CAPÍTULO XI – Jantar e Bibliot

CAPÍTULO XI – Jantar e Bibliot



CAPÍTULO XI – Jantar e Biblioteca


 


Embora escolhesse seu melhor vestido, ao se preparar para o jantar, Hermione sentiu-se deselegante, sentada à imensa mesa da Mansão Haverly. A mobília era feita de madeira nobre, e os cristais, pratas e porcelanas, eram todos da melhor qualidade. E os candelabros de cristal que pendiam acima de sua cabeça banhavam o ambiente com sua luz suave.


Hermione sabia que Chesilworth já possuíra a mesma elegância, mas ela não em seu tempo, nem de seu pai. Nem mesmo a Mansão Moulton, decorada sob os ditames da moda, e sem qualquer intenção de economia, não se comparava à beleza sem idade da Mansão Haverly.


O melhor vestido de Hermione, além do que ela usara na festa da tia, dias antes, era um traje de seda marrom-café, que pertencera à sua mãe. Hermione e Olívia haviam reformado o vestido, emprestando-lhe uma aparência mais moderna, mas além de a cor não favorecer a pele clara de Hermione, o decote e as mangas não apresentavam um caimento perfeito. E, pior, era o tipo de cor apropriada a mulheres mais velhas, o que se confirmou quando a avó de Harry entrou na sala de jantar, usando um vestido de cor semelhante.


Em lady Potter, claro, parecia perfeito. Especialmente em contraste com os topázios espetaculares que enfeitavam o pescoço e as orelhas da velha senhoras. Além disso, era evidente que o tecido da cor de tabaco, fora trabalhado por uma grande modista, não por uma costureirazinha de Dunsleigh e, mais tarde, por duas garotas zelosas.


Hermione estudou a figura formidável que era a velha lady Potter. Ficara surpresa ao ver-se sentada à direita de Harry, de frente para a avó dele, quando a mãe, assim como tia Ardis e Joanna, ocupavam lugares nas laterais. Então, dera-se conta de que, em termos de nobreza, superava não só sua tia e prima, mas também a mãe de Harry.


- Muito bem, meu anjo. – a velha lady Potter começou em tom aristocrático, fitando Hermione com olhar sugestivo. – Então, é você quem que tanto queria conhecer.


- Sim, madame. – Hermione respondeu com formalidade, grata pelo fato de Harry haver informado a avó sobre suas mentiras.


- Ah, eu havia me esquecido! – tia Ardis exclamou. - A senhora foi amiga dá avó de Hermione, não foi?


- Sim. – a velha respondeu, fixando o olhar no vazio, fazendo Hermione pensar que farsa a agradava, de certa forma. – Minha querida Caroline...


- Caroline? – Ardis indagou confusa. – Pensei que o nome de sua avó fosse Emma, Hermione.


Hermione abriu a boca para falar, mas percebeu que lady Potter lançava para sua tia o mesmo olhar que dirigira a Joanna, pouco antes, ao ouvi-la chamar o neto de Harry. Como tal olhar fizera Joanna empalidecer e manter-se calada desde então, Hermione decidiu esperar.


- Sem dúvida, a senhora está enganada. – a velha declarou.


- Se não me engano, – Hermione falou – vovó mudou de nome, a certa altura de sua vida. Conheceu uma prima que também se chamava Caroline e, por isso, começou a usar Emma, que era o seu segundo nome.


- Ah, sim, agora me lembro. – lady Potter concordou. – Também me lembro da prima Caroline, que não era tão bonita quanto sua avó. Nunca pensei que viveria para ver um Granger na Mansão Haverly.


- Não foi exatamente uma guerra de sangue, vovó. – Harry comentou divertido.


- E claro que não. Somos ingleses, afinal.


- Sim, vovó.


- E não pense que me engana com essa seriedade fingida! – lady Potter acrescentou com um sorriso afetuoso.


- Eu jamais faria isso. – Harry mostrou-se indignado.


- E não tente me distrair. Eu estava conversando com a Srta. Granger.


Ela estudou Hermione por um momento, antes de dizer:


- Parece uma jovem muito sensata, Srta. Granger. Eu aprovo.


