Relembrar
-Isto não pode estar acontecer, não pode, simplesmente não pode… – Hermione murmurava estas palavras para si mesma, enquanto andava para a frente e para trás no quarto de hotel em que se encontrava naquele momento. Agia como se ao repetir aquelas palavras o maior número de vezes possível, elas de facto anulassem o que havia acontecido naquela tarde.
Ele não pode ter voltado, não agora, não ao fim deste tempo… mas como e que ele me encontrou? Ela dava voltas à sua cabeça, tentando compreender, mas cada vez que analisava o seu encontro com Draco Malfoy naquela tarde, todas os seus raciocínios baralhavam-se e perdiam o sentido. Ela não conseguia compreender a reacção dele, era como se ele esperasse que ela estivesse ali, ele nem sequer havia se mostrado surpreendido de a encontrar num pais tão distante.
O que ela repara ainda mais fora no quão frio ele se tornara, o Draco que ela conhecia não era assim, de facto a partida dela provocara muitas mudanças, e só agora é que ela começava a ter a verdadeira noção disso. As lágrimas corriam pela sua face, e ela deixou-se deslizar por uma parede abaixo, colocando a cabeça entre os joelhos. Ela prometera a si própria que nunca mais o veria, sabia que o tinha magoado ao ir embora daquela maneira mas foi a única solução que ela encontrou, só assim o poderia proteger, mesmo tendo de lhe partir o coração. Ela não o havia esquecido naqueles 2 anos, e ao vê-lo assim tão perto todas aquelas sensações antigas voltaram à sua mente, e acima de tudo ao seu coração.
Levantou a sua cabeça e olhou para o relógio, eram quase horas de jantar, e ela teria de descer para se encontrar com o resto da equipa para irem jantar, já haviam combinado tudo, iriam aproveitar o jantar para acertarem as coisas para o dia seguinte, ela não poderia faltar. Mas a simples ideia de deixar o seu quarto e poder se encontrar com Draco a aterroriza, ela não o queria ver outra vez.
Bateram à porta do seu quarto, e ela levantou-se para ir atender, sabia que devia estar com um aspecto horrível, com olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, mas teria de inventar alguma desculpa. Abriu a porta, e deu de caras com uma mulher loura, bastante bonita e com aspecto simpático.
- Então Hermione, pronta para irmos jantar, – começou Rose, uma das pessoas com quem Hermione se dava melhor na equipa e com a qual criara uma forte amizade, mas ao reparar no aspecto da morena entrou directamente para o quarto e fechou a porta atrás de si – o que é que aconteceu? Foi Ron? Ele fez alguma coisa contigo?
- Não, Ron não me fez nada, – disse Hermione, fixando os seus olhos na parede, evitando assim os olhos da amiga – não aconteceu nada, apenas me deu um momento mais sentimental, só isso.
- Ninguém fica desse jeito apenas por um momento mais sentimental, ou lá como é que lhe chamas, deve ter acontecido algo grave, para te fazer ficar com essa cara horrível. Vá lá, conta-me, sabes que podes confiar em mim.
- Não foi nada, já disse, apenas me lembrei de algumas coisas que preferia esquecer, só isso. – Disse Hermione com um tom que indicava que não queria falar mais disso.
- Ah! Então tem alguma coisa haver com esse passado misterioso que tu tens, mas pronto eu não insisto mais, se não queres dizer nada… embora ache que te sentirias melhor se desabafares.
- Obrigada, mas não é preciso, esta tudo bem comigo.
- Então, vamos jantar, talvez com mais pessoas à tua volta te animes um pouco, e pode ser que encontres algum indiano bem sexy. – Disse Rose com um ar maroto e piscando o olho, enquanto a outra sorria.
- Sim, sim… mas deixa-me apenas trocar de roupa e passar alguma água fresca pelo rosto. – Disse Hermione enquanto se dirigia para a casa de banho – Já sabes onde vai ser a sessão amanha?
