No silêncio do teu olhar
O nervosismo já tomava conta de seus sonhos, acordara mil vezes naquela noite, se revirara na cama tanto quanto pode, mas não encontrava conforto que fosse, seus pensamentos vagavam entre o amor de sua vida, e sua recém conquistada felicidade ao lado dele. Aquilo era tudo que sempre sonhou. Quando ainda era menina apenas sonhava com o herói por detrás daquele par de olhos intensamente azuis. Mas agora, agora que o tinha, ainda assim parecia que lhe faltava algo, aquilo a inquietava momento pós momento.
Ainda pensando resolveu dar ouvidos ao seu já insatisfeito estomago, que urrava de fome, afinal não tinha conseguido chegar a tempo ao jantar daquela noite, tudo graças ao Seboso, que a havia prendido mais uma vez em detenção por ser um grifinória. Ou pior:
- por ser namorada do Potter, como se isso fosse problema dele. Seboso idiota.
Resolveu levantar e seguir a cozinha, quem sabe os elfos não ficassem felizes com uma visitinha noturna e não conseguiria um pedaço daquele pudim que Ronny tanto falara, enquanto estavam na Comunal terminando as lições.
Pegou um agasalho e calçou um tênis, então abriu a porta lentamente para que suas companheiras não acordassem, definitivamente não queria mais uma detenção por vagar a noite pelo castelo, já bastavam as que teria que cumprir até o final do mês. Se pegou rindo das encrencas em que se metia, podia não participar muito das ações que Harry e os outros insistiam em deixá-la de fora, mas tinha as suas próprias, ainda mais se fosse para aprontar com as suas adoráveis coleguinhas Sonserinas.
Enquanto cruzava um corredor teve a impressão de ouvir passos, esgueirou-se contra a parede e vislumbrou uma sombra caminhando entre a escuridão da madrugada, apenas uma vasta cabeleira platinada podia ser vista na penumbra, não havia como confundir, somente uma pessoa naquele castelo teria um cabelo assim, tão engomadinho a essa hora da noite. Ela não perderia a oportunidade de segui-lo, pegaria o Malfoy no ato, e quem sabe assim Harry e os outros a dessem mais valor, se finalmente desvendasse os mistérios no qual o loiro cara de fuinha estava metido.
Malfoy andava rapidamente se esgueirando pelas paredes do castelo, como quem se esconde antes de aprontar uma, então quando chegou em frente a sala precisa, desapareceu. Havia perdido o rastro do safado naquele ponto.
- ele deve estar aqui dentro, mas o que será que ele faz na Sala precisa a essa hora? - então desejou que a sala mostrasse Malfoy e o que ele estivesse fazendo lá dentro, então uma porta de madeira de mogno se materializou na sua frente. A porta era talhada com detalhes antigos, seria capaz de apostar que aquela porta seria de uma casa muito velha e muito rica, pela qualidade dos desenhos e formas. Havia uma serpente no seu centro, produzida em ouro puro, com duas safiras no lugar dos olhos.
- uauuu, onde o Malfoy anda se escondendo??!!!
Calmamente abriu a porta, percebera que havia uma musica clássica sendo tocada, e apesar de parecer uma sala, a única fonte de iluminação provinha de uma lareira bem ao centro do cômodo, onde havia um sofá vitoriano e uma tapeçaria fofa no chão, a esquerda da sala, uma mesa cheia de papéis e a direita apenas algumas almofadas bem acomodadas no chão, parecia ser um lugar de repouso. Mas em lugar algum havia um Malfoy; olhou para todos os lados, então abriu um pouco mais a porta e ainda assim não conseguiu localizar o loiro sonserino.
- mas onde diab...ué? mas como? – então finalmente avistou o rapaz, mas aquele definitivamente não poderia ser um Malfoy, ele estava ajoelhado em um canto e, e ele estava chorando??? Um Malfoy chorando?? Devia estar sonhando, bom, se bem que tendo um Malfoy no sonho, o termo mais correto seria pesadelo, então, ela estava tendo um pesadelo com Draco Malfoy.
- Merlim, ninguém merece... – virou para o lado pensando perplexa.
Ao terminar de falar sentiu uma mão puxar o braço que segurava a porta para o lado de dentro. Logo após uma mão bruscamente tapou-lhe os lábios e uma voz arrastada sussurrou em seu ouvido:
- ora ora, vejam só o que temos aqui, se não é a pequena Wesley pobretona que me seguiu até uma sala escura.
Ela assustada, mas com toda a coragem de uma grifinória começou a se sacudir para tentar se libertar.
- me solta Malfoy. – disse ela com a respiração entrecortada, jamais havia notado, mas o garoto exalava um perfume delicioso. E como era, era forte.... – como assim cheiroso, e forte, ai meu Merlim, desde quando eu reparo nesse tipo de coisa!!??tô doida...deve ser essa colônia estranha dele, muita loção pós barba, deixa as pessoas embriagadas.
Ele a soltou, não queria passar muito mais tempo em contato com a ruiva traidora do sangue. Quando soltou seu braço da cintura dela, sentiu a pele delicada dela por entre a blusa fininha que usava, acabou se demorando mais do que queria tocando com seus dedos suavemente a barriga da moça, provocando-lhe um pequeno arrepio, que a fez sobressaltar-se e acabou se afastando já com o rosto rosado. Agradeceu intimamente pela penumbra, assim ele não poderia ver as reações que estava causando nela.