- Eu... Obrigada.


Hermione não sabia em que fora aprovada, mas, assim mesmo, ficou contente.


- Já contou a Harry sobre o invasor, Lílian? – a avó perguntou à nora.


- O quê? – Harry inquiriu, endireitando-se na cadeira.


- Eu me esqueci. – lady Lílian admitiu. – Já faz vários dias.


- Três dias, Lílian. – lady Potter corrigiu-a com impaciência.


- Mamãe! Por que não me contou? O que aconteceu? Alguém invadiu nossa casa?


- A verdade é que pouca coisa aconteceu. Sem dúvida, foi por isso que me esqueci de lhe contar.


Lady Lílian, envergando um vestido elegante, da cor indicada por seu nome, parecia mesmo ser do tipo que se esquecia das coisas com muita freqüência.


- Não ouvi nada. Foi Shivers quem me contou, no dia seguinte. Ele disse que alguém havia entrado em casa, no meio da noite. Felizmente, um dos criados ouviu um barulho e decidiu investigar. Encontrou o homem na biblioteca. Os dois lutaram e o intruso fugiu. Nada foi roubado.


- Na biblioteca? – Harry repetiu, olhando imediatamente para Hermione.


- Sim. Estranho, não? Ele não tentou roubar objetos de prata, ou qualquer outra coisa de valor. Não há nada além de livros, na biblioteca. Deve ter imaginado que havia um cofre, lá.


- Provavelmente. – Harry falou, tamborilando os dedos na mesa. – Tem certeza de que nada foi retirado da biblioteca?


- Não verifiquei, querido. – lady Lílian respondeu, surpresa, como se a idéia não houvesse lhe ocorrido. - Além do mais, eu não saberia dizer se algo foi roubado de lá. Shivers me disse que foi Michael quem surpreendeu o homem. Por que não pergunta a ele se o ladrão estava carregando algo, quando fugiu?


- Boa idéia...


Hermione gostaria de saber mais sobre o incidente, mas dali por diante, as duas ladies Potter cuidaram de manter a conversa focalizada em questões triviais. Depois do jantar, Hermione passou o que lhe pareceu uma eternidade na sala de estar, junto das outras mulheres.


Lady Lílian sugeriu que Joanna tocasse piano. Além de nunca ter sido boa pianista, Joanna estava tão nervosa com a presença da avó de Harry, que sua sonata transformou-se em um grande sofrimento para todos.


Lady Potter decretou que já haviam ouvido sonatas demais por uma noite e, então, passaram a conversar sobre amenidades. Foi um alívio ver Harry entrar na sala, mas Hermione ainda não podia conversar com ele a sós. Foi somente quando lady Potter retirou-se para seus aposentos e lady Lílian permitiu que Joanna se sentasse ao piano novamente, que os dois puderam conversar.


Hermione sabia que Joanna esperava que Harry fosse virar as páginas da partitura para ela, mas ele foi se sentar ao lado de Hermione, baixando a voz para um sussurro:


- E então? O que você acha?


- Acho que o ladrão entrou na biblioteca à procura do Livro das Rainhas. – Hermione respondeu de pronto.


- Também acho. Certamente, foi a mesma pessoa que invadiu o sótão, em Chesilworth.


- Sim, mas estamos nos baseando em especulações. Afinal, nada foi levado daqui, ou de lá. Ao menos, até onde sabemos.


- Tenho certeza de que ele não levou nada daqui. Acabo de conversar com Michael, o criado que o surpreendeu. Ele me contou que ouviu um vidro se quebrando na sala de música e foi investigar, imediatamente. Garantiu que o ladrão não teve tempo de apanhar nada e tem certeza de que o homem não carregava qualquer objeto nas mãos, uma vez que os dois lutaram por alguns minutos. Infelizmente, Michael diz que estava escuro demais e, por isso, ele não poderia descrever o sujeito.


Joanna diminuiu o ritmo da música, virando a partitura com dificuldade teatral, ao mesmo tempo em que lançava um olhar lânguido para Harry, que nem sequer percebeu o que acontecia. Quando teve de virar a página seguinte, ela conseguiu derrubar várias outras, e parou de tocar, abruptamente.


