O Grito!



Capítulo 13 – O Grito!


 


            Um tímido raio de sol incidia diretamente sob seus olhos, impedindo que seu sono se prolongasse. Ela abriu timidamente os olhos, espreguiçou o corpo e pôde sentir que estava bem melhor, a poção revitalizante e a noite de sono completa haviam realmente lhe feito bem.


           


            Olhou para os dois lados de sua cama. Em cada um deles havia uma poltrona e em cada poltrona um homem, a sua esquerda perto da janela estava Jason, seu amigo, jovem, bonito, inteligente, gentil, sorridente, amável, companheiro. Em seu lado direito de costas para a porta dos aposentos estava Snape, o homem que ela tanto dizia odiar, teimoso, chato, intragável, metido, inteligente, corajoso, sim ela admitia, ele era corajoso por fazer o que fazia, o cheiro dele novamente entrou em sua narina, cheiro de ervas, Snape, desagradável, idiota, seco, mal-amado, sua mente divagava, tentava lembrar de todos os defeitos que poderia atribuir, mas sempre no meio dos defeitos lhe vinha algo inesperado, como a análise que fez do rosto dele, de seu corpo coberto pelas vestes negras, o modo empertigado de andar esvoaçando a capa, o charme no modo de agir, a voz que tanto a irritava, mas até aquela voz era de certa forma charmosa. “PARE” ordenou a si mesma. Estava ficando louca em compará-lo com Jason.


           


            Levantou-se com cuidado para não acordar os dois homens. Foi ao lavatório, escovou os dentes e penteava os cabelos com cuidado quanto um vulto parou atrás de si no espelho. Ambos os olhos negros se fitaram por alguns instantes antes dela se virar e passar por ele entrando novamente no quarto.


           


            -Como se sente? – perguntou ele secamente.


           


            -Melhor – respondeu sem olhá-lo nos olhos enquanto se sentava na cama em frente a Jason para acordá-lo. – Jason – disse baixinho ao ouvido dele – acorde, já está de manhã e você precisa dar aulas hoje.


           


O rapaz se ajeitou na poltrona e abriu lentamente os olhos. Sorriu ao ver que ela estava com um semblante mais vivo.


 


-Que horas tem? – perguntou com a típica voz embargada de quem acabara de acordar de uma noite mal dormida.


 


-Cedo, mas você precisa de café da manhã.


 


-Assim como você, certo? – respondeu Jason erguendo os olhos para receber apoio de Snape na afirmativa.


 


-É claro – disse o homem a contragosto – não adianta tomar poções sem se alimentar senhorita. Alias deve tomar a sua poção assim que terminar sua refeição, sem ela você ainda está sujeita aos efeitos remanescentes da poção mal feita no seu organismo.


 


-Ah, sim, claro, obrigada Sr. Snape. – disse ela tentando ser indiferente a ele, ainda não conseguira se esquecer do que ele havia dito na noite passada. Então você pode tomar o café aqui comigo não é? – perguntou para Talavera.


 


-Ah, claro – disse o rapaz sem graça ao perceber o que ela estava fazendo com o outro homem.


 


-Bom, novamente vejo que a senhorita está sendo muito bem cuidada e recebendo muitos paparicos, não quero mimá-la, tenho aulas a dar. – Snape usara seu tom mais irônico. Não deixou tempo para respostas, saiu pela porta batendo-a.


 


-Você devia agradecê-lo.


 


-Pelo que?! – indignou-se.


 


-Por mais uma vez ter salvo a sua vida.


 


-Você o ouviu na noite passada, não faz por que quer.


 


-Não seja tola. Ele já te salvou mais de uma vez, não importa o que ele diga, um homem que passa a noite inteira dormindo no chão de um corredor gelado, que passou outra noite inteira dormindo em uma poltrona nada confortável...           


           


            -Assim como você certo?


           


            -Não seja tola – repetiu Jason se aproximando. A encostou na parede, tocou os lábios dela com os seus por alguns segundo – O que sentiu?


