Detenção com o Inimigo
Harry abriu os olhos e fitou o teto da enfermaria. A iluminação forte proveniente da janela em frente à cama o convidou a fechar os olhos e dormir mais um pouco, mas a preocupação o fez esperar que a visão acostumasse. Sentiu algo quente sobre a mão direita e olhou para o lado, encontrando a face de Gina muito próximo a sua: A garota jazia dormindo com metade do corpo sobre a sua cama e a outra metade sentada num pequeno banquinho desconfortável de madeira. Uma de suas mãos repousava sobre a dele e a outra como uma espécie de travesseiro para confortar a cabeça.
Olhando de perto ela era até bonita... Tinha lábios finos, pele alva e lisa, sobrancelhas que adornavam perfeitamente os olhos fechados. E os cabelos ruivos tão bem penteados caíam uniformemente pelo rosto, criando um ar sutil e feminino na garota que Harry lembrava ter visto com apenas dez anos. “Como ela está diferente.” Pensou consigo, sorrindo de canto. O perfume que ela usava também era agradável ás narinas sensíveis. Imaginou o que a garota deve ter feito para convencer Madame Pomfrey a deixá-la ficar na sala junto com Harry.
Ergueu a mão livre e passou na franja ruiva, colocando-a atrás da orelha de Gina. Instantaneamente ela abriu os olhos, focando Harry a princípio com ternura, mas em seguida com um terror estremo. Seu rosto corou nitidamente junto com as pontas das orelhas.
- Harry! Você... Você acordou! Eu não tinha vi-visto! – Exclamou ela enquanto afastava num salto, esbarrando na cama ao lado.
- Sim, eu acordei. – Ele continuava com aquele sorriso maroto que lembrava muito Thiago Potter. – O que você está fazendo aqui?
A resposta dela foi interrompida por um gemido alto de dor da maca ao lado. Ambos voltaram o olhar para o garoto estirado entre os lençóis limpos, era Draco. Ainda de olhos fechados ele ergueu as mãos enfaixadas, tateando o ar a procura de algo invisível, depois as depositou sobre a cabeça. O susto que tomara ao sentir os cabelos ralos e a faixa na testa fora tanto, que ele sentara num salto com os olhos esbugalhados.
- Meus cabelos! – Exclamou agoniado, gemendo depois quando os dedos queimados entravam em contato com os cotocos do que sobrara de seus cabelos. – Aquele Potter... Ele vai pagar caro, muito caro!
- Mas foi você que começou! – Disse Gina subitamente ao conter uma risada. – E esse novo visual até combina com você... Ralinho e sem sal.
Draco tomou um susto ao notar que não estava sozinho. Olhou para ela por uns segundos e fez cara de nojo.
- Pior do que acordar assim é ter que olhar para uma Wesley! – Xingou ele recuando mais para o outro lado da cama.
Gina olhou para Harry e o vampiro deu de ombros.
- Você não aprende nunca, não é? – Questionou Harry inclinando o corpo para frente e sentando. Seu peito doeu na região acertada pelo crucio. – Quantas vezes eu vou ter que te queimar para que aprenda a lição?
O coração do sonserino quase saltou pela boca quando seus olhos pousaram em Harry. Numa agilidade incrível ele saltou da cama, embolou as pernas no lençol e caiu no chão desajeitado. Desvencilhou-se da peça, levantou e recuou até tocar as costas na parede de pedras. A respiração ofegante indicava um medo profundo apenas de estar na simples presença do vampiro-bruxo.
- Fique longe de mim! – Grunhiu Malfoy. – Seu vampiro desgraçado... Meu pai vai acabar com você!
Harry revirou os olhos.
- Você é ridículo, Malfoy. – Disse Gina apanhando o banquinho que derrubara e recolocando no lugar.
- Meça suas palavras comigo, Wesley! Você e seus amigos idiotas... Aquela sangue-ruim e esse... – Um pânico brilhou nos olhos do sonserino. – Imbecil não tem o direito de falar comigo desse jeito!
- Cala a boca, Malfoy! – Rugiu Harry em voz alta, os olhos brilharam avermelhados e os caninos brotaram da arcada superior. Até Gina sentiu um receio de olhar para o vampiro naquele estado. A sorte deles é que não havia mais ninguém na enfermaria.
Draco apertou-se mais contra a parede. Se abrisse um pouco mais os olhos era capaz deles saírem das órbitas.
