CAPÍTULO IV - Visitas



CAPÍTULO IV - Visitas


 


Joanna encarnou seu papel de doente com tamanho entusiasmo, que Hermione teve de se esforçar para não perder o controle. Depois de aplicar pó branco no rosto, a prima atirou-se na cama, “fraca” demais para fazer as próprias malas. O que resultou em trabalho dobrado para Hermione, que conseguiu dar por encerrada a tarefa no meio da tarde, mesmo sendo interrompida a todo instante pela tia, que insistia em dar ordens contraditórias.


Finalmente, Joanna foi carregada por um criado grandalhão e grisalho, até a carruagem. Hermione e a tia embarcaram em seguida, recebendo os cumprimentos da filha de lady Arrabeck. Minutos depois, deixavam a propriedade.


- Tirem essa coisa de cima de mim! – Joanna ordenou, referindo-se ao cobertor com que havia sido agasalhada, assim que atravessaram os portões. – Estou suando como um cavalo!


- Você é uma excelente atriz, prima. – Hermione comentou com um sorriso, notando as gotas de suor que escorriam, deixando suas marcas no pó branco.


- Por que mandaram aquele criado horrível me carregar? – Joanna lamentou furiosa com o desfecho da história. – E por que não havia ninguém para nos ver sair?


- Lady Patrícia nos acompanhou até a carruagem. – a mãe lembrou. – Foi um gesto muito delicado.


- Ora, mamãe, ela é apenas a filha solteirona!


- O que vai acabar acontecendo com você, se continuar a cometer erros como o de ontem à noite!


- Eu errei! Foi a senhora que não pôde esperar pela hora certa, fez um escândalo cedo demais e o afugentou!


- Cheguei lá exatamente na hora combinada. Foi ele quem se atrasou.


- E a culpa é minha?


- E. Se ele não estava ansioso para visitá-la, foi porque você não soube encantá-lo.


- Fiz tudo o que me passou pela cabeça! Sorri, flertei e até fingi interesse naqueles escritores antigos e idiotas de que ele tanto gosta, quando nem sequer ouvi falar de nenhum deles! E, também, retirei o babado do decote do vestido, à tarde.


- Verdade, e inclinou-se uma dúzia de vezes, para apanhar o leque que não parava de cair no chão. - Hermione apontou em tom seco.


- Está vendo? Até Hermione reconheceu os meus esforços. – Joanna defendeu-se, sem perceber o sarcasmo da prima. – O homem parece feito de pedra! Tive de beijá-lo, para provocar alguma reação.


- Você não foi sutil. – tia Ardis concluiu. – Ele ficou desconfiado. Foi por isso que ficou pelos corredores, espionando o seu quarto.


Hermione suspirou e virou-se para a janela, tentando ignorar a discussão entre mãe e filha. Precisava decidir o que fazer. Apesar das idéias corajosas de horas antes, estava desesperada com a rejeição de sir Potter. Apostara todas as suas esperanças nele. Imaginara que enfrentaria alguma dificuldade em convencer um Potter a ajudá-la, mas confiara no famoso gosto dos Potter pelo dinheiro, para convencê-lo. Não lhe ocorrera que ele consideraria a história fantástica, ou que a classificaria como uma jovem tola e ingênua. E, menos ainda, que ele se interessaria mais por beijá-la, do que por encontrar o tesouro.


Sentiu as faces arderem à lembrança do beijo ardente e das sensações desconhecidas que a haviam invadido. Tratou de afastar tais pensamentos, pois tinha de se concentrar na busca do dote espanhol. Sentiu vontade de chorar ao pensar que, talvez, a descoberta do tesouro houvesse se tornado impossível para sempre. Quando começara a ler os diários de Margaret, dera-se conta de que o dote era a solução para os problemas de sua família. Desde então, contara com isso para sair da casa da tia, levando consigo os irmãos.