           


            -Ahn... – ela estava confusa, não havia sentido nada para falar a verdade, apenas a surpresa pela belo homem ter lhe dado o beijo casto.


           


            -Nada Vickie, foi isso que você sentiu. Quando é que vocês vão enxergar o que está bem na frente de seus olhos? Você é como uma irmã mais velha para mim. Alguém que parece que conheço de longa data. Linda irmã, mas apenas irmã.


           


            As palavras atingiram o estomago da moça, ele era como Pietro, sua felicidade no fim de um poço de tristeza.


           


            -O que você pensa que está esperando - disse Jason com um sorriso divertido – Corra, vá...


           


            Victoria não esperou que o rapaz terminasse de falar. Correu pelos corredores lançou-se pelas escadas descendo de três em três degraus. Estava quase nas escadas que davam para as masmorras quando alcançou Snape que se virou para olha-la.


 


            -Pesei que você e seu namorado fossem tomar café juntinhos. – a voz dele transparecia nojo.


 


            -Você não entendeu... – disse ela esbaforida, dando mais alguns passos até cegar mais perto dele


 


            -Ora, você não me deve explicações, pode namorar quem você quiser. – disse ele com ódio e desdém na voz


 


            Ela se aproximou ainda mais, centímetros separavam os corpos.


 


            -Você realmente pensou que eu me importava – continuou o bruxo tentando manter o tom de voz, mas parecia impossível.


 


            -Cale a boca Snape – vociferou ela – ou irei calar para você!


 


            -Ora – mas não conseguiu terminar de falar, os lábios doces envolveram os seus, as mãos delicadas porem ávidas, se prenderam ao seu corpo, uma em suas costas e outra por entre seus cabelos negros. A reação dele veio segundos depois, puxou o corpo da moça para mais perto de si, os lábios abrindo caminho pela boca dela, sua língua querendo encontrar a dela, suas mãos deslizaram para a nuca da mulher. Agora sim ela sentia algo, um frio na barriga, uma sensação louca de querer ficar ali por muito tempo, de querer mais, e mais, e mais.


 


            Mas foram interrompidos por passos na escada e vozes de alunos. Victoria sorriu recompondo-se e subiu as escadas correndo deixando o bruxo parado, atormentado.


 


            *Mas dessa vez Snape não ficaria parado como um adolescente idiota, recuperou o folego e subiu atrás dela. Ao chegar no andar porem ela já havia entrado em seus aposentos, caminhou lentamente pelo corredor pensando no que poderia falar. Não estava totalmente consciente ainda.


           


            Achava que a odiava, mas pela segunda vez os lábios dela o fizeram pensar diferente. Achava que ela o odiava e pela segunda vez seus corpos o confundiram. E agora suas pernas confusas faziam o caminho que sua mente lhe dizia ser errado.


 


            Chegou à porta dos aposentos, mas um som o parou, a risada espontânea e bela de Victoria. E logo depois foi tomado por um ódio supremo ao ouvir a voz da moça através da porta:


 


            -Pare com isso Jason – mais risos – não faça assim – mais e mais risinhos.


 


            Snape segurava inconscientemente sua varinha, as mãos tremiam de ódio, os dentes estavam trincados, seu coração doía arrancando um gemido baixo de sua garganta. Seus olhos brilhavam de uma maneira esquisita e maníaca. Lembrou-se de Lily, ela e Potter se agarrando nos corredores ao sétimo ano. Eram iguais, ele era igual, igual ao maldito Potter. Queria entrar lá e matá-lo, a mais primitiva das fúrias, o mais primitivo dos sentimentos, ciúmes. Mas ele se conteve, virou as costas e saiu em direção as masmorras, contendo as pernas para que nenhum aluno o visse e somente quando teve certeza de que não seria visto, correu, correu com toda a velocidade que podia imprimir. Fechou a porta atrás de si e gritou, gritou com todo ódio que conseguiu encontrar em seu peito.


 

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