CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 2
- Harry não acreditará em nossa boa sorte. - comentou Rony ao cavaleiro que cavalgava ao seu lado, e cuja prisioneira também estava amarrada e arremessada sob sua cela. - Imagine... as jovens Weasley debaixo daquelas árvores, tão amadurecidas para a colheita como maçãs penduradas em um galho. Agora já não temos razão alguma para nos preocupar com as defesas de Weasley... Se renderá sem lutar.
Fortemente amarrada em sua escura prisão de lã, enquanto sua cabeça balançava e o ventre batia contra a sela a cada movimento dos cascos do cavalo, Gina sentiu gelar o sangue nas veias ao ouvi-lo pronunciar o nome de Harry, pois não podia ser outro que não Harry Potter, conde de Potter. O lobo. As horríveis historias que tinha ouvido a respeito dele já não lhe pareciam tão exageradas. Luna e ela tinham sido raptadas por homens que não mostravam o menor respeito pelos hábitos da ordem do St. Alban que as jovens vestiam e que indicavam claramente sua condição de noviças, freiras aspirantes que ainda não tinham pronunciado seus votos. Gina se perguntou freneticamente que tipos de homens seriam capazes de pôr as mãos em cima de freiras, ou quase freiras. Deviam ser homens sem consciência ou sem temor ao castigo divino. Nenhum homem decente o faria, salvo o diabo ou um de seus discípulos.
- Esta perdeu a consciência logo em seguida. - disse Thomas, e soltou uma obscena gargalhada. - É uma pena que não disponhamos de mais tempo para saborear essa bota de cano longo, embora, se dependesse de mim, preferiria esse suculento bocado que tem envolvido em seu próprio manto, Rony.
- A tua é a mais linda das duas. - replicou Rony friamente. - E não provará nada até que Harry diga o que quer fazer com elas.
Quase sufocada pelo temor e o manto que a envolvia, Gina emitiu um leve e inútil grito de protesto e pânico, mas ninguém pareceu escutá-la. Rezou a Deus para que descarregasse sua ira sobre seus seqüestradores, mas Deus tampouco a escutou, e os cavalos continuaram avançando trotando, o que prolongava seu sofrimento. Rezou para que lhe ocorresse alguma forma de escapar, mas sua mente estava muito ocupada em lhe atormentar freneticamente com todo tipo de cruéis historia sobre o malvado Lobo Negro. "Não faz prisioneiros a menos que seja para torturá-los. Ri quando suas vítimas gritam de dor. Bebe seu sangue...”.
Gina sentiu o gosto da bílis na boca e rezou não mais para escapar, pois sabia que era impossível, mas sim para que a morte fosse a ela com rapidez evitando assim que a desgraça caísse sobre sua família. Lembrou as instruções que tempo atrás seu pai tinha dado a seus meio-irmãos, reunidos no salão do castelo de Weasley: “Se for à vontade do Senhor que morram nas mãos do inimigo, façam corajosamente. Morram lutando como um guerreiro. Como um Weasley! Morram lutando...”.
Aquelas palavras vinham a sua mente quase toda hora, mas quando sentiu que os cavalos diminuíam a marcha e escutou os rumores distantes e inconfundíveis de um grande acampamento de homens armados, o temor começou a ceder diante da fúria. Não é justo morrer tão jovem, pensou. Além disso, a doce Luna aguardava o mesmo final, e tudo por culpa dela. Teria que apresentar-se diante do Senhor com aquele peso sobre sua consciência. E tudo porque aquele ogro sedento de sangue rondava pelo território devorando tudo em seu caminho.
Quando os cavalos se detiveram, Gina notou que seu coração acelerava o ritmo de seus batimentos. Ouviu o choque do metal contra o metal, que indicava que os homens os rodeavam, e depois escutou as vozes dos prisioneiros, que suplicavam pateticamente por suas vidas.
- Tenha piedade, Lobo... Piedade, Lobo.
Aqueles horríveis cânticos se elevaram até transforma-se em um grito quando Gina foi desmontada sem cerimônias.
- Harry, - gritou seu seqüestrador - aguarde um momento. Trouxemos algo!
Completamente cega pela capa que lhe envolvia a cabeça, e com os braços ainda amarrados pela corda, foi içada sobre o ombro de seu seqüestrador. Quando este se pôs a andar, Gina ouviu que a seu lado Luna pronunciava seu nome.
- Coragem, Luna. - gritou Gina, mas era impossível que sua meia-irmã a ouvisse, já que a voz soou abafada pela capa.
Gina foi deixada bruscamente em pé, sobre o chão, e se viu empurrada para frente. Com as pernas dormentes, cambaleou e caiu pesadamente de joelhos. "Morra como uma Weasley. Morra corajosamente. Morra lutando.", dizia a si mesma enquanto fazia um esforço infrutífero para se manter em pé. Uma voz se levantou então sobre as demais, e Gina soube imediatamente que se tratava do Lobo. Era uma voz grave, feroz, que parecia surgir das vísceras do inferno.
