Sinceridade em uma noite fria.

“É, morena, tá tudo bem

 

Sereno é quem tem

 

A paz de estar em par com Deus

 

Pode rir agora

 

Que o fio da maldade se enrola” .

 

Estava sendo um dia difícil...

 

            A pouco eles tinham enfrentado e escapado de dois comensais da morte em um bar que se encontrava na rua trouxa Tottenhan Court. Aparataram até o largo Grimmauld na última esperança de encontrar um lugar seguro para passar a noite.

 

            Os feitiços que a ordem tinha imposto sobre a casa funcionavam afinal, não havia presença humana no lugar.

 

            Eles tinham acabado de receber uma mensagem através do Patrono do Sr. Wesley. A família de Rony estava sendo vigiada, mas ao menos estava à salvo.

 

            Rony e Hermione estavam sentados no sofá da sala de estar do largo Grimmauld. Harry estava no banheiro.

 

            - Ai... – sussurrou Rony enquanto levava a mão até seu joelho, onde sem querer, na tentativa de cortar as cordas que lhe prendiam a pouco, Hermione havia feito um corte fundo.

 

            - Rony... ah... me desculpe... – disse Hermione enquanto se esgueirava sobre o joelho dele, tentando ver melhor o ferimento. – Está doendo muito?

 

            - Um pouco – ele suspirou se recostando no sofá e a encarando. – Mas vai parar logo.

 

            - Tudo bem, eu posso concertar isso – ela disse enquanto pegava ao seu lado a bolsinha de contas. – Aqui. Ditamno –  e mostrou a ele o frasco fechado contendo a essência.

 

            - Ah! É claro... você é um gênio Mione! – disse Rony abrindo um amplo sorriso.

 

            Ela colocou o frasco ao seu lado e continuou procurando algo na bolsinha de contas.

 

            - Vou levar a escova de dentes do Harry para ele –  disse Hermione se levantando com a escova entre os dedos. – Já volto.

 

            Rony observou a garota sair do recinto e pegou o frasco recostado em sua perna. O olhou atentamente. Em seguida o abriu e inspirou o conteúdo. Não tinha nenhum odor específico, era como água suja, apenas um leve cheiro que formigava as narinas.

 

            Ainda com o Ditamno na mão, levou seu olhar até a bolsinha de contas um pouco aberta em cima do braço do sofá.

 

            - Pronto Rony – ele ouviu a voz de Hermione invadir o aposento -, podemos colocar o Ditamno no seu corte.

 

            Ele a olhou.

 

            - Aqui, eu já abri.

 

            Ela se sentou, pegou o frasco da mão do ruivo e com muito cuidado respingou gotas do líquido no joelho dele.

 

            Eles ficaram observando o corte ir cicatrizando aos poucos. Hermione repôs o frasco na bolsinha de contas e se recostou no sofá assim como Rony.

 

            - Está melhor? – perguntou ao garoto.

 

            - Muito melhor... – ele disse observando a janela e a pequena iluminação que adentrava a sala de estar através da pequena fresta entre as cortinas.

 

            Ouviu Hermione rir um pouco.

 

            - O que foi? – Ele voltou sua atenção para ela e perguntou um pouco confuso, sem saber o motivo do riso da menina.

 

            - Estou pensando... apenas. – Seu riso se extinguiu. – Como foram difíceis esses últimos momentos... É irônico pensar que a bem pouco tempo estávamos em uma festa de casamento...

 

            - Ah... é mesmo... – concordou Rony. – Só não é engraçado por que é trágico.

 

            - É... – Ela olhava triste para a porta de entrada da sala.

 

            - Não fique assim Mione... – Ele envolveu com seu braço os ombros da morena. – Pode rir agora, a maldade está lá fora... por enquanto estaremos bem aqui. Temos um ao outro... não se esqueça.

 

            Ela o encarou. Ele deu um leve aperto em seu ombro.

 

            - Eles não tem amigos fiéis. Não tem o que temos. – Ele terminou com um pequeno sorriso nos lábios, sendo espelhado no leve sorriso que Hermione também exibia.

 

 

 

“Pra nós, todo o amor do mundo

 

Pra eles, o outro lado

 

Eu digo mal me quer

 

Ninguém escapa o peso de viver assim

 

Ser assim, eu não...