- Se eu ouvir de novo a sua voz vou acabar com você de vez!
- Você... Não... Você não seria capaz! – Gaguejou ele cortando o dedo numa saliência afiada de uma pedra. – Argh!
Harry preparava uma resposta das boas quando o cheiro saboroso de sangue penetrou-lhe as narinas, convidando-o para um saboroso almoço. O odor atrativo chegava a ser hipnótico... Era inexplicável a sensação vibrante e quente de sentir o líquido da vida descendo pela garanta e forrando a sede vampírica. Draco enfiou o dedo ensangüentado na boca ao perceber o grandioso perigo que corria, chupando todo o sangue que conseguia e engolindo. O cheiro passou rapidamente e Harry voltou à consciência, apagando os olhos. Agora ele podia notar o quão era perigoso o descontrole... Se não tivesse bebido sangue uma noite atrás, poderia ter sido pior.
- Onde estão Rony e Neville? – Perguntou Harry voltando à atenção para Gina.
- Ah, bem... – Ela desviou o olhar para que ele não a percebesse corar. – Já deveriam estar aqui. Eles combinaram de vir...
Ela mal terminou a frase e a porta da ala foi escancarada por uma garota de vasta cabeleira castanha.
- Harry! Oh, Harry! – Exclamou Hermione avançando sobre o amigo e abraçando-o. – Estive preocupada com você! Rony acabou de vir até mim e contar o que aconteceu! A escola inteira está falando no acidente... E eu não parei nem para ouvi-los! Mas eles não sabem de tudo... A princípio foi só uma briga normal.
Harry conseguiu calar um grunhido de dor ao ser abraçada pela amiga, era insensato da parte dele reclamar do afeto. Olhou sobre o ombro dela e viu Rony entrar acompanhado de um Neville constrangido e curioso ao mesmo tempo.
- Desculpe por ter sido tão estúpida com você, Harry. – Pediu Hermione afastando e parando ao lado da cama. – Eu e Rony conversamos e... – Ela deu uma corada que apenas o vampiro conseguiu ver. – Resolvi rever os meus conceitos. Eu sou sua amiga, não sua mãe! Prometo não encher mais o seu saco e te ajudar com o que for preciso.
- Bem, Mione... – Ele coçou a nuca e sorriu. – É bom ouvir isso.
- Que bom vê-lo acordado, Harry. – Disse Rony puxando um banquinho igual ao de Gina e sentando.
– Como você se sente? – Perguntou Neville puxando um embrulho de papel pardo do bolso e esticando para Harry. – Trouxe para você, é um quindim de codorna. A minha vó fez em homenagem ao meu Firumflipe e eu não pude deixar de trazer um pedaço para ti, afinal, sem a sua ajuda e a de Rony eu não teria conseguido.
- Ah, estou bem. Meu peito ainda dói um pouco, mas logo ficará melhor. – O vampiro apanhou o embrulho sem muita vontade. – Obrigada, Neville.
- Madame Pomfrey disse que o Crucio lançado por Draco abriu as feridas que estavam em você, por isso acabou desmaiando. Se você não fosse um vampiro poderia ter morrido naquele instante. – Explicou Gina com um quê de preocupação. – Foi idiota da parte de vocês terem implicado daquela forma!
- Foi o idiota do Draco que começou. – Argumentou o Wesley cruzando os braços.
- Eu não comecei nada! – Retrucou Draco retirando o dedo na boca e certificando-se de que ele não sangrava mais.
Apenas agora o grupo percebera a presença do Malfoy na sala, lançando olhares reprovativos para o sonserino. Ele virou a cabeça para o lado e empinou o nariz, juntando o lençol que tinha deixado cair e voltando a deitar na cama. Era evidente que ele sentia inveja, pois até o momento ninguém viera lhe visitar ou trazer algo. Mione lançou um olhar de nojo para ele antes de voltar a falar.
- A propósito, Harry, Dumbledore me pediu para entregar isso a você. – Ela estendeu um envelope selado com o carimbo de uma fênix. – Ele disse que não estará aqui para te aplicar a devida detenção, porque está em uma convenção na Irlanda, mas o que precisa saber está aí.
Ela puxou outro envelope do bolso, contornando a cama de Harry. Rony e Neville seguraram a risada diante do “novo visual” de Draco. Ela estendeu a segunda carta para ele.
- Essa é especial para você.