- Sinto muito. – lamentou e abaixou-se para apanhá-las.


Com um suspiro, a mãe de Harry sugeriu:


- Harry, por favor, ajude a Srta. Moulton a virar as páginas da partitura.


- O quê? – Distraído, Harry sobressaltou-se ao ouvir o próprio nome. – Ah...


Com uma careta, ele se levantou e obedeceu o pedido da mãe.


Hermione retirou-se logo depois de lady Lílian, deixando Harry sozinho para lutar contra as garras das duas Moulton. Ao entrar no quarto, não se surpreendeu ao encontrar os três irmãos acordados, mas não esperava encontrar Georgette com eles.


- Hermione!


- Srta. Granger! – Georgette levantou-se, assim como Olívia, aproximando-se de Hermione. – Espero que não me considere atrevida por estar aqui.


- Eu disse a ela que não havia problema. – Olívia falou.


- É claro que não há problema. – Hermione confirmou. – Fico feliz por termos uma chance de conversarmos.


Georgette sorriu.


- Bom. Eu queria conversar com você antes. Foi muito estranho o recado que recebemos de Harry, dizendo que traria visitas e pedindo a mamãe para mentir sobre vovó e sua avó. Não compreendemos o que estava acontecendo. Mamãe achou que Harry está apaixonado. Vovó considerou “decididamente peculiar” o fato de ele convidar uma Granger para se hospedar aqui. Mais peculiar foi descobrirmos que se tratava de quatro membros da família Granger! Para não falar das tais Moulton, de quem mamãe e vovó nunca ouviram falar. Foi a mais estranha das excentricidades de Harry.


Hermione decidiu reservar seu julgamento. Em sua opinião, instalar os filhos bastardos perto de casa era muito mais peculiar do que trazer alguns convidados para casa.


- Mas não pudemos conversar – Georgette continuou – por que a Srta. Moulton ficou comigo a tarde toda, tagarelando sobre coisas sem importância. Não quero ser grosseira sobre sua prima, mas... ela é sempre assim, tão amigável?


Hermione riu e Olívia respondeu com honestidade:


- Não. Ela está apenas tentando ganhar a sua simpatia, na esperança que você tenha alguma influência sobre o seu irmão. Ou, então, acredita que sir Harry vai ficar tão impressionado pela maneira como ela trata você, que vai pedi-la em casamento, imediatamente.


- Bem que desconfiei. – Georgette confessou. – A primeira carta de Harry indicava que ele traria apenas você. – apontou para Hermione. – Não entendi porque ele faria isso, se estava interessado na srta. Moulton.


- Ele não está interessado nela. – Olívia afirmou.


- Joanna é a única a pensar assim.


- Além de tia Ardis. – Hermione corrigiu-a.


- Quem se importa com isso? – Hart manifestou-se. – A única coisa importante é o tesouro.


- Sim, o dote espanhol! – Georgette exclamou, batendo palmas. – Ainda bem que decidi não descer para jantar. Mamãe deu-me permissão, por ser uma ocasião especial, mas depois de passar horas com a Srta. Moulton, achei que não suportaria a companhia dela de novo. Então, disse à cozinheira que queria comer com Olívia e os gêmeos. E disse à srta. Moulton que tinha de comer com as crianças. Foi a melhor decisão, pois Olívia, Hart e Crispin contaram tudo sobre Margaret Granger e o tesouro e como vocês estão tentando encontrá-lo. Gostaria de ajudar. Posso?


- Claro, desde que seu irmão não faça objeções.


- Ah, Harry não vai se importar. Ele é um irmão maravilhoso! Toda vez que vovó, ou tio Robert, atormentam mamãe porque ela me dá muita liberdade, Harry diz a ela que deve ignorá-los. Tenho certeza de que ele vai me deixar ajudar.


- Ótimo. Quanto mais cabeças para pensar na solução desse mistério, melhor. Olívia já lhe mostrou o mapa?


- Não consegui abrir o seu armário! – Olívia protestou.


- Sim, porque eu o tranquei. – Hermione retirou a chave que prendera com um alfinete, por dentro do corpete do vestido. – Talvez eu seja cuidadosa demais, mas depois do que ouvi esta noite...


