Caraminholas na cabeça
A complicação com o carro se mostrou um problema maior do que eles imaginaram. Estavam sem as malas e com elas os utensílios que tanto precisavam. Harry e Gina não tinham muito dinheiro e o céu estava se tornando mais escuro. Não tinham ideia do que fazer em relação ao problema de onde dormir, o cansaço os tomava por completo.
- E quanto àquelas moedas falsas? - Gina bocejou – Eu sei que não seria muito honesto, mas é nossa única opção. – Acrescentou ao ver um sorriso de Harry.
- Entendo seus motivos, não se preocupe. Mas o problema é que não tenho mais, eu as dei para aquele ladrãozinho e as que sobraram... - ele falou timidamente – Eu já usei na lanchonete. – Gina o olhou surpresa – Eu estava com fome e aquela atendente foi horrível com a gente, dizendo que se não comêssemos nada era melhor sair.
- Tudo bem Harry, foi por uma boa causa. – ela riu, em seguida pegou o rosto dele para examinar o olho roxo – Hum... Ainda está um pouco inchado. Acho melhor a gente encontrar algum lugar para eu cuidar disso.
- É eu sei, mas o problema é onde. E a sua cabeça ainda dói?
- Não muito, é só uma leve pressão, mas logo vai passar.
Harry sorriu para a garota ao tocar seu rosto. Definitivamente essa seria uma longa noite. Não tinham para onde ir e acabaram ficando um tempo em uma praça. Harry se sentia muito mal por ter que fazer Gina passar por uma situação dessas, mas apesar dos pesares, pelo menos não estava mais brigado com ela. Revezou a vigia do sono, Harry se ofereceu para ficar acordado a noite toda, mas Gina se recusou a aceitar essa proposta e disse que se ele continuasse a insistir ele adormeceria rapidamente e nem iria descobrir o que o acertou.
A noite foi bem dolorosa, quando acordaram as costas de ambos estavam muito doloridas. Harry esfregou os olhos e se deparou com uma mulher que lhe entregou umas moedas.
- Senhora...
- Ah não meu jovem, aprendi a sempre ser caridosa.
A mulher se afastou. Gina segurava o riso. Harry se virou para a garota jogando as moedas para o ar.
- Bom, pelo menos vamos ter café-da-manhã. Já volto.
Harry já estava quase na entrada da lanchonete quando ouviu uma voz muito familiar. Era uma voz bem engraçada e o seu dono falava exagerando no “r” e no “s”. Ele se aproximou e avistou Elius falando com um casal com seu jeito cínico, ao lado dele estava o carro roubado. Harry mal acreditava em sua sorte, aproximou devagar pelas costas do tratante.
- Então como eu disse aos senhores, posso lhes vender esse colar por um preço muito razoável.
- É um belo colar, não acham? - Harry falou, Elius levou um grande susto e se virou com um sorriso amedrontado. – Pena que não seja verdadeiro, desculpe.
O casal se afastou de ambos. Harry pegou Elius pela gola da camisa.
- Então, meu grande amigo, nos encontramos novamente. Não imagina o que tive que passar por causa da sua travessura. – a cada palavra que dizia Harry apertava mais a gola.
- Eu... Eu... São negócios, eu tenho que me virar de algum jeito – Elius estava apavorado.
- Que comovente. Uma coisa me intriga, depois de me roubar por que não se mandou?
- Seria uma boa ideia. Quem sabe eu não possa ir? - ele não tirava seu cinismo.
- Sinto informar que não vai rolar. Você me prejudicou bastante.
- Olha, eu sinto muito. Não pude evitar, eu prometo que recompenso. – Elius estava aos prantos.
- Estou com pressa e infelizmente você não será tratado como deve. Porém...- Harry deu um sorriso maléfico – Preciso de um favor.
- O que o senhor desejar.
- Está vendo aqueles caras ali? - Harry apontou os responsáveis pelo seu olho roxo – Eu quero que você entregue um bilhete a eles.
- Somente isso senhor? – Elius o olho desconfiado.
- Só isso. – Harry pegou um pedaço de papel e escreveu algo entregando em seguida a Elius – A propósito irei verificar se não falta nada no carro, é bom que esteja em ordem.
Elius saiu aos tropeços, Harry o avistando de longe. Quando ele chegou aos garotos entregou-lhes a carta. Harry só viu o bando de brutamontes avançarem em Elius.
Gina mal acreditava quando Harry lhe disse a grande notícia. Agora a viagem estava melhorando e ainda faltava um dia para o encontro de Gina e Toby Scott. Parecia que tudo contribuía para a alegria de ambos, a única coisa que ficou faltando no carro foi o CD de Gina. Apesar de todas as palavras um tanto mal educadas que disse, seu astral estava dos melhores. Pararam em uma vila para abastecer o carro e pedir informações.
- Monty fica à apenas duas horas daqui. – informou um atendente em um posto – Essa semana foi bem turbulenta. Eu perdi a conta de quantas pessoas eu vi com esse destino.
- Obrigado. – Harry pagou ao homem.
Gina que estava distraída parou para prestar atenção em um bar. Ele estava todo decorado.
- O que é que tem naquele lugar ali? - Harry e o homem se viraram para o local.
- Ah é que hoje terá uma festa, aniversário da vila. – o homem falava orgulhoso.
- Uma festa? Legal. E pode ir qualquer um? - Harry estava sem entender.
- Gina, esqueceu que amanhã você tem que estar em Monty?
- Claro que não, acontece que tenho que estar lá somente às dez dá pra chegar a tempo. – ela sorriu – Então podemos participar da sua festa?
