Chegada da primavera (H/G)



Meados de março de 2003.

Gina sempre se lembraria dessa primavera, adjetivando-a de inesquecível.

A Liga Internacional de Quadribol estava em sua última rodada. E as Harpas de Holyhead estavam na final, tendo-a como apanhadora.

Seu casamento com Harry Potter aconteceria dali a duas semanas.

Fora tudo milimetricamente planejado: a data (seria no dia 1º de abril, aniversário de Fred e George – uma tentativa de tornar o dia mais feliz para Molly); o buffet (a empresa Avalon, a mais conceituada de toda Londres bruxa, cuidaria do menu); as roupas (Madame Malkin cuidou das vestes de Harry – que iria se casar de branco; e seu vestido tinha sido confeccionado em Paris, para evitar os curiosos, com Coco Chanel – sim, ela era uma bruxa, e confeccionou o vestido dos sonhos de Gina: um tomara que cai, discretíssimo, em tom perolado), a empresa Free-Elphos cuidaria de toda a organização do evento (da arrumação dos jardins de Hogwarts – local aonde aconteceria o evento por desejo do quadro de Dumbledore e de uma Minerva McGonagall assustadoramente sorridente – até o acompanhamento dos convidados, na hora da cerimônia, em seus assentos); as chaves de portal-convites, para os pouquíssimos convidados, já haviam sido entregues (o local não foi divulgado; no dia determinado, o convidado tocaria no “pomo-convite” e seria transportado a uma área nos jardins de Hogwarts, próxima ao local da cerimônia); a nova morada de Harry e Gina (uma casa mais que agradável, com dois andares e um vasto jardim, nas proximidades de Ottery St. Catchpole) já estava pronta, somente aguardando o novo casal fixar sua residência e simplesmente ser feliz no local.

Enfim, tudo pronto. Tudo esquematizado.

Menos aquilo.

Olhava para o conteúdo da poção, no qual acabara de pingar duas gotas da primeira urina da manhã.

Harry estava ao seu lado – algo que ela nunca duvidou que ocorreria - parecendo mais esperançoso do que preocupado. E isso a irritava profundamente.

- Pronto... Agora é só aguardar de dois a três minutos.

- Gi, você sabe que eu nunca fui muito bom em poções. O que, exatamente, deve acontecer após esse tempo?

- A coloração, Harry – revirou os olhos em profundo aborrecimento, como se falasse a coisa mais óbvia do mundo – Se, com a graça de Merlin, a poção continuar incolor, é somente um atraso. Tenho certeza que é isso! A proximidade da final da Liga, somada aos preparativos do casamento, me deixaram nervosa. É só isso.

Meio frustrado, Harry perguntou:

- Vamos aventar a remota possibilidade – acentuou o vocábulo remota ante ao olhar homicida de Gina – de ser o que eu que.. err, quer dizer, o que estamos investigando agora – tomou excessivo cuidado na escolha das palavras – o que aconteceria?

- Nessa remotíssima possibilidade, a poção irá se tornar azul ou rosa, dependendo do sexo da remotíssima possibilidade.

E ambos caíram em absoluto silêncio.


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Nunca dois minutos demoraram tanto a passar.

Gina tentava conciliar os pensamentos, revivendo os acontecimentos que a levara até aquele momento tenso.

Contou silenciosamente as luas desde suas últimas regras: sete... SETE!

Lembrou-se, ainda, da “tórrida” comemoração ocorrida na sala de Harry, no Ministério da Magia, ao saber que ele finalmente havia sido promovido e não iria mais viajar com tanta frequência. Foi no mesmo dia que saiu a escalação para a final da Liga: e ela fora escalada! Dois motivos para se comemorar com muito entusiasmo! Isso há exatos 21 dias atrás.

Reviveu, também, o horror ao abrir a bolsa no outro dia pela manhã e ver a poção contraceptiva (que ela jurava por Morgana - e todas as suas fadas - que havia tomado na hora certa) intacta.

Entretanto, qual a possibilidade de uma bruxa engravidar assim, na única falha de tomada do contraceptivo? Quase nenhuma! – recitava essa frase quase que como um mantra, desde aquele dia.

E, como não sentiu nada diferente, somando-se o fato aos preparativos para o casamento e a final da Liga, essa ínfima possibilidade foi simplesmente varrida de sua cabeça.

Até ontem.

Somente ontem, quando estava aparatando para a casa de Harry, deu por falta da menstruação. Fez e refez contas e chegou ao número mágico de sete luas.