- Você espera mesmo que eu vá tocar em um envelope em que uma sangue-ruim segurou? – Indagou ele sorrindo maliciosamente.
- Não, docinho... Eu é que não vou tocar no mesmo envelope que você. – E atirou o envelope no chão, dando as costas para ele.
O grupo caiu na gargalhada diante do estado de estupefação de Draco. Ele pensou em revidar, mas ao ver a cara de Harry mudou de idéia. Apanhou o envelope do chão e abriu. Harry fez o mesmo. Houve um prolongado silêncio para que o amigo pudesse ler a carta em voz alta:
“Caro Harry,
Temo não estar aí para conversarmos devidamente, há uma convenção de vampiros na Irlanda e não posso perder. Parece que este grupo está destinado a lutar junto conosco na guerra. Mudando de assunto, eu gostaria de dizer que o comportamento de vocês dois, estou falando de você e Malfoy, foi indevido e egoísta. Estamos diante de uma guerra e brigar significa dar vazão ao inimigo. Ainda mais para dois exímios exemplos de suas casas, como não estou aí para resolver a situação, arranjei um jeito de fazer com que vocês pudessem ao menos entrar em um acordo. Resolvi puni-los com uma detenção de três dias seguidos, a começar por hoje, porque acredito que o trabalho de madame Pomfray tenha já surtido efeito. A detenção será coordenada por Mr. Avada, então tratem de conservar a responsabilidade e a obrigação com os esforços mútuos. Espero uma melhora de ânimos até o meu retorno dentro de três dias.
Atenciosamente, Alvo Dumbledore.”
Harry parou de ler, mas tinha mais conteúdo na carta. Ou melhor, uma única frase de três palavras. Ele ajustou os óculos, mais por mania do que necessidade, e aproximou o rosto para enxergar direito.
- O que está escrito? – Indagou Rony curioso.
- Eu não consigo ler... – Harry franziu a testa. – Acho que é em outra língua. Parece ser “Vermin daugen stelinen.”
- Não, seu idiota. – Resmungou Draco com o envelope em mãos. A carta era quase a mesma, com exceção de algumas partes. – O certo é “Vermon Daugen Stelinan”.
E, ao preferir as palavras, algo longo e prateado irrompeu do papel da carta de Draco e prendeu em seu braço direito. O mesmo aconteceu com o esquerdo de Harry. A algema fixou no pulso de ambos e a corrente que pendia solta foi impulsionada por uma força mágicas e quase magnéticas, que uniu as pontas soltas em uma única: eles estavam presos.
- Mas que droga é essa? – Questionou Draco tentando liberar a algema metálica.
Harry olhou abismado para o pulso, mas por mais força que aplicasse, a algema continuava intacta. Hermione analisou a corrente de perto, o espaço máximo entre a dupla era por cerca de um metro ou talvez menos. Tocou com o medo nos elos firmes, gesticulando com os ombros.
- São correntes mágicas... Elas só podem ser desfeitas por quem as invocou. – Explicou coçando a cabeça.
- Eu invoquei! Logo eu quero que elas saiam! – Chiou Draco batendo a corrente contra o metal da cama. – Eu ordeno que desfaça!
- Não, você só ativou ela. Quem invocou foi Dumbledore.
- Você quer dizer que Harry e Draco estão presos por essa corrente? – Perguntou Rony incrédulo.
- E por três dias? – Completou Neville com pena do amigo. – Com Mr. Avada?
- Porque Dumbledore faria uma coisa dessas? – Questionou Harry analisando o metal da corrente de perto. – Ele sabe que nos odiamos!
A idéia de estar perto de Draco por três dias fez Harry sentir náuseas, ainda mais sobre a supervisão de Mr. Avada. Se mal o agüentava por minutos, quem diria setenta e duas horas? Apanhou o envelope na esperança de ter esquecido de ler algo e notou que as palavras haviam mudado, estavam vermelhas, antes eram azuis, e havia um novo aviso na carta:
“Obs.: Não tentem desfazer a magia das correntes, elas só serão desfeitas por mim. Finch irá arranjar um lugar para vocês no dormitório vago do quarto andar, antigo lar da professora de Runas. Ela está fora no momento e não vejo porque vocês não possam ficar lá.
Obs.: Qualquer feitiço que tentem fazer um com o outro será imediatamente anulado. Espero que vocês aproveitem bem os três dias. A detenção de vocês começará hoje as nove da noite.