Sir Harry deixara claro que conhecia a situação financeira dos Granger, mas Hermione duvidava que ele soubesse dos detalhes. Seu pai morrera praticamente sem um centavo. Ela tivera de vender a maior parte da mobília para pagar dívidas, mas o pior fora ter de mudar-se para a casa da tia. A Mansão Chesilworth era uma construção nobre, mas fora negligenciada durante gerações e encontrava-se em péssimo estado de conservação. Seria necessária uma alta soma em dinheiro para contratar as reformas que a tornariam habitável, novamente. Deixar seu lar fora muito doloroso, mas a humilhação de viver à custa da caridade da tia era uma sombra que acompanhava Hermione dia e noite. Tio Barlow, irmão de sua mãe, era um bom homem, de quem todos gostavam. Infelizmente, ele passava a maior parte do tempo na vila, ou em Londres. Aparentemente, era a natureza interesseira da esposa que provocava nele tal atitude.


Tia Ardis ressentia-se da presença dos sobrinhos do marido, tanto quanto gostava de dar-lhes ordens. Jamais deixava de queixar-se da despesa e dos problemas que eles lhe criavam, classificando Hermione como uma solteirona sem atrativos, Olívia como uma menina atrevida e os gêmeos como garotos endiabrados e malcriados. Fazia questão de deixar claro para quem a conhecesse que o sacrifício de tê-los ali era desumano.


Joanna considerava Hermione um excelente parâmetro para comparações estéticas. Crispin e Hart, porém, com doze anos de idade, representavam um incômodo sem igual, uma vez que, com suas brincadeiras, atrapalhavam as inúmeras horas de descanso da bela prima. Mas era Olívia quem Joanna realmente detestava. Aos catorze anos, a menina já começava a se transformar em uma verdadeira beldade e, em breve, se tornaria uma ameaça ao domínio que Joanna exercia sobre o pequeno círculo social de Dunsleigh.


Mais do que tudo, Hermione queria tirar sua família daquela casa e voltar a viver em Chesilworth. Seu tio fora designado guardião de seus irmãos e ela sabia que seria fácil convencê-lo a permitir que ela mesma os educasse, desde que tivesse uma casa decente onde acomodá-los e dinheiro suficiente para roupas e alimentação de qualidade. E o dote espanhol lhe forneceria tais recursos. Agora, porém, sir Harry derrubara por terra todos os seus sonhos de liberdade.


-... não é um partido tão bom.


Hermione despertou de seus pensamentos, ao ouvir a tia referir-se a sir Harry novamente. Ergueu os olhos, surpresa.


- O que está querendo dizer, titia? A senhora mesma não disse que ela era um dos melhores partidos da Inglaterra? – lembrou em tom inocente.


Tia Ardis franziu o cenho, contrariada pela memória da sobrinha.


- Ah sim, ele é um bom partido, – admitiu – mas não possui título. Nesse aspecto, até mesmo lorde Benbroke seria melhor.


- Lorde Benbroke tem quase sessenta anos e sofre de gota.


- E verdade, mamãe. – Joanna concordou depressa. - Lorde Benbroke está fora de cogitação.


- Eu não quis dizer que você deveria se casar com ele. Simplesmente, ele tem um título que Potter não tem. Mas estou certa de que existem outros, ainda mais ricos.


- Ouvi dizer que Richard Crettigan é o homem mais rico do país. – Hermione informou-as.


A tia mostrou-se chocada.


- Richard Crettigan é um... um comerciante!


- Um comerciante de Yorkshire. – Joanna completou. – Imagine ter de ouvir aquele sotaque horrível, pelo resto da vida!


- Creio ser reconfortante saber que existem outras opções para Joanna. – Hermione explicou.


Tia Ardis ignorou a alfinetada e disse:


- Ouvi dizer que sir Harry é um libertino.


- Quem disse isso? – Hermione inquiriu apreensiva.


- Daphne Wentworth. E disse que, em Londres, todos sabem disso. É claro que a filha dela, Teresa, mostrou-se bastante interessada em Potter e que Daphne faria qualquer coisa para eliminar a concorrência. Ainda assim, a sra. Carruthers estava conosco e confirmou que ele tem uma certa reputação.


- Que reputação? - Hermione insistiu, sem compreender por que as palavras da tia a irritavam tanto.


- De sedutor. – tia Ardis confidenciou em um sussurro.


- Ora, como elas poderiam saber?


Apesar dos protestos, Hermione lembrou-se dos beijos de sir Harry e do efeito que eles haviam provocado.


Além disso, consciente de não ser bonita, só podia concluir que ele tentava beijar todas as mulheres que atravessavam o seu caminho. .