- Ainda não tenho a certeza, mas tive a falar com o Mark, e ele disse-me que o mais certo era que ficássemos por aqui pelo hotel, Ron disse que andava à procura de um lugar bonito e exótico, que desse um ar oriental às fotografias, e o jardim e a zona da piscina do hotel são perfeitos para isso.
O coração de Hermione apertou-se um pouco mais, estava à espera que o trabalho a tira-se da zona do hotel, e assim as hipóteses de se encontrar com Draco diminuíam, mas ficar todo o dia no hotel arruinava os seus planos, e um possível encontro tornava-se cada vez mais inevitável.
Vestiu uma roupa bastante básica, mas ainda elegante, e ela e Rose dirigiram-se ao restaurante do hotel, conversando sobre o trabalho, e Hermione rezando para que um determinado loiro não estivesse lá também.
Draco Malfoy bebia um cálice de vinho lentamente, enquanto os seus olhos vagueavam pelo restaurante. Sentava-se sozinho numa mesa de canto, bem recatada, mas isso não queria dizer que passava despercebido, principalmente pela população feminina. Ele, para além de lindo, possuía um charme que fazia o coração das mulheres bater mais forte, e que tornava praticamente impossível alguém lhe negar alguma coisa. A sua pose fria e distante dava-lhe uma aura de mistério que incitava ao desafio, provocando assim a libido até das mais tímidas mulheres.
Pelo olhar de muitas das desacompanhadas que ali se encontravam ele poderia ter encontrado uma companhia facilmente, mas não era para isso que ele estava ali. Ele estava focado numa só mulher, e nesse instante ele a viu entrar. Mal reparou na outra que vinha ao lado dela. A sua mente estava focada somente em Hermione Granger, afinal de contas fora para se vingar dela que ele tinha deixado Londres e viajado até Goa.
Ela está linda, ele pensou, sim de facto não mudou muito com o tempo, talvez esteja apenas com uma postura mais rígida do que era habitual. Pode ver os seus olhos ligeiramente inchados, de certeza estivera a chorar, isso provocou-lhe um ligeiro sorriso, era sinal que o seu plano já tinha começado a dar resultados. Viu-a sentar-se numa mesa com um grupo de pessoas, todas elas bastante animadas, viu novamente o ruivo que estava com ela na tarde. Ao vê-lo inclinar-se para ela sentiu uma raiva ainda maior do que quando sentia ao ver Hermione. Fora por causa dele que ela o deixara, ele tinha a certeza disso. Levantou-se discretamente, ela ainda não havia notado a sua presença, e dirigiu-se lentamente à mesa dela, dando continuidade ao seu plano de vingança. Hermione Granger iria se arrepender do dia em que brincou com os seus sentimentos.
- Então Hermione, por aqui? – Draco notou a fisionomia da jovem mulher tornar-se muito tensa assim que ouviu a sua voz. Todos os olhares da mesa estavam agora colados em si e em Hermione. Ron encarava-o com um olhar duro, de quem não gostava nada que ele tivesse interrompido a sua conversa com a morena uma segunda vez naquele dia. – Pensava que uma pessoa como tu iria gostar de um lugar mais badalado que este aqui!
Hermione respirou fundo, e virou-se lentamente para trás, de modo que encarava o loiro de frente, tentando assim demonstrar que não se sentia minimamente intimidada pela sua presença.
- Pois, mas pensaste mal, eu sempre gostei de locais mais calmos.
-Provavelmente, se me tivesses dito isso à uns tempos atrás eu teria acreditado, mas agora acho que isso não combina muito com a tua personalidade. – Disse ele, com uma voz extremamente calma.
Na mesa todos estavam atentos à conversa dos dois, não fazendo o mínimo esforço para fingir que estavam interessados em outras coisas. Rose olhava para a amiga, de uma maneira muito curiosa, perguntando-se o que se estava a passar. Era obvio que aquele homem conhecia Hermione à bastante tempo, mas a amiga nunca lhe tinha falado dele, e na opinião dela aquele era um homem que não podia passar sem ser enunciado numa conversa de amigas. Ela olhou para ele, sem dúvida que era belíssimo, possuía um ar misterioso, que lhe dava um je ne sais quoi irresistível. Morrendo de curiosidade, ela não aguentou mais e interrompeu.