- Sobre o invasor? – Crispin completou. – Não é demais? Georgette nos contou que alguém entrou na biblioteca, à procura do livro de que precisamos.


- Não sabemos se ele queria esse livro. Só sabemos que entrou na biblioteca.


- O que mais ele poderia querer lá? – Crispin argumentou. – Essa história está se transformando em uma aventura e tanto!


- Pessoalmente, eu ficaria contente com a aventura de encontrar o tesouro. Não creio que seja necessário incluirmos um ladrão na história, para termos maior emoção.


Os jovens consideraram tal atitude pobre em imaginação, mas concordaram entre si que era comum pessoas “velhas” se comportarem assim. Hermione mostrou o mapa a Georgette, que também não reconheceu nele qualquer local familiar. E, também, por mais vezes que lesse as passagens do diário, não fazia idéia do que poderia ser o Livro das Rainhas.


Hermione não demorou a expulsar as crianças de seu quarto, pois queria descansar. Sentia-se exausta, muito mais pela depressão que se abatera sobre seu espírito, do que pela longa viagem. Saber que Harry realmente possuía uma casa repleta de filhos ilegítimos fora um golpe duro. Os beijos que haviam trocado, as carícias... Para ele, haviam significado apenas uma oportunidade de conquistar mais uma mulher, de acrescentar mais um coração partido à sua coleção.


Perturbada por tais pensamentos, Hermione demorou a dormir e, quando finalmente adormeceu, teve sonhos agitados. Acordou na manhã seguinte, ainda cansada.


Encontrou apenas Georgette e Olívia à mesa do desjejum. As duas já haviam se tornado grandes amigas e Georgette estava dando a boa notícia de que sua governanta, Srta. Pritchard, concordara em levar as meninas em um passeio, pelo resto do dia.


- Vamos de carruagem até o Mercado Downham. A vida é muito mais interessante, quando temos hóspedes.


- Onde estão os gêmeos? Eles também vão?


Olívia fitou a irmã, horrorizada.


- Não! Vamos fazer compras. Eles só atrapalhariam nosso passeio. Além disso, sir Harry prometeu a eles que o chefe dos cavalariços vai lhes mostrar tudo nos estábulos, quando voltarem.


- Voltarem?


- Sim. Eles foram com Harry visitar os meninos em Silverwood.


- Verdade?


Hermione ainda estava chocada pela naturalidade com que Georgette e a mãe referiam-se às indiscrições ostensivas de Harry.


- Você não se importa, não é? – a menina perguntou, apreensiva.


- Por Crispin e Hart terem ido com seu irmão? Não. Muito pelo contrário. Sinto-me grata, pois tenho certeza de que os dois estão muito felizes.


- Algumas pessoas não gostariam de ver seus irmãos brincando com crianças como aquelas. Consideram impróprio. A Sra. Carter, da vila, diz que é absurdo o simples fato de as crianças viverem aqui, pois são má influência.


O senso de justiça de Hermione falou mais alto do que suas noções de moral.


- Ora, mas isso é uma coisa horrível! Como se as pobres crianças tivessem culpa!


- Exatamente o que eu penso. Mamãe diz que se sente orgulhosa por Harry, pois a maioria dos homens ignora pobres crianças como aquelas. E eles não teriam sequer uma chance na vida, se Harry não cuidasse deles.


- Isso é verdade.


Hermione tinha de admitir que Harry fora decente ao reconhecer os filhos e assumir o sustento e a educação deles. Porém, não compreendia como lady Lílian podia se orgulhar do filho, pelos numerosos resultados de sua falta de caráter.


Ao ouvir passos no corredor e ver a mudança na expressão das meninas, Hermione soube imediatamente quem se aproximava.


- Georgette! – Joanna cumprimentou com entusiasmo. – É maravilhoso vê-la de novo. Onde está sua mãe?


- Bom dia, Srta. Moulton. – Georgette retribuiu o cumprimento sem a mesma animação.


Joanna, porém, pareceu não perceber a diferença e sentou-se ao lado da irmã de Harry.