- então Wesley, o que você faz aqui? – disse ele de forma dura e transtornado, não parecendo em nada o rapaz frágil que ela havia visto a poucos instantes.
- você é quem deve dizer o que faz nessa sala durante a madrugada?
- deixa de ser intrometida pobretona. O que eu faço é problema meu.
- Malfoy, eu não to nem ai pra você, mas acho que você precisa de ajuda.
- eu jamais precisaria da ajuda de uma pobretona como você Wesley, você e toda a sua família de traidores é que me colocaram aqui onde eu estou agora. – falou o rapaz transtornado.
- olha aqui Malfoy eu e minha família não temos nada a ver com as escolhas erradas da sua família e de todos os idiotas que apóiam, Voce-Sabe-Quem. Alias, eu nem sei porque me preocupei com você, eu devia era ter seguido meu rumo pra cozinha que eu ganhava mais viu, credo. – virou as costas e foi até a porta.
Draco achando que estava sozinho novamente, se jogou no chão da sala e pensando em todos os seus problemas começou a chorar novamente. Ginny olhou mais uma vez para trás e já parada a porta, a fechou novamente e se amaldiçoando pelo que faria, voltou até onde o garoto estava e sentou-se ao seu lado. Então era isso, ajudaria Draco Malfoy, sendo ele quem era, dizendo ele o que dissesse.
- o que você ainda faz aqui Wesley?
- boa pergunta, não faço idéia e sei que vou me arrepender amargamente por isso mas...vem cá Malfoy. – e ela o puxou para os seus braços. E ele por incrível que pareça não recusou ou se afastou, era o primeiro carinho que recebia em meses, sentia-se sozinho desde que recebera sua missão e completamente perdido, e agora chegara ao fundo do poço, pois estava chorando nos braços do inimigo.
Enquanto abraçava o rapaz percebeu que ele ainda chorava e de repente sentiu sua cintura envolvida pelos braços dele, que já não resistiam mais ao seu calor. Afagou os cabelos sedosos do rapaz com carinho, que jamais pensou ser capaz de sentir por um sonserino. Ele afundou seu rosto no mar de cabelos vermelhos, e escondeu-se ali por um tempo, sentindo o leve perfume que eles exalavam. De repente afastou-se e olhou nos olhos da ruivinha, e com o olhar percorreu o corpo da moça, que vestia uma blusa fininha de algodão, junto com um abrigo largo e surrado, que provavelmente era de um dos seus irmãos mais velhos. Era charmosa em sua simplicidade, diferente de todas as meninas que tivera em sua vida, aquela era de fato a mais bela que já vira, por ser apenas ela, uma boneca perfeitamente desenhada de pele alva, e olhar vivo e intenso.
A forma que ele a olhava causou-lhe arrepios, então ele deslizou as mãos pelos braços da menina a fim de esquentar-lhe. Seria essa quem sabe uma forma de agradecer-lhe
“o que?? Agradecer uma Wesley, eu deveria era dar uns trocados pra ela comprar umas roupinhas que servissem nela” – ele pensou.
“ mas porque ele me olha desse jeito?? Não consigo nem pensar direito com ele me olhando assim”
E então por um breve momento, que poderia ser uma eternidade, o olhar de ambos se cruzou e nesse instante o tempo parou e o mundo deixou de existir. Ele sentiu um calor pela primeira vez percorrer-lhe a alma, como se naqueles olhos estivessem sua vida, precisava deles, e precisava mais que isso. Viu aqueles lábios róseos entreabertos, como um convite, e então sem pedir licença aposou-se deles com sofreguidão, como se neles houvesse o néctar de sua vida, a razão de sua existência. Ela por sua vez, hipnotizada pelo olhar duro e gélido apenas recebeu os lábios do seu maior desafeto e correspondeu ao beijo ensandecido do rapaz com a mesma voracidade.
Nenhum dos dois é capaz de precisar quanto tempo o beijo durou, mas quando se afastou ela apenas o olhou com doçura e sem dizer nada se levantou e caminhou silenciosamente em direção a porta. Ambos sabiam que aquilo fora o melhor em suas vidas, que jamais sentiriam algo tão intenso assim novamente, mas ambos sabiam que não adiantariam palavras, afinal, nada do que estava para acontecer poderia ser mudado, ele tinha uma missão, e ela jamais abandonaria seus ideais. Cada um tinha um caminho a seguir, e nada mudaria, ela continuaria sendo a namorada de Harry Potter, e ele um futuro Comensal, querendo ao não. Seus destinos estavam traçados, então para que estragar aquele momento mágico, com palavras inúteis? Seria assim, guardariam aquele segredo pelo resto de suas vidas. Mas no silêncio daquele olhar, ele encontrou seu coração e ela acabara de perder o seu, porquê jamais seriam os meesmos, daquela noite em diante seriam incompletos até que o destino se encarregasse de uní-los novamente. Dessa forma andaram silenciosamente, sem olhar para trás, cada qual seguindo seu rumo na noite escura.
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