- Então Mione, não apresentas o teu amigo, nós estamo-nos a sentir um pouco postos de parte na vossa conversa! – Disse Rose com um sorriso. Hermione fuzilou-a com o olhar, e o sorriso dela diminuiu um pouco, percebendo que havia feito o que amiga menos queira.
- Este é Draco Malfoy, um velho conhecido – Ela enfatizou aquela última palavra de uma maneira que fez o loiro sorrir.
- Acho piada à maneira como tu relembras a nossa relação Mione, que eu me recorde nós fomos bastante mais que simples conhecidos. – A morena corou profundamente, mas não teve hipótese de falar, pois foi interrompida novamente.
- Bem já que é amigo de Hermione, porque não se senta e janta connosco, de certeza que aqui ninguém se importa. – Hermione sentiu que podia esganar a sua amiga naquele instante, como é que ela podia ser tão descarada. Draco dirigiu-lhe um sorriso sedutor.
- Muito obrigado, mas não vou poder aceitar, estou bastante cansado com a viagem, e ainda não me habituei à mudança horária, – e ainda com um sorriso nos lábios virou-se para Hermione – Vim aqui para te convidar para almoçar amanhã Mione, para relembrarmos os velhos tempos.
A morena olhou para ele, com uma expressão de choque no rosto. Parecia que não sabia o que fazer. Ele sorriu ao ver a expressão dela, e agradeceu o facto de ela estar de costas para os outros, a cara dela levantaria muitas perguntas.
- Ainda bem que concordas! – Disse ele, embora Hermione não tivesse dito nada, apenas continuado a olhar como se ele fosse algum extraterrestre – encontramo-nos na entrada do hotel, ao meio-dia, leva roupa fresca e confortável.
E com isto virou costas, e saiu do restaurante. Meu Deus, no que é que eu me meti, pensou Hermione, ainda com uma cara de choque na sua cara. Definitivamente que aquela não seria um noite que ela quisesse recordar.
O dia seguinte amanheceu com um sol esplendoroso, que prometia um tempo fantástico. A equipa da campanha começou a trabalhar bem cedo, e Hermione levou o trabalho como uma forma de tentar esquecer o que viria depois. Infelizmente para ela, parecia que as horas voavam, e quando se apercebeu já eram onze e meia. Foi Rose que a acordou para a realidade.
- Então Mione, não devias ir preparar-te para o teu almoço com aquele deus?
- Sim, suponho que devia ir buscar as minhas coisas, lembro-me que Draco não gosta muito de esperar. – Então se eu me atrasar o suficiente talvez ele desista, pensou com um fio de esperança, mas não adiantava pensar assim, de certeza que ele queria explicações sobre a partida dela, então ele não desistiria tão facilmente, bem o melhor é acabar com isto de vez.
- Olha, tu vais-me contar de onde é que conheces aquele tal Draco, ou é outro segredo desse teu passado misterioso? – Perguntou Rose, com um ar meio sério meio divertido.
- Agora não, é uma história muito longa, depois explico-te.
Então despediu-se de Rose, e foi informar Ron que provavelmente iria chegar um pouco atrasada à tarde, ele não pareceu muito feliz com a notícia, mas não fez nenhum comentário.
Ela dirigiu-se ao seu quarto e vestiu uma roupa bastante simples, uns jeans e uma blusa de alças muito discreta. Calçou umas sandálias sem salto, e prendeu o cabelo de modo que nenhum dos seus caracóis ficasse à mostra, ela lembrava-se que Draco sempre adorava o seu cabelo aos caracóis, e não queria dar-lhe a entender de nenhuma maneira que estava a tentar aproximar-se.
