Intuição
-Vamos lá, Ron! – Gritou Ginny do corredor, de repente. – Já estou pronta!
Ron acordou-se sobressaltado. Ginny havia o chamado alguns minutos mais cedo, mas ele voltara a dormir. Quando ela abriu a porta para o apressar mais uma vez, ainda estava de cuecas.
-Vamos logo, seu idiota!
Ron pôs as meias, as calças, calçou seus sapatos e pegou uma jaqueta e camiseta para vestir no caminho.
-Pronto para uma sessão de surrealismo na casa da pirada. – Disse Ron.
-Pensava que você já tinha superado esses preconceitos quanto à Luna. – Disse Ginny, fechando a porta da cozinha atrás deles.
-Só por que eu gosto um pouco mais dela, - Disse, começando a andar rumo às colinas onde Luna morava. – não quer dizer que eu a considere menos estranha.
Andaram discutindo por toda meia hora de caminhada e Ron já reclamava que devia ter posto sapatos mais confortáveis, quando começaram a subir a colina. Logo avistaram a torre onde Luna morava com Xenófilo, seu pai.
Ela estava sentada na escadaria à frente da porta da frente de sua casa. Devia fazer tempo que Ron não via Luna em condições aceitáveis de saúde ou higiene, mas o que ele viu foi no mínimo... inesperado.
Luna era uma garota magra, da altura de Ginny, praticamente. Seus cabelos eram dourados, desgrenhados e permanentemente sujos de terra. Seus olos eram azuis e sonhadores, enormes. Ela não era um exemplo de beleza, mas estava definitivamente linda.
Usava um vestido solto azul, e um girassol imenso atrás da orelha, além de uma tornozeleira que lembrava uma costura escrota de cabeças de Gnomos. Ela parecia entretida demais em olhar para suas unhas que ao menos virou-se para cumprimentar Ron e Ginny.
Quando estavam próximos o suficiente para Luna não os ignorar, ela virou-se, os encarou por alguns instantes e sorriu.
-Ron, você veio também!
-É, vim... – Disse, desanimado.
Ela olhou sombriamente para Ron e o puxou para longe de Ginny, para que ela não escutasse.
-Pode se abrir comigo, - Sussurrou ela, - você foi picado por um Aubaang, esta noite, certo?
-Que raios é um...? – Ron deixou a frase morrer, e respirou fundo.
-Eles te picam enquanto você dorme e consomem sua alma. Às vezes pode viver em você por anos, quem sabe toda sua vida, sem você notar. Te deixam de mau-humor e coisas afins, sabe? Hoje acordei e briguei com papai, e logo me toquei que devia ter um Aubaang em meu corpo. Mas eu sei algo que poucos sabem, eles têm medo de Gnomos! – Dito isso, ela apontou para seu tornozelo, e Ron notou que aquilo eram realmente várias cabeças de gnomos costuradas umas às outras.
-Isso é nojento!
-Antes ter Gnomos no pé do que um Aubaang no coração. – Disse, de maneira solene.
Ron bufou e tentou parecer simpático em sequência.. – Vou ver se eu arranjo uma dessas pra mim. – “Ao menos seria um bom fim para os Gnomos do meu jardim”.
Foi uma tarde no mínimo esquisita. Não foi o auge de diversão da sua vida, mas não foi de todo desagradável. Pescaram, almoçaram com Xenófilo (ou melhor, Xenófilo, Luna e Ginny almoçaram aquele grude multi-colorido e mal-cheiroso), foram para um campo de girassóis e comeram alguma coisa muito doce.
-Cara, ta ficando tarde. – Disse Ginny.
-Ginny, não me deixe sozinha! Hoje é uma terça-feira de lua minguante, e papai deve ter ido ao mercado com o chapéu azul! Se eu ficar aqui sozinha, você sabe o que pode acontecer.
Ron foi abrir a boca pra questionar, e Ginny o interrompeu. – Não pergunte. Olha, Ron fica aqui até seu pai chegar. Mas mamãe já vai chegar em casa, e eu tô afim de falar com ela, amenizar a situação emocional dela.
-Mas... E se ele te atacar? Tudo bem que ainda não é noite, mas já está anoitecendo!
-Hum, eu vou correndo pra casa.
-Jogue centelhas azuis para o céu quando você chegar em casa. E vá rápido. – Disse Luna, mandando beijinhos para Ginny.
Ginny riu, e assim que ela sumiu da vista, Luna deu um giro em torno de seu próprio eixo e se jogou de costas na grama fofa.
Ron ficou olhando para o horizonte, furioso com Ginny por tê-lo deixado sozinho com ela, até que ela deu um chute nas suas pernas com uma força incrível, o jogando no chão.
-Que desagradável você de pé.
-Pedisse que eu deitasse, droga!
-Você sempre foi tão grosseiro?
-Você sempre chutou tão forte?
Silêncio. Luna virou-se para Ron e o encarou por um bocado de tempo.
-Você está bem?
Ron pensava em uma resposta hostil e irônica, mas resolveu ser honesto. – Não. Definitivamente.
-Ginny tem me contado que você anda sendo bem corajoso.
-Em que sentido?
-Segurando as pontas na sua casa.
-Mais ou menos isso. – Disse, inflando por dentro.
O silêncio predominou, e Luna cutucou Ron, como se achasse que ele estava dormindo. - Tá continua falando!
Foi uma iniciativa que ninguém tinha tido com Ron até agora. - Bem, como você sabe, tivemos uma guerra há alguns meses.
-Ah... - Disse ela, como se tivesse encaixado uma história somente agora. Pensou um pouco, e completou - Ah não, eu já sabia disso. Continua.
-Então, isso obviamente foi o centro de tudo, e com a morte de Fred... - E pela primeira vez aquelas palavras não doeram em seu coração ao serem proferidas.
E de repente ele sentiu uma liberdade incrível em falar tudo o que sentia pra Luna, e se pegou falando e falando, e falando. Ele esperava que Luna mandasse-o calar a boca, mas pelo contrário o incentivava a falar, e olhava para ele com uma compenetração extraordinária. Ela só o interrompeu uma vez em todo o seu falatório, mas para apontar para as centelhas azuis que irromperam no céu. Ela suspirou aliviada, e continuou a ouvir Ron reclamar incessantemente de sua vida.
Ele sorriu envergonhado. – Eu falei o tempo inteiro, e já anoiteceu há um bocado. Seu pai já chegou também.
-Sério? – Perguntou ela, olhando para as luzes acesas na janela de sua casa.
-Vou indo. – Disse Ron.
-Lance centelhas púrpura quando chegar em casa, chama menos atenção à noite. Eles só caçam pessoas desacompanhadas, por isso vá rápido!
-Com certeza. – Disse. E de repente Ron estava correndo desesperadamente para casa, onde chegou arfando e suando, tendo tropeçado duas vezes em seus pés descomunais.
Coçou o queixo e sacou sua varinha, sussurrando um feitiço que conjurasse as centelhas que acalmariam o coração de Luna.
Agora ele se perguntava por que ele se sentia tão leve, e o porquê da vontade repentina de rever Luna.
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