Coração



  Primeiro Kath estava no labirinto, ela viu Harry e Cedrico segurando a taça ao mesmo tempo e então eles foram sugados por uma chave de portal. Eles imaginaram que era parte da tarefa, mas não era. Quase imediatamente depois que eles chegaram, foram surpreendidos por um vulto encapuzado que atacou Cedrico com uma luz verde. A maldição Avada Kedavra. Kath piscou e estava olhando para os rostos preocupados de Rony e Hermione. Ela mal podia respirar.


  - Ele morreu. – foi tudo o que disse antes de desmaiar.


  Kath acordou na ala hospitalar escura. Podia ouvir Madame Pomfrey na sala dela, mas não havia mais ninguém por perto. Ela imediatamente pôs os pés no chão e descobriu que estava descalça e de pijamas. Não se importou, saiu correndo desenfreada, apenas pensando: “Foi um pesadelo! Foi um pesadelo!”


  Quando alcançou a porta de entrada, ouviu um burburinho muito alto vindo do campo de quadribol e se apressou. A noite estava muito fria e seus pés estavam congelando, mas ela mal sentia. Apenas corria o mais rápido que podia.


  Ao entrar no campo de quadribol ela viu uma multidão de gente aglomerada perto da entrada do labirinto. Ao se aproximar, Rony e Hermione correram para ela.


  - É melhor você não ver isso! – Hermione falou, mas Kath se desviou das mãos dos dois e continuou correndo, abrindo caminho por entre as pessoas alvoroçadas, sem ouvir o que diziam. No centro do ajuntamento se encontravam Harry e Cedrico, o primeiro de borco de modo que não se podia ver seu rosto, mas o outro estava de barriga para cima, obviamente morto.


  Kath queria gritar, mas não encontrou sua voz. Seus joelhos cederam e ela sentiu braços que a seguraram de pé, sem saber a quem pertenciam.


  - Não vou deixar você ficar aqui. – Fred falou, colocando-a nos braços e rumando para o castelo com Jorge logo atrás. Ela queria protestar, mandar que a deixassem em paz, mas não tinha forças se quer para abrir a boca. Sua mente estava totalmente entorpecida, como se seu cérebro tivesse sido estuporado. Os gêmeos a levaram de volta à ala hospitalar, onde Madame Pomfrey se encontrava alvoroçadissíma pelo desaparecimento de sua paciente.


  - Onde você foi mocinha? – ela perguntou irritada, mas seu tom mudou imediatamente ao ver a expressão no rosto da garota. Fred e Jorge a acomodaram de volta na cama, onde ela ficou na exata posição em que a colocaram, sem sequer mover um músculo. – O que houve com ela?


  - Diggory. – Fred falou, balançando a cabeça negativamente. A enfermeira tampou a boca com as mãos em choque, mas se recuperou rápido e começou a cuidar da garota. Kath não reclamou nem ajudou apenas ficou ali, uma parte distante de sua mente ainda repetia constantemente: “Foi um pesadelo, só um pesadelo!”


  Ela ficou apenas vagamente consciente do que se passava ao seu redor, pessoas chegando para pedir informações e Madame Pomfrey repetindo sempre as palavras “estado de choque”. Sua mente começou a voltar ao presente apenas quando ouviu a voz de Harry, que vinha acompanhado pelo diretor e por um grande cão negro.


  As pessoas correram para o garoto, que manteve seus olhos fixos em Kath, que continuava paralisada na cama.


  - O que houve com ela? – ele quis saber, se aproximando da cama da garota.


  - Ela está em estado de choque. – Hermione repetiu o que a enfermeira havia dito inúmeras vezes. Harry sentou-se na beirada da cama. – Ela teve uma visão algum tempo antes de você aparecer e tudo o que disse foi: “Ele morreu”. É obvio o que estava querendo dizer, agora que vimos...


  Ela parou de falar inesperadamente, como se algo tivesse obstruído sua garganta. Harry levou a mão ao rosto de Kath delicadamente.


  - Eu não pude fazer nada. – ele disse simplesmente, mas foi o suficiente. Os olhos de Kath se focaram e encheram de lágrimas. Eles se abraçaram e Kath finalmente deixou que as lágrimas corressem livremente por seu rosto.


  Algum tempo depois madame Pomfrey veio timidamente trazer uma poção para dormir para ambos, que tomaram (Kath bem que tentou apesar dos soluços) para escapar da enfermeira. Ela os deixou em paz depois disso, colocando um biombo ao redor da cama, e Harry acabou dormindo ali mesmo.


