Vida estável



Desde que terminara Hogwarts, Hermione vivia entre os trouxas, isso porque ela não agüentara mais viver em meio àquela guerra em que se encontrava a população bruxa há anos atrás. Apesar de ter sido uma das mais corajosas guerreiras durante seu sexto e sétimo anos, ao concluir seus estudos decidiu finalmente ceder à pressão de seus pais e voltar para casa, onde estava muito mais segura. Além da pressão dos pais, o fato de não agüentar ver Harry participar das mais terríveis batalhas sem poder ajudá-lo sempre era frustrante demais.

Já fazia seis anos que Hermione abandonara de vez sua vida como bruxa, ela já havia se formado em administração de empresas numa reconhecida faculdade trouxa, trabalhava numa renomada companhia e namorava o filho de um de seus donos, John, que era bastante famoso por ser um rico solteiro, muito cobiçado em Londres...

“Ah não! Segundo meus cálculos a gente vai fechar no vermelho de novo! É o segundo mês consecutivo!” – lamentou Hermione enquanto terminava de preencher um gráfico no computador de sua sala.

“Relaxa, isso é fruto dos grandes investimentos, aposto que mês que vem a gente lucra o suficiente pra cobrir essas despesas!” – disse Haley, que alem de colega de trabalho era uma grande amiga de Hermione, elas haviam estudado juntas na faculdade e confiavam bastante uma na outra.

“Senhorita Granger, vejo que a senhorita está vestindo a camisa da empresa, já se preocupa com o faturamento e tudo!”. – elogiou George, um dos donos da companhia, ele passava por lá naquele momento.

“Eu só sei trabalhar assim, senhor”. – disse Hermione, que falava a verdade, afinal sempre fora assim, gostava de fazer as coisas da melhor maneira possível.

“Puxando um saco de chefe, hein!”. – disse John que decidiu ir até a sala da namorada para conversar. John era muito bonito, tinha olhos azuis, cabelo castanho escuro e estatura mediana. Suas sobrancelhas eram grossas e isso fazia Hermione se lembrar de Vitor Krum, seu primeiro namoradinho.

“Ela é que ta certa, soube que o seu nome é o mais cotado para assumir o cargo da Rose”. – disse Haley, que trabalhava na sala ao lado.

“Aquela senhora que está se aposentando? Sério mesmo amor?” – empolgou-se John.

“Claro que não! Não tenho certeza de nada ainda, é só uma remota possibilidade”. – disse Hermione modesta – “Aliás, nem sei se devo aceitar o cargo”.

“Como não sabe? Deixa de ser idiota, Hermione!”. – disse John – “Esse cargo é tudo ao que você aspira!”.

“Ah, mas você sabe, sempre tem gente que acha que eu não subo de cargo pro competência própria”.

“Ah, não acredito que você se importa com esses idiotas! O fato de você ser minha namorada não influencia na sua colocação aqui, amor. Você sabe disso!” – disse John, Hermione adorava quando ele falava assim dela.

“Ta, depois a gente discute isso, vou terminar o gráfico senão vou me atrasar para o almoço”. – disse a moça que não gostava de perder tempo com conversas enquanto trabalhava.

“Almoço?”. – indagou Haley.

“O senhor George me chamou para almoçar com ele, disse que quer falar sobre negócios”.

“E ela ainda tem dúvida sobre o cargo!”. – disse Haley enquanto John se despedia para voltar ao setor em que trabalhava, na empresa.

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“Granger, eu acredito que você saiba o motivo desse almoço”. – começou o senhor George, que dividia uma mesa do refeitório com Hermione.

“Ahm, na verdade não sei não, senhor!”. – disse a moça apesar de desconfiar que seria promovida.

“Bom, eu gostaria muito que você assumisse o cargo da Rose, você é uma das poucas funcionárias que apresenta o currículo tão completo, até o curso de logística que é relativamente novo você tem”.