Resignada com a sua pouca sorte, dirigiu-se à entrada do hotel. Quando lá chegou, viu que Draco já estava à sua espera, e o seu coração falhou algumas batidas quando ele se virou para ela. Ele estava lindíssimo, vestia roupa informal e parecia totalmente descontraído, por momentos pensou que o tempo não tinha passado, e que eles ainda estavam juntos e felizes, mas então, quando ele se dirigiu na sua direcção ela abanou a cabeça ao de leve como que para espantar aqueles pensamentos.
Ele sentiu o elevador chegar, e dirigiu o olhar para lá, viu então que era ela que chegara. Ela estava simplesmente bela, ele observou a maneira elegante e aparentemente frágil como ela se movimentava, quase que sentiu pena com o que lhe iria fazer. Reparou que ela havia prendido o cabelo, e calculou que ela o havia feito por sua causa, ele sempre lhe dissera que a preferia ver de cabelo solto. Sorriu um pouco e dirigiu-se na direcção de Hermione.
- Olá, então pronta para o nosso almoço? – Ele falou calmamente, enquanto a olhava nos olhos.
- Sim, estou pronta. Onde é que vamos? – Perguntou ela friamente, enquanto desviava o seu olhar do dele.
- Depois vês, quando lá chegarmos. E não ficava nada mal seres um pouco mais cordial comigo, se começasses com um simples bom dia não fazia mal. – Disse ele com um tom levemente sarcástico, e começou-se a dirigir para a saída.
- Bom dia, – respondeu ela ironicamente – então, onde é que vamos? Também não te ficava nada mal responder. – Perguntou ela novamente, enquanto se dirigiam para o parque de estacionamento
- Eu já disse que verás quando lá chegares. – Diz Draco, enquanto lhe abria a porta do carro. Ficou à espera que ela entra-se, mas ela não fez qualquer movimento. – Então, estas à espera de quê?
- Eu não entro em carro nenhum enquanto não me disseres onde vamos. – Replicou ela teimosamente.
- Estas com medo de quê, que eu te agarre? Até parece que nunca o fiz. – Respondeu ele num tom de gozo.
- Não, simplesmente não entro em carros com estranhos, sem que me digam para onde me levam.
- Até parece que nos somos estranhos, querida. – E com um movimento rápido, esticou um braço, agarrou-a e prendeu-a entre ele e o carro. Ela debateu-se inutilmente contra o aperto que ele lhe dava contra o carro. Tentava se soltar, e ao mesmo tempo ignorar os arrepios que aquele contacto estava a provocar no seu corpo.
- O que foi querida, dantes não te importavas! – Disse ele num tom sarcástico.
- Larga-me imediatamente Draco. – Disse ela, enquanto tentava se soltar mais uma vez.
- Dantes também não te queixavas tanto! Que foi querida, não me digas que já não sentes todas aquelas sensações que dantes me contavas, ou será que eram todas uma grande mentira. – Enquanto falava, pressionava-a um pouco mais contra o carro e as suas mãos subiam e desciam pelos seus braços.
Ela tentava bloquear todas aquelas sensações, mas tornava-se cada vez mis difícil. Quase que deixou escapar um gemido quando sentiu a boca de Draco aproximar-se do seu pescoço, e roçar os lábios levemente.
- Então querida, o que me dizes agora?
- Larga-me, por favor, Draco.
- Estás muito mudada mesmo, dantes nunca ninguém te ouvia suplicar, costumavas se muito mais forte.
- Tens razão, eu mudei, mas agora deixa-me ir embora.
- Sabes, eu gosto muito mais do teu cabelo solto. – Disse ele, ignorando completamente o que ela lhe tinha dito.
- Assim é mais prático, agora deixa-me ir Draco.
- Não, nós ainda temos um almoço marcado, lembras-te? – Ele sentiu-a inspirar levemente enquanto a sua mãos se movimentava na cintura dela. – Tu mudaste em muitas coisas, mas eu gostava de saber se ainda continuas igual numa coisa.
- No quê? – Perguntou ela levemente surpreendida.
-No teu beijo. – E dito isto aproximou os seus lábios da cara dela, não lhe dando tempo de reagir ao que ele havia dito e capturou os lábios dela num beijo exigente, que a fez esquecer de qualquer tentativa de se soltar.
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