CAPÍTULO VI – Invasão, Diários

CAPÍTULO VI – Invasão, Diários



CAPÍTULO VI – Invasão, Diários e Suspeita


 


Com um sorriso satisfeito, sir Harry se foi. No mesmo instante, Joanna e a mãe explodiram em entusiasmo, tentando planejar a festa e, ao mesmo tempo, regozijar-se pela inveja que esperavam provocar em todos os conhecidos. Assim, mal perceberam quando Hermione deixou a sala.


Depois de apanhar a touca e os diários de Margaret, saiu pela porta dos fundos e dirigiu-se, apressada, ao velho poço. Como não quisesse perder tempo, levou a touca na mão, deixando os cabelos soltos ao vento.


Sir Harry, que se encontrava à espera, não conteve um sorriso ao constatar que os cabelos loiros, claríssimos, eram tão lindos ao sol, quanto à luz fraca das velas.


- Foi pontual, Srta. Granger. Admiro essa qualidade em uma mulher.


- Verdade? Fico contente, mas imagino que não haja nada de errado em um homem se atrasar.


Ele riu.


- Peço desculpas. Deveria dizer que aprecio tal qualidade em qualquer pessoa. – Apanhou os diários das mãos dela. – Vamos nos sentar naquele banco? Notei-o, ontem, quando voltávamos de Chesilworth e já desconfiava que teríamos necessidade de um local apropriado para encontros clandestinos.


- Acho que lhe devo um pedido de desculpas por minha tia e minha prima.


- Creio ser razoável que elas concluam que estou interessado em alguém. Afinal, não é preciso um grande conhecimento de geografia para saber que Dunsleigh fica a quilômetros de meu caminho de volta para casa.


- Tem razão. Deve me achar tola por esconder meus planos de meus parentes...


- Ah, não! Muito pelo contrário, não só compreendo, como aprovo a sua atitude. Quanto menos gente souber, melhor.


Hermione dirigiu-lhe um olhar divertido.


- Para me poupar do embaraço, quando descobrir que tudo não passa de um engano?


Ele deu de ombros.


- Talvez. Não sabemos o que as pessoas podem dizer, ou fazer, uma vez informadas sobre a existência de um tesouro. Olhe para mim. Quem diria que sir Harry Potter passaria horas em um sótão empoeirado e abafado, à procura de cartas antigas?


- Quando houver lido os diários que eu trouxe, tenho certeza de que vai se sentir melhor com relação ao que está fazendo.


- Ah, sim. – Sir Harry examinou cada volume cuidadosamente. – Devo admitir que parecem autênticos e muito antigos.


- Acredita, agora?


- É claro que não sou especialista, mas como a senhorita disse, se foram falsificados, exigiram muito tempo e talento do impostor.


- Posso garantir que o preço que meu pai pagou não justificaria tanto trabalho. E, agora, tenho mais um argumento a favor do sr. Simons, além da excelente reputação. Conheci o homem que vendeu os diários a ele.


- O quê? – Sir Harry empertigou-se, franzindo o cenho.


Hermione ficou satisfeita com o efeito de sua revelação.


- Ele veio nos visitar. Chama-se David Miller e é nosso parente distante.


- Como sabe que é seu parente? – Neville inquiriu, desconfiado.


- Francamente, sir Harry! Pensei que houvesse decidido desconfiar menos de tudo e de todos. Ele disse que era descendente de Margaret e não vi motivos para duvidar.


- É possível que o sr. Simons tenha sido a primeira vítima desse tal de David Miller, que pode ser o verdadeiro falsificador.


- Isso é absurdo! Não faz sentido, pois ele teria recebido menos do que o sr. Simons, com a venda dos diários.


- Bem, nesse aspecto, sou obrigado a concordar com a senhorita. Mas... Por que ele não os vendeu diretamente ao seu pai?


- Porque, na ocasião, ele nem sabia que tinha parentes aqui. O sr. Miller é um comerciante de Boston, que vem à Inglaterra uma vez por ano. No ano passado vendeu os diários ao sr. Simons. Quando retomou, neste ano, foi visitar o livreiro e, só então, soube que os volumes haviam sido vendidos aos Granger. É claro que ficou curioso para nos conhecer.