“Bom, eu gosto de estar sempre atualizada na minha área”. – disse Hermione que não escondia de ninguém seu perfeccionismo.

“Mas então, você aceita o cargo, certo?”.

“Claro!”.

“Ótimo. Eu só tenho uma ressalva antes que você comece”.

“Pode dizer”. – disse Hermione esperando que ele dissesse algo sobre o fato de ela namorar um dos donos da empresa, mas enganou-se.

“Bem, eu estive observando seu histórico e notei que faltam alguns documentos a respeito da conclusão do ensino médio, não que eu esteja duvidando que você o tenha cursado, mas eu preciso dos documentos”.

“Mas me disseram que não seria necessário quando eu entrei na empresa, é que eu estudei em um colégio muito distante e não fui na cerimônia para receber o diploma...”. – disse Hermione se lembrando de Hogwarts, não pensava que algum dia tais diplomas fariam falta.

“Bem, não era necessário porque nosso antigo acionista majoritário era menos chato do que eu. Eu prefiro ter toda a documentação em dia”.

“Está certo, se é tão necessário eu posso dar um jeito de buscar meu diploma!”.

“Ótimo! Você pode fazer isso na sua semana de férias”.

“Eu tenho uma semana de férias?”.

“Ah sim, estamos te devendo férias, senhorita Granger. Elas começam amanhã mesmo!”. – Hermione notou o quão chato George realmente era, não queria nem pagar as férias pra ela, e sim obrigá-la a tirá-las.

“Certo”. – disse ainda que a contra gosto.

“Então estamos conversados?”.

“Sim senhor!”.

Eles terminaram os almoços e quando Hermione voltou para sua sala, sofreu logo um interrogatório:

“E aí? Já podemos te chamar de chefinha?” – perguntou Haley animada.

“Pode! Eu começo no cargo semana que vem!” – disse Hermione empolgada.

“Ah, parabéns amor!” – disse John.

“É, vai ser ótimo trabalhar do seu lado!”. – disse Hermione feliz.

“Olha, cuidado pra essa aproximação não afetar o trabalho de vocês!” – disse Sandra, a mulher que servia café e que costumava dar suas opiniões sempre, até mesmo quando ela não era requisitada.

“Relaxa, a Hermione jamais deixaria isso acontecer!” – disse Haley.

“A Hermione tem sangue frio, né amor?”. – disse John, fazendo Hermione estremecer, lembrou-se inevitavelmente de quando era chamada de sangue-ruim.

“É preciso!” – disse Hermione depois de hesitar por um tempinho. – “Alias, preciso terminar as projeções do mês que vem, e você devia voltar pro seu setor John”.

“Expulso na cara dura!” – ele se lamentou, mas Hermione não falou nada para se desculpar – “Bem, eu to indo. Eu te pego às nove, Mi. Temos que comemorar a sua promoção!”.

“Ta bom, amor. Estarei te esperando!”.

“Ah o que são vocês? O casal mais perfeito que eu conheço, sério mesmo!” – disse Haley. “Aposto que esse jantar de hoje vai ser algo a mais que um simples jantar!”.

“Ai Haley, você acha demais” – disse Hermione rindo da expectativa da amiga, que às vezes era ainda maior que a dela própria.

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“Você está simplesmente... Linda!” – disse John admirando a namorada que usava um vestido preto de alcinha que ia até o joelho e cujo tecido era propositalmente amassado, proporcionando um caimento ótimo no corpo esguio da moça.

“Isso tudo é exclusivamente pra te agradar!” – ela disse antes de beijá-lo.

“Atingiu seu objetivo então!” – ele disse observando-a – “Agora vamos que a limusine está a nossa espera”.

“Ah, você sabe que eu não gosto de sair de limusine! Aposto que algum paparazzo vai nos seguir”.

“Que sigam! Eu estou feliz demais pra me preocupar hoje!”.