- Estou ansiosa para retomarmos nossas conversas. – declarou.


- Infelizmente, não posso. Terei de passar o dia com minha governanta


- Tenho certeza de que, hoje, você poderia ser dispensada de seus estudos. – tia Ardis insistiu em tom jovial. – Afinal, não é todo dia que você tem hóspedes.


- Harry é muito rígido com relação aos meus estudos. – Georgette mentiu. – Não creio que ele ficasse satisfeito se soubesse que negligenciei meus deveres.


- Bem, se é o que Harry deseja...


Sem que a própria Joanna notasse, seus ombros relaxaram.


- Na verdade, está na hora de me retirar para a sala de estudos. – Georgette declarou, levantando-se e levando Olívia consigo.


- Onde vai Olívia? – tia Ardis inquiriu.


- A governanta da Srta. Potter teve a gentileza de convidar Olívia a participar das aulas. – Hermione respondeu.


- E Olívia gostou da idéia? – Joanna perguntou, chocada pela idéia de que alguém se dispusesse a aprender algo, de livre e espontânea vontade.


- Sim.


- Eu sempre disse que seu pai criou os filhos de maneira muito estranha. – tia Ardis concluiu.


- Onde está sir Harry? – Joanna indagou ansiosa. - Ele já desceu para o desjejum?


- Tenho certeza de que ele virá logo, agora que você está aqui. – a mãe afirmou. – Não tenho mais dúvidas de que ele está, decididamente, interessado em você.


Hermione quase revirou os olhos. A tia praticamente obrigara Harry a convidar Joanna para aquela viagem e, agora, ela interpretava o acontecimento como prova de interesse!


Teve de suportar a companhia da tia e da prima pelo resto da manhã. Seu sofrimento foi ligeiramente aliviado quando lady Lílian foi se juntar a elas, mas a mãe de Harry era uma mulher de natureza tão plácida, que se limitava a sorrir, enquanto Joanna tagarelava sem parar sobre as belezas da Mansão Haverly e, claro, a variedade do próprio guarda-roupa. Lílian também concordou quando Joanna sugeriu um passeio, dizendo que providenciaria um piquenique em Linning Broad, no dia seguinte.


- As crianças vão adorar. – Lílian declarou sorrindo.


- Está se referindo a Crispin e Hart? – Joanna perguntou horrorizada.


- Sim, além de Olívia e Georgette.


- Ah, a querida Georgette! – Joanna voltou a sorrir. – Não consigo vê-la como criança.


- Não? Ela tem apenas dezesseis anos. – Lílian suspirou. – Mas você tem razão. Receio que ela esteja crescendo muito depressa. Mais dois anos, e ela já estará na idade de debutar. Detesto participar da temporada social. Prefiro minha vida pacata, aqui, em Norfolk.


- O que é perfeitamente compreensível. – Hermione murmurou. – Este lugar é adorável.


- Talvez, quando chegar a ocasião de Georgette debutar, seu filho já esteja casado. – Joanna sugeriu com um sorriso malicioso. – Então, a esposa dele poderá se encarregar da temporada de sua linda cunhadinha.


- Você acha? – Lílian demonstrou surpresa e olhou para Hermione, à espera de confirmação.


- Não seria uma surpresa. – Joanna continuou, mas a mais velha mantinha os olhos fixos em Hermione.


- Eu não saberia dizer. – Hermione falou com um sorriso constrangido. – Sir Harry pareceu ser um solteiro convicto.


- Assim como todos os homens são, até encontrar a mulher certa. – Joanna replicou, ligeiramente irritada.


- Creio que devo convidar a Srta. Yorke para o piquenique de amanhã. – Lílian mudou de assunto subitamente. – Ela é uma jovem tão adorável e quase nunca se diverte.


- Está se referindo à... governanta? – Joanna inquiriu, torcendo o nariz.