Gina, por conta de sua profissão, passava a semana toda concentrada com o time, e os finais de semana na Toca.

Bem, pelo menos era isso que todos pensavam.

Na verdade, a ruiva dormia pelo menos duas noites por semana no apartamento do noivo – nada que um bando de ruivos ciumentos precisasse saber. Afinal, Carlinhos havia tido uma conversa com Harry, há pouco tempo, de como ser gentil com Gina em sua primeira noite, que aconteceria após o casamento.

Assim que atravessou a porta do apartamento dele, na noite anterior, Harry a cercou. Conhecia-a somente de olhar.

Abraçou-a.

- Vai me contar o que está fazendo o rosto que eu mais amo no mundo estar com essa ruga aqui? – disse, passando o dedo indicador esquerdo em uma marca de preocupação acima do olho direito de Gina. Esse era o sinal que algo realmente sério atordoava a mente por baixo daquele mar flamejante de cabelos, que nesse momento estavam presos em uma trança meio frouxa, com alguns fios displicentemente caindo pelo rosto.

- Nada de mais, amor. Cansaço.

Harry provavelmente acreditaria nisso, não fosse o fato de Gina se abrir em prantos. Assustadora e copiosamente.

Instintivamente, Harry a carregou no colo, como se fosse um bebê – o que, na mente de Gina, foi mais bizarro ainda – e sentou-se no sofá, com ela em seu colo.

- Vou respeitar se você quiser assim, mas tem certeza que não quer dividir, seja lá o que for, comigo? Não está arrependida pelo casamento, está? – disse com uma ponta de terror nos olhos.

Harry tinha o dom de quebrá-la.

Tinha decidido que iria fazer o teste na manhã seguinte e se houvesse algo errado, somente nesse caso, alardearia Harry.

Mas, quem disse que o “Menino que sobreviveu de novo” sucumbia aos seus planos?

- Não é nada isso Harry. Pensa que vai se livrar de mim, é?! – Gina pode sentir o suspiro aliviado do rapaz. – É somente uma dúvida. Gostaria primeiro de ter certeza. E somente depois te contar.

O olhar de incompreensão de Harry a estimulou a falar.

- Estou atrasada.

- Para que? Vai sair? Você ainda tem treino hoje? – disse franzindo a testa, numa atitude característica de ingênua incompreensão masculina.

Gina, mesmo tensa, não pode deixar de sorrir. Esquecera-se que Harry cresceu sozinho, sem garotas ou uma mãe próxima.

- Menstruação, Harry. Minha menstruação está atrasada.

- Ah, sei... – respondeu por instinto, sem realmente saber de nada.

O silêncio foi sepulcral. Gina juraria que podia ouvir os neurônios de Harry trabalhando, para processar a informação.

Após um minuto inteiro, Harry simplesmente olhou para Gina, abrindo um sorriso e, com uma simplicidade ímpar, simplesmente disse:

- Isso é maravilhoso!!!!!!

- Não, não é! Você está louco? Se for assim, não vou poder participar da final! Como vou contar para minha família, Harry? Tudo bem que mamãe já sabe que nós já somos nós faz tempo... Mas, e os outros?

A imagem de cinco varinhas apontadas para ele, com cinco ruivos furiosos na retaguarda, deixou-o levemente desconfortável. Mas a palavra FILHO era o melhor protego existente. Se fosse verdade, enfrentaria todos os ruivos, Voldemort, ou quem quer que seja! E o faria sorrindo!

- Eu falo, Gina – aconchegou-a em seus braços – Nesse jogo, jogaram dois. Caso seja verdade, eu enfrento as feras.

- Eu sei que sim. Estou assustada. Só isso! Tenho certeza que não é nada...

- Jura? – perguntou frustrado.

- Harry...

- Ok! E como teremos certeza?

- Amanhã cedo.

E lá estava ela, olhando para o líquido da poção que, após passado um minuto, continuava cristalino.


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Harry não sabia para onde olhava: se para poção ou para Gina.

Sabia que estava sendo egoísta. Se fosse verdade o que intimamente desejava de todo coração que fosse, Gina teria que abrir mão de muita coisa – principalmente da final internacional da Liga de Quadribol.

Mas permitiu-se ser egoísta. Queria que fosse verdade.

A demora de quase seis anos para casar-se fora por conta da profissão de Gina. Entendia-a, mas sua frustração já estava ficando evidente. Queria aquela garota mais do que tudo. Sempre a quis.