Atenciosamente, Alvo Dumbledore.”
- Ahhhhh, essa não! – Exclamou Harry amassando o papel. – Dumbledore está louco!
- Só você que acha isso? – Questionou Draco puxando o pulso. A corrente içou junto e puxou o punho de Harry, que fez força do lado oposto afim de trazê-lo de volta para si. – Dumbledore foi longe demais!
Rony olhou apreensivo para o amigo, Hermione segurou-lhe a mão para confortá-lo.
- Não se preocupe, Harry. Tudo vai sair bem. – Disse ela.
- Bem? Não vejo como a situação possa ficar “bem”. – Ironizou o bruxo irritado.
No final da tarde Madame Pomfrey terminava de dar a última medicação para a dupla e os liberava. Após a saída do grupo de amigos de Harry, os dois não trocaram uma única palavra sequer. A idéia de terem um ao lado do outro por um longo tempo deturpava qualquer pensamento. “Eu nunca vou ser amigo desse idiota.” Pensava Harry analisando a algema. Já Draco parecia preocupado com outras coisas: “O que eu vou fazer quando me verem assim? Vão rir de mim por muito tempo! Dumbledore está gagá! Eu juro que ele irá se arrepender. Minha imagem, Merlim, como ficará minha imagem?”. Eles sentaram na beirada da cama, trocaram um olhar raivoso rápido e levantaram.
- Não irei pedir desculpas a você, Potter. – Resmungou Draco apanhando as mudas de roupas trazidas por Pansy horas antes.
- Não faço questão do seu perdão. – Retrucou o vampiro juntando as roupas sobre a cama.
Ambos caminharam até os trocadores de roupas, mudando agilmente as vestes para se verem livres daquela situação o quanto antes. As correntes impediam que ficassem longe um do outro, então foram obrigados a dividirem o mesmo lugar. Draco para um lado e Harry para o outro. Quando eles já estavam prontos e prestes a sair da sala, depararam-se com Mr. Avada conversando animadamente com Madame Pomfrey. A mulher nunca esteve tão animada, pasma diante da grande elegância e educação do homem pomposo diante de si. Ele desviou o olhar para a dupla, analisando as correntes de longe. Despediu-se da enfermeira e aguardou que Papoula se retirasse.
- Ora, ora... Sr. Potter e Sr. Malfoy... – Ironizou ele coçando o queixo. – Vejo que Dumbledore não mediu esforços e imaginação para castigá-los. Devo dizer que realizar um Crucio e um Firumflipe sem varinha é um ato estupendo para alunos tão fracos como vocês, mas relevo minhas palavras por enquanto.
Harry abaixou o rosto, contento a raiva que crescia dentro de si. Malfoy sorriu falsamente.
- Ah, Mr. Avada. Não sabe como eu gosto do senhor! – Elogiou Draco falsamente. – Mas acho que isso não é necessário, não é? Tenho certeza de que eu e meu amigo Harry não iremos repetir o acontecimento novamente.
Avada sorriu pomposamente e caminhou lentamente até Draco, como se estivesse sobre a luz de milhares de holofotes e câmeras, colocando a mão sobre seu ombro. Harry meneou a cabeça negativamente, provavelmente Mr. Avada livraria Draco da situação e deixaria tudo unicamente para ele.
- Ah, Sr. Malfoy, creio que saber disso me deixa muito feliz. Porém, não posso permitir que a detenção seja anulada, não tenho autoridade o suficiente para isso.
Em seguida, ele apertou o ombro de Draco com mais força, franzindo a testa dramaticamente.
- E creio que mesmo que pudesse não deixaria de penalizar dois alunos desobedientes, o comportamento inadmissível deve e será corrigido.
Malfoy arregalou os olhos, fazendo cara de quem fora contrariado. Harry ergueu o rosto surpreso.
- Meu pai...
- Sim, o seu pai... Lucius Malfoy, não? – Mr. Avada recolheu a mão e sacou a varinha, brincando com ela animadamente entre os dedos. – Eu o conheço... É um homem educado e muito importante, é claro. Mas quer saber o que eu penso dele?
O auror da sessão treze apontou para um jarro de água vazio sobre a cômoda ao lado de uma cama vazia. Ele murmurou algo enquanto um jato de luz roxa irrompia da varinha, explodindo o jarro de vidro em minúsculos pedaços. Draco engoliu a seco perante a intimidação.