- São apenas boatos. – acrescentou.


- É mais que isso. Ouvi muitas coisas... – a mais velha insinuou em tom sombrio.


- Que coisas?


- Coisas que moças decentes como você e Joanna não devem ouvir.


- Ora, mamãe, você sempre diz isso. – a filha queixou-se.


A verdade era que uma jovem capaz de atrair um homem ao seu quarto, no intuito de forçá-lo ao casamento não era uma criatura inocente, cuja sensibilidade poderia ser ferida por histórias pecaminosas. No entanto, Hermione manteve-se calada, pois não queria desafiar a tia por uma questão tão insignificante quanto a reputação de sir Harry Potter. Além do mais, ele provavelmente era o que as fofocas diziam.


Voltou a virar-se para a janela e a viagem prosseguiu em silêncio.


 


Hermione despertou confusa e descobriu que a tia e a prima dormiam no banco à sua frente. Ao sentir o estômago roncar de fome, afastou a cortina da janela e constatou que já anoitecera. Mesmo assim, reconheceu a alameda de entrada da propriedade da tia e sentiu-se animada. Certamente, tudo pareceria melhor quando ela estivesse junto dos irmãos.


A carruagem parou diante da porta, que foi aberta pelo mordomo...


- Sra. Moulton. – ele cumprimentou a patroa, curvando-se e estendendo a mão para ajudá-la a descer.


Tia Ardis limitou-se a balançar a cabeça e entrou em casa, seguida por Joanna. Hermione foi a última da sair da carruagem e cumprimentou o homem com um sorriso largo..


- Olá, John.


Ele também sorriu, o que era incomum ao criado sempre sisudo.


- Olá, senhorita. É bom tê-la de volta.


- Obrigada. Como vai a sua irmã? O bebê já nasceu?


- Não, senhorita, mas pode chegar a qualquer momento.


Assim como a maior parte da criadagem da mansão Moulton, John Soames sentia que o ambiente se tornara muito mais agradável com a chegada da família Granger. Diferentes da sra. Moulton e de sua filha, os Granger sabiam os nomes de todos os criados e estavam sempre prontos a oferecer um sorriso, ou uma palavra de agradecimento. Muitas vezes, um vaso quebrado durante alguma brincadeira dos gêmeos era varrido e jogado fora sem qualquer menção ao incidente. E, também, refeições secretas eram levadas à sala de estudos, quando Olívia ou os meninos encontravam-se dê castigo, por alguma traquinagem.


- Mione!


Dois meninos loiros, seguidos por uma garota de tranças douradas desceram os degraus da entrada correndo. Hermione abriu os braços para recebê-los.


- Crispin! Hart... O que aconteceu com a sua mão? Olívia... Ah, você ficou ainda mais bonita, enquanto estive fora.


A menina riu.


- Ora, faz só três dias que você se foi! O que aconteceu? Por que voltaram tão depressa?


- Você precisava ver tio Barlow, ao ouvir John anunciar que a carruagem estava chegando. Ele parecia uma lebre que acabou de ouvir o latido dos cães de caça! – Crispin zombou.


- Ele começou a olhar em volta, como se procurasse por um buraco onde se esconder! – Hart acrescentou com uma gargalhada.


- Ele ficou em casa todas as noites, desde que tia Ardis partiu. – Olívia contou com alegria. – Foi tão bom! Deixou que jantássemos com ele e conversou conosco sobre todo tipo de coisas. Não foi tão bom quanto estar com papai, mas fez com que eu me lembrasse de casa. - Hermione teve de reprimir as lágrimas.


- Também sinto falta de papai, Olívia.


- Foi demais! – Hart, que apreciara muito mais as conversas do tio sobre cachorros, do que os comentários eruditos do pai, declarou. – Ele disse que vai nos levar para caçar, da próxima vez que for a Buckinghamshire, se tia Ardis permitir.


- Acha que ela vai nos permitir alguma diversão? Duvido.


- Pode estar enganado, Crispin. – Hermione apontou. – Tia Ardis ficaria satisfeita por se ver livre de vocês por alguns dias. Tratarei de convencê-la das vantagens em termos de sujeira e barulho, de se mandar dois garotos de doze anos para uma longa caçada.