- Na verdade, ela cuida da educação das crianças. Quem organiza o serviço doméstico é a Sra. Weasley. – Lílian levantou-se. – Agora, se me derem licença, preciso tomar as providências necessárias. Tenho de falar com Renri sobre o piquenique, embora não faça idéia de como explicar a ele o que quero, uma vez que ele não compreende uma palavra sequer em inglês. Não sei por que Harry o trouxe para cá, exceto pelos molhos deliciosos e, claro, as sobremesas. Geralmente, deixo que ele se encarregue de todas as decisões na cozinha, mas não sei como vou fazê-lo entender que quero fazer um piquenique.


- Hermione pode falar com ele. – Joanna ofereceu. - Ela fala francês.


Hermione surpreendeu-se, pois a prima não tinha o hábito de apontar qualidades em quem quer que fosse. Porém, logo se deu conta de que Joanna esperava relegá-la ao plano a criadagem, ocupando-a com tarefas domésticas. Assim, Harry ficaria livre só para Joanna.


- E verdade? – Lílian virou-se para Hermione admirada.


- Sim. Será um prazer conversar com ele, se a senhora quiser.


- Maravilhoso! Venha. – puxou Hermione pelo braço. – Vamos até a cozinha, agora mesmo. Assim, você poderá traduzir tudo o que quero pedir a ele.


Pela expressão de Joanna, era evidente que ela não havia imaginado que lady Lílian fosse acompanhar Hermione até a cozinha. Certamente, acreditara que a prima teria de resolver sozinha aquela questão, enquanto a anfitriã permaneceria na sala, grata a Joanna pela sugestão.


Henri encontrava-se na cozinha e, ao vê-las, não se mostrou satisfeito. Mesmo assim, curvou-se com humildade e cumprimentou-as em francês. Hermione respondeu ao cumprimento, fazendo os olhos do homem brilharem.


- Mademoiselle! – ele praticamente gritou, como se ela houvesse lhe oferecido um presente valioso.


Bastaram alguns minutos para que Hermione simpatizasse com o francês solitário e o assegurasse de que lady Potter estava mais do que satisfeita com os pratos que ele preparava. Depois de elogiá-lo um bocado, explicou sobre o piquenique, um pedido que ele recebeu com um largo sorriso, dizendo que seria apenas mais um desafio aos seus talentos culinários.


As duas mulheres haviam acabado de deixar a cozinha, quando Harry entrou por uma porta lateral.


- Mamãe! Srta. Granger. Justamente as duas pessoas que eu mais queria ver!


- Você é um amor, meu filho. – lady Lílian ofereceu a rosto para um beijo.. – Estávamos conversando com nosso cozinheiro. A Srta. Granger fala francês.


Harry sorriu.


- A Srta. Granger é uma jovem muito culta e inteligente.


- Não tão jovem. – Hermione corrigiu-o.


Embora seu coração houvesse disparado ao vê-la, ela estava decidida a não se tornar mais uma vítima dos poderes de sedução de Harry Potter. Assim, não retribuiu o sorriso dele e tratou de manter a voz fria.


Harry ergueu uma sobrancelha, intrigado, mas limitou-se a dizer:


- Se não precisa mais da ajuda da Srta. Granger mamãe, prometi a ela que lhe mostraria a biblioteca.


- Fiquem à vontade, meu filho. Preciso enviar um convite à Srta. Yorke.


- Convite?


- Explique a ele, por favor, querida. – Lílian pediu a Hermione, antes de se afastar.


- O que você deve me explicar? – Harry perguntou.


- Faremos um piquenique, amanhã, em um lugar chamado Linning Broad.


- Todos nós?


- Sim, inclusive a Srta. Yorke.


Harry gemeu baixinho.


- Eu deveria ter adivinhado que mamãe se acharia na obrigação de providenciar entretenimentos para nós. Bem, já que vamos perder o dia de amanhã, é melhor começarmos a trabalhar. Está preparada?


- Claro..


Ele lhe dirigiu um olhar estranho, mas não disse nada.


Hermione ficou fascinada, ao entrar na biblioteca. Era simplesmente espetacular. Eram dois andares, com uma parede inteiramente recortada por imensas janelas. As outras três, eram cobertas de prateleiras, do teto ao chão, todas elas repletas de livras. No segundo andar, um mezanino estreito acompanhava cada parede. Na primeira, havia mesas e cadeiras confortáveis muito apropriadas para leitura.