“Louco!” ela disse acompanhando-o até o automóvel, foram a um restaurante chique e muito bem freqüentado, não muito longe da casa da moça, que foi o caminho todo prestando atenção se alguém os seguia. Ela odiava ser perseguida e isso vinha se tornando cada vez mais freqüente já que desde que começara a namorar John, há onze meses. Ele não se importava muito com isso, talvez porque já estivesse acostumado ou talvez porque realmente gostasse de aparecer.

Chegando ao restaurante, escolheram uma mesa para fumantes, hábito que Hermione odiava nele, foi ela quem começou o assunto:

“Amor, a partir de amanhã vou ter que me ausentar por uns dois dias”.

“Ah, é? E eu posso saber o porque?”.

“O George me deu férias contra a vontade. Ele é mais metódico do que eu pensava!”.

“Foi o que eu disse pro meu pai, mas ele vendeu as ações mesmo assim... E a senhora vai viajar pra onde sem mim, posso saber?”.

“Ah, é pra cidadezinha onde eu me formei, como eu ia dizendo, o chato do seu sócio pediu pra eu buscar meu diploma de conclusão do ensino médio”.

“Interessante. Eu adoraria ir com você, amor! Vou falar com o meu pai pra ver se posso pegar uns dias pra te acompanhar”.

“Não! Não é necessário. Mesmo”. – ela disse instintivamente num tom firme e só depois acalmando. Afinal, ele nem desconfiava que ela era uma bruxa e nem pretendia que ele descobrisse.

“Você não quer que eu vá?”.

“Bom, não que eu não queira, é que vai ser cansativo pra você. Minha cidade é muito monótona, não tem nada pra fazer... E eu não sei quanto tempo vou ter que esperar pra conseguir meu diploma, não sei nem se ele ainda existe”. – ela inventou desculpas que soassem bem convincentes e passassem uma impressão de que o local para o qual ela ia era bem chato, para que assim ele desistisse de acompanhá-la.

“Ok, Granger. Já vi que não quer minha companhia. Tudo bem então!”.

“Ah deixa de ser doceiro!” – segunda coisa que Hermione mais odiava nele, o doce. Ele costumava se fazer de coitadinho para que ela o consolasse, coisa que ela nunca fazia. O jantar transcorreu normalmente, pediram uma salada, depois o prato principal. Tudo com um ótimo vinho para beber. Quando estavam esperando pela sobremesa, Hermione, que era muito observadora, o que herdara da época em que participava das batalhas contra Voldemort, notou que o restaurante estava esvaziando aos poucos.

“Talvez devamos ir embora” – ela disse ao namorado. – “Acho que eles vão fechar o local, ta todo mundo indo embora”.

“É acho que sim, vou pedir a conta!”. – disse John que se levantou para pedir a conta, coisa que Hermione estranhou, porque era muito mais fácil pedir ao garçom.

Enquanto isso uma banda se posicionou e as luzes baixaram, ao olhar a sua volta, Hermione notou que não tinha mais ninguém alem dela mesma no restaurante. “O que ta acontecendo aqui?” – pensou enquanto se levantava.

De repente a banda começou a tocar “I don´t wanna miss a thing”, do Aerosmith. ”É a nossa música” – pensou a moça enquanto passava os olhos pelo restaurante a procura de John, que surgiu no meio da banda, em um palco pequeno localizado próximo a entrada do estabelecimento.

“I could stay awake just to hear you breathing

Watch you smile while you are sleeping

While you're far away dreaming

I could spend my life in this sweet surrender

I could stay lost in this moment forever

Every moment spent with you is a moment I treasure”

“O que você está fazendo aí?” – perguntou, mas ele apenas sorriu em resposta, então a música parou e ele começou a falar enquanto se aproximava dela com uma caixinha pequena em mãos:

“Hermione, desde que eu te conheci a minha via mudou completamente, eu descobri que o amor pode ser eterno e exclusivo. Descobri o quanto é bom estar com quem se gosta e também que eu não sou absolutamente nada sem você. Eu posso te afirmar com toda a certeza do mundo que eu te amo, e amo mais do que eu já amei qualquer outra. Eu quero você do meu lado pra sempre, pois tenho certeza que só assim conseguirei ser feliz! Você aceita se casar comigo?”.