- Está falando sério?


- É claro que estou. Não posso prometer, mas vou tentar.


- Eu sei. – Crispin assegurou-a.


Mais sério e compenetrado que o irmão, ele sabia que a genialidade e a inteligência de Hermione nem sempre venceriam o poder da tia.


- Conte-nos o que aconteceu na festa, Hermione! - Olívia pediu com impaciência.


- Conseguiu falar com sir Potter? – Hart perguntou ansioso. – Ele vai nos ajudar?


- Prometo contar tudo, mais tarde. Agora, deixe-me entrar e cumprimentar tio Barlow.


Quando entraram, tia Ardis repreendia o marido, que realmente parecia uma lebre assustada.


- Pude ver da carruagem que a sala de estudos está mais iluminada que uma árvore de Natal. Um grande desperdício, uma vez que as crianças já deveriam estar na cama.


- Não achei que as velas fossem excessivas. – tio Barlow tentou explicar-se. – Vi Olívia tentando ler à luz de uma única vela e achei que ela não deveria forçar esses olhinhos tão lindos.


Dirigiu um sorriso à sobrinha, sem se dar conta de que, do ponto de vista da esposa, acabara de dizer as palavras erradas.


- Quanta bobagem! – ela exclamou, fitando Olívia com desdém. – Ajeite a saia, menina. Está parecendo um moleque.


- Sim, tia Ardis. – Olívia replicou em tom submisso. Hermione abraçou e beijou o tio rapidamente e levou os irmãos para o quarto que dividia com a irmã.


- Agora, – Olívia começou, depois de sentar-se na cama - conte-nos tudo, Mione. Por que tia Ardis voltou tão depressa?


- Isso não interessa! – Crispin queixou-se. – Quero saber sobre sir Harry e o tesouro.


- Tia Ardis e Joanna tiveram um imprevisto. - Hermione resumiu, uma vez que não poderia contar às crianças o que realmente acontecera. – Quanto ao tesouro, receio não ter boas notícias. Sir HArry se recusou a nos ajudar.


- Eu sabia que não poderíamos contar com um Potter! – Hart resmungou.


- Como vamos encontrar o tesouro, se os Potter têm a outra metade das instruções? – Crispin argumentou.


- Não precisamos disso. – Hart afirmou. – Poderemos encontrá-lo sozinhos. Não é, Mione?


- É claro que poderemos. – ela respondeu com um sorriso. – Só vamos demorar um pouco mais, mas não pretendo desistir.


- Mas... o que vamos fazer? – Olívia perguntou.


- Temos de encontrar as cartas. Então, poderei mostrá-las a sir Harry e provar que o tesouro existe e que pode ser encontrado.


Aquele fora o melhor plano que Hermione conseguira arquitetar, embora não estivesse convencida de sua eficácia.


- Ele não acreditou no tesouro? – Hart inquiriu, chocado.


- Não. Acha que os diários são falsificações. É um homem teimoso e de mente estreita, mas quando tiver as evidências nas mãos, será obrigado a acreditar.


- Ajudaremos você a procurar as cartas. – Crispin afirmou, com a gravidade de sua posição de lorde Chesilworth.


- Claro! – Olívia concordou. – Sempre que a bruxa não estiver por perto, fugiremos para Chesilworth.


- Olívia, comporte-se. – Hermione repreendeu-a, antes de sorrir para os três. – Eu sabia que poderia contar com vocês.


Abraçando os irmãos, prometeu a si mesma que não os decepcionaria. Encontraria as cartas e faria com que sir Potter acreditasse em sua história.


 


Tia Ardis não aprovava as visitas de Hermione e seus irmãos a Chesilworth. Desde que Hermione se mudara para lá, a mais velha passara a encarregá-la da maior parte da administração doméstica, pois preferia usar seu tempo no quarto, descansando, ou fofocando com as poucas amigas que possuía. Por isso, considerava um grande inconveniente as saídas da sobrinha.


- Não sei o que você faz lá, o dia todo. – declarou com petulância. – Aquele lugar está em ruínas.


- Estou tentando impedir que a ruína se alastre. Por isso, mantenho a casa limpa e verifico se não há goteiras e vazamentos. – Hermione mentiu.