- Sei...


- Vendeu os diários aqui por acreditar que conseguiria um preço melhor. Encontrou-os entre os pertences da mãe, mas não se interessa por livros, nem por história. Acho que sua preocupação sobre a autenticidade dos diários são infundadas.


Sir Harry voltou a examinar os diários. Era mesmo difícil continuar acreditando que fossem falsos.


- Que outro lucro poderia haver? – indagou.


- O que disse?


- Nada. Apenas pensei alto. A senhorita está certa. Os diários parecem mesmo antigos. Tem certeza de que foram escritos por Margaret Granger?


- Ah, sim! Basta ler o início. Veja. – abriu o primeiro deles. – Ela começou a escrever logo após a fuga, durante a viagem de navio. Aqui estão registrados todos os receios dela com relação ao pai, bem como sua felicidade por ter escapado a um casamento sem amor.


Sir Harry leu um trecho, antes de voltar a erguer os olhos.


- Sim, é evidente que se trata do trabalho de uma moça jovem, repleto de drama e emoções violentas.


Hermione ergueu uma sobrancelha.


- O que o senhor, sem dúvida, não aprova. – Apanhou o diário e abriu-o em uma página, marcada por um pedaço de papel. – Aqui está a primeira menção à carta enviada ao pai. Mais adiante, ela explica por que gostaria que as duas famílias se unissem na busca do dote. – Acompanhou com a ponta do dedo a passagem que leu em voz alta: – “... por essa razão, deixei parte da solução do mistério nas mãos de Potter.”


- Como sabemos, ele passou a vida inteira procurando pelo tesouro. – sir Harry lembrou. – Portanto, não creio que a informação estivesse nas mãos dele.


- É possível que ela tenha deixado instruções, que foram perdidas. Não sei. Margaret não foi clara quanto a onde as deixou. Anos depois, porém, voltou a tocar no assunto. – Abriu outro volume e leu: – “... juntamente com o mapa de Potter, que escondi no Livro das Rainhas.”


- Livro das Rainhas? – ele repetiu. – O que é isso?


- Eu esperava que o senhor soubesse, uma vez que se trata de um livro existente em sua casa.


- Um livro que existia em minha casa, há quase duzentos anos. – sir Harry corrigiu-a. – Nunca ouvi falar em nenhum Livro das Rainhas. Provavelmente, esse não é o título da obra.


- Ocorreu-me que poderia se tratar da história das rainhas da Inglaterra. Ou, talvez, sobre uma rainha em particular. É difícil dizer com certeza, pois a caligrafia de Margaret é muito rebuscada e a tinta já está um tanto apagada. Além disso, naquela época, eles tinham o hábito de usar letras maiúsculas para quase tudo. Portanto, nem sei se esse seria ou não o título. Por outro lado, sendo um livro, calculei que estivesse em sua biblioteca.


- É possível, se não foi vendido, emprestado, ou jogado fora...


- Não diga isso! – Hermione interrompeu-o, horrorizada.


- Faz muito tempo, srta. Granger. Nem todos os meus antepassados davam valor aos livros, inclusive meu pai.


- Sim, mas, certamente, Margaret escolheria um livro muito valioso, ou muito conhecido, a fim de garantir que não seria jogado fora.


- Valioso ou conhecido, naquela época.


- Se era mesmo valioso, seria de se esperar que fosse guardado para futuras gerações.


- Bem, temos muitos livros antigos, em nossa biblioteca, na Mansão Haverly. Creio que nós poderíamos procurar por ele...


- Nós? – Hermione repetiu surpresa.


Temera que, uma vez inteirado dos detalhes, sir Harry insistisse em procurar pelo tesouro sozinho.


- Claro. – ele respondeu com um sorriso. – Por acaso, pensou que eu examinaria todos aqueles livros sozinho? De jeito nenhum, minha cara. Se estou ajudando â senhorita com o sótão de Chesilworth, nada mais justo que me ajude com a biblioteca de Haverly.