- Eu não ligo a mínima, sr. Malfoy. – Disse Avada num tom ameaçador. – E desejo que me trate com mais respeito e não tente me comprar, não pense que sou qualquer um.
Avada guardou a varinha e voltou o olhar para Harry.
- O aviso serve para você também, Sr. Potter.
- Sim, Mr. Avada. – Concordou o vampiro plenamente.
Não estava obedecendo Avada porque queria, mas porque era preciso. Draco pareceu conter as palavras, fingindo que aquela conversa não acontecera. O professor sorriu satisfeito, dando-lhes a costa ao rumar para a saída, o ar pomposo havia retornado.
- Bem, estou com pressa, então resumirei a detenção de hoje enquanto caminhamos até nosso destino. – Mr. Avada pigarreou ao chegar no corredor, acenando para algumas alunas do sétimo ano da Lufa-Lufa. – Acabei de receber um chamado do ministério para atender uma aparição vampírica num pequeno condado inglês ao norte. Ao que parece, os vampiros atacaram as casas e deixaram um estrago grande. Quando a ajuda chegou já era tarde eles haviam fugido, mas mesmo assim é nosso dever garantir a segurança da população. Como não vejo nenhum perigo, nós iremos até lá para conferir a situação. Dependendo de como estarão as coisas, a primeira tarefa de vocês será realizada.
Draco apressou o passo para manter o ritimo de Harry e Avada. Os corredores estavam quase vazios, pois o anoitecer chegava e, segundo as ordens do diretor, era proibido a movimentação de alunos. Draco esperou chegarem no quarto andar, que estava mais vazio, olhou para os lados e por fim falou.
- Eles podem voltar?
- Eles quem? – Indagou Avada após um momento de silêncio.
Harry olhava o sonserino de canto, não imaginava que Draco fosse tão covarde a ponto de recear o campo de batalha. Conforme entravam mais no corredor, tochas acesas iluminavam as paredes e o caminho escuro para a sala de Mr. Avada.
- Os vampiros que atacaram o condado! Eles podem voltar?
- Creio eu que sim, mas não vejo o porque. – Respondeu Avada reduzindo o passo. – Existem muitos aurores por lá a essas alturas, um segundo ataque no mesmo dia seria arriscado demais.
- O que o ministro irá fazendo a respeito? – Indagou Harry aproveitando a conversa.
- Nada, porque quem irá resolver essa situação seremos nós. – Avada parou diante da última porta grande de carvalho no final do corredor e bateu três vezes, esperou e repetiu o movimento mais duas vezes.
As trancas abriram e ele empurrou a porta, entrando na pequena sala fechada escura e mobiliada por um único sofá velho, havia apenas mais uma lareira acesa á fogo baixo. As janelas estavam lacradas por taboas, a muito aquele quarto parecia não ser iluminado, pois cheirava a mofo e acre. Draco cobriu o nariz com a mão, franzindo a testa enojado.
- Rufus deveria fazer algo quanto aos vampiros. – Insistiu Harry atrás de respostas. – Porque ele não resolve esse problema pessoalmente?
- O ministro tem coisas mais importantes para fazer, Sr. Potter. Ou você acha que uma guerra é terminada de uma hora para a outra? – Mr. Avada apanhou um saquinho de cetim cinza sobre a lareira e abriu, fitando os garotos de canto. – Vocês são jovens ainda, preocupem-se em ficarem fortes. Deixem esses assuntos para quem está encarregado de resolver a situação.
- Mas quem está encarregado da guerra vampirica não faz nada! – Exclamou Harry impaciente. Como os bruxos poderiam deixar um homem tão insensato como Rufus no poder? – Se dependermos dele inocentes morrerão no campo de batalha!
- Vocês sabem como usar o pó de flu, certo? – Questionou o auror interrompendo o vampiro e terminando de vez como assunto. – Antes de mergulharem na lareira digam “Condado Roykmon, escritório Delamin.”
Ele estendeu o saquinho aperto para que Draco pegasse um punhado e depois para Harry, apanhando o próprio punhado por último e atirando o pó de flu nas chamas. O fogo ficou verde, aumentando de intensidade. Mr. Avada olhou uma última vez para os alunos, passando a mão no cabelo sedoso.
- Condado Roykmon, escritório Delamin. – E saltou para as chamas, sumindo de vista.