 Apesar do incômodo que o Ministro a causou de madrugada, Harry dormiu muito bem, mas quando acordou no dia seguinte, Kath não estava ao seu lado. Ele queria ir procurá-la, mas recebeu a visita dos Diggory, que queriam saber sobre a morte do filho. A enfermeira insistiu em que ele passasse boa parte do dia na cama, por isso ele não teve oportunidade de procurar a garota durante um bom tempo.


  Kath havia acordado cedo e encontrou os pais de Cedrico, que estiveram conversando com o diretor. Eles a abraçaram e convidaram para ir ao funeral do garoto, que seria naquela tarde, ao pôr-do-sol. Kath achava que não tinha mais lágrimas, pois chorara até dormir na noite passada, então aceitou o convite. Queria se despedir dele, mas também queria poder sentir raiva de Cedrico. Ele disse que estariam sempre juntos, ele prometera. No dia em haviam brigado, antes da tarefa, Kath havia perguntado o que faria se acontecesse algo com ele.


  - Não vai acontecer nada comigo, por que eu nunca vou te deixar em paz. Eu juro. – ele dissera antes de a coisa ficar feia de verdade.


  Mas Kath não conseguia sentir raiva dele, ela apenas se sentia vazia. Ela olhava ao redor e sentia como se não houvesse nada ali para ela, como se Hogwarts tivesse sido por muito tempo o seu lar, mas agora faltava a parte mais importante dele. Enquanto procurava seu vestido preto, Kath se perguntava o que faria dali em diante. Continuaria em Hogwarts? Iria voltar para o Brasil? O que Cedrico diria? Ela já sabia o que ele diria. Ele diria que ela deveria continuar seus estudos e tocar a vida, seguir em frente.


  Mesmo achando que não poderia chorar novamente na vida, ao pensar em seguir em frente sem Cedrico, Kath chorou como nunca antes. Ela nunca pensou que poderia se apaixonar desse jeito por alguém, ela nem mesmo sabia que esse tipo de sentimento podia existir. Era como se ela estivesse se afogando e quanto mais ela puxava o ar, mais doía, queimando-a por dentro.


  Kath estava com a cabeça entre os joelhos quando Hermione entrou no dormitório. Ela não disse nada, apenas se ajoelhou ao lado da amiga e a abraçou, enquanto ela soluçava e se sacudia convulsivamente. Quando finalmente pôde se controlar, Kath se levantou e continuou a vestir seu vestido preto de seda, o mais bonito que tinha, com um decote e renda até o pescoço.


  - O que você está fazendo? – Hermione perguntou insegura quando Kath começou a vestir sua meia-calça.


  - Eu vou ao funeral. – Kath disse simplesmente, como se quisesse se livrar rapidamente de uma coisa desagradável.


  - Você acha que pode? – Hermione perguntou.


  - Eu tenho que ir. Será a ultima vez que eu o verei. – Kath disse e perdeu o ar ao final, um aperto no peito devido a uma renovada onda de soluços.


  Hermione não disse mais nada, apenas a ajudou a prender o cabelo em um rabo-de-cavalo.


  - Sinto muito. – Hermione falou quando Kath estava pronta para sair.


  - Obrigada. – Kath disse. O diretor já havia dado a ela permissão para pegar o Nôitibus para chegar à casa dos Diggory.


  Harry agora estava realmente preocupado. Desde que saíra da enfermaria havia procurado Kath por toda a escola, mas não a encontrava. Voltava agora para a sala comunal, pensando em pedir a alguma garota para checar o dormitório. Onde estava Hermione quando precisava dela? Bom, provavelmente no dormitório, consolando Kath. No entanto, encontrou a garota sentada perto de uma janela, com um grande livro aberto sobre os joelhos, mas, pela primeira vez desde que a conhecia, ela não o estava lendo. Encarava a janela com os olhos fora de foco.


  - O que você esta fazendo? – Harry quis saber.


  - Ah, oi. Que bom que você foi liberado. – ela disse, olhando distraidamente para ele. – Eu só estou pensando um pouco, e você?


  - Eu estive procurando a Kath por todo lado, você não deveria estar com ela? – Harry acusou.


  - Não, ela foi ao funeral... – Hermione falou, surpresa pela atitude do garoto.


  - E você a deixou ir sozinha? – Harry perguntou irritado.


  - Ei, ela tinha que ir e eu não poderia impedi-la. Ela precisava fazer isso sozinha. Não tinha nada a ver comigo, nem, sinto muito Harry, com você. – ela disse. Harry afundou numa poltrona a sua frente.


  - Eu preciso muito falar com ela, tem uma coisa que eu tenho que dizer, mas nao tive tempo antes. – ele disse.


  - Ela vai voltar após o pôr-do-sol. Harry, Kath sabe que não foi culpa sua. Ela jamais diria isso. – Hermione falou.