Hermione sorriu.


- Será um prazer.


- O problema é se teremos dificuldade em examinar o seu sótão.


- O que quer dizer?


- Quero dizer que sua tia e sua prima não são fáceis de manobrar.


- Ah, sim, eu sinto muito. Joanna parece obcecada pela idéia de conquistá-lo. Sei que não é muito decente, mas acho que a única saída é continuarmos fazendo o que fizemos hoje. Teremos de manter segredo sobre nossas atividades.


- A senhorita é uma mulher de intelecto privilegiado... para não mencionar a sua gentileza.


- Por ajudá-lo a escapar da companhia de Joanna e tia Ardis?


Ele sorriu.


- Já mencionei que, também, é muito franca?


- Não. – Ela lhe devolveu o sorriso. – Não é necessário. Já me disseram isso antes.


Harry sabia que era absurdo estar ali, sentado, divertindo-se com o comportamento peculiar daquela jovem. Porém, tinha de admitir que conversar com ela era muito mais interessante do que todos os entretenimentos oferecidos pela sofisticada lady Arrabeck. Se seus amigos soubessem como conhecera aquela moça, certamente pensariam que ele havia enlouquecido.


- Srta. Granger. - falou, subitamente sério, tomando a mão dela entre as suas. – Tive outro motivo para vir até aqui.


Embora Hermione estremecesse ao contato, não fez qualquer tentativa de impedi-lo.


- Que motivo, senhor? – perguntou.


- Preciso lhe pedir desculpas.


- Desculpas? Ah, se está se referindo ao modo como nos conhecemos, já se desculpou. Além do mais, não foi sua culpa. Não há necessidade de voltarmos a falar no assunto.


- Não, não, embora meu comportamento não tenha sido nada cavalheiresco. Queria me desculpar pela maneira como agi na manhã seguinte, no labirinto.


Hermione descobriu-se sem voz, diante da lembrança do beijo que ele lhe dera.


- Não existe desculpa para o que fiz, – sir Harry continuou – exceto pela minha falta de controle. A senhorita parece exercer um certo... efeito sobre mim.


- Verdade? – Hermione inquiriu surpresa.


Harry não conteve uma risada.


- Minha cara, essa não é a reação de uma jovem a um pedido de desculpas de um cavalheiro. Faz com que eu sinta vontade de beijá-la de novo.


- Ah...


Ela simplesmente não sabia o que dizer.


- Não estou me desculpando pelos meus sentimentos. Eu... Bem, olhando para a senhorita agora, sinto o mesmo desejo de beijá-la.


A voz dele tornou-se rouca e Hermione sentiu os joelhos tremerem. Nunca antes um homem a fitara com aquele olhar faminto.


- Gostaria de me desculpar – Harry explicou - por tê-la levado a pensar que não ouvi o que tinha a dizer, ou que estava apenas interessado em um... relacionamento físico. Quero que saiba que a considero uma verdadeira dama.


- Eu... aceito seu pedido de desculpas.


- E quero deixar claro que jamais seria capaz de pressioná-la. Não vou usar o fato de estarmos trabalhando juntos para... para me aproveitar da senhorita.


- Por favor, não se desculpe. Devo ser honesta e admitir que nós dois tivemos culpa no que aconteceu.


Hermione ergueu os olhos e reconheceu o brilho da satisfação nos dele.


- Está dizendo que não fui o único a sentir aquela atração?


Com essas palavras, sir Harry acariciou-lhe a face e ela tratou de se afastar, antes que seus pensamentos se tornassem um caos.


- O fato de sermos, ambos, culpados, não significa que aquilo deva acontecer de novo. – declarou, à beira do pânico, uma vez que não fazia idéia de como reagiria caso ele a beijasse. – Como vamos trabalhar juntos, creio que o melhor a fazer é agirmos como colegas profissionais.


- E posso perguntar que profissão é essa? – ele indagou com ar divertido. – Caçadores de tesouros? A palavra para isso não seria “pirata”?