 

Prefiro assim com você

 

Juntinho, sem caber de imaginar

 

Até o fim raiar”.

 

            Ouviram a porta do banheiro ao fim do corredor bater, e uns segundos mais tarde quando Harry entrou pela sala, Rony retirou seu braço de cima dos ombros de Hermione.

 

            Ela se levantou.

 

            - Vou arrumar os sacos de dormir aqui ao lado do sofá – disse enquanto mais uma vez revirava a bolsinha de contas.

 

            Eles a ajudaram a por os sacos de dormir um ao lado do outro.

 

            - Hermione, coloque essas almofadas no seu saco de dormir – sugeriu Rony segurando uma das almofadas que estavam sobre o sofá.

 

            Ela o olhou pensativa e Harry o olhou com uma expressão abobada no rosto. Com certeza o moreno pensava que o amigo devia estar se lembrando de mais um capítulo do livro que lhe dera de aniversário... “Doze maneiras infalíveis de encantar bruxas”.

 

            - Sério Mione – insistiu Rony -, vamos, eu coloco pra você – e terminando a frase, ele começou a por as almofadas no chão sobre o saco de dormir para que a morena pudesse ter uma noite de sono mais confortável.

 

            Logo após terminarem de arrumar tudo, Rony com seu desiluminador apagou a única luz que sobressaltava na penumbra da sala e eles se deitaram.

 

            Por minutos ele só ouviu o chiar da noite fria lá fora, o barulho da respiração de Harry que estava ao seu lado esquerdo, e a de Hermione que estava ao seu lado direito, ao lado do sofá. Ela estava levemente mais alta que ele devido às almofadas que estavam abaixo dela.

 

            Rony observava atentamente os contornos da menina, a cor de seu cabelo castanho já era visível à sua visão que começava a se acostumar com a escuridão. Ela também estava virada para ele, mas os olhos fechados denunciavam que ela já poderia estar dormindo.

 

            Ele ficou quieto, se contendo em admirar um pouco o rosto da menina, tão limpo de maldade...

 

            - Ron... – sussurrou Hermione de repente abrindo bem devagar os olhos. O coração do ruivo deu um leve salto.

 

            - Oi... – ele também sussurrou em resposta – achei que você já estivesse dormindo...

 

            - Ah não – ela o mirava atentamente –, não estou conseguindo dormir...

 

            - Eu também... – disse. – Na verdade ainda não fiz esforço.

 

            Ela sorriu.

 

            - Estava me olhando?

 

            Ele se sentiu corar. Felizmente o escuro não deixaria o tom rosado aparecer sobre suas pequenas sardas no rosto.

 

            - Estava... – Com mais um pequeno salto no peito retirou coragem de algum lugar e lhe respondeu.

 

            Ela sorriu mais ainda.

 

            - Que bom... – ela disse e em seguida suspirou fechando o sorriso.

 

            Rony sentiu sua mão caída sobre o chão empoeirado ser tocada pela de Hermione.

 

            - Não posso negar que estou com medo do que está por vir – ela disse assim que completou o toque.

 

            Ele demorou um pouco a responder.

 

            - Não podemos escapar do peso de viver assim... – disse Rony finalmente enquanto entrelaçava seus dedos aos dedos da menina. – Nós precisamos enfrentar tudo isso – terminou com um suspiro.

 

            - Eu sei...

 

            - Também não posso negar que estou com medo... – continuou falando em sussurros. – Ainda mais agora, com minha família sendo vigiada tão de perto...

 

            - Não pense nisso, eles ficarão bem – ela logo sussurrou também. – A ordem está com eles.

 

            - Sim, eu sei... – O ruivo vacilou.

 

            As mãos se apertaram mais.

 

            - Eu te amo – ela disse com a voz completamente abafada.

 

            Ele sentiu seu coração palpitar mais forte que em qualquer momento que já vivera.

 

            - Eu também – respondeu.

 

            Silêncio.

 

            - É por isso que nosso medo deve ser superado. – Ele resolveu quebrar qualquer clima.

 

            Mais silêncio.

 

            - Vamos dormir... quem sabe em nossos sonhos vá raiar um amanhecer com um fim feliz – ela disse fechando os olhos enquanto o ruivo também os fechava e ficava a contemplar o calor da mão da morena entrelaçada à dele.

 

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