  - Não é isso, mas já que voce falou... Ela não diria por que é boa demais pra isso, mas eu sei que no fundo é o que ela pensa. É o que todos estão pensando. Se eu pudesse ter feito algo... Eu odeio vê-la desse jeito. Ela iria preferir que tivesse sido eu. – Harry falou desesperado.


  - Nunca. Você sebe disso, Harry. Kath não ficaria menos triste se tivesse sido você. Você viu como ela ficou aliviada quando te viu. – Hermione falou.


  - Eu não sei, acho que estou ficando maluco. Eu só preciso falar com ela, olhar em seus olhos. – ele disse.


  - Bom, por acaso eu acho que eu sei para onde ela vai imediatamente quando chegar. – Hermione falou sorrindo.


  Kath voltou para a escola imediatamente quando o funeral terminou. Não poderia ficar em companhia da família dele nem mais um minuto. Eles eram muito gentis, claro, mas ela sentia como se a dor deles fizesse com que a dela ficasse ainda pior. Como se isso fosse possível.


  Ao chegar ao castelo, não estava nem um pouco com vontade de encarar as outras pessoas. Algo nela se quebraria se ela visse a piedade nos olhos deles. Foi direto para árvore onde ela e Cedrico costumavam se encontrar. Há pouco tempo ele havia gravado nela as letras K+C dentro de um coração. Kath queria apenas tocar a marca, destrancar algumas lembranças e talvez chorar mais uma vez.


  Mas havia alguém sentado embaixo dela. Por um momento sua respiração ficou suspensa em choque, mas ao se aproximar percebeu que era Harry. Ele a viu e imediatamente ficou de pé. Kath se aproximou e sentou na base da árvore, encarando o lago. Harry sentou-se novamente. Não sabia o que dizer à garota, havia várias coisas passando pela sua cabeça e uma finalmente escapou. A coisa que ele menos queria dizer.


  - Sinto muito por ter sido eu.


  - Você o que? – Kath perguntou surpresa.


  - Bom... A voltar. – ele falou encarando seus sapatos.


  - Não seja idiota, Harry. Eu estou feliz por você estar bem. Você não acha que eu gostaria que tivesse sido você, não é? – Kath falou chocada. Harry não disse nada, o que funcionou como um sim. – Pois então você É um idiota.


  - Eu sei que você não é assim, mas eu... Sinto muito. – ele falou. Harry a abraçou pelos ombros e ficaram em silêncio por muito tempo. - Tem uma coisa que eu praciso te dizer. Quando eu estava no cemitério e minha varinha e a de Voldemort se uniram, eu vi os fantasmas dos feitiços que ele havia feito por último.
 
  - Eu sei, você viu sua mãe, seu pai... Ele...

  - É. Cedrico me pediu duas coisas quando eu o vi. A primeira que trouxesse o corpo dele de volta e a segunda foi que desse um recado a você.

  - O quê? Por que voce não disse antes? O que ele disse? - Kath exigiu.

  - Foi tudo tão confuso, mas ele disse: "Diga a ela que meu juramento está de pé, eu nunca vou deixá-la. E diga que eu a amo e sinto muito." - Harry contou. Kath ficou paralisada por um momento, mas logo pôs a cabeça em seu ombro e soluçou por muito tempo depois disso. Mas eles não estavam com pressa de voltar à escola mesmo.

  - Eu vou sentir sua falta. - Harry disse algum tempo mais tarde.


  - Como é? – Kath perguntou confusa.


  - Nas férias, você vai ao Brasil, não? – Harry explicou.


  - Harry, o que você faria se eu fosse ao Brasil e decidisse não voltar? – Kath perguntou séria.


  - Como? Kath, não, você não pode estar pensando nisso. Eu preciso de você, nós temos que ficar juntos principalmente agora. – Harry falou em pânico.


  - Calma Harry. Eu não vou de férias ao Brasil este ano. – ela falou decidida.


  - Por que não? – Harry quis saber, embora perecesse muito aliviado.


  - Se eu voltar ao Brasil, se eu vir meus pais, meu irmão... Ah, Chris, eu o amo tanto... Se eu o vir agora, eu não sei se eu vou ter forças pra voltar, Harry. Você precisa mais de mim, então eu vou dar alguma desculpa. – Kath disse.


  - Obrigado. Você não sabe o que isso significa pra mim. – Harry falou, abraçando-a novamente.


  Harry queria ser forte o bastante para permitir que ela fosse embora, mas não podia. Se Kath não estivesse ali para apoiá-lo, o que ele faria? Ele tinha o Rony e a Mione, é claro. Rony era quem deixava tudo leve e divertido e Hermione era o cérebro, mas Kath, ela era o seu coração e sem ela Harry nunca seria completo novamente.

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