- O que é isto? Espero que seja algo para comer.
"Dizem que come a carne daqueles a quem matou". As palavras do jovem Thomas voltaram para ela, mescladas agora com o som dos gritos de Luna e das súplicas de piedade dos prisioneiros. De repente, movida pelo temor e a fúria, Gina se agitou e levantou os braços da capa que a cobria, como um fantasma raivoso tentava tirá-la. No momento em que a capa caiu para trás, Gina lançou o punho com toda a sua força contra o gigante escuro e demoníaco que se encontrava diante dela, golpeando-o no queixo.
Luna desmaiou.
- Monstro! - gritou Gina. - Bárbaro! - dispôs-se a golpear de novo, mas uma mão enorme se fechou sobre seu punho obrigando-a a manter o braço no alto. - Diabos! - Falou sem deixar de lutar ao mesmo tempo em que dirigia uma potente pernada contra sua virilha. - Seguidor de Satanás! Violador de inoc...!
- Que demônios! - rugiu Harry Potter. Adiantando-se, segurou à moça pela cintura e a levantou no ar, sustentando-a por um braço de distância. Foi um engano. A bota de Gina o alcançou diretamente na entre perna. - Pequena idiota! - trovejou o Lobo. A surpresa, a dor e a fúria fizeram com que a soltasse, mas imediatamente a agarrou pelos cabelos obrigando-a a jogar a cabeça para trás. - Fique quieta! - rugiu.
Até a natureza parecia obedecê-lo. Os prisioneiros interromperam seus gritos de súplica, os sons metálicos cessaram e um silêncio estranho e sobrenatural se estendeu sobre o grande campo a descoberto do bosque. Com o pulso acelerado, Gina fechou os olhos e esperou o golpe do poderoso punho que sem dúvida acabaria com ela.
Mas não aconteceu.
Impulsionada metade pelo temor e metade por uma curiosidade mórbida, abriu os olhos e viu seu rosto pela primeira vez. O aspecto demoníaco que se erguia sobre ela quase a fez gritar de terror. Era corpulento, enorme. Tinha o cabelo negro e a capa, da mesma cor, ondulava a suas costas movidas fantasmagoricamente pelo vento, como se tivesse vida própria. A luz das fogueiras batia sobre seu rosto moreno e aquilino, jogando sombras que o faziam parecer verdadeiramente satânico; reluzia em seus estranhos olhos, que brilhavam como tições em seu rosto semi-oculto por uma espessa barba. Seus ombros eram maciços e enormes, seu peito incrivelmente largo e os braços musculosos. Gina só precisou olhá-lo uma vez para saber que era capaz de cometer qualquer uma das crueldades que lhe atribuíam.
“Morra com valentia!”, “Morra rapidamente!”.
Gina voltou à cabeça e afundou os dentes no grosso braço do homem.
O Lobo, surpreso, levantou a mão e depois a descarregou com força brutal sobre o rosto da moça, que caiu de joelhos. Instintivamente, Gina se enroscou rapidamente sobre si mesma para proteger-se, e esperou, com os olhos fortemente fechados e tremendo de terror, que descarregasse sobre ela o golpe mortal.
A voz do gigante ressonou por cima dela, só que desta vez foi ainda mais espantosa, pois denotava uma fúria controlada.
- Que demônios fez? - perguntou Harry ao seu irmão mais novo. - Será que não temos problemas suficientes sem necessidade disto? Os homens estão esgotados e famintos, e me traz mais duas mulheres para aumentar ainda mais meu encargo.
Antes que seu irmão pudesse dizer algo, Harry se voltou para o outro homem e ordenou que os deixassem a sós; a seguir olhou as duas figuras femininas que jaziam no chão, uma desmaiada, a outra feita um novelo, tremulo. Por alguma razão, o tremor desta última o enfureceu mais que a inconsciência da outra.
- Se levante! - Falou para Gina ao mesmo tempo em que a empurrava com a ponta de sua bota. - Há alguns momentos era muito corajosa. Agora se ponha de pé.
Gina se levantou lentamente, com movimentos vacilantes, incapaz de manter-se firme, enquanto Harry se voltava de novo para seu irmão.
- Espero uma resposta, Rony!
- Que te deixaria satisfeito se deixasse de rugir. Estas mulheres são...
- Freiras! - interrompeu-o Harry ao observar de repente o pesado crucifixo pendurado no pescoço de Gina. Levantou depois o olhar para o véu de freira manchado e desarrumado. Por um instante a descoberta o deixou sem palavras. Por fim, exclamou: - Pelos Deuses! Trouxeste freiras para que as usemos como rameiras?
- Freiras! - exclamou Rony, assombrado por sua vez.