- É melhor saltarmos juntos, ou sabe-se lá o que acontecerá se tentarmos separadamente. – Falou Harry parando em frente à lareira, acompanhado por Draco.
- Cala a boca, Potter. Eu mando aqui! – Tachou Draco atirando o punhado de pó na lareira. – E eu digo que iremos separadamente!
- Não! – Harry deixou o próprio punhado cair no chão e agarrou o antebraço de Malfoy, empurrando-o para dentro da lareira. – Nós iremos juntos!
- Argh!
- Condado de Roykmon... – Mas Harry não conseguiu terminar a frase, pois as chamas negras envolveram o corpo de ambos.
Como se estivesse afundando sem parar num mar profundo, a pressão ao redor deles apertou com intensidade. O pequeno quarto com um único sofá rodou ao redor deles, transformando a imagem num punhado de cores abstratas e dançantes. A sensação durou alguns instantes, até que parassem de flutuar e o chão surgisse novamente. Harry caiu sentado numa posição desajeitada e Draco de joelhos, tossindo um punhado de cinzas.
- Cof, cof! Droga, seu idiota! Olha o que você fez...
- Eu salvei as nossas vidas, Malfoy. Estamos acorrentados, lembra? – Harry fez uma careta dolorida ao estender o pulso e mostrar a corrente. – Poderíamos ter chegado a lugares diferentes com pedaços de corpo a menos, como uma aparatagem mal feita.
O vampiro levantou impaciente, batendo pesadamente nas vestes para retirar a poeira. Olhou ao redor receoso, percebendo que Mr. Avada não estava por perto.
- Aonde estamos? – Perguntou Draco retirando as cinzas do rosto.
- Eu... Eu não sei.
A lareira atrás deles era a única peça intacta daquilo que restara da casa. Ao redor deles pedaços de madeira, móveis quebrados, poeiras e telhas resumiam os destroços. Harry olhou para o alto: O céu escuro sobre eles estava repleto de nuvens negras, cinzentas e que relampejavam de tempos em tempos, criando um temor interno dentro de cada um, como se o sol jamais fosse nascer no término daquela noite. Os dois passaram sobre os destroços para tomar a rua mais adiante, seus olhares assustados pousavam sobre as casas vizinhas. Todas, sem exceção, estavam de alguma forma danificadas ou destruídas. A sombra noturna impedia de ver com clareza, mas aquelas visíveis pelo fogo que ainda ateava sobre elas revelavam uma terrível destruição. Fileiras gordas de fumaça negra irrompiam dos telhados queimados e misturavam-se as nuvens no alto num espetáculo fúnebre com odor de morte.
Draco parou de limpar as vestes sujas pela fuligem para observar a destruição massiva no pequeno condado, impressionado com a terrível cena. Harry viu um amontoado de cinco pessoas ao redor de uma lata de lixo em chamas e apressou o passo para encontrá-las. Draco hesitou antes de continuar.
- O que você vai fazer? – Perguntou Draco receoso.
- Falar com eles... Precisamos saber onde estamos. – Respondeu Harry como se fosse a coisa mais óbvia a fazer.
- Mas e se eles forem perigosos?
Harry parou e virou completamente, devido a um raio que estourara em seguida Draco pode ver as expressões nada amigáveis do vampiro.
- Eu estou cansado desse seu comportamento idiota! Ou você vem comigo ou eu obrigo você a fazer isso na força. Acredite, Draco, estar aqui com você acorrentado a mim e a última coisa que eu queria! Eu preferia mil vezes estar com o Wesley “imbecil” ou “sangue-ruim” da Hermione, porque eles não são covardes! – Gritou Harry enfiando o dedo no peito dele. – Pare de fugir e lute, seu medroso! Você é um bruxo ou um verme?
- E quem você acha que é para falar assim comigo?
Draco empurrou Harry levando os dois até o chão enlameado. Primeiro desferiu um soco no rosto do inimigo, depois recebera um outro na bochecha. Harry não conseguiu juntar muitas forças, pois o ferimento no peito ainda doía e as mãos de Draco passavam pelo mesmo sufoco. Ambos ficaram de pé, dessa vez Harry avançou primeiro, agarrando o outro pelo colarinho e prensando-o contra a lateral do carro capotado. Deu-lhe uma joelhada no estômago, e o sonserino revidara com um chute na canela e um soco no rosto. Mas uma vez foram ao chão trocando socos, tapas e outras golpeadas, mas a briga não durou muito, pois Harry caíra para um lado tomado pela dor e Draco para o outro com as mãos quase dormentes.
