CAPITULO 38 - RESSURGIMENTO
CAPITULO 38 - RESSURGIMENTO
Uma violenta rajada de vento fez Harry acordar. Os cobertores se agitavam sobre ele e uma tempestade rasgava o seu quarto, lançava seus pertences pelos ares e fazia as lanternas baterem nas paredes. Lá fora, o céu era negro e as nuvens formavam uma massa espessa.
Saphira observava como Harry cambaleava, lutava para manter o equilíbrio e a árvore balançava como um navio no oceano. Ele abaixou a cabeça para se proteger da ventania e seguiu contornando o quarto, agarrado à parede até alcançar o portal em forma de lágrima, através do qual a tempestade uivava.
Harry olhou para além do piso suspenso, para o chão lá embaixo, que parecia balançar de um lado para o outro. Ele tentou ignorar a agitação em seu estômago.
Tateando, ele encontrou a beira da membrana de pano embutida na madeira para cobrir a abertura. Ele se preparou para saltar de um lado do vão para o outro apoiado pelo pano. Se escorregasse, nada o impediria de cair sobre as raízes da árvore.
- Espere. - disse Saphira.
Ela se afastou do pedestal baixo onde estava dormindo e estendeu seu rabo ao lado dele, para que pudesse usá-lo como um corrimão.
Segurando o pano apenas com a mão direita, o que exigiu toda a sua força, Harry usou as saliências do rabo de Saphira para atravessar a extensão do portal. Assim que chegou à outra extremidade, agarrou o pano com ambas as mãos e pressionou sua extremidade dentro do sulco que o mantinha preso.
O quarto ficou em silêncio.
A membrana inchou para dentro sob a força da natureza furiosa, mas resistia. Harry a cutucou com o dedo. O tecido estava tão esticado quanto a pele de um tambor.
- É incrível o que os elfos conseguem fazer. - disse ele.
Saphira levantou a cabeça e a manteve suspensa, de modo que ficou encostada no teto enquanto ela escutava.
- É melhor você fechar a sala de estudos, ela está sendo destruída.
Enquanto ele seguia na direção da escada, a árvore balançou e sua perna se dobrou, fazendo-o cair pesadamente sobre um dos joelhos.
- Maldição. - rosnou o Cavaleiro.
A sala de estudos era um redemoinho de papéis e penas, que se moviam pelo ar como se tivessem vida. Ele mergulhou no aguaceiro com os braços envolvendo a cabeça. Parecia que estava recebendo uma saraivada de pedras quando as pontas das penas o atingiam.
Harry se esforçou para fechar o portal superior sem a ajuda de Saphira. No momento em que o fez, a dor - infindável e desnorteante dor - rasgou suas costas.
Ele gritou uma vez e ficou rouco por causa da intensidade do berro. Viu luzes vermelhas e amarelas até ficar tudo escuro quando ele caiu para o lado. Lá de baixo, ele ouviu Saphira urrando de frustração, a escadaria era muito pequena e, lá fora, o vento era muito feroz para que ela o alcançasse. Sua conexão com a parceira sumiu. E ele se rendeu à escuridão que o esperava como uma forma de se libertar de sua agonia.
Um gosto amargo enchia a boca de Harry quando acordou. Não soube precisar quanto tempo ficara deitado no chão, mas os músculos em seus braços e pernas estavam retesados por ele ter permanecido curvado na forma de uma bola compacta. A tempestade ainda investia contra a árvore, vinha acompanhada por uma chuva ensurdecedora que se equiparava a um martelar dentro de sua cabeça.
- Saphira...?
- Estou aqui. Você pode descer?
- Vou tentar.
Ele estava fraco demais para ficar em pé no piso inclinado, por isso resolveu rastejar até a escada e deslizou por um degrau de cada vez, estremecendo a cada impacto. No meio da descida, encontrou Saphira, que enfiou a cabeça e o pescoço escada acima o mais que pôde, entalhando a madeira na sua fúria.
- Pequenino. - Ela pôs a língua para fora e pegou em sua mão com sua ponta áspera. Ele sorriu. Depois, ela arqueou o pescoço e tentou recuar, mas sem sucesso.
- O que há de errado?
- Estou presa.
- Você está... - Ele não pôde evitar, dava gargalhadas apesar da dor. A situação era muito absurda.
Ela rosnava e erguia seu corpo inteiro, balançando a árvore com seu esforço e derrubando-o. Até que ela perdeu as forças, ofegante.
- Ora, não fique sentado e rindo como uma raposa idiota. Ajude-me!
Esforçando-se para não rir, ele colocou o pé em seu nariz e empurrou com toda a força enquanto Saphira se revirava e se contorcia na tentativa de se libertar.
Levou mais de dez minutos até ela conseguir. Só então foi que Harry viu a extensão dos danos na escadaria. Ele deu um suspiro. As escamas do dragão haviam rasgado a casca da árvore e destruíram as formas delicadas entalhadas na madeira.
- Opa. - disse Saphira.
- Pelo menos foi você que o fez, não eu. Os elfos devem lhe perdoar. Eles cantariam canções românticas dos anões dia e noite se você lhes pedisse.
Ele se juntou a Saphira em sua plataforma e se aconchegou nas escamas lisas da sua barriga, escutando o quanto a tempestade rugia acima de ambos. A proteção na janela ficava translúcida sempre que um relâmpago pulsava na forma de fragmentos de luz recortados.
- Que horas você acha que são?
- Algumas horas antes do nosso encontro obrigatório com Sirius. Vá em frente, durma e tente se recuperar. Ficarei de guarda.
Foi exatamente isso que ele fez, apesar da agitação que se espalhava por toda a árvore.
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