Não tinha a menor intenção de contar à tia o que realmente faziam lá, pois tinha certeza de que as visitas seriam proibidas.


- Acho que deveria usar melhor o seu tempo. - tia Ardis comentou. - Afinal, esta é a sua casa, agora.


Hermione controlou o ímpeto de responder com uma grosseria.


- Sei disso, tia Ardis, mas Chesilworth é a herança de Crispin. Devo garantir que ele tenha algo a receber, quando tiver idade para isso. Seria demais esperar que a senhora e tio Barlow continuem a nos sustentar, mesmo depois de os meninos terem atingido a maioridade.


A tia pareceu nunca ter pensado nesse aspecto antes.


- Bem... Sim, você tem razão. Ainda assim, acho demais você ir todos os dias...


- Irei somente quando a senhora não precisar de mim.


Ardis passou a precisar de Hermione três a quatro vezes por semana. Nos outros dias, os quatro irmãos corriam para Chesilworth e prosseguiam no exame metódico dos baús, no sótão.


Era Hermione quem se encarregava da maior parte do trabalho, uma vez que os gêmeos distraíam-se facilmente com objetos antigos, e Olívia cansava-se rapidamente. Assim mesmo, estava progredindo e, à medida que avançavam, abrindo os baús na ordem em que haviam sido dispostos, descobriam que voltavam no tempo. Olívia encontrara um saiote de arame, típico do século dezoito, o que animara Hermione, pois a convencera de que se aproximavam da época em que as cartas haviam sido escritas.


Em uma manhã, quando ela se sentia particularmente ansiosa para se entregar à sua busca, tudo parecia interferir em seus planos. Quando, finalmente, tendo atendido a todas as exigências da tia, preparava-se para subir e vestir roupas mais velhas, o mordomo abriu a porta da sala e anunciou:


- O Sr. David Miller, madame.


Aproximou-se de Ardis e entregou-lhe um cartão.


- Quem é? – ela perguntou intrigada.


- Um americano, madame. Diz ser parente de lorde Chesilworth.


- Está se referindo a Crispin?


- Sim, madame.


Tia Ardis e Joanna viraram-se para Hermione, que deu de ombros.


- Nunca ouvi falar desse cavalheiro. – declarou.


- Bem, mande-o entrar, Soames. – a tia ordenou e voltou á encarar Hermione. – Seria um impostor? Como pode um americano dizer-se parente de vocês?


- Se não me engano, alguns membros da família Granger emigraram para a colônia, titia.


- Sem dúvida, acredita que Chesilworth, só por causa do título, seja um homem rico. Escreva o que eu digo: ele pretende tirar dinheiro de vocês.


- Se for assim, receio que vá se decepcionar. – Hermione replicou com bom humor.


Um momento depois, Soames voltou a aparecer, anunciando:


- Sr. David Miller. - Um jovem entrou, exibindo um sorriso hesitante.


Estava na casa dos vinte anos, tinha olhos azuis e cabelos loiros, além de um bigode que parecia ter sido cultivado apenas para dar um ar mais respeitável ao rosto juvenil. Hermione considerou-o um rapaz atraente e confirmou sua opinião ao detectar um brilho de interesse nos olhos de Joanna.


O sr. Miller curvou-se em uma reverência.


- Por favor, perdoem-me a visita inesperada. Sei que deveria ter escrito para me apresentar, mas quando me vi em Londres, com algum tempo livre, não resisti à tentação de conhecer meus primos ingleses.


- Sente-se, por favor. Sou a srta. Hermione Granger. – ela se apresentou. – Meu irmão é o lorde Chesilworth, mas receio que ainda seja um garoto. Esta é minha tia, sra. Moulton e a filha dela, srta. Joanna Moulton.


O jovem cumprimentou as duas, antes de sentar-se.


- Sou parente dos Granger, embora distante. Uma de minhas antepassadas era uma Granger. Ela e o marido estabeleceram-se em Boston, há quase duzentos anos.


Hermione quase perdeu a voz.


- Qual era o nome de sua antepassada? – indagou.


- Margaret Granger. Conta a lenda familiar que foi uma história muito romântica. Ela fugiu com um homem sem título, ou riqueza e, para escapar à ira da família dela, seguiram para a colônia.


- Não acredito.