- O senhor entendeu muito bem. Devemos agir como se... como se o senhor estivesse trabalhando junto a outro homem. - Harry preferiu omitir o fato de que, se ela fosse um homem, ele já teria esquecido toda a história. O que o levara a procurá-la fora ela mesma, não um dote antigo e perdido.


- Se não for assim... – Hermione acrescentou - Nosso trabalho será prejudicado.


- Como já disse, não tenho a menor intenção de pressioná-la. – ele lembrou, levantando-se.


- Bom. Podemos nos encontrar em Chesilworth, mais tarde?


- Não creio que, hoje, seja necessário mantermos segredo. Prefiro acompanhá-la...


- Não sei se é seguro o senhor aparecer na Mansão Moulton. Não sabemos que planos elas podem ter arquitetado para prendê-lo lá. Além do mais, não preciso de acompanhante, pois meus irmãos estarão comigo. E Dunsleigh é o mais tranqüilo dos lugares. Olívia vive se queixando de que nada acontece por aqui.


- Com dois garotos de doze anos por perto? Não sei como isso é possível!


- Ora, o que os irmãos fazem não conta como acontecimento.


- Tem razão. Pelo que pude perceber, a srta. Olívia gosta de aventuras.


- Todos nós, como deve ter notado, somos uma família de sonhadores.


- Ah, vejo que tal afirmação vai me perseguir pelo resto da vida!


Hermione riu.


- Prometo não voltar a mencioná-la. Afinal, o senhor se juntou a nós, em nosso sonho.


- Sem o mesmo entusiasmo, eu receio.


- Não se preocupe. Isso também vai mudar.


Por um momento, sir Harry perdeu-se em pensamentos sobre beijar aqueles lábios carnudos. Porém, lembrando-se da promessa de não se aproveitar dela, forçou-se a recuar um passo e curvar-se em um gesto cavalheiresco.


- Bem, então, nos encontraremos em Chesilworth. Que tal à uma hora?


- Perfeito. Estaremos lá.


Embora fingisse indiferença, Hermione sentia uma estranha relutância em se separar de sir Harry.


 


Assim que entrou em casa, Hermione viu-se mergulhada em um mar de atividades. Embora tia Ardis houvesse fingido que a festa já fora planejada, a idéia só surgira naquela manhã. Portanto, restavam todas as providências a tomar, como lista de convidados, convites, limpeza dos salões, arranjos de flores, cardápio. Seria um evento pequeno, uma vez que, ria opinião da sra. Moulton, eram poucos os habitantes da região rural que mereciam assistir ao seu triunfo de ter sir Harry Potter como convidado. E, claro, quem melhor que a eficiente sobrinha para cuidar de tudo?


Hermione conseguiu dar andamento a todas as suas tarefas, a tempo de fugir dali logo após o almoço. Com os irmãos, foi a Chesilworth, onde sir Harry os esperava. Passaram a tarde toda trabalhando, embora se divertissem muito, também. As horas agradáveis passaram tão depressa, que eles se atrasaram e perderam a hora do chá na Mansão Moulton.


No dia seguinte, mais uma vez, Hermione passou a manhã inteira cuidando da festa, que aconteceria à noite. Então, juntou-se aos irmãos na caminhada já familiar até Chesilworth.


Quando se aproximavam da casa, avistaram dois homens. Um deles apontava uma espingarda para o outro. Horrorizada, Hermione reconheceu o homem armado. Era Jack Chumley, antigo capataz de Chesilworth. O outro era sir Harry.


- Chumley! – ela gritou, ao mesmo tempo em que corria na direção deles, seguida pelos irmãos..


- O que está fazendo com sir Harry? – Hart inquiriu, tendo sido o primeiro a recuperar o fôlego.


- Está dizendo que conhecem esse sujeito? - Chumley perguntou surpreso. – Acabei de surpreendê-lo, rondando a casa.


- Rondando! Não, Chumley...


- Achei que ele estava tentando invadir a Mansão.


