VOCÊ ?
- Ei, por que essas caras, vocês aí? O que houve? Algum desastre enquanto estive fora? – O sorriso aberto de Hermione foi se apagando e sumiu de todo ao notar as fisionomias dos funcionários do escritório.
- Você... não ouviu dizer nada?
- Ouvir o quê? – Hermione apertou as pálpebras ao repetir: - Ouvir o quê Maggie?
- Maggie?
- Sobre a mudança da diretoria, sobre o Sr. Weasley e... sobre tudo.
- A mudança da diretoria, Maggie? Não tenho a mínima idéia do que você está falando – Hermione disse pacientemente. – E onde entra o Sr. Weasley em tudo isso?
- Ele não entra, não mais. Ele sai. O Sr. Weasley deixou a firma. Aposentadoria antecipada, ou algo semelhante. Tudo aconteceu na última quinta – feira, quando a mudança da diretoria foi anunciada. O Sr. Weasley foi embora no mesmo dia. Deixei recado em sua secretária eletrônica, Hermione...
- Não voltei para meu apartamento ainda, passei a noite com uma amiga... Está me dizendo, Maggie, que o Sr. Weasley foi demitido? Não posso acreditar. Quem lhe tomou o lugar?
- Um parente do magnata, o dono da firma.
Então, queria aquilo significar que o nepotismo estava vivo na Concise Publications? E tudo acontecera durante o mês em que ela se divertia em sua viagem à Europa, na Companhia das antigas colegas de Hogwarts?
Hermione ouvira falar muito sobre a tendência moderna de despedir os funcionários antigos, substituindo-os por pessoal jovem. Mas, Arthur?
Subitamente ela sentiu um ódio profundo dos novos donos. Arthur era como um pai para ela, o homem que lhe dera o emprego havia cinco anos. Ele havia sido seu mentor, porém mais que tudo, um amigo. Ele e a mulher, Molly, lhe proporcionaram do que era uma verdadeira vida de família. Já que perdera seus pais de forma trágica na grande guerra. E agora Arthur fora mandado embora? Substituído por outro mais jovem, com certeza que não entendia nada do assunto.
- Homem ou mulher? – Hermione perguntou, com voz firme.
- Homem. O nome dele é Potter. Harry Potter.
- Harry Potter? – Hermione repetiu surpresa.
- É meu nome, senhora…
A voz masculina não foi alta, mas tinha um timbre que fez um líquido gelado correr sobre seus nervos.
- Granger. E sou senhorita e não senhora.
Harry ficou pasmo ao reencontrar com Hermione depois de tanto tempo. Ela não mudara nada, os anos pareceram acentuar mais ainda a sua beleza.
Hermione também ficou muito surpresa ao reencontrar Harry, como ele estava bonito, os mesmos olhos intensamente verdes. Depois de um tempo se encarando, ambos pareceram voltar a realidade. Harry foi o primeiro a se recompor e disse:
- Ah... sim. A ardilosa assistente de Arthur. Prazer em revela, srta. Granger. – As palavras eram de cortesia, mas pronunciadas daquele modo tiveram um tom de ameaça.
- Que tal irmos ao meu escritório para podermos conversar com mais conforto sobre os recentes acontecimentos? – Sugeriu ele.
- Há razão séria para isso? – Perguntou Hermione friamente.
- Há razão bastante séria, srta. Granger – Harry respondeu sério.
Quando no instante seguinte Harry agarrou o cotovelo de Hermione e a conduzia para a sua sala. Ela estava tão surpreendida que não deu uma palavra. Até que a porta fosse fechada é claro.
- O que pensa que esta fazendo? Como ousa me... – Hermione explodiu.
- Estou tentando evitar que se porte tal qual uma tola – Ele respondeu, com uma severidade insultuosa.
- Agora olhe...
- Não olhe você! Estou procurando fazer as coisas da melhor maneira possível – disse ele.
- Como fez com o pobre Sr. Weasley?
- Merlim dai-me forças... – Harry sussurrou. – Quer que eu a amordace? Assim parará de falar bobagens.
- Você não ousaria fazer isso Potter. – Mas Harry ousaria sim, disso Hermione tinha certeza, a julgar pela cara dele.
- Experimente me desafiar, então. Apenas abra essa adorável boca mais uma vez antes de eu acabar de falar o que desejo, e verá. O prazer será todo meu em ensina-la a ficar quieta.
Hermione abriu a boca para responder no mesmo tom, mas resolveu fecha-la de novo.