- Ah, mas é verdade. – David Miller assegurou.


- Desculpe-me. Eu não quis dizer que não acredito na história, mas sim, que não acredito em tamanha coincidência, pois acabo de ler os diários de Margaret.


Ele sorriu.


- Esplêndido! Espero que tenha gostado. Fui eu quem os vendeu ao sr. Simons: Sou comerciante, em Boston, e costumo visitar Londres todos os anos, para conhecer as novidades. No ano passado, trouxe os diários de Margaret Stone, que era o seu nome de casada, e os vendi a um livreiro chamado Simons. Quando voltei, neste ano, fui visitá-lo e ele me contou que vendeu os diários a lorde Chesilworth, membro da família Granger. Fiquei satisfeito que os volumes tenham voltado ao seio da família e decidi que não poderia partir, sem conhecê-los.


- Fico contente que tenha decidido vir.


Joanna, que perdera o interesse pelo jovem, no momento em que descobrira ser ele um mero comerciante, ficou ainda mais entediada com a conversa sobre livros e antepassados.


- Bem, – o sr. Miller dizia – temi que me considerasse grosseiro.


- Estou feliz por conhecê-lo. Acho a história de Margaret fascinante, assim como meu pai. Foi ele o lorde Chesilworth que comprou os diários, mas faleceu há alguns meses. Ele teria gostado muito de conversar com o senhor e, certamente, teria muitas perguntas a fazer.


- Precisamos conversar sobre livros, Hermione? – Joanna interrompeu os dois.


- Desculpe, srta. Moulton. – Miller dirigiu-lhe um sorriso. – E claro que considera cansativo ouvir duas pessoas falarem de seus antepassados. Se entendi bem, a senhorita não é parente de Margaret.


- Não faço a menor idéia de quem seja essa Margaret. – Joanna confessou com um risinho tolo.


- Minha prima e minha tia não têm parentesco com os Granger. – Hermione explicou. – Somos relacionadas através de minha mãe.


- Compreendo.


- Mas, por favor, sr. Miller, conte-me como encontrou os diários e por que decidiu vendê-los. – Hermione pediu, lamentando que sir Harry não estivesse ali, para ouvir a verdadeira história dos diários.


- Minha avó tinha grande interesse pela história da família e guardava tudo o que encontrava: bíblias, certidões de nascimento, casamento e óbito. Quando ela morreu, minha mãe simplesmente armazenou tudo em baús, no sótão. Mamãe morreu há quase dois anos. Foi quando abri os baús e encontrei todo tipo de relíquias familiares, inclusive os diários de Margaret.


Incapaz de suportar a conversa por mais tempo, Joanna aproveitou a pausa feita pelo sr. Miller e sugeriu:


- Por que não mostra os jardins ao sr. Miller, Hermione? Os americanos sempre se interessam pelos jardins ingleses.


- Sinto muito, srta. Moulton, se a estou entediando com minha conversa, mas acho que fiquei entusiasmado por conhecer uma prima distante.


- Tem razão, prima Joanna. – Hermione concordou, grata pela sugestão que lhe proporcionaria momentos de tranqüilidade para continuar a conversa. – Terei prazer em mostrar os jardins ao sr. Miller. Importa-se se continuarmos a nossa conversa lá fora, senhor?


Depois de apreciarem os canteiros bem cuidados, acomodaram-se em um banco.


- Conte-me o resto da história. – Hermione pediu. - Leu os diários? Por que decidiu vendê-las?


- Sei que vai me classificar como um americano ignorante, srta. Granger, mas não me interesso por livros e, menos ainda, por árvores genealógicas. – ele explicou com um sorriso embaraçado.


- Perfeitamente compreensível. Não espero que todas as pessoas partilhem dos meus interesses. Então, não leu os diários?


- Não. Apenas folheei alguns volumes. Não sabia o que fazer com eles, pois não tinha interesse em guardá-los, nem coragem para jogá-los fora, por causa de seu valor histórico. Então, um amigo sugeriu que eu os vendesse aqui, na Inglaterra, alegando que os ingleses costumam interessar-se por história. Como já disse, vendi-os ao sr. Simons. Antes disso, porém, mostrei os diários a diversos livreiros, mas nenhum deles quis comprá-los.


- Felizmente!