- Por favor, abaixe a arma. – Hermione pediu. - Sir Harry é nosso convidado. Combinamos encontrá-lo aqui. – Então, virou-se para Harry. – Peço desculpas, sir Harry. Não sei por que Chumley o tratou dessa maneira.


- Vou explicar por quê. – Chumley declarou. - Foi por causa das coisas estranhas que aconteceram aqui na noite passada. Não sou mais seu empregado, mas não vou permitir que esse tipo de coisa aconteça no lugar onde vivi e trabalhei a vida inteira.


- Sabemos disso, Chumley. Mas do que está falando? Que coisas estranhas aconteceram aqui?


- Ainda não sabe? Todos na vila comentavam, esta manhã. Foi Ned Plumpton quem me contou. Estão dizendo que há fantasmas em Chesilworth.


- Fantasmas? – Cassandra repetiu confusa.


- Sim, fantasmas! – Chumley confirmou com desdém. – Eu disse a eles que estão loucos. Nunca existiram fantasmas, em Chesilworth. Se fosse assim, o patrão teria largado tudo para persegui-los.


Hermione sorriu.


- Tem razão, mas ainda não compreendo...


- Além de Plumpton, a sra. Brookman também ouviu os rumores. Quem contou a ela foi o fazendeiro Crawford. Ora, conheço Crawford e sei que é um homem sensato, mas ela me disse que foi o filho dele quem viu o fantasma. Então, fui até a fazenda de Crawford e ele confirmou a história. O filho dele...


- Ben?


- Não! Ben não é muito certo da cabeça, senhorita. Foi o jovem Alf, da mesma idade dos nossos meninos, além de muito inteligente. Quando o menino contou que viu luzes nas janelas, Crawford soube que ele dizia a verdade.


- Luzes? Em Chesilworth? – Hermione indagou, lançando um olhar para sir Harry, que parecia tão preocupado quanto ela.


- Sim. Crawford acompanhou o filho até aqui e também viu luzes, nas janelas do sótão.


- Sei... – Hermione murmurou.


Agora, tudo estava claro. Alguém estivera no sótão, durante a noite. E só poderia haver uma razão para isso: procurar pelas cartas, incógnito.


- E claro que eu sabia que não havia fantasma algum. Provavelmente, um invasor, à procura de uma casa abandonada onde pudesse ficar. Apesar de o sótão ser a parte mais desconfortável, na minha opinião. Assim mesmo, achei que deveria vir até aqui e verificar se havia sinais de arrombamento. E quem eu encontro, rondando a casa?


- Meu bom homem, eu não estava rondando. - Harry protestou. – Estava apenas esperando pela srta. Granger e pelos irmãos dela.


- E como eu podia saber? Nunca vi o senhor por aqui.


- Ele estava dizendo a verdade Chumley, – Hermione assegurou – mas foi boa idéia você ter vindo até aqui.


- Tenho esse dever para com o lorde, que Deus o tenha em bom lugar.


- Papai ficaria muito grato. Agora, acho que pode voltar para casa. Não esperamos que fique aqui, cuidando de Chesilworth. Nós mesmos procuraremos por sinais de arrombamento.


O velho exibiu expressão de dúvida.


- Talvez seja melhor eu ir com vocês. Podem precisar de uma arma.


- Tenho certeza de que, seja quem for, já está longe daqui..


Chumley, porém, recusou-se a partir, enquanto não examinasse todas as portas e janelas. E foi com ar de triunfo que apontou o vidro quebrado, através do qual o invasor alcançara o trinco de uma das janelas. Então, ofereceu-se para pregar tábuas na janela.


Inspecionaram os andares superiores, na companhia de Chumley. Como já esperavam, não encontraram ninguém, nem sinais da presença de um estranho ali.


Quando Chumley desceu para consertar a janela, Crispin indagou:


- Quem pode ter sido? Alguém estaria procurando pelo nosso tesouro?


- Pode ter sido um mendigo, simplesmente - Hermione sugeriu – à procura de abrigo para passar a noite.


- No sótão? – Olívia inquiriu incrédula. – Com todas aquelas camas, lá embaixo?


- Tem razão, mas isso parece tão absurdo. Quem poderia ser?