- Bem onde estávamos? – Harry prosseguiu. – Ah sim, eu estava procurando fazer com que você não se portasse de maneira tão ridícula... Mas, continuando. O Sr. Weasley lhe mandou recados por toda a Europa. Deve haver uma carta agora em sua casa, explicando detalhes da fusão com a Black Books, e uma cópia da mesma carta na secretária eletrônica. Mas imagino, por sua entrada pouco digna aqui, que não recebeu nem a carta, nem o recado telefônico. Sugiro agora que volte para casa, leia a carta e vá ver o Sr. Weasley. Faça tudo o que as mulheres fazem para se acalmar, e depois continuaremos com nossa conversa.
- Esta me mandando embora? – Hermione perguntou com uma altivez gelada.
- Você é uma mulher muito inteligente Hermione. Vi alguns dos trabalhos feitos por você e achei-os impressionantes. O que houve com o seu cérebro nessa viagem pela Europa para desistir do emprego e do respeitável salário, por causa de um capricho? Sei que o Sr. Weasley respeita ambos, seu trabalho e sua pessoa, mas ele precisou tomar uma decisão rápida. E você não estava aqui para dar sua opinião ok?.
- Sr. Potter, não me importo se os senhores incorporaram esta firma e centenas de outras à sua, e que façam isso a cada dia que passe, durante um mês. O problema não é esse.
- Mesmo? – perguntou Harry.
- Sim, mesmo. A única coisa que me irrita é o modo como dispensaram Arthur. Esta firma é a vida dele, sua razão de viver. E não diga que não sei o que estou dizendo. Conheço Arthur melhor do que ninguém, e deixar a Concise Publications deve ter sido para Arthur o mesmo que abandonar um filho. Pois este trabalho era o que ele mais amava, trabalhar como os trouxas, agir como eles, tudo isso ele conquistou com muito trabalho duro. E agora você o joga fora como se fosse lixo.
- Você esta entendendo tudo errado. Eu nunca faria isso com o Sr. Weasley
Hermione! – Protestou Harry.
- Escuta aqui! – interrompeu Hermione – Eu sei muito bem do que você é capaz de fazer.
Harry serrou os punhos tentando se controlar.
- E para tornar as coisas mais fáceis – continuou Hermione – Peço demissão já. Não quero prosseguir trabalhando sob a nova administração.
Hermione levantou-se para sair, mas Harry segurou-a pelo braço com força e não a deixou ir.
- Fique quieta aí – disse ele – Eu ainda não acabei.
- Mas eu acabei – ela rebateu – E quer fazer o favor de me soltar! – exclamou irritada.
Harry iguinorou o que ela disse, e a puxou para mais perto de si. E quando falou sua voz não passava de um sussurro rouco.
- Como é possível que tenha mudado tanto... - ele disse, fitando-a intensamente.
- Você não imagina o quanto.- ela respondeu, tentando soar o mais friamente possível.
Hermione se sentia nervosa com essa proximidade de Harry, e não pode deixar de notar o quão atraente e sexy ele se tornou. Hermione se repreendeu mentalmente por ter pensado isso, tinha que se afastar dele, parecia que ele queria hipnotizá-la... com um esforço enorme ela conseguiu fazer com que as palavras saíssem de sua boca.
- E então vai me soltar ou não? - perguntou ela rebelde.
Devagar Harry a soltou, ela deu meia volta e saiu o mais rápido que pode da sala como se o próprio Voldemorte a tivesse seguindo. Harry observou – a sair, sem olhar para trás.
Uma vez no hall, Hermione tomou o elevador e desceu até o térreo, indo diretamente ao estacionamento. Ela entrou no carro e esperou alguns minutos antes de dar a partida com mãos trêmulas. Toda a sua vida a interessante vida pela qual lutara tanto nos últimos anos, acabara de virar de pernas para o ar e tudo porquê Harry Potter entrou novamente na sua vida. – DROGA ! – exclamou ela furiosa. Em seguida ela arrancou com o carro.
Harry caminhou lentamente até sua mesa, ainda absorvendo o impacto de seu encontro com Hermione. Depois de tanto tempo separados, ela ainda continuava ressentida dele.
Por conta de uma atitude estúpida no passado, ele perdera a pessoa mais importante de sua vida. Os anos passaram, e eis que o destino lhe prega uma peça, colocando Hermione novamente em sua vida. Ele esperava de coração que ela o tivesse perdoado, mas a julgar pela reação dela a noticia de que ele é o novo dono da empresa, apenas deixou claro que ela não queria estar nem no mesmo ambiente que ele.
