Matando a Saudade



Em um belo dia de verão, um rapaz de vinte anos parado frente à janela observava o movimento na rua. O pensamento longe dos pergaminhos em cima da mesa. A vontade era dar uma volta em sua vassoura nova e aproveitar aquele céu claro, mas tinha outras coisas a fazer no momento.


        As malas... – bufou fechando a janela para tentar não se distrair mais.


A bagagem de Harry Potter mudara muito nos últimos anos. Foi-se o tempo que só levava as roupas velhas de Duda e o uniforme de Hogwarts. Agora tinha ternos e vestes de gala presentes de Gina, Hermione e algumas peças clássicas herdadas de Sírius e, claro, os suéteres tricotados pela Sra. Weasley. Apesar de ainda muito magro Harry tinha adquirido uma boa postura; a famosa cicatriz ainda estava lá entre os óculos e franja; ainda era reverenciado por onde passasse, mas já tinham se passado três anos... Três anos e finalmente tudo estava começando a ser normal.


Particularmente Harry estava muito satisfeito com sua volta a casa do Largo Grimmauld. Seus planos imediatos incluíam:  a reforma da casa herdada do padrinho, começar a trabalhar no Ministério e seguir seu namoro com Gina.  


Acabara de chegar da Itália junto com Rony, Hermione, Gina e Jorge. Não foi uma viagem longa; Gina participou, e ganhou, um torneio de quadribol pelo seu time, o Harpias; Rony e Jorge foram a inaugurar uma loja das Gemialidades Weasley. Hermione os acompanhou visitando lugares famosos no mundo da magia (para o tédio de Rony) e aproveitou para dar algumas palestras; o FALE começava a ganhar apoio em outros países e a sede oficial havia sido inaugurada no Beco Diagonal um pouco antes da viagem a Itália.


A viagem teria sido mais agradável não fosse uma briga feia entre Rony e Hermione. Um bruxo italiano paquerou a garota elogiando sua beleza. Rony fuzilou na hora:


        Você precisava ver quando ela tinha onze anos!


Muito zangada, Hermione, se trancou no quarto do hotel e só saiu no último dia para a viagem de volta. Harry os ouviu discutindo a noite toda. Hermione e Rony viviam entre brigas e reconciliações. O relacionamento era trabalhoso tanto para os Weasley quanto para os Granger. Harry e Gina sempre tentavam reconciliá-los. Desta vez assim que chegaram Rony seguiu com Gina direto à Toca e Hermione foi ver os pais. Harry pretendia convencê-la a ir com ele para lá o fim de semana. Ao contrário dos amigos Harry e Gina estavam muito bem. Chegaram a um acordo em que Gina continuaria sua carreira como artilheira enquanto ele se estabelecia no Ministério.


Depois de colocar a última peça no cabide Harry bocejou preguiçoso e puxou a primeira folha de muitas pilhas de documentos para ler e assinar.


Passou quase uma hora colocando papéis do Ministério em ordem. Com o barulho pela casa as pinturas nos quadros começaram a acordar e o chamavam sem parar. Por volta das duas da tarde recebeu uma coruja de Hermione o convidando para um encontro no Beco Diagonal para compras. Apesar de não precisar de nada Harry gostou da idéia de rever a amiga e sair de casa. Assim que aparatou em frente a um café a localizou.


A amiga correu para ele e o abraçou. Usava um vestido azul, os cabelos castanhos soltos batiam um pouco abaixo dos ombros. Trazia uma bolsa trançada feita pela Sra. Weasley. A melhor amiga de Harry continuava a ser, na opinião de muitos, a melhor bruxa de sua geração; a personalidade continuava forte e decidida, mas Hermione também havia se tornado uma moça atraente, elegante e um verdadeiro tormento para um ciumento Ronald Weasley.


        Acabei de encontrar Hagrid e ele vai nos acompanhar.


        Ótimo! Onde ele está?


        Em um pub! O deixei pagando a conta.


Hagrid se espremia pela porta do pub do outro lado da rua. O bom e velho Hagrid; já com alguns fios grisalhos espalhados pelo longo cabelo e pela barba. O primeiro amigo de Harry no mundo mágico e que lhe dera a feliz notícia de que era bruxo. Fazia muito tempo que não viam.


        Harry ai está você!


Acostumado com os abraços “quebra costelas” de Hagrid o rapaz prendeu a respiração e agüentou firme até o amigo o largar.


        Parabéns! Funcionário do Ministério da Magia. Está feliz?