- Rameiras! - grunhiu Gina, enfurecida e pensou que o Lobo não podia ser tão desumano para entregá-las a seus homens para que satisfizessem com elas seus apetites sexuais.
- Poderia te matar por esta estupidez, Rony, de forma que me ajude.
- Pensará de maneira muito diferente quando me deixar te dizer quem são. - interrompeu-o Rony, afastando o horrorizado olhar do habito cinza e do crucifixo de Gina, e anunciou com renovado prazer: - Irmão, tem diante de você Lady Ginevra, a querida filha mais velha de Lorde Weasley.
Harry olhou fixamente para seu irmão mais novo e a seguir contemplou com expressão de desprezo o rosto sujo de Gina.
- O enganaram, Rony, correm muito falsos rumores por estes territórios, pois dizem que a filha de Weasley é a mulher mais linda que existe por estas bandas.
- Não, ninguém me enganou. É a filha de Weasley, ela mesma disse.
Harry tomou o tremulo queixo de Gina entre os dedos, observou intensamente o rosto sujo da jovem e o estudou a luz das fogueiras, com o cenho franzido e um sorriso triste nos lábios.
- Como é possível que digam que você é uma beleza? - perguntou com um sarcasmo deliberado e insultante. - Que é a jóia da Escócia? - Observou o brilho de cólera que suas palavras fizeram surgir nos olhos da moça e o gesto brusco com que esta se separou dele. Mas em vez de se sentir comovido pela coragem de Gina, sentiu-se encolerizado. Tudo relacionado com o nome de Weasley lhe enfurecia, fazia com que a sede de vingança fervesse em seu interior. Tomou de novo o rosto sujo e pálido, atraiu-o de novo para o seu, e com voz terrível exigiu: - Me responda!
Luna, que havia retornado a si e estava a ponto de ficar histerica, pelo menos foi o que pareceu a Gina, assumindo de algum modo à culpa que lhe correspondia. Segurou-se no hábito de sua meia-irmã para se levantar e ficou de pé com grande esforço. Depois apertou seu corpo contra o de Gina, tanto que por um instante pareceram irmãs siamesas.
- Não falam isso de Gina! - exclamou ao compreender que o prolongado silêncio de sua meia-irmã podia provocar uma reação violenta por parte do gigante que se erguia diante delas. - Dizem isso... de mim.
- E quem demônio é você? - exigiu saber ele, furioso.
- Não somos ninguém! - interveio Gina, que esqueceu o oitavo mandamento com a esperança de que Luna fosse liberada se acreditasse que era uma freira e não uma Weasley. - Não é mais do que a irmã Luna, da abadia de Belkirk.
-É verdade isso? - perguntou Harry a Luna.
- Sim! - disse Gina.
- Não. - sussurrou Luna docilmente.
Harry Potter, com o rosto crispado, fechou os olhos por um instante. Aquilo era como um pesadelo. Um pesadelo incrível. Depois de uma marcha forçada, ficou sem mantimentos, sem proteção e sem paciência. E agora só lhe faltava isso. Nem sequer era capaz de arrancar uma resposta sensata e honesta de duas mulheres aterrorizadas. De repente se sentiu exausto, e percebeu que estava há três dias e três noites sem dormir. Voltou o rosto para Luna, a que julgava mais frágil e temerosa das duas e, portanto a menos propensa a inventar uma mentira, e disse:
- Se querem ter a esperança de sobreviver uma hora a mais, responderão agora mesmo com a verdade. São ou não são filhas de Lorde Weasley?
Luna, presa do terror, tratou de responder, mas não conseguiu que uma só palavra saísse de seus trêmulos lábios. Derrotada, inclinou a cabeça e assentiu submissamente.
Harry dirigiu um olhar diabólico à outra mulher vestida de freira, e depois se voltou para seu irmão e ordenou:
- Amarem as duas e as ponham em uma tenda. Que Harry monte guarda para protegê-las dos homens. Quero-as vivas amanhã para interrogá-las.
"Quero-as vivas amanhã para interrogá-las".
As palavras martelavam na torturada mente de Gina, que jazia na tenda, estendida ao lado da pobre Luna, com os braços e os pés amarrados com tiras de couro, e contemplava através de um buraco aberto no alto da tenda o céu sem nuvens, iluminado pelas estrelas. Em que tipo de interrogatório pensaria o Lobo? Perguntou-se quando finalmente o esgotamento sobrepôs o seu temor. Que meios de tortura utilizaria para obter delas as respostas que procurava, e quais podiam ser estas? Gina estava convencida de que o seguinte dia seria o fim de suas vidas.
- Gina? - sussurrou Luna com voz tremula. - Não acha que tenha intenção de nos matar amanhã não é verdade?
- Não. - mentiu Gina para tranqüilizá-la.
Agradecimento especial:
Silvia Cecil: a fic a muito boa, eu garanto. Beijos.
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