Hermione descobriu que já gostava do sr. Miller, que era franco e aberto como a maioria das pessoas jamais seria. E, também, era atraente, muito mais que sir Harry.


- Meu pai ficou entusiasmado com a possibilidade de ser as palavras escritas por Margaret. – continuou. – A história dela, especialmente da fuga para a América, era um dos maiores interesses dele.


Continuaram conversando por muito tempo. Ao saber que a casa onde Margaret vivera ainda existia, e que fora, de fato, o lar de Hermione, o sr. Miller pediu para conhecer o lugar.


Foram a Chesilworth naquela mesma tarde, acompanhados por Olívia e os gêmeos, que bombardearam o sr. Miller com perguntas sobre os Estados Unidos. Ele respondeu a todas elas com grande paciência.


- Vai nos ajudar a procurar pelo tesouro? – Hart perguntou, entusiasmado.


- O quê?


- O dote de Margaret. – o menino explicou.


- Meu irmão se refere a uma informação contida nos diários. – Hermione esclareceu.


- Ela mencionou um tesouro? – o americano inquiriu surpreso.


- O diário explica como encontrá-lo. – Crispin acrescentou e, juntamente com Hart, pôs-se a contar sobre os mapas. – Uma parte está na carta que procuramos no sótão. A outra pertence a sir Harry, mas ele não quer nos ajudar.


- Uma caça ao tesouro! – o sr. Miller exclamou. – Maravilhoso! É uma pena que eu não possa ficar na Inglaterra para ajudá-los.


- Por que não pode ficar? – Crispin perguntou.


- Não atormentem o sr. Miller, garotos. – Hermione repreendeu-os. Então, virou-se para o visitante. – Se puder ficar, será um prazer tê-lo conosco.


- Infelizmente, tenho negócios a tratar, em Londres. Além disso; meu navio parte para a América dentro de uma semana. – Depois de refletir por um momento, ele deu de ombros. – Bem, talvez eu possa estender minha visita por mais um dia. – Ao se deparar com a mansão Chesilworth, ficou boquiaberto. - Ora, mas isto é um castelo!


- Não exagere! – Hermione riu.


- Não existe nada parecido, nos Estados Unidos. Deve ter sido difícil deixar este lugar.


Hermione assentiu, embora não fosse a grandiosidade da propriedade que lhe provocasse saudade, mas sim a história familiar que permeava as pareces, agora úmidas.


Mostraram a casa ao sr. Miller, que retomou na tarde seguinte para ajudá-los no sótão. No final, ele estendeu a visita por mais um dia e foi com evidente relutância que partiu.


Depois disso, a rotina na Mansão Moulton voltou ao normal, Hermione cuidava da administração da casa e, sempre que podia, ia a Chesilworth com os irmãos, para procurar pelas cartas.


Uma semana depois da partida do sr. Miller, Hermione prosseguia com o exame dos baús, enquanto os gêmeos brincavam e Olívia descansava, tentando fugir do calor fatigante.


Hermione acabou de guardar o conteúdo do baú que esvaziara e tomou um verdadeiro banho de poeira, ao fechá-lo. Foi quando ouviu um ruído no andar de baixo, seguido pela voz alegre de Joanna:


- Hermione!


O que Joanna fora fazer em Chesilworth? Então, ouviu passos na escada. Em seguida, um homem entrou no sótão. Pondo-se de pé, Hermione compreendeu por que sua prima se dera ao trabalho de ir até lá.


- Bom dia, Srta. Granger. – sir Harry cumprimentou-a com um sorriso largo.


 


 


 


 


Agradecimento especial:


 


Lúh. C. P.: que bom que está curtindo a fic, realmente essa frase foi demais, que bom que você curte esse tipo de romance adaptado para H/H, eu gosto de ler romances de época assim, principalmente os romances escoceses... como viu nesse capitulo o Harry foi atrás da Mione e a partir do próximo capitulo a “caça” ao tesouro ganha mais um participante, espere pra ver grandes cenas entre os dois... Bem, quanto a Margareth, gostaria de lhe dizer que ela ano amava o Edric não, ela fugiu com o homem que ela se apaixonara, mas mais pra frente um pouco da historia vai ser contada, incluindo alguns trechos do diário dela. Beijos.


 


 

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