desagradável que se tem para passar. Até por que Ron, se não tivesse deixado seus livros no dormitório antes da aula de DCAT, se não soubesse que Harry já estaria no Salão Principal, ou se ele não estivesse com tanta fome, ele teria chegado um pouquinho depois, e não teria presenciado a demonstração de carinho de Malfoy. Mas antes da aula de DCAT ele deixou sim os seus livros e materiais no seu dormitório antes dos dois últimos períodos. Harry o avisara que iria direto da aula para o Salão Principal, e de fato, seu estômago implorava por algumas migalhas que fossem. Portanto, ele teve a oportunidade de passar atrás de Draco e Hermione no exato momento em que o garoto pegou a mão de sua ex-namorada. Ele virou as costas e voltou para o salão comunal, determinado.

No caminho, esbarrou com Luna, que com incrível força derrubou-o no chão.

-Opa, desculpa!

-Cara não é a primeira vez que você me derruba.

-Eu tenho uma dieta... saudável, tá bom?! E por que essa pressa, já jantou?

-Não. Hermione e...

-Draco, deixa eu adivinhar. – Disse Luna. Pela primeira vez na vida ela parecia estar sem paciência para agüentar Ron.

-É, bem, foi isso. Mas agora ele estava segurando a mão dela!

-Muito bem então. – Sussurrou Luna. – Agora licença, que eu to ansiosa pelas tortas de amora. Papai tenta fazer, mas as de Hogwarts são simplesmente imbatíveis. – E pôs-se a saltitar em direção ao térreo.



Hermione e Draco!!

Aquelas palavras simplesmente não formavam uma frase se dita em seqüência. Formavam uma aberração, um aborto das leis naturais! Ron revirava-se na cama enquanto aqueles dois nomes ecoavam em sua mente. Ele não conseguia dormir, portanto sentou-se na cama, massageando as têmporas.

Por que ele estava se sentido mal mesmo? Por que a garota que dispensara estava com outro ou por que este outro simplesmente era o garoto mais odioso do mundo?!

Claro que ele só vira Hermione e Malfoy encostando suas mãos, mas sua mente diabolicamente exagerada simplesmente já acreditou ter visto Hermione enrolando o cabelo com uma mão enquanto segurava a mão de Malfoy que a puxava mais para perto, pronto para bei... NÃO, isso não.

Sorriu encabulado, se sentindo patético e de repente seu estômago reclamou sonora e violentamente. O jantar que não comera reclamava efeitos em seu corpo agora.

Se levantou silenciosamente, calçou pantufas e foi até o salão comunal. Sentou-se em frente a lareira, com suas pernas seminuas ardendo de frio, e quando conseguiu parar de tremer – leia: sacolejar – resolveu atravessar o quadro da Mulher Gorda.

-Filch no segundo andar, e o Slughorn passando pelo quinto, mas está caindo de sono, pode atropelá-lo que nem vai notar.

-Obrigado... – Disse, estranhando a simpatia e gentileza do quadro, comumente hostil.

Ron sussurrou “Lumos” e começou a andar cautelosamente com a varinha em riste, desprendendo de sua ponta uma forte luz alaranjada. O percurso até o térreo foi feito sem problemas. Chegando lá, sussurrou “Nox” e se viu em completa escuridão novamente. Ele seguiu tateando pela escuridão das masmorras, repetindo um trajeto que ele bem conhecia.

Esquerda. Direita. Passar reto por dois corredores, esquerda.

Quando ele falou “Lumos” novamente ele estava sem saída, de frente para um imenso quadro que retratava uma fruteira cheia. Ele se aproximou e fez cócegas numa pêra, ela se mexeu e fez um som sinistro e parecido com uma risada, logo após desprendendo o quadro da parede com um baque, e revelando a porta. Ele se espremeu contra a porta, e puxou o quadro por duas alças, o encaixando habilmente. Abriu a porta, e se viu na penumbra.

Havia uma vela acesa, em uma das mesas.