“Ah... John! Que coisa linda! É claro que eu aceito!”. – foi tudo o que ela conseguiu dizer, a musica voltou a tocar:

“Don't want to close my eyes

I don't want to fall asleep

Cause I'd miss you baby

And I don't want to miss a thing

Cause even when I dream of you

The sweetest dream will never do

I'd still miss you baby

And I don't want to miss a thing”

Ele se ajopelhou diante dela e colocou a aliança em seu dedo, que de tão emocionada com a surpresa deixava escorrer lágrimas. A aliança era a jóia mais bela e provavelmente a mais cara que Hermione já vira. De ouro branco e brilhantes, era discreta e lindíssima, bem como a mulher que a usava, no ponto de vista de John.

Eles se aproximaram mais e ele deu-lhe um beijo de cinema, em seguida a tirou para dançar. Aquela música trazia excelentes recordações dobre o relacionamento deles. Ela lembrou-se do dia em que se conheceram, fora em uma discoteca. Ele chegou querendo beijá-la e recebeu um fora. Coisa raríssima de acontecer com ele, tão cobiçado que era. E foi isso que fez a simples atração que ele sentira por aquela moça bonita se tornar uma obsessão. Seguiu-a até o fim da noite e tudo o que conseguiu foi um número de telefone. Errado...

“Lying close to you feeling your heart beating

And I'm wondering what you're dreaming

Wondering if it's me you're seeing

Then I kiss your eyes

And thank God we're together

I just want to stay with you in this moment forever

Forever and ever”

A grande coincidência veio dias depois quando ela foi a mais nova contratada da empresa do pai dele, aí eles finalmente conversaram, e ele conseguiu o que queria, conquistou-a. O estranho é que depois disso não quis mais saber de outra mulher, fato inédito pra quem ficava com tantas quantas aparecessem. Ele pediu-a em namoro ao som daquela música. Naquele momento eles a ouviam no carro enquanto ele ia deixá-la em casa. Desde então tal musica tornara-se o tema romântico do casal.

“I don't want to miss one smile

I don't want to miss one kiss

I just want to be with you

Right here with you, just like this

I just want to hold you close

Feel your heart so close to mine

And just stay here in this moment

For all the rest of time”

Quando a musica acabou eles foram embora, a limusine estava na porta a espera deles. “Eu te amo Hermione pra sempre!” – ele disse.

“Eu também te amo” – ela disse com um sorriso – “Mas não diga pra sempre, você nunca sabe o dia de amanhã”.

“Ah, para! Sabia que eu amo até esse seu jeito frio?” – ele disse beijando-a.

Ela separou-se dele para se explicar “Não que eu seja fria, só que esse tipo de juramento deu azar há um tempo atrás... E eu não quero que nada dê azar pra nós!”.

“Então ta bom” – antes que ele se separasse dela viram um flash alto na frente de ambos, era um dos paparazzo...

“Agora amanhã todos saberão do nosso casamento”. – lamentou ela.

“Que saibam!” – ele nunca se importava com a superexposição – “Eu adorarei confirmar que sou noivo da mulher mais linda do mundo!”.

“Ah, eu já disse que te amo?”.

“Não me importo em ouvir!” – eles chegaram na casa dela – “Tem certeza que não quer ir pro meu apê?”.

“Não hoje, amanhã eu quero acordar cedo pra ir buscar o meu diploma. Quero resolver isso logo, amor, assim eu volto bem depressa”.

“Eu vou morrer de saudades!” – ele disse antes de dar-lhe um último beijo.

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