Harry esboçou um meio sorriso, ele sempre fora conhecido pela sua determinação. Se preciso, moveria céus e terras, para ter a Hermione de antes em sua vida, e nunca mais deixa-la partir.
****
Hermione reconheceu que devia ter telefonado para Arthur e Molly na noite anterior, mas o vôo da França atrasara, e quando Parvati lhe oferecera hospedagem para a noite, preferira ficar na casa da amiga em vez de atravessar Londres na hora do pico. Tomou vinho de uma das garrafas que comprara em sociedade com a amiga.
Agora, no carro, Hermione olhou para trás e viu sua enorme mochila no assento traseiro, rodeada de sacos de vinho e caixas de chocolate da Bélgica, que comprara para presentes. Queria muito ver Arthur e presenteá-lo. Como a casa do amigo ficava no caminho, para lá se dirigiu.
Eram dez horas da manhã, quando estacionou à porta da casa de Arthur e Molly. E cinco minutos mais tarde estava sentada numa poltrona de vime no jardim, saboreando uma xícara de café fumegante. Hermione chorava, e Molly consolava-a.
- A culpa foi nossa, querida. Deve ter sido um choque para você! – Molly dizia preocupada. – contudo, além de deixar recados em seu apartamento e escrever cartas, não sabíamos como encontra-la. Mas diga-me, divertiu-se em sua viagem?.
- Adorei.- Respondeu Hermione com a voz um pouco chorosa.
- E você só soube da fusão da firma quando chegou esta manhã? – perguntou o Sr. Weasley.
- Sim.
- E Harry explicou bem tudo a você? – Arthur lhe perguntou – Eu não pude recusar, Mione, são ofertas que não aparecem todos os dias. Além disso, não tenho andado muito bem de saúde ultimamente, e achei que tinha uma chance de me retirar da vida ativa e ter alguns anos de prazer antes de atingir idade mais avançada.
- O que quer dizer, Arthur, com “ não tenho andado muito bem “ ? – Hermione sabia que Arthur preferia caminhar sobre carvões incandescentes a admitir que não estava cem por cento bem .
- Não dissemos nada a nossos filhos, como não dissemos a você, para que não se preocupassem – disse Molly. – Mas á três meses atrás, quando Arthur teve aquela gripe, lembra-se ?, na realidade foi um pequeno enfarte. Por isso tentei convencê-lo a trabalhar menos. E quando a oferta da Black Corporation surgiu, pareceu-me ser a resposta a meu pedido.
- Por que não me contou nada sobre o enfarte, Molly?- Hermione perguntou.-Eu poderia ter ajudado
- Eu quis – Molly declarou logo – Mas você sabe como é Arthur. Ele a ama como ama os próprios filhos, e não queria que nenhum de vocês se preocupasse...
- Ou fizesse estardalhaço – Arthur interrompeu-a .
Enquanto o Sr Weasley prosseguia com os detalhes, Hermione ficava mais deprimida. Fora Arthur quem insistira em sair. E ela acusara Harry de... Hermione sentiu um mal-estar ao se lembrar das palavras que dirigira ao rapaz. Oh, em que confusão se metera!, mágoas que julgava esquecidas acabaram por atrapalhar seu bom senso.Agora teria de arcar com as conseqüências.
****
No trajeto de volta a casa, achou que chegara sua chance para uma mudança de vida. Afinal estava com vinte e nove anos e até o momento tivera apenas dois empregos. Vira muito pouco do mundo e a recente viagem à Europa lhe abrira os horizontes para muitas possibilidades. Pensou em casamento, porém afastou logo a idéia. Sentiu pânico, queria viajar, conhecer novas culturas, novos lugares, trabalhar em outros empreendimentos. Nada seria igual dali por diante.
Seu espaçoso apartamento, apesar de ter apenas um quarto, era cheio de luz, e ela sentiu-se bem recebida por ele ao entrar. Foi ao terraço. As plantas continuavam viçosas graças a vizinha do andar de baixo que se oferecera para regá-las diariamente.
Neste momento o telefone tocou, Hermione já imaginava que fosse Molly certificando-se de que ela chegara bem, depois das emoções do dia. Mas não era Molly no outro lado da linha.
- Hermione? – a voz profunda era inconfundível.- Sou eu o Harry.
- Eu... Pois não Sr. Potter? – ela sentou-se num banco ao lado do telefone, as pernas trêmulas.
- Já está a par dos fatos relativos às negociações da Concise Publications agora?
- Si... Sim, eu não sabia... Falei demais, fui imprudente e...
- Hermione, não telefonei para receber suas desculpas, embora as aceite.- interrompeu Harry divertido.