- Com toda a certeza!- o homem disse – Agora, se me permitem, tenho que adiantar uns serviços para poder ir à festa.
Harry continuava a encarar Gina incrédulo.
- Poderia me explicar?
- Achei que você queria se divertir, só mudei um pouco os planos. - ele pareceu considerar.
- Ótima ideia.
A festa estava muito animada e barulhenta. Era engraçado ver toda aquela gente dançando, principalmente por estarem fantasiadas, e o que parecia contar era estar o mais ridículo possível. Eles se sentiram um pouco estranhos no princípio, mas foi fácil se aconchegar, eram pessoas fantásticas. Por serem novidade, chamavam atenção. Bastou só umas horas para todo mundo saber seus nomes. Eles se encostaram ao bar para conversar. Logo uma mulher muito grande apareceu.
- Gina, querida, não se importa se eu tirar seu Harry para dançar? - ela estava completamente bêbada.
- Fique à vontade. – Gina riu e empurrou um relutante Harry.
Parecia que todas as mulheres da festa queriam puxar o garoto para dançar. Ele perdeu a conta de quantas vezes aparecia um par diferente. Ele era bem desengonçado, porém não se importou, aquelas pessoas eram muito divertidas de se conviver. Muitas vezes ele procurou Gina, mas era bem difícil alcançá-la. Quando finalmente conseguiu, a garota parecia estranha. Estava rindo mais que o normal e sua face estava bem vermelha.
- Ah Harry, oi... – ela o abraçou – Que bom que você apareceu. Jack estava contando uma piada demais. – ela se acabava de rir. Harry a segurou quando ela indicou cair.
- O que houve com ela? - ele perguntou ao homem que estava ao seu lado.
- Ela bebeu um pouquinho. – o homem falou sem graça.
- Ei, não me delate Jack. Foi somente um gole.
- E eu estou vendo o efeito desse gole. Acho que já vamos.
- Não Harry. Vamos ficar só mais um pouquinho.
- Gina está muito tarde. Você tem que acordar cedo. E já deu né?
- Lembrei, eu tenho um encontro com Toby Scott. – ela falou bem alto.
- Isso mesmo, se não quiser perder a hora vamos dormir. – Harry a ajudou a se apoiar.
- Eu sei andar sozinha. – ela se desvencilhou dos braços de Harry, ao dar um passo cambaleou.
- Nada disso moça. Dessa vez eu te ajudo.
Ele a carregou no colo, Gina não fez protesto nenhum, pelo contrário se acomodou encostando a cabeça no pescoço de Harry. Quando eles chegaram ao quarto Harry a colocou lentamente na cama, ao embrulhar a garota, ela o puxou.
- Não vai, fica mais um pouco.
- Eu não vou a lugar nenhum. – ele acariciou seu cabelo.
- Então deita aqui comigo.
Harry estava um pouco sem jeito, mas aceitou a proposta. Deitou-se ao lado de Gina. Ela se aproximou mais, seu rosto estava bem próximo ao do Harry.
- Você consegue ser bem mais bonito olhando assim de perto.
Ela desenhou o rosto de Harry com os dedos, demorou um pouco ao chegar a boca. A respiração de Harry estava ficando em ritmos acelerados. Ela riu.
- Por que você está tão nervoso?
- Não sei explicar direito. – a voz de Harry era um sussurro e mal era audível.
- Se eu fizer uma coisa que eu estou com muita vontade de fazer, você promete não ficar chateado?
Harry estava surpreso, Gina estava bêbada isso era fato, mas o que ele não contava era com suas reações e se ele queria parar.
- Prometo.
Isso foi o bastante para Gina. Ela se aproximou lentamente de Harry, encostando seus lábios no dele. Foi um pouco rápido, só que esse beijo foi o bastante para confundir a cabeça de Harry. Ela sorriu ao se distanciar.
- Então... Está chateado?
- Eu não poderia.
- Posso te beijar de novo?
- E eu posso retribuir?
- Deve.
Harry não achava certo se aproveitar do estado de Gina, porém na situação que estava não se importou muito com regras éticas. Ela o beijou novamente, a diferença foi que nesse beijo ele a puxou mais para si. Foi um beijo muito intenso, Harry buscava cada vez mais os lábios de Gina, apertando o corpo da garota. Não havia nome para definir o que sentiam, era algo inexplicável. Um beijo ao mesmo tempo terno e selvagem. Quando se separaram as respirações de ambos estava alterada. Aqueles olhos eram tudo que ele queria, ficaram um tempo se admirando.
- Acho que eu estou apaixonada por você. – foi tudo que ela conseguiu dizer.
- Gina eu...
- Não precisa dizer nada. Eu sei o que passa aqui. – ela pôs a mão no peito de Harry – E também sei que não estou aqui. Não fica chateado comigo. Eu li sua carta, a carta da Cho. Sei bem o seu lance com Licie e não te culpo de forma alguma por buscar o que quer - Harry não conseguia responder, aquilo o deixava muito confuso. - Eu só queria sentir o sabor dos seus lábios. Você é melhor do que eu imaginava. – Gina disse.
Harry beijou sua testa. Ficaram abraçados, Harry não entendia mais nada. Cho sempre fora tudo que ele sempre quis, no entanto estar ali com Gina o fazia muito bem. Gina também era mais do que ele um dia pensaria imaginar. Queria conversar com ela, entender e explicar. Antes mesmo que iniciasse qualquer conversar, a garota adormeceu. Ele permaneceu acordado remoendo o beijo até dormir.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!