        Eu nem comecei Hagrid. Só respondi cartas até agora. Cartas de agradecimento todas iguais e de pessoas que nem conheço. 


        Mas vai conhecer! – disse Hermione animada. – Todos no Ministério estão loucos para que você se junte a eles. Agora que o Ministério está se renovando. O Sr. Weasley chegou até a dizer que você pode ser Ministro da Magia um dia! Isso se realmente se empenhar.


        Acho que não Hermione; prefiro trabalhar, voltar para casa para ficar com Gina e jogar quadribol. Sabia que inauguraram várias quadras de quadribol Indoor bem no centro de Londres? É só alugar. Já vem com feitiço antitrouxas!


        Ah, claro que sei... Rony não falava de outra coisa. Vamos dar uma volta?


Hermione tomou a frente dos dois amigos e apressou o passo quando viu que Hagrid ia dar continuidade ao assunto quadribol. Ela e Harry se divertiram o carregando de um lado para o outro no Beco Diagonal a tarde toda. Entraram em todas as lojas de artigos mágicos para escritório. Harry comprou um arquivo mágico que se organizava sozinho e Hermione pilhas de pergaminhos e uma nova coleção de penas.


        As mais leves do mundo.


        Uau – riu Harry – minha vassoura nova e a mais leve do mundo também.


        Uau...


        Você deveria se interessar mais por quadribol afinal tem uma amiga que é de longe a melhor jogadora de todos os tempos. Sem contar um amigo que é namorado dela e seu próprio namorado.


        Vão ler meu livro? Hogwarts, uma nova historia.


        É o titulo provisório. Viu como estou por dentro?


        Harry...


        Claro que iremos!


        Eu queria tanto acreditar!


Já estava anoitecendo acompanharam Hagrid de volta ao pub, mas preferiram ir a um café próximo. Um garçom entregou o cardápio a Hermione e só tirou os olhos dela quando Harry, num tom mais alto que o necessário pediu duas cervejas amanteigadas.


        Se eu fosse o Rony ele já estaria com esse cardápio enfiado na garganta.


        Harry. Não comece você também.


        Pensando bem posso fazer até melhor!


        Harry! Está me envergonhando! Fique quieto! Já basta todos nos olhando!


        É só dar um toque...


Hermione ria e segurava as mãos do amigo que ameaçava pegar a varinha.


        Bum! Olha só: um sapinho de avental!


Hermione soltou a mão dele e ameaçou pegar a própria varinha. Harry colocou a varinha em cima da mesa.


        Eu me rendo.


Aproveitando que Hermione estava de bom humor Harry resolveu mencionar sua ida à Toca.


        Então, o que vai fazer nesse fim de semana Hermione?


        Ah, não pensei nisso ainda.


        Combinei de me encontrar com Gina na Toca antes dela ter que viajar com o time novamente.


        Ah, legal. Ela vai ficar feliz. Deve ser bom ter um namorado que se preocupe em agradar.


        Qual é? Rony vai se desculpar. Olha, ele faz essas coisas estúpidas, mas...


        Não estou preocupada com isso. Faz muito tempo que não me preocupo com o que Ronald diz ou faz.


Harry sabia que Hermione não falava sério.


        Aquela vez na piscina da casa de Dino Thomas? – lembrou Hermione. – O que Rony disse a ele?


        Dino que já estava com a cabeça cheia de uísque de fogo! Se fosse comigo eu faria a mesma coisa e...


Muito séria Hermione encarou Harry.


        Não, não faria.


Embora Harry soubesse que Rony não fazia por maldade; também sabia que um dia os amigos poderiam não se reconciliar. Era uma possibilidade que Harry não gostava de pensar depois de tudo que tinham passado juntos... e separados.


        Você vai?


Hermione desviou olhar, mas balançou a cabeça afirmativamente. Harry esticou a mão e segurou a dela. Hagrid tossiu atrás deles acompanhado de um grupo de homens muito miudinhos que disse ter conhecido no pub. Hermione soltou a mão de Harry e cruzou os braços.


        Harry estes senhores querem muito falar com você.


        Agora?


O grupo rapidamente fez uma reverência e disseram todos juntos:


        Sr. Potter é uma honra conhecê-lo.


Harry agradeceu sem graça. Hermione segurou o riso e percebeu que Hagrid os olhava orgulhoso. Provavelmente mencionou que estava acompanhando os dois.


Todos insistiam que Harry e Hermione entrassem no pub para tomar uma bebida. Hermione, no entanto, se livrou dizendo que ainda tinha coisas a fazer:


        Vou comprar alguns livros. Só mais alguns.