- É linda! – ela exclamou, olhando em volta. – Nunca vi uma biblioteca assim!


Harry sorriu.


- Tinha certeza de que você ia gostar e estou muito feliz por ter acertado.


Hermione não conteve um sorriso, mas reprimiu o impulso de aproximar-se dele, lembrando-se de que sir Harry era um sedutor sem caráter. Não poderia deixar-se enganar.


- Bem, – falou em tom casual - como temos muito trabalho a fazer, é melhor começarmos logo.


- Tem razão. - ele replicou, evidentemente desapontado. – Por onde devemos começar?


- Não sei. São tantos livros.


- Sugiro o segundo andar, uma vez que é lá que se encontram os livros mais antigos.


- Certo. – Hermione começou a subir a escada em espiral. – Que tal eu começar de um lado e você, do outro? Assim, nos encontramos no centro.


Harry seguiu-a, desolado. Aquela não fora a maneira que havia imaginado trabalhar com ela.


- Hermione? Há algo errado?


- Não sei do que está falando.


- Você está estranha, hoje.


- Estranha?


- Sim. Parece zangada comigo, mas não sei o que fiz para magoá-la.


- Não há nada errado. Só quero começar logo o nosso trabalho. Você, não?


Ele estreitou os olhos, mas decidiu não discutir.


- Sim, claro. Ao trabalho.


Hermione pôs-se a examinar cuidadosamente as prateleiras. Cada vez que deparava com um livro que pudesse, mesmo remotamente, se relacionar com rainhas, retirava-o do lugar e o abria.


A tarefa era cansativa e tediosa. Hermione também havia se imaginado trabalhando ao lado de Harry, conversando e rindo, como fora no sótão de Chesilworth. Embora estivesse determinada a manter-se distante dele, a realização de tal desejo trouxera um sentimento de vazio quase insuportável.


Disse a si mesma que só importava encontrar o tesouro, e não passar o tempo na companhia de Harry. Assim, trabalharam a tarde inteira, mantendo a porta fechada e não atendendo ninguém. Sir Harry pediu a uma criada que lhes servisse o almoço na biblioteca e os dois comeram na mesa maior, falando pouco. O clima era constrangedor e Hermione notou a confusão e a frustração de Harry. Gostaria de retomar o relacionamento amigável que tinham antes, mas não conseguia se sentir à vontade, uma vez que a lembrança dos filhos ilegítimos continuava a perturbá-la.


Assim que acabaram de comer, Hermione sugeriu que voltassem ao trabalho. A busca pelo livro envolvia grande esforço físico, pois era preciso manter o corpo em posições extremamente desconfortáveis. Quando a hora do chá se aproximava, Hermione sentia dores nas costas e nas pernas, mas o que mais a incomodava era o pescoço e os ombros. Ela se endireitou e massageou a região dolorida.


- Cansada? – Harry perguntou, bem atrás dela, ao mesmo tempo em que massageava-lhe os ombros.


Hermione sobressaltou-se com a proximidade, pois não o ouvira aproximar-se. Assim que ele a tocou, foi invadida por sensação deliciosas e, ao mesmo tempo, indesejadas. Sabia que deveria dizer-lhe que parasse, mas só conseguiu emitir um gemido de alívio, pois a massagem era muito relaxante.


Foram necessários apenas alguns instantes para que a sensação de relaxamento se misturasse ao desejo intenso. Quando Harry roçou os lábios de leve no pescoço de Hermione, ela suspirou profundamente, sentindo as pernas trêmulas.


- Hermione... – ele murmurou. – Você é tão doce... - Deslizou as mãos pelos braços dela e, lentamente, virou-a de frente. Então, inclinou-se para beijá-la.


 


 


 


 


Agradecimentos especiais:


 


Nanny Black: Não é a Joana não, acho que ela é tola demais para pensar em algo assim... Tecnicamente você acertou o que é Silverwood, mas isso fica para depois, realmente a Hermione foi boba demais para acreditar em fofocas e em aparências, mas a vida é feita de erros... To esperando hein... Beijos.


 


alylyzinha: que bom que gostou da historia, mais um capitulo postado. Abraços.


 


 

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