- Chega... Chega! – Pediu o loiro.
- Não vamos chegar a nada desse jeito... – Completou Harry limpando o sangue que escorria pelo canto da boca com o punho.
Sentaram e trocaram um olhar constrangido, para a surpresa deles próprios, e abaixaram os rostos.
- Precisamos esquecer as nossas diferenças por enquanto e tratar de sair desse lugar o mais cedo possível. – Propôs o vampiro olhando para as mãos sujas por lama.
- Você está certo. – Concordou Draco sem relutar. Pela primeira vez ele parecia um pouco mais sério do que o comum. – Acho que estamos Roykmon.
- Acabamos vindo para o mesmo lugar de Mr. Avada, só que por caminhos diferentes. Ele está por aqui... O condado não deve ser muito grande para encontrá-lo.
Eles levantaram trocando um aperto de mão dolorido.
- Vamos seguir para aquela direção. – Harry apontou para onde as chamas estavam mais extensas e a destruição maior. – Os aurores devem estar por lá e saberão encontrar Avada.
Um outro raio estourou na floresta à direita, derrubando uma árvore e carregando uma onda de pássaros atormentados para os lados. Harry e Draco começaram a andar na direção sugerida, ora ou outra olhando para os espaços aonde o breu fazia questão de ocultar. Havia um clima pesado naquele ar que lembrava morte e caos. Não havia uma única casa intacta ou que não estivesse ateando fogo. O povo era simplório e a maioria das residências era feita de madeira ou material extremamente inflamável.
Virando a rua depararam com um movimento mais intenso de pessoas alojadas nas calçadas que esperavam por um atendimento médica. Draco desviou o rosto quando viu uma garotinha chorando copiosamente com um dos braços quase que por inteiramente queimado.
- Esses vampiros não pouparam ninguém... – Comentou Harry lembrando de Alberon. Segundo Ângela o vampiro líder tinha seus princípios e poupava os inocentes, mas ele parecia ter mudado de idéia.
Draco assentiu positivamente num luto silencioso. Eles continuaram caminhando e caminhando, apreciando a vista fúnebre e triste. Uma mulher chorava sobre o corpo falecido do marido, outras duas crianças chamavam o nome dos pais e vasculhavam os escombros da casa destruída. Mesmo sendo diferentes, Draco e Harry pensavam a mesma coisa: A Guerra seria tão pior quanto o ataque ao pequeno condado. Após alguns instantes a mais de trajeto, eles viram o vulto inconfundível de Mr. Avada passando ordens para um grupo recém chegado de aurores.
- Façam assistência às pessoas! O primeiro grupo já chegou e está fazendo uma ronda pelos arredores do condado.
- Sim, Mr. Avada. – Concordou o líder do pequeno grupo de aurores médicos e se retiraram.
- Mr. Avada! – Gritou Draco um pouco aliviado em ver o homem.
Avada virou imediatamente na direção deles, suspirando contente ao vê-los.
- Ah, vocês estão aí! Pensei que tivesse perdido os dois.
- Acabamos com um imprevisto no caminho, mas viemos parar no mesmo lugar. – Disse Harry limpando o suor da testa, estava extremamente quente naquela parte.
- Bem... – Ele analisou o estado dos dois e gesticulou afetado com a mão. – Estamos precisando de ajuda por aqui, pensei que o estado não estivesse tão crítico a ponto de precisar realmente vocês dois. A primeira tarefa de vocês será ajudar com os destroços... Juntem-se ao terceiro grupo de aurores na ala leste e comecem com a limpeza. Eles apagam o fogo e vocês retiram os destroços.
Dessa vez não houve reclamações da parte de Draco, o que agradou e muito o auror. Ele indicou uma rua à direita deles aonde as casas não pegavam mais fogo.
- Eles estão para lá, dependendo do desenvolvimento do trabalho nos veremos pelo amanhecer.
Harry trocou um rápido olhar com Malfoy e eles seguiram para a rua escura. Os postes que ainda tinham lâmpadas piscavam morbidamente, projetando sombras assustadoras entre as sobras das casas. A noite seria longa... E eles mal esperavam pelo pior. Enquanto a noite dominasse o perigo ainda estaria a espreita.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!