Hermione estremeceu, e ficou contente por estar sentada. O homem era de fato aterrador, mesmo através do telefone.
- Hermione, ainda está aí?
Hermione recuperou um pouco sua compostura e falou com a voz mais firme.
- Sim estou.
- Gostaria de vê-la em ambiente privado. De preferência hoje. Seria esta noite conveniente?- perguntou Harry
- Esta noite? Acho que não. Acabei de chegar de férias e tenho muitas coisas a fazer. Realmente não posso...
- Digamos, oito horas?- Harry não desistia.
- Francamente não vejo razão para isso, Sr Potter...
- Harry...
- O quê? – perguntou Hermione confusa.
- Harry, era assim que você me chamava antes! – disse ele.
- Eu te chamava de outras coisas também, más seria indelicado de minha parte repeti-las.- Hermione replicou sarcástica.- E além do mais telefonarei para o escritório, a fim de apanhar meu salário e esclarecer algumas coisas, ou ajudar na transmissão de meu cargo se houver necessidade de minha cooperação.
-Nós nos veremos esta noite- ele disse friamente- Não estou convidando-a para um encontro de namorados, mas meramente sugerindo uma oportunidade de discutirmos assuntos de negócios durante o jantar.
-Mas... – Hermione corou.
- Combinado, então. – Harry desligou o telefone.
Hermione ficou olhando para o telefone inteiramente abobada e ouvindo ainda a voz profunda de Harry ecoar na sua cabeça. Ele iria levá-la para jantar? Harry Potter? levá-la para jantar ? Ela não poderia. Não poderia.
Pegou o fone mais uma vez e ligou para o Sra. Weasley.
- Molly, você não sabe o que aconteceu – E Hermione explicou tudo. Houve um longo silêncio do outro lado da linha. – Molly? Diga alguma coisa.
- Você concordou em ir jantar com Harry? Mas por quê?
- Eu propriamente não concordei. Ele me comunicou.- disse Hermione frustrada.
Molly achou graça e disse calmamente:
- Você não sabe em que buraco se meteu, Mione.
- Sei. Pelo menos tenho uma idéia. Por isso estou telefonando, não entendo por que Harry quer falar comigo após a explosão que tive no escritório. Coisa boa não pode ser...
- Hermione, não deixe que assuntos passados estraguem o seu presente. Dê uma chance a Harry! – disse Molly.
- Hum... Vou pensar, mas é tão complicado! – exclamou Hermione cansada.
- Posso imaginar. – Molly respondeu amavelmente.
- E ainda têm outro problema! – disse Hermione.
- Qual? – quis saber Molly.
- O meu contrato. Ele não pode me segurar, pode? Sei que se exigem três meses de aviso prévio de ambas as partes, porém acho que, devido às circunstâncias, Harry estará preparado para o razoável.
- Não penso que a palavra “ razoável “ exista no vocabulário de Harry querida. Ouça, Telefone para ele de novo e pergunte qual o assunto da conversa. Se não está contente com o convite, é uma medida sensata a tomar.- Aconselhou Molly.
- É claro que não estou contente. Imagina que eu poderia estar contente indo jantar com Harry Potter depois do que aconteceu no escritório? Ele quer é se vingar de mim.- Falou Hermione um tanto paranóica.
- Se for só isso que ele deseja... – Insinuou Molly.
- O que quer insinuar, Molly?
- Mione... Você se olha no espelho de vez em quando? Saiba que é uma mulher muito atraente, e Harry é um homem.
- Ele tornou bem claro, que não se tratava de encontro amoroso. Ademais, Harry deve ter dúzias de mulheres atrás dele.
- Sem dúvida.
- Mas de qualquer forma telefonarei. Não vejo razão para me encontrar com ele esta noite.
-Ligue para mim se tiver alguma dificuldade! –disse Molly carinhosamente antes de desligar.
Mas houve dificuldade sim, entrou em contato com pessoas que pudessem localizar Harry. Mas estava sem sorte, então resolveu deixar recado pedindo para que retorna-se a ligação. Ficou andando pelo apartamento a tarde toda, aguardando o telefonema.
As seis horas entrou em pânico. Nenhuma ligação, suspirando foi tomar banho, mas não se demorou muito. Arrumou-se rápido, depois de pronta ficou aguardando Harry chegar.
- Que Merlim me ajude – murmurou olhando para o relógio.
As 20:00 em ponto Hermione ouviu batidas na porta, levantou-se e foi abri-la, parecia a ela que estava se dirigindo a forca. Se sentia um pouco ridícula por se sentir assim.
Continua...
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