Noite Escura
Noite escura
Minhas pupilas se dilatavam para tentar distinguir tantos vultos naquela noite, estranhamente, mais escura que qualquer outra que eu me lembre. A lua, que por algum motivo, talvez um feitiço, não brilhava tanto, era a única espectadora daquela batalha mortal entre o bem e o mal. Participavam elfos, dementadores, gigantes, centauros, duendes, acromântulas, humanos e Ele- não posso classificá-lo como da minha espécie, pois nunca pensei nele como um homem- o Lord das Trevas. A guerra havia começado.
Os feixes de luzes coloridas que vinham das varinhas, embora trouxessem luz à obscuridade, eram temidos uma vez que traziam dor. Morte.
Eu sentia o temor percorrer, lado a lado com a adrenalina, cada veia do meu corpo. Talvez se eu fosse mais jovem esse medo me paralisasse, mas viver toda a adolescência como melhor amiga de Harry Potter me acostumou ao perigo. Além disso, essa guerra já teve várias batalhas onde perdemos desde reles elfos domésticos até o bruxo mais brilhante que o mundo já viu: o diretor no qual encontrei o avô que não pude conhecer; o medo de ver mais 'irmãos' morrerem sem que eu possa fazer nada era muito maior que o de minha própria morte.
Harry tinha acabado de sair dos braços de Hagrid. Estava vivo. A esperança da vitória e a coragem para atingi-la invadiram meu coração.
_Fogo do Inferno!-gritei após erguer a varinha para a serpente envolta em Voldemort. A cobra incendiada enroscava-se no chão. Definhava.
Voldemort com um urro de raiva demonstrou que percebera: seu inimigo, mais uma vez, sobreviveu ao Avada kedavra e a última horcrux estava morta. Ele não tinha mais nada a perder.
Enquanto Lucius e Draco controlavam o fogo, ainda podia ouvir a voz de Harry ecoando alto_ Voltem para o castelo_ e a de MacGonagal ao longe_ Façam o que ele manda. Vamos!
Eu estava mais próxima de Voldemort, entre nós jazia o corpo de Nagini. As gárgulas que guardavam os portões de Hogwarts me pareciam mais distantes do que realmente eram, mas mesmo assim comecei a correr.
_Peguem a sangue-ruim!-uma pedra de gelo desceu pela minha espinha ao ouvir a ordem do Lord- o Potter jamais abandona seus amigos- as palavras saíram entre risos de desprezo.
Os feitiços eram bloqueados pelos protegos que consegui lançar. Mas eram muitos, um deles atingiu meu braço de raspão. Mais sangue caindo na neve. ‘Corra Hermione, corra’ era a única coisa que eu conseguia pensar.
Repentinamente, Fenrir Greyback surgiu na minha frente. A bocarra aberta, assustadora. Dentes e pêlos sujos de sangue. Ele estava entre mim e os portões, não havia como entrar sem enfrentá-lo.
_ Estupefaça!-tentei retirá-lo do caminho, mas não adiantou, ele só voltou alguns passos, percebi que um feitiço estuporante não atinge direito o couro de um lobisomem.
As azarações dos comensais não chegavam às paredes de pedra da escola ou, se atingiam, eram fracas de mais para provocar danos. Como se existisse uma barreira invisível que os bloqueava.
Seguindo minhas pernas, que naquele momento não esperavam pelo comando do cérebro para se locomover, mudei de direção. Queria qualquer lugar desde que longe do lobo faminto por mortes. Péssima escolha. A floresta proibida ergueu-se a minha frente. Qual fim seria pior?
_Deixem a sangue-sujo para mim!-até os olhos de Bellatrix sorriram, prazerosos, diante da idéia de dar aulas práticas sobre a dor que um crucio pode provocar numa nascida trouxa. Porém, seu riso só durou até ouvir:
_Volte Bella. Você e Lucius vão arranjar uma forma de entrar no castelo. Permita que Greyback se divirta um pouco. - disse Voldemort à Bellatrix e depois ao lobisomem- Mas não a mate. Há a possibilidade de ainda precisarmos dela viva, se não entrarmos, vamos trocá-la pelo Potter!
Diante dessas palavras, eu preferi a floresta. Talvez lá eu conseguisse despistar meu algoz.
Ao chegar à floresta logo fui abraçada por uma escuridão mais intensa, pois a luz lunar não transpassava a copa das árvores centenárias. Quanto mais fundo entrava, mais os gritos ficavam para trás. No entanto, cada vez mais perto, eu escutava as passadas e os uivos de Fenrir. Ele era muito mais rápido que eu e dessa vez não tinha Bicuço para lutar conta o lobo por mim.
Eu não agüentava mais correr. A fera logo me alcançaria. Parei ofegante, apoiando as costas numa grande árvore. A varinha em punho.
_Não adianta se esconder, menina, eu ainda sinto o seu cheiro, - o lobo aspirou profundamente o ar- e que cheiro. Meio criança e meio adulta, uma bruxa quase trouxa. Uma mistura realmente saborosa!- disse em voz alta seguida de um uivo que assustou as corujas que fugiram dos galhos.
Ele correu e saltando várias raízes chegou até mim. Tentei escapar, mas as garras me seguraram pelo pulso e pela cintura e fui jogada contra um tronco de árvore. Minha varinha caiu.
_Talvez você-sabe-quem já tenha matado o Potter e não precise de você viva!- sibilou, com as garras comprimindo o meu pescoço.
Ao longe, ouvi uma voz conhecida, mas não sabia dizer com certeza a quem ela pertencia. Só percebi o que havia dito depois de ver a face de Fenrir ir da confiança e sadismo a um olhar desfocado e sem vida. Outra vítima do Avada Kedavra.
Com a varinha ainda em punho, ele caminhou em passos rápidos e decididos até onde eu estava. A ventania que agitava suas vestes negras e cabelos parecia não ter efeito na expressão indecifrável do seu rosto. No entanto, ao chegar mais perto, notei que aqueles olhos de um cinza intenso, como a cor das nuvens que anunciam a tempestade, pareciam ter medo.
O olhar de Draco foi a ultima coisa que vi antes de desmaiar.
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