Ela costumava dizer que já eram casados. Que viviam como casados. Que sentiam como casados. Mas para Harry não era assim.

Queria-a de corpo, de alma – isso ele já tinha – e de papel passado!

Sabia que era uma formalidade – pois realmente as almas já se pertenciam – mas ele precisava disso. Entendia porque Gina não tinha essa urgência. Vivera no seio de uma família grande, amiga, companheira.

Ele? Dursley’s. Dispensava maiores explicações.

Assim, quando ela desabou em seus braços e depois mencionou a possibilidade da gravidez, seu mundo realmente parou.

Nunca imaginou que poderia ser mais feliz do que já era, mas isso aconteceu. Olhando para Gina, notou que sua aura estava dourada – ou talvez os seus olhos a tinham envolvido nesse calor. Visualizou Gina arredondada, preparando seu filho para chegar ao mundo.

Mas o desespero de Gina ante a possibilidade, o fez recuar – pelo menos externamente. Por dentro, começou a acreditar que talvez sua semente já crescesse nas entranhas do ser que mais amava nesse mundo.

Não dormiu aquela noite. Gina lhe dissera que o tal teste só poderia ser feito pela manhã.

Após a ruiva adormecer – fato que estranhou, pois Gina sofria de insônia – levantou-se e encarou a janela a sua frente.

A primavera tinha começado há pouco, o que proporcionava dias de temperaturas amenas e noites ainda frias.

Harry olhava a noite nublada, sem realmente ver nada pela janela. A possibilidade de ser pai e ter a sua família lhe era cada vez mais querida.

Suspirou, voltando para cama. Ao focar a mulher dormindo, viu uma das cenas mais lindas de sua vida.

Gina repousava com a mão instintivamente no ventre.

Harry teve necessidade de participar ativamente daquele quadro. Deitou-se ao lado de Gina e entrelaçou sua mão direita à mão da ruiva que repousava em sua barriga lisinha e musculosa pelos anos de quadribol.

E dormiu.


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Harry olhou para Gina, percebendo sua decepção.

- Qual o problema, amor? Você não está aliviada pelo líquido continuar incolor após os dois minutos? Não era isso que você queria?

Harry tentou esconder a frustração ante a coloração da poção. Ou a ausência de cor.

- Sim, era. Claro que era. Então porque estou sentindo essa sensação de vazio? – falou baixinho, mais para si mesma. Mas Harry ouviu.

- Temos tempo, Gi... Você poderá jogar a final, preparar o casamento. E eu... Bem, eu não serei capado pelos cinco ruivos loucos do machado...

Gina ia começar a sorrir, quando uma lágrima solitária escorreu pela sua bochecha, molhando a camisa de Harry.

- Ei, o que foi?

Um sorriso realmente legítimo iluminou o rosto da ruiva.

- James.

- Quem?

E olhou para direção em que Gina olhava. A poção estava de um azul cristalino, não deixando dúvidas que seu filho estava confortavelmente crescendo na barriga daquela mulher. Não podia culpá-lo por se aninhar ali, sem pedir licença para isso. Afinal, não havia lugar melhor no mundo para se estar.

Abraçou-a, carregando-a no colo. Se deu conta que segurava, com uma só ação, sua família inteira nos braços, e chegou a vez de Harry Potter desabar em lágrimas.

- Obrigado, Gina. Eu amo você. Eu amo vocês dois.

O abraço foi longo, banhado pelas lágrimas de felicidade de Harry. Gina faria todas as concessões necessárias e, sinceramente, não as estava encarando como restrições.

Já fora campeã mundial uma vez. Sua carreira era sólida, e Gina já havia cogitado em se despedir dos campos ao final da temporada... Pensou, pela descoberta da chegada do filho, que talvez fosse realmente época de parar. Afinal, o convite do Profeta, para ser comentarista esportiva, há muito a tentava.

Percebeu que o desespero da noite anterior era, na verdade, medo. Medo de que fosse um engano. Pavor que não fosse verdade, que seu ventre estivesse vazio. E, acima de tudo, medo que Harry não aceitasse.

Mas estava tudo ali.

- Harry... Como vamos contar a minha família?

- Agora não, Gin... Depois eu penso em uma maneira de não sair morto ou mutilado disso...

Sorriu. Sim, os Weasley’s poderiam esperar. A felicidade de Harry e dela, não.

Sem dúvida, a primavera de 2003 foi a mais espetacular de sua vida.

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N/A: Saiu assim, do nada. Espero que gostem!

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