        Acompanho você Hermione. Sei que Rony não gosta que você ande sozinha por aí. – disse Hagrid.


        Até você Hagrid! Harry, o vejo mais tarde então... 


        Está bem – disse Harry conformado. A companhia de Hermione era bem mais interessante. – Aqui? Daqui algum tempo eu acho...


        Ok, aproveite! – disse Hermione levantando


Harry seguiu os homens todos falando ao mesmo tempo até o pub. Pediu uma cerveja amanteigada e ficou no centro dando meias respostas e apertando mãos e mais mãos.


Um bruxo bêbado fez um grande brinde e tomou de uma vez uma caneca de uísque de fogo. Convidado a participar da brincadeira Harry imitou o bruxo e ficando cada vez mais a vontade ofereceu uma rodada extra. Foi aplaudido de pé.


Quando as perguntas e respostas começaram a ficar mais sem nexo ainda consultou o relógio e achou melhor ir embora se encontrar Hermione. Despediu-se de todos e saiu por engano pelos fundos do pub, já estava escuro. Andou alguns metros, olhou em volta; a rua parecia igual ou seria o efeito da quantidade do fosse que tinha bebido? O jeito era voltar ao pub e sair pela porta da frente. Achando graça do engano Harry deu meia volta, mas passado cinco minutos achou que já teria de ter passado pelo pub. Não havia ninguém na rua. Harry achou ter visto um vulto à luz um de lampião. A luz fraca dava um estranho efeito à sombra; não dava para ter certeza de tamanho ou proximidade. Por precaução tirou a varinha do bolso e a apontou à frente.


        Lumus.


À luz da varinha viu um homem agachado.


        Ei, senhor? Pode me dizer em que parte do Beco Diagonal estou?


O homem se levantou apontando para Harry.


        Pare de me seguir!


        Não senhor, eu me perdi. – disse Harry reparando que o homem tirou a varinha do bolso do casaco com a mão trêmula. – Escute não vou lhe fazer mal só quero me achar... Não sei onde estou... Não tinha idéia que o Beco Diagonal fosse tão grande!


        Não vou lhe entregar nada rapaz!


Harry apontou a varinha ao redor do homem e viu que ele estava à frente de um galpão tentando proteger a entrada.


        Tudo bem senhor... Vamos nos acalmar. Não vou roubá-lo, está bem?


O homem fez menção de lançar um feitiço, mas Harry o desarmou facilmente; lançou um feitiço para evitar que o estranho corresse ou gritasse até que pudesse chegar até ele e esclarecer a situação. Era um homem de meia idade, mas não tinha como dizer ao certo. Usava vestes sujas e gastas que lhe dava a impressão de um mendigo. Harry se abaixou e tentou tranqüilizá-lo.


         Se o senhor ficar calmo; eu o deixarei livre, não vou lhe fazer mal. Dou minha palavra. O senhor entendeu?


O homem fez um sinal positivo e Harry o deixou livre e deu uma olhada na entrada que o estranho homem se esforçava para esconder. Começou a desconfiar que tivesse mais coisas por trás. Curioso, ele se identificou como sendo do Ministério e o mandou abrir a porta. Sem ter como evitar e muito assustado o homem obedeceu.


A impressão de Harry era que estava em um depósito de lixo. Pilhas de caldeirões, varinhas velhas, livros mofados e ingredientes apodrecendo. Acendeu alguns lampiões deixando o ambiente razoavelmente mais claro.


        Qual seu nome senhor? – perguntou mexendo nas prateleiras.


Não houve resposta, mas Harry não deu atenção para o silencio pois tinha achado uma coisa muito mais interessante.


        Um baú mágico?


Baús mágicos eram muito raros e, pelo que Harry sabia, só pertenciam a grandes famílias bruxas. Guardavam todo tipo objetos e segredos. Harry passou a mão para tirar a poeira. Gravado em alto relevo no baú havia um bastão com uma pedra vermelha na ponta. Ouviu algumas palavras de fundo, mas não deu atenção. Quando puxou o baú mais para perto viu que havia mais dois com símbolos variados.


        Então era isso que estava guardando? Espere Hermione ver isso! Nem vai se aborrecer com meu atraso.


De repente Harry achou aquele silêncio perturbador e, no segundo seguinte, sentiu como se todas suas costelas fossem quebradas num golpe só. Perdeu a consciência antes de cair no chão sujo.

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