Hermione teve o cuidado de evitar olhar para sir Harry, temendo que ele lesse seus pensamentos. O maior suspeito de ter procurado pelas cartas, sozinho, era ele!


Só ele tinha acesso à outra metade do mapa. Sabendo onde se encontrava, poderia roubar a carta de Margaret e, assim, ficar com as duas metades. Talvez estivesse apenas fingindo ao dizer que não conhecia o Livro das Rainhas.


- Que tal o seu primo americano? – sr. Harry sugeriu.


- Quem? – ela despertou dos pensamentos sombrios.


- O antigo dono dos diários. Sr. Miller é o nome dele, não?


- Não! – Olívia negou com veemência. – Ele jamais faria isso. David é um bom homem.


Hermione observou a irmã em silêncio. Já desconfiava que a menina houvesse desenvolvido um certo interesse no americano atraente. Bem, não tinha tempo para se preocupar com isso, no momento, pois havia problemas bem mais sérios a resolver.


- Francamente, sir Harry, suas suspeitas não param de crescer. Antes, desconfiou que o sr. Miller havia falsificado os diários.


- Agora, que alguém invadiu o sótão, a situação tornou-se muito diferente. Como a senhorita mesma disse, a falsificação teria sido trabalhosa demais, para um lucro tão pequeno. Mas, se os diários são autênticos e o sr. Miller os leu, então, sabia que poderia encontrar uma grande fortuna, na Inglaterra.


- Ainda não vejo sentido na sua hipótese. – Hermione insistiu. – Por que ele venderia os diários, se sabia da existência de um tesouro? Poderia vir aqui e roubar as cartas do sótão, roubar o livro de sua biblioteca, sem levantar a menor suspeita, pois ninguém saberia da existência dos mapas. Todos nós atribuiríamos o incidente a um ladrão qualquer.


- Está se esquecendo de que ele é um americano, totalmente distanciado dos acontecimentos. A história do dote perdido certamente não foi contada de geração a geração, como ocorreu em nossas famílias. Quando ele leu os diários, não sabia por onde começar a busca. Não sabia onde os Potter e os Granger viviam, ou quem poderia ter os tais mapas. Na verdade, não teria como saber que o dote ainda não foi encontrado. Nossas famílias poderiam ter se unido, como era o desejo de Margaret, e encontrado o tesouro. O melhor a fazer seria tentar vender os diários na Inglaterra e esperar que um Potter, ou um Granger, os comprasse. Então, seria fácil seguir as pistas e localizar os mapas. Afinal, ele seguiu os diários até encontrar a senhorita.


- Ele só queria nos conhecer. – Olívia voltou a protestar.


- E, se não estou enganado – sir Harry continuou inexorável - contou a ele que estavam procurando pelas cartas, no sótão. Imagino que tenha mencionado a outra parte do mapa, que estaria em poder dos Potter. Tudo o que ele teria de descobrir é a localização da Mansão Haverly, para procurar pelo livro em questão. Dessa maneira, a busca se tornaria bastante simples. Bastaria invadir o sótão de Chesilworth, encontrar as cartas e, então, viajar até Haverly e invadir a biblioteca.


- E por que ele esperaria um ano? – Hermione argumentou. – Ele poderia ter seguido os diários, assim que papai os comprou. Teria o mesmo resultado. Por que esperar até agora? Está se esquecendo de um detalhe muito importante: somente agora alguém decidiu procurar pelas cartas. A mim parece que essa pessoa acabou de tomar conhecimento da existência delas.


Sir Harry ergueu uma sobrancelha e sua voz adquiriu tom sombrio.


- Está insinuando que sou eu o ladrão?


 


 


 


 


Agradecimentos especiais:


 


Nanny Black: as coisas apenas começaram a acontecer, vai rolar muita confusão ainda, e a Joanna e a Tia Ardis vão aprontar muito, inclusive atrapalhar imensamente o casal. Você realmente se enganou, o Harry foi é atrás da Mione e não do Dote, mas logo ele também estará acreditando no Dote. Beijos.


 


 


 

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