Ron aproximou-se cautelosamente tentando definir a forma de um professor, mas rapidamente reconheceu quem era. E ela estava extremamente bela.

Provavelmente por que ele estava sensível, mas ele notou como seu cabelo brilhava à mínima luz da vela. Como seus olhos eram azuis, ofuscantes e atrativos. Como ela era inocentemente sonhadora, e de uma maneira – estranha -, sedutora.

-Ron? – Perguntou Luna, parando seu garfo à meio caminho da boca.

-O que você está fazendo aqui? – Perguntou Ron, sem nem ao menos cumprimentá-la.

-Venho aqui engordar quando me sinto triste, sozinha.

-Boa escapatória para as tristezas da vida. – Disse Ron, sentando-se ao lado dela.

Luna o encarou por alguns instantes, e botou um pedaço da torta de amora em sua boca, e começou a comer lentamente, como se nem prestasse atenção no que estivesse fazendo.

-O engraçado é que você fala isso... Como se você não fosse o epicentro de todas as minhas tristezas mais recentes.

Ron ficou processando o que Luna acabara de dizer, e se apoiou nas mãos.

-E por que essa cara agora? – Disse, reparando a cara emburrada que ela fizera.

-Meus olhos estão cansados de sorrir, quando o que eles mais querem fazer é chorar. – Sussurrou.

Ron não entendeu realmente o que ela quis dizer, mas ele a encarou sério.

-O que você quer dizer?

-Que eu tenho sido o seu pilar, agora. Tudo bem que eu me propus a isso, mas... Eu não agüento ouvir mais o nome de Hermione Granger!

Ron ainda não entendera o que ela queria dizer. Ele olhou para seu rosto, indagando.

-Ah, não acredito! – Disse ela, exasperada – Da próxima vez pede pra mim soletrar desde o início, caso você não esteja disposto a entender. Te amo, Ron. – Disse Luna arfando, logo após baixando a cabeça e dando mais uma garfada.

O baque dessas palavras em Ron foi menor do que até ele esperava. Seu coração acelerou, e mais num impulso ou sensibilidade, do que retribuição de sentimento, ele segurou o queixo de Luna e a puxou mais para perto, encostando seus lábios aos dela. Ela pôs suas mãos frias no rosto de Ron, e expressou todo seu carinho em movimentos delicados e sinceros.

-Por que você está se contendo...? – Perguntou Luna, de repente se separando de Ron.

-Como assim...? Foi assim que eu sempre te beijei.

Luna o encarou com seus olhos grandes, marejados.

-Luna, o que eu fiz?

-Você nunca me beijou Ron. E nunca mais me beijará! – Ela largou o garfo na mesa, e saiu com uma mão um pouco a frente do rosto, escondendo a sua tristeza, e outra procurando em vão apoio. Ron se levantou, e ela girou, dizendo:

-Não me siga... Se você ainda tem um pouco de simpatia por mim.

Ela se foi em passos rápidos e desajeitados, e quando ela fechou a porta, Ron se viu no mais completo silêncio, ainda aturdido com o que acontecera.

Foi um pouco depois do acontecido que ele notou: Ele falara com ela como se fosse Hermione. Ele afundou a cara nas mãos e ficou balançando a cabeça por segundos, intermináveis. Como ele podia ser tão estúpido?! Ele começou a sussurrar palavras desconexas, antes de arrastar o prato de torta para sua frente, e comê-lo em garfadas furiosas.

Aquela torta de amora tinha gosto de Luna. Ou Luna estava com o gosto de amora, tanto faz. Só que enquanto ele comia, e pensava na extensão de sua burrice, ele notou que aquela garota o encantava. E mais. Ele estava perdidamente apaixonado por Luna Lovegood.






notadoautor: admito que isso ficou corrido. Mas o capítulo tava ficando grande demais, daí eu resolvi deixar o resto pro próximo (óbvio, dãa.) ;* e obrigado pras pessoas alegres que comentaram / criticaram, falaram sobre minhas noites